quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Os nomes dos bois


Um grupo de moradores da área junto às ruínas de S. Paulo manifestou ontem, através do jornal "Ou Mun", o seu desagrado por certas e determinadas situações que têm ocorrido no seu quintal, por assim dizer. Aparentemente, e segundo estes moradores, grupos de "imigrantes do sudeste asiático" têm feito barulho até "altas horas" (há quem diga até às 23 horas) e, pasme-se, chegam ao ponto de fazê-lo "principalmente aos fins de semana e em vésperas de dias feriados"! Os vândalos.

Ora bem. De onde venho, o Ribatejo, chamamos os bois pelos nomes. Os tais "imigrantes do sudeste asiático" (até cansa escrever isto tudo) são, na verdade, filipinos. Isso mesmo, são filipinos e chamemos-lhes assim. Dada a natureza festiva deste povo, é normal que se juntem de vez em quando, tragam "por vezes os seus próprios instrumentos musicais" (uma das queixas dos moradores), que normalmente é uma guitarra. Não são tambores ou trombones. São guitarras. E acústicas, também.

Os moradores alegam que os filipinos "deixam muito lixo" no local da concentração. Não sei se os serviços municipais obrigaram estes locatários a recolher o lixo deixado pelos filipinos, mas deixem-me contar-vos uma pequena história. Perto de onde vivo existe um mercado municipal. O lixo só é recolhido por volta da uma da manhã, e enquanto isso existem "cidadãos idosos locais de etnia chinesa" (que tal?) que remexem as latas à procura de objectos de valor, espalhando o lixo pelo chão. Os vendedores de fruta deixam caixas com cascas de "durian" (o tal fruto que cheira a merda), que atrai ratos, moscas e outros insectos.

Mas isto torna-se mais grave quando se trata das ruínas de S. Paulo, património mundial da Unesco. Pois bem. Não sei que jornais lêem os simpáticos moradores da Rua de S. Paulo e arredores, mas caso ainda não saibam, esteve recentemente nas bocas do mundo o caso de uns certos senhores que planeiam contruír uns certos edifícios que vão tapar a idílica visão de um certo farol que também é património mundial da tal Unesco. Argumento que cai em saco roto? Infelizmente, parece que sim.

A questão do barulho é também um aspecto interessante e igualmente discutível. Perdoem-me se estou errado, mas não será nas ruínas de S. Paulo que decorrem todos os anos vários espectáculos inseridos no Festival de Música de Macau? Em alguns casos realizados em dias de semana e que muitas vezes terminam depois das 22 horas? Os moradores alegam ter chamado a polícia para dispersar os filipinos, sem resultado. Será que também chamam as autoridades durante o Festival?

A acusação mais grave, e provavelmente a mais porca será a dos filipinos "urinarem ao ar livre". Isto não se deve ao facto da gaita dos "pinoys" precisar de apanhar o fresco ar da Fortaleza do Monte, mas ao facto da única casa-de-banho pública existente no local...estar fechada. Parece que fecha às 10 da noite, disseram-me. Mas se é pública, porque carga de água se encontra fechada? Será que existe um horário para os urinóis públicos estabelecido de acordo com as necessidades fisiológicas humanas? Mistério.

Finalmente a questão do racismo intrínseco a tudo isto. Os filipinos juntam-se, à semelhança de qualquer outro residente permanente ou temporário, onde muito bem lhes apetece. Tem-se comentado em surdina que invadiram o Largo do Senado, ou que as meninas desta nacionalidade "atacam" de noite em alguns bares do Porto Exterior. So what? Onde pára o direito à reunião? Calo-me já se os filipinos fazem um tremendo banzé à porta da casa destes moradores, mas não sei porquê, quanto mais me dizem que isto "não é nada contra a nacionalidade das pessoas em questão", como referem no "Ou Mun", menos acredito.

7 comentários:

C disse...

Isso mesmo "Racismo e Xenofobia".
Tive a oportunidade de trocar umas ideias com um ressabiado desses e aqui:

http://passaleao.blogspot.com/2007/12/do-jornalismo-imberbe-denegridor-da.html

Anónimo disse...

Caro Leocardo,

Além dos Filipinos há também que ter em consideração os cidadãos indonésios em número crescente e que são responsáveis por «desacatos» da mesma natureza.

C disse...

Essas questões são deveras interessantes.
Já repararam que o tipo de racismo e xenofobia implantadas na Ásia, vão sempre no sentido do mais claro para o mais escuro i.e. na Índia (Bramanes), China (Culto da brancura), Sudeste-Asiático (Malásia e Indonésia os Bumi-Putras contra os Singaleses ou Indianos, etc...)
Foi preciso chegar Portugal com o Afonso de Albuquerque para proteger os "Intocáveis" e as demais populações racialmente discriminadas.

Anónimo disse...

Só uma pergunta, a guitarra havia de ser o quê, eléctrica?

Só se houvesse fichas públicas onde se pudesse ligar o respectivo amplificador...

Até me sinto tentado a dar-lhe razão mas...vá!!!

Cumprimentos

Jorge Antunes

VICI disse...

Caro Leocardo,

Fazendo fé no "mais vale tarde que nunca", passei por aqui para lhe desejar um bom ano novo!

Abraço!

Anónimo disse...

cala-te vitório!

Leocardo disse...

Meu caro Jorge Antunes, é óbvio que eu estava a ser sarcástico. É claro que só podia ser uma guitarra acústica. Só para realçar o facto de que não se tratam de nenhuns instrumentos estridentes. E ainda bem que me dá razão. Abraço.

VICI: um ano cheio de realizações fabulosas para si, bem vindo de volta! Um grande abraço.