quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: Pet Shop Boys


"I’ve got the brains, you’ve got the looks, Let’s make lots of money" - "eu tenho a inteligência, tu tens o charme, vamos fazer muito dinheiro", era a primeira estrofe de "Opportunities", um dos primeiros singles de sucesso dos Pet Shop Boys, o duo britânico que mais discos vendeu em toda a história, recorde registados pelo Guiness Book. E foi isso que fizeram Neil Tennant, um jornalista da revista musical "Smash Hits", e Chris Lowe, um arquitecto com uma paixão pela música electrónica, que se encontraram por acaso numa loja de aparelhagens de som em King's Road, em Agosto de 1981: juntaram-se e fartaram-se de vender discos - e fazer dinheiro. Começaram por se chamar "West End", mas mudaram de nome para Pet Shop Boys por causa de um amigo em comum que trabalhava numa loja de animais de estimação em Ealing. Alugaram um pequeno estúdio em Camden Town, onde durante o ano de 1982 compuseram alguns dos que viriam a ser os seus maiores êxitos, como "West End Girls", "Rent", "It's a Sin" ou "Jealousy". Em 1983 Tennant vai a Nova Iorque pela "Smash Hits" fazer a reportagem de um concerto dos Police, e conhece o produtor musical Bobby "O", a quem entrega uma cassete com alguns temas do grupo. Bobby "O" gosta, os Pet Shop Boys gravam 11 temas, que começam a ser tocados em rádios de ambos os lados do Atlântico - nos Estados Unidos e no Reino Unido.


O primeiro single sai em 1984 e é exactamente "West End Girls", com produção de Bobby "O". O impacto não foi o que se esperava, e em 85 o duo corta a ligação com o produtor norte-americano, assina com a editora Parlophone, baseada em Londres e contrata o "manager" Tom Watkins. "West End Girls" é reeditado em 1985 e "surprise, surprise", chega a nº 1 do top do Reino Unido e da Billboard Americana - melhor estreia os Pet Shop Boys não podiam ter. O primeiro álbum sai em 1986 com o título de "Please", e inclui outros singles como "Love Comes Quickly", "Opportunities" e "Suburbia". Este ultimo chega a nº 8 no Reino Unido, mas é nº 1 na Bélgica e na Polónia, e nº 2 na Alemanha e na Espanha, o que indicava já uma significante internacionalização do grupo. No final de 1986 sai "Disco", uma coleção de remixes dos temas incluídos em "Please".


Em 1987, na sequência do sucesso inicial, os Pet Shop Boys lançam o seu segundo de originais, "Actually", que consegue ter ainda mais êxito que o disco de estreia, e consolidam o grupo como um dos mais vendidos em todo o mundo. O primeiro single, "It's a Sin", é nº 1 no Reino Unido e em muitos outros países europeus. O tema é suportado por um videoclip ambicioso, realizado por Derek Jeman, e que conta com a participação da actriz Geena Davis no papel de "orgulho", personificando um dos sete pecados mortais. Com uma temática marcadamente religiosa, a canção foi escrita em 15 minutos por Tennant, que se diz ter inspirado na sua educação num colégio católico. Algumas partes da canção foram gravadas na Catedral de Westminster. "Actually" produziu ainda mais alguns singles de destaque, como "Rent", "Heart" e "What Have I Done to Deserve This?", com a participação vocal da saudosa Dusty Springfield.


Em finais de Novembro de 1987 os Pet Shop Boys lançam o single "Always on my Mind", uma versão de um tema de Elvis Presley, com mais um video memorável, e com a participação do actor Joss Ackland, que viria a participar no musical "It Couldn't Happen Here", o primeiro (e até agora único) filme da banda, e que chegou aos cinemas em Julho de 1988. "Always on my Mind" foi nº 1 no Reino Unido e um pouco por toda a Europa, e viria a ser incluído no terceiro álbum de originais, "Introspective", de Setembro de 88. Outros singles do novo disco foram "Domino Dancing", "Left to my own devices" e "It's Alright", além de "I'm not scared", tema que o duo compôs para outro grupo britânico, os Eight Wonder. Apesar de ser menos mediático que "Actually", este "Introspective" conseguiu vender ainda mais discos, sendo o 2º mais lucrativo a história dos Pet Shop Boys, batido apenas por "Very", de 1993.


Em 1989 os Pet Shop Boys fizeram a sua primeira tournée mundial de sempre, que os levou do Reino Unido a paragens tão distantes como Hong Kong ou o Japão. Depois desta correm rumores de que duo ia pôr um ponto final ao projecto, que já tinha sido bastante lucrativo, mas felizmente isso acabou por não passar disso mesmo: rumores. Em Setembro de 1990 sai o single "So Hard", que apresenta o novo trabalho de originais "Behaviour", um dos melhores da banda, e também um dos mais "soft". São uns Pet Shop Boys mais maduros que nos trazem temas como "My October Symphony", "Only the Wind", "To face the truth" ou este "Being Boring". Em 1991 gravam uma versão de "Where the Streets Have no Name", um tema dos U2, em medley com "I can't take my eyes of you", um tema dos anos 60. Em 1992 sai a colectânea "Discography", com dois novos temas, "DJ Culture" e "Was it worth it", acompanhada com uma colectânea de vídeos, "Videography". O novo disco de originais, "Very", de 1993, é ainda hoje o disco mais vendido da banda, e inclui uma versão de "Go West", um clássico dos Village People. Em 1994 sai "Disco 2", mais um disco de remixes, e em 1996 o novo "Bilingual" mostra uma viragem para o Brasil e para o samba, como demonstra o single de apresentação "Se a Vida É". Os anos 80 tinham sido fantásticos, e os 90 prosseguiam igualmente gloriosos para o duo.


O virar de século foi marcado por "Nightlife", novo disco de originais colocado à venda em Outubro de 1999, de onde sairam "New York City Boy" ou "In Denial", com a participação de Kylie Minogue. O novo milénio não initimidou os Pet Shop Boys, que já gravaram desde 2001 mais cinco trabalhos de originais, sendo o último "Electric", de 2013, que foi anunciado em Maio pelo single "Axis". Pelo meio temas para todos os gostos: uns mais dançaveis, outros mais suaves, algum humor à mistura, convidados de respeito, sempre com Tennant e Lowe a procurarem inovar, e não deixar o tempo fazer deles uma peça de museu datada. Uma viagem de 30 anos que começou nos longíquos anos 80, e pelos vistos ainda está longe de chegar à última estação.

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