Certamente que os queridos leitores gostariam de saber a minha actual posição sobre a situação em Portugal, depois de ter passado lá os últimos 30 dias. Confesso que tive receio de ver lá gente “a sofrer”, como sugeriu o comentário de um leitor aquando da visita do Papa Bento XVI. Não sei se esses “sofredores” foram todos de férias em Agosto, ou se a visita do Papa foi mesmo remédio santo. Não vou dizer que não vi pobres, pedintes e desgraçadinhos, que vi, assim como vi em muitos outros países da Europa mais cara.
Mas a verdade é que Portugal continua numa febre consumista desmedida, e sem saber bem que tecto anda a aguentar aquilo tudo, vejo todos os locais onde se gasta dinheiro completamente cheios: centros comerciais, lojas de roupa e sapatos de marca, cafés, restaurantes, discotecas e imaginem, até marisqueiras! Não que eu quisesse lá ir dar uma de emigrante endinheirado, mas havia marisqueiras daquelas que só de se mamar o pão e as azeitonas já se estão a pagar mais de vinte euros, que tinham uma lista de espera de mais de 30 pessoas!
Houve quem me dissesse também que “como fui em Agosto”, há mais emigrantes, turistas, pessoas de férias, e portanto, “é normal”. Já não é tão normal se eu vos disser que já lá fui de férias em Junho, Dezembro e Fevereiro, e foi sempre a mesma coisa. Se não são marisqueiras, são casas de leitão assado ou outra coisa sasonal qualquer. Os portugueses não têm dinheiro, alegadamente, portanto penso que tudo aquilo que se anda ali a gastar é dinheiro do monopólio. É uma brincadeira.
De resto Portugal tem duas coisas mesmo boas: o clima e a comida. Acho que só vi uma nuvem depois de uma semana em Portugal, e dos dias que lá estive só choveu uma vez, dia 23 de Agosto, estava eu em Lisboa. Quanto à comida, é um verdadeiro mundo de prazeres e aventuras. Para já deve ser o único país da Europa Ocidental onde existem menus inteiros com pratos por menos de 10 euros, e o café, vulgo “bica”, continua a ser o melhor do mundo, e custa apenas...60 cêntimos. Umas míseras seis patacas. Ponham os olhos nisto, restaurantes portugueses de Macau. O único sítio onde paguei um euro por um café foi num restaurante caríssimo em Belém, quando precisei de uma desculpa para usar a casa-de-banho.
As praias estão completamente cheias (e nem fui ao Algarve), daí a questão das marisqueiras, e toda, mas toda a gente, está feliz e na maior. Claro que há os que vivem menos bem, que têm 400 euros ou menos por mês, mas mesmo esses arranjam uma maneira de se safarem. Recorrem a uns expedientes, vivem na casa dos pais, pedem emprestado, vão um mês apanhar tomate para a Holanda, enfim, lá se desenrascam. Só não lhes pode faltar as Super-Bocks, o carro, os concertos de Verão, as noitadas ao fim-de-semana, tudo isso sem o que não se pode viver.
E como é a especialidade nacional, todos se queixam. Tive conversas verdadeiramente assustadoras com taxistas desta vez, e todos me asseguraram que “não sabem onde isto vai parar”. Tenho uma vizinha que se queixa “de uns ciganos” que ganham 1200 euros de subsídios do Governo, enquanto “alguns” que “coitados até que querem trabalhar” andam a receber 200. Tive ainda outra conversa torta logo à nascença, sobre o facto “dos chineses” andarem “a roubar” o emprego “à malta de lá”. Estranhamente, continuam aqueles cartazes pendurados em muitas lojas nos centros comerciais, a pedir um “ajudante” ou um “empregado/a”. Deve ser engano ou brincadeira, uma vez que “toda a gente” se queixa do tal de “desemprego” que assola a nação.
Entrar num restaurante ou café em Lisboa é uma experiência muito próxima de se entrar num restaurante ou café do Rio de Janeiro. Adivinharam, em alguns dos que fui, todos os empregados são brasileiros, do caixa ao cozinheiro ou ao empregado de mesa. De resto tenho muita simpatia por toda a gente que me atendeu e que me serviu, apesar de já não estar muito habituado a que me ignorem completamente quando quero consumir e até mesmo na hora de pagar, ou que um empregado me diga “sente-se ali que eu já o atendo”, ou “decida lá que eu estou com pressa”. Não sei se é costumeiro deixar-se gorjeta em Portugal, mas na dúvida, não deixei nenhuma vez.
Foi mais uma visita a Portugal seguida agora de um pousio de dois anos, ou talvez mais. Percebi ainda que Agosto é um mês muito cansativo para se visitar Portugal. Tenho que descansar agora destas fatigantes férias lá no rectângulo. Confesso que voltei completamente esclarecido, e Portugal não é nada “como a Grécia”, nem está tudo de pernas para o ar. Ora bolas, até os políticos que tanto nos entretêm estavam de férias!
6 comentários:
queira desculpar mas muito do que diz não é verdade os portugueses em grande maioria não podem sequer ter férias ir a restaurantes e muiuto menos a marisqueiras há muita gente que não tem 1 euro de subsídio e vive à conta dos irmãos ou dos pais. o portugal por onde passou não é o país real. o senhor tem leitores no seu blog que passam fome em portugal, sabia? que visitam o seu blog quando o filho que trabalha para sustentar a casa não está no computador.
O cenário não é brilhante mas também não é apocalíptico!
CC
os portugueses em macau deveriam boicotar por completo os restaurantes portugueses, os precos estao incriveis e a qualidade anda pessima, devem os donos pensar que somos todos parvos e que estamos em hongkong
refeicao sempre acima das 200p
cafe 15 patacas
Anonimo das 08:58, voce dever escolher bem os restaurantes, porque ainda existe alguns que cobram menos.
Daqui a 2 anos estará pior, não se preocupe...
Gostei do seu texto, Leocardo.
gostei ainda mais de algumas respostas ressaiviadas, ( e desconfio que alguns eram desabafos, auto-retratos ).
Mas o camarada não mora em Portugal e um mês de férias pagas não é um bom exemplo.
enfim, se quer um conselho de amigo, arranje um representante de confiança em portugal e passe a visitar o "e-financas", sim, sem cedilha, e vá á secção das penhoras á pala do IMI e faça umas ofertas, tipo e-bay. Vai ver que com um pouco de capital e crédito na banca quando passar por Portugal da próxima, tem 3 ou 4 casinhas baratuchas á sua espera.
CC
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