domingo, 27 de abril de 2008

Turistas foleiros


Uma das consequências do aumento do número de turistas em Macau nos últimos anos é a invasão de todo o tipo de gente foleira. Não há dia que não se observem – e são cada vez mais – os “backpackers” estrangeiros de barbas e cabelos compridos, calções e sandálias, de higiene pessoal duvidosa e que um muitos casos nem dinheiro têm para pagar um hotel decente. Mas são os turistas chineses aqueles que mais gosto de observar.

O típico turista foleiro chinês tem entre 35 e 50 anos. Usa camisa aos quadrados azuis (claros e escuros) de marca “Jingzian” ou “Haoxiu” ou outra qualquer do género. Calças de fato pretas ou cinzentas, curtas de baínha, que deixam ver as meias com padrões aberrantes. Sapatos que apesar de novos parecem ter pelo menos dois anos e que têm uma capacidade quase magnética de atrair a lama quando chove. O cinto tem uma fivela rectangular com um símbolo semelhante ao da “City Chain” no centro. Já cheguei a ver na China pacotes (sim, pacotes) que incluíem estes adereços pela módica quantia de 99 RMBs. É mais que moda. É o “chassis” do chinês moderno, com bom gosto.

Têm uma unha mais comprida que as outras, um penteado irrepreensivelmente aborrecido, que não fica a dever nada à imaginação. Tem um tufo de cabelo a sair da face que dizem ser “para dar sorte”. Passeia-se pelos supermercados manuseando garrafas de azeite italiano ou vinho português com um ar de que sabe exactamente do que se trata. Compra garrafas caríssimas de conhaque “Rémy Martin” ou de whisky de malte, que lhe causam imenso desprazer físico mas que lhe dão “estatuto”. Come no “Vong Chi Kei” e paga o que for preciso para saborear a “cozinha ocidental”, que se resume normalmente a uma posta de bacalhau salgadíssima na “Vencedora” ou aos pastéis de ovo da Margaret.

As fêmeas com que se fazem acompanhar – normalmente mais novas que eles – trajam quase sempre de preto. Têm cabelo liso e apanhado, usam vestidos curtos e sem mangas, sapatos abertos. Invadem as lojas da Sasa e gastam pequenas fortunas em perfumes de marcas que desconhecem e que em alguns casos nem experimentaram. Chegam a lojas de sapatos e antes de sequer dizer “boa tarde” apressam-se a descalçar os presuntos e a testar o que lhes vem à mão (ou ao pé), e muitas vezes saiem sem comprar nada. As mais velhas vêm normalmente em “tour” com a família e andam de casino em casino a segurar uma bandeirinha. Voltam para a China Continental carregados de caixas de batatas fritas da Lay’s (cuidado com as imitações) e convencidas que viram Macau.

Os turistas de Hong Kong são outra espécie curiosa. Mais cuidadosos no trato e na aparência, são facilmente identificáveis por andarem na rua de mapa na mão com um ar perdido, em vez de perguntar as direcções (eu por exemplo onde quer que vá gosto de perguntar, nem que seja para comunicar com a população local). Tiram fotografias de tudo: das igrejas, das casas, da comida, das pedras da calçada, de tudo. Têm o irritante hábito de aparecer nas fotos a fazer o sinal de vitória com os dedos, típico de quem não sabe o que fazer com as mãos. Os mais jovens vêm “à descoberta”, como quem sai da cidade (Hong Kong) e vem fazer turismo rural (a Macau). São imediatamente reconhecidos pela população local, que os despreza.

Mas como bons hóspedes que somos, é quase “noblesse oblige” tratar estes turistas com simpatia. São eles o espelho da nossa economia de sucesso. Macau welcomes you. E temos tanta porcaria para despachar daqui para fora.

Publicada em Leocardo

8 comentários:

Anónimo disse...

Este post é velho, nao é Leocardo?

Acho que já o tinha leido ha meses.

Leocardo disse...

É sim. É um dos poucos que vale a pena republicar, perdoe-me a modéstia...

Anónimo disse...

e' um bom post, faz lembrar um argumento do programa do herman jose o "tal Canal", quando ele era excelente

Anónimo disse...

O caro Leocardo esqueceu-se de acrescentar algumas outras características do turista chinês.
Se a unha do dedo mindinho numa das mãos serve para retirar cera dos ouvidos, o dedo indicador da outra mão está ocupada a escarafunchar as profundezas mais recônditas das fossas nasais. E depois dessa mão acabar o serviço, ela serve para tirar da boca a
135ª beata fumada nesse dia, para que possa sair um valente e sonoro escarro, pleno de viscosidade.
Tudo isso feito em pose acocorada como quem está prestes a arrear o calhau.

Como diz um amigo meu, estes gajos podem ter 5000 anos de civilização. Mas precisam de pêlo menos outros 5000 para ficarem realmente civilizados.

Anónimo disse...

Vai dizer isso ao Carlos Morais José, ahah.

Anónimo disse...

Para esse tudo é bom desde que não seja americano.
Ou então que esteja vestido de laranja ou açafrão.

Coitado, ainda não saiu dos tempos da guerra fria e gosta de se passear todos os dias vestido como quem vai para um enterro...

Anónimo disse...

ou então que não esteja vestido de laranja ou açafrão, quero eu dizer

Anónimo disse...

Tanto preconceito!