quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dar-lhes o arroz


O arroz está para os chineses como o pão está para nós, portugueses. É aquilo a que se chama staple food, ou “comida agrafo”, do tempo em que eramos pobrezinhos e aconchegava-nos a barriga mesmo quando era magra a ceia. O preço do pão é sempre motivo de preocupação entre a população em geral. Pesa no orçamento como bem de primeira necessidade. Tal como o arroz na China. A diferença entre ambos é que ao contrário do arroz é impossível armazenar toneladas de pão durante meses de modo a precaver a sua falta, e os problemas com a produção de trigo e da respectiva farinha é uma realidade distante.

Daí a corrida aos supermercados por parte da população nos últimos dias, acautelando como sempre a eventual extinção dos brancos grãos tão precisos. Só para que se tenha uma ideia, a maioria dos chineses consome arroz todos os dias, e muitos ficam com fome se não consomem pelo menos uma ou duas tigelas por dia. Nas aldeias mais pobres, a água de cozer o arroz era muitas vezes substituto do leite, de que há uma enorme escassez, de modo a enganar os mais novos. Tirar o arroz do chinês é quase como tirar-lhe o oxigénio. Entretanto alguns comerciantes sem escrúpulos aproveitaram-se da situação e aumentaram os preços. A chuva de queixas chegou ao Conselho de Consumidores e à Associação Geral de Mulheres de Macau, e mesmo a Caritas afirma ter tido mais pedidos de ajuda.

Eu pessoalmente conseguia viver sem arroz. Gosto de massa, feijão, batata, salada ou simplesmente vegetais como acompanhamento. Praticamente só como arroz Basmati, e não sou grande apreciador do arroz corrente consumido pela maioria da população, que provavelmente dava um substituto decente para a argamassa. Nós é mais batatas, como diz o outro. Aliás alguns chineses ficam tão perplexos com a nossa paixão pelo tubérculo que pensam que Portugal não passa de um enorme batatal. Talvez daí seja porque às vezes mandam o tuga dar uma volta ao bilhar grande com a colorida expressão “vai para Portugal plantar batatas”.

Mas o primeiro ministro chinês Wen Jiabao já veio assegurar que não vai faltar arroz. Como a China é grande em tudo, tem uma reserva de 40 ou 50 mil toneladas, o que dá uns cinco quilos por cabeça, feitas as contas. Entretanto os comerciantes em Macau são aconselhados a não brincar com coisas sérias, e se se portarem bem, ganham um autocolante a dizer que são bons meninos. E sabem o que também anda pela hora da morte e era preciso fazer com que alguns meninos se portassem bem também? No preço da habitação. É dar-lhes o arroz!

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