Ontem cumpriu-se a tradição na maioria dos media e publicou-se a simpática peta do ano, que marca o 1º de Abril. Não me detive a detectar as mentiras em toda a parte, mas aqui, e como puderam perceber, foi o post intitulado “Verão condicionado”. Se ludibriei alguém que pensou que iamos ter ar-condicionado nas principais Praças de Macau, peço desculpa. E peço desculpa também pela humilde peta, é que não tenho ninguém a trabalhar para mim, nem quaisquer outros meios de fazer qualquer coisa melhorzinha. Mas pensei que tinha piada cumprir a tradição, se bem que não sou grande adepto deste dia.
Para já confunde; é preciso pensar sempre duas vezes antes de acreditar nas notícias, e praticar para na maior parte dos casos aquilo que os ingleses chamam
suspension of disbelief, cujo mecanismo se encontra cada vez menos activado em nós, pobre povo cínico e desconfiado que somos. Depois não há paciência para caçar mentiras, ou aturar notícias que são obviamente mentira, principalmente aquelas tão elaboradas mas cuja ideia básica assenta em qualquer coisa de impossível (como os pinguins que voam, no Jornal das 24), e ficamos com pena por causa do esforço dispendido. Aliás só me lembro de ter caido uma vez, ano da Expo, na notícia que dizia que a Torre de Belém ia ser deslocada para o Parque da Expo. Mas também foi muito devido ao facto do Telejornal da RTP ter passado aqui no dia 2. Tenho uma desculpa.
Mas porque será que mentem as pessoas? E quanto mentem? Tanto que até existe a necessidade de um dia que comemore a mentira (qualquer coisa a ver com os franceses e os antigos calendários). Segundo os psicólogos, mentimos de 5 em 5 minutos, em média. Numa omissão, num exagero, por insegurança, numa daquelas chamadas “mentirinhas brancas” de forma a não ofender alguém mais susceptível ou salvar uma relação mais atribulada, num elogio ao chefe quando aquela promoção está mesmo por um fio, ora como mecanismo de defesa, por medo das consequências ou sob coacção física ou psicológica. Existem ainda os mentirosos patológicos, medidos pela frequência da mentira e distância da verdade, que requerem acompanhamento psicológico. Portanto a lógica diz-nos que quanto mais tempo passamos acordados, mais mentimos.
A “verdade” é no entanto uma coisa muito relativa, pois o que é verdade para uns, é mentira para outros. Às vezes é apenas uma questão de gosto. E já dizia Adolf Hitler: uma mentira contada mil vezes torna-se numa verdade. Isto para demonstrar a falácia da verdade perante a mentira. A verdade é-nos apresentada de uma forma muito séria; ora se diz depois de uma revelação fatídica que “é a verdade crua e nua” ou chega-se ao ponto de ter de se jurar perante a Justiça que se vai dizer “toda a verdade” ou se diz que um indivíduo que tem um ar carrancudo e de poucos amigos que tem um “ar sério”, ou que alguém antipático que nunca dá os bons dias é “um gajo sério”. Quem quer ser mesmo levado a sério jura “pela saudinha” ou pela vida, que são os maiores bens, e mesmo assim às vezes mente.
Já a mentira é a invenção, a fantasia no seu esplendor. O Pinóquio, o personagem mais mentiroso da História, é um herói para as crianças. Eu pessoalmente acredito que o fascínio do Pinóquio reside no facto dele mentir, e não na lição irrealista que ensina às criancinhas. É impossível nunca mentir! E jurar que nunca mais se vai mentir é já por si uma mentira. Quem responde a um “gostas desta blusa?” com um 100% honesto “não, mas o teu gosto é péssimo e só se podia esperar o pior”? No máximo – no caso da blusa ser excruciantemente feia – pode sair um “sim, mas aquela é melhor”. Isto é o limite que se pode exigir de alguém, da natureza humana.
Mas o mundo é dos mentirosos. Ninguém chega longe dizendo apenas a verdade. É triste. Observe-se o exemplo dos politicos. Ninguém é eleito com um “vamos lá ver se conseguimos equilibrar as finanças públicas, não prometo nada, a nossa prioridade é combater a inflação e o desemprego, mas nunca se sabe…”. Uma vez eleitos continua o ciclo, desta vez já por vício ou cautela. Ninguém se justifica dos fracos resultados “é certo que existem desiquilíbriso vários, continuam a existir cunhas e compadrios, alguns empregos são ultra-remunerados e o despesismo tem sido enorme”. Sobretudo nunca assumem que erram. Não, a verdade é sempre uma outra variável.
Já quem “diz sempre as verdades” incomoda, e está normalmente na oposição ou é clinicamente saneado. É imediatamente apelidado de sacana sem vergonha, um terrorista, um invejoso, sofre ataques do mais vários tipos que podem mesmo chegar à confrontação física, e os seus defensores dizem de dedo em riste: “não gostam dele porque é uma pessoa frontal!”. Frontal quer dizer “que diz a verdade doa a quem doer”. Normalmente acaba por lhe doer a ele, vítima do sistema. Da máquina da treta.
1 comentário:
Caro Leocardo
A sua mentira foi boa e engraçada. Eu caí porque pensei que com tanto dinheiro dos casinos era efectivamente possível "fabricar" ar frio para o Largo do Senado.
Mas hoje não é dia de mentiras e o DN insere uma biografia sobre o Jorge Coelho, a propósito do seu novo tacho para a Mota-Engil, e onde entre outras loas se diz que no tempo dele Macau esteve à beira do estado de sítio, blá, blá, e que foi ele que conseguiu parar com uma revolta na polícia... porra!
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