Estão bem mais calmas as águas no estreito de Taiwan, depois de quase uma década de tumulto e incerteza, em que pairava no ar um clima de conflito, especialmente quando a ilha nacionalista ameaçava cumprir a promessa da declaração unilateral de independência. Foram oito anos de governo de Chen Shui-bian, marcados por variados casos de corrupção e escândalos, e um ambiente geral de insatisfação que culminou no regresso ao poder do Kuomintang, agora liderado por Ma Ying-jeou, um moderado.
Se em 2000 os receios eram enormes (Chen prometeu a cisão total com a RPC e a eventual independência da ilha), e a RP China ameaçava com uma intervenção militar, já Ma nunca escondeu o jogo, e pautou o seu discurso pela batuta da aproximação e cooperação entre os dois lados do estreito. Nenhuma novidade, pois desde sempre existem interesses económicos e empresariais taiwaneses no continente. O abandono da retórica e a concentração de esforços no âmbito da cooperação económica são mais que bem vindos.
Até porque a questão de Taiwan tem sido uma pedra no sapato da diplomacia regional e internacional. É quase uma loucura nos tempos que correm abdicar de relações diplomáticas com a China Popular em prol da China Nacionalista (no contexto do “princípio de uma só China”, que os países que mantêm relações diplomáticas com Taiwan não defendem, portanto), e mesmo os Estados Unidos, cuja politica de venda de armas a Taipé irritou desde sempre a China, nunca deixaram de dar uma no cravo e outra na ferradura.
A via belicista nunca foi posta de parte, se bem que sempre dando a entender que eram mais as vozes que as nozes. Taiwan ameaçava com a independência, lá apareciam as tropas chinesas a fazer os tais “exercícios militares de rotina” em Fuzhu. As intenções norte-americanas quanto à tal soberania de Taiwan, assentes nos princípios da democracia e do respeito pelos direitos humanos, foram sempre tímidas, e mesmo a eventual intervenção militar na Coreia do Norte, que depende, como se sabe, do aval da China e da Rússia, podia ter a anuência de Pequim, mas só desde que se resolvesse primeiro a questão de Taiwan. Era um risco enorme.
É que Ma, bem como qualquer outro politico consciente faria, soube ler o tempo. Antes de mais nada, tratar da economia, pois já se sabe, a política não enche a barriga a ninguém. Primeira promessa, ligações aéreas directas entre Taiwan e o continente (o tal “problema” para o moribundo aeroporto de Macau), já a partir do primeiro semestre do próximo ano. Se para o presidente de Taiwan que vai tomar posse no dia 20 de Maio, o entendimento é fundamental, e logo a começar pela economia, com uma forte componente social e política, então só se pode esperar um futuro risonho para a região.
E por falar em futuro, esse continua incerto. A questão da independência total parece praticamente afastada, o extremo oposto, ou seja, a integração completa de Taiwan como provincia da RP China (中國台灣省). Improvável também parece a adesão ao princípio de “um país, dois sistemas”, idealizado para Macau e Hong Kong, ou qualquer outro tipo de autonomia, uma vez que aqui não existe qualquer motivação étnica ou cultural. Mas o futuro, a partir desta aproximação que se quer sincera, pode ser encarado com mais optimismo.
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