quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Príncipe boicota


A decisão de Carlos, príncipe de Gales e primeiro na linha de sucessão ao trono britânico em não comparecer nos jogos olímpicos de Pequim deste ano está a ser usado como rampa de lançamento para persuadir figuras públicas a boicotar os jogos.

O príncipe Carlos confirmou junto da campanha "Free Tibet", sediada em Londres, que não tem intenções de comparecer na cerimónia de abertura dos jogos na capital chinesa. O príncipe ainda não recebeu nenhum convite formal, mas tem sido requisitado pelo embaixador chinês no Reino Unido no sentido de melhorar as relações.

O príncipe Carlos proferiu algumas declarações infames a propósito dos líderes da R.P. China em 1997, por altura da transferência de soberania de Hong Kong, apelidando-os de "patéticas figuras de cera", o que na altura provocou fricções entre a coroa britânica e Pequim.

A organização "Free Tibet", que se opõe à ocupação pela China daquele país (n.r.: província chinesa) dos Himalaias, não ambiciona que os comités olímpicos boicotem os jogos, mas encoraja figuras públicas a ficarem de fora, como protesto contra os alegados abusos dos direitos humanos praticados por Pequim, e a recusa do regime em dar a independência ao Tibete.

Desde a decisão do COI em atribuír a organização dos jogos olímpicos de 2008 à China, têm chovido críticas de organizações de defesa dos direitos humanos e apelos a boicotes. Estes são os primeiros jogos organizados num país socialista desde o fim da Guerra Fria, depois de Moscovo em 1980, boicotado na altura pelos Estados Unidos, e outros 64 países, incluíndo, curiosamente, a R.P. China.

9 comentários:

Anónimo disse...

Esse «n.r.: província chinesa» refere-se a que redacção? Ao Leocardo?

Leocardo disse...

Exactamente, "nós aqui no BdO" ;)

Anónimo disse...

Mas então o Leocardo considera o Tibete uma província chinesa?

Anónimo disse...

Caro Leocardo,

«Atribuir» e «incluindo» não têm acento.

Leocardo disse...

Corrector residente: obrigado.

Anónimo: é assim: oficialmente, o Tibete é uma província da R.P. China. Quer saber mesmo a minha posição? Sou a favor da auto-determinação do povo tibetano, claro. Mas isto tem de partir da vontade do povo do Tibete, e não de uma cambada de betinhos que acha "giro" apoiar causas e chatear um gigante (a China neste caso) sem saber da situação propriamente dita. Eu também queria a independêcia do Ribatejo, pode ser?

Anónimo disse...

Ok, entendido! Já somos dois a apoiar o direito do povo tibetano à sua independência. Mas é difícil a iniciativa partir deles, face ao controlo de Pequim sobre tudo o que ali se passa. Sem o apoio que vem de fora, nada feito.

Leocardo disse...

É por isso que é importante saber o que se passa na região. Quando visitei o Tibete em Abril de 2000 encontrei uma região pobre (como muitas na China) mas não encontrei casos gritantes de miséria humana e nem por um instante encontrei qualquer exemplo de opressão. Também me disseram que "vi o que me deixaram ver", mas a verdade é que andei lá bem à vontade e ninguém me proibiu de ir onde quer que fosse.

Em todo o caso temos aqui uma situação semelhante a Taiwan, só que ao contrário: o Tibete não era parte da China e foi anexado à força em 1950; passados alguns anos o Dalai Lama partiu para o exílio e a versão oficial tem sido "o Dalai Lama era um ditador", "a China libertou o Tibete" e que a região "sempre foi parte da RP China". A retórica foi abandonada mas a versão oficial mantem-se.

Talvez seja difícil para os tibetanos compreender a legitimidade de movimentos sediados no estrangeiro que lutam pela independência do Tibete; a maioria da população nasceu debaixo da bandeira da China e o tal "governo no exílio" - cujo primeiro ministro tinha 11 anos quando da invasão - já ficava satisfeito com um estatuto idêntico ao de Hong Kong.

A esse respeito, tibetanos que conheço que vivem no estrangeiro "congratulam-se" com a presença da China, e consideram que os invasores desenvolveram uma região atrasada e deprimida (mesmo para 1950) que vivia do pastoreio e da agricultura tradicional e era governada pelos líderes religiosos. Isto não quer dizer contudo que a China não tenha oprimido o povo, a religião, o seu direito histórico a praticá-la como forma de vida etc.

No fundo, por muitos que os artistas rock, actores de Hollywood ou outras personalidades públicas (apenas alguns políticos, esporadicamente, pronunciam-se sobre a questão do Tibete) batam o pé, a decisão final cabe à China. Não vejo qualquer tipo de pressão internacional palpável para resolver a questão do Tibete e as únicas intenções em empolar o assunto passam pela visita do Dalai Lama à Alemanha onde foi recebido pela sra. chanceler, e um boicote aqui ou ali.

Coisas que claro, irritam a China. Mas faz-se pouco, muito pouco.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Percebo o que diz, mas esse argumento do desenvolvimento trazido pela potência invasora também foi invocado pelos indonésios em Timor Leste...

Anónimo disse...

Free Tibet