quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Os sons dos 80: Cazuza


Cazuza, um poeta brasileiro.

Agenor de Miranda Araújo Neto nasceu em 1958 no Rio de Janeiro, e desde o dia que veio ao mundo ficou conhecido por "Cazuza", nome que o avô lhe queria dar, e pelo qual foi tratado desde a infância até ao fim prematuro dos seus dias. O seu pai era João Araújo, produtor fonográfico, e graças a isso Cazuza teve desde novo contacto com a música e os estúdios de gravação. A sua primeira influência foi o músico popular Cartola, que també se chamava Agenor, e as suas primeiras preferências foram por temas românticos e melancólicos, e artistas como Dolores Duran, Lupicínio Rodrigues, Maysa ou Dalva de Oliveira. Uma visita a Londres com os pais em meados dos anos 70 abriu-lhe os olhos para o "rock" e outros estilos mais "rebeldes", e Cazuza passou a escutar grupos como Led Zeppelin ou os Rolling Stones, cantores como Bob Marley ou Janis Joplin, e no panorama musical brasileiro "bebeu" da influência de Lulu Santos, Rita Lee ou Elis Regina. Em 1979 foi tirar um curso na Universidade de Berkeley, na Califórnia, onde tomou contacto com os poetas malditos e com a Geração Beat, que o viriam a influenciar como letrista. Em 1980, de regress ao Brasil, junta-se a uma troupe de teatro independente, e numa das actuações canta pela primeira vez perante o público. O cantor Léo Jaime, que havia recusado integrar um novo grupo se havia formado no bairro carioca de Rio Comprido indicou-o para o seu lugar, e assim nasciam os Barão Vermelho.


Os Barão Vermelho tinham no departamento criativo Cazuza, que escrevia as letras, e o guitarrista Roberto Frejat, que compunha a música. A relação entre ambos era pontuada de diferenças de génio, mas quando combinavam, conseguiam produzir temas geniais. O primeiro disco chamou-se "Barão Vermelho" e saíu em 1982. O disco de estreia continha os temas "Todo o Amor que Houver nessa Vida" e "Bilhetinho Azul", e apesar de elogiado pela crítica, vendeu apenas sete mil cópias. No ano seguinte sai "Barão Vermelho II", que inclui o tema "Pro dia nascer feliz", que marcaria o arranque da banda para o sucesso. O Brasil estava em plena ditadura military, a censura controlava de perto o que se fazia nas artes, e as rádios passavam sobretudo Música Popular Brasileira. Foi depois de Ney Matogrosso ter gravado uma versão deste tema que os Barão Vermelho deixam de ser considerado uma "banda maldita", e entram na casa dos brasileiros.


Com o sucesso de "Pro dia nascer feliz", os Barão Vermelho gravam "Bete Balanço", para a banda Sonora do filme com o mesmo nome. O tema viria a ser incluído no terceiro álbum de originais dos Barão, "Maior Abandonado", que seria o último com a participação de Cazuza. As diferenças com os restantes elementos do grupo, especialmente com Roberto Frejat, iam-se acentuando a cada dia que passava, e depois de uma memorável prestação no festival "Rock in Rio" em 1985, Cazuza sai do grupo e decide começar uma carreira a solo. Nesse mesmo ano sai "Exagerado", o seu primeiro projecto sem os Barão Vermelho - o criativo tinha finalmente asas para voar. Apesar da saída de Cazuza, os barão Vermelho continuaram, assim como as colaborações com Frejat nos discos a solo do cantor, até ao fim da sua vida.


Cazuza gravou cinco LPs a solo, o último deles editado postumamente, em 1991. O seu disco a solo de maior sucesso terá sido "O Tempo não pára", uma espécie de colectânea que incluía alguns originais, entre eles este tema que dava nome ao álbum. Cazuza foi sempre homossexual assumido, e por volta de 1987 contraíu o virus da SIDA, que lhe trouxeram complicações graves em termos de saúde. O cantor só assumiu que estava infectado em 1989, e no ano seguinte viria a morrer ce choque séptico, aos 32 anos. Apesar da sua carreira curta e fugaz, Cazuza é considerado um dos maiores génios da música moderna brasileira, e foi considerado pela revista Rolling Stone o 34º artista brasileiro mais influente de todos os tempos. Em 2004 o actor Daniel Oliveira voltou a dar vida a Cazuza no filme biópico intitulado - como não podia deixar de ser - "O tempo não pára". O tempo nunca parou para Cazuza, e pode-se dizer que ele aproveitou-o da melhor forma que podia.


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