quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Notas de um fim de Serpente


O que deseja você para este Ano Novo Lunar? Está aí o último dia do Ano da Serpente, e à meia-noite os panchões anunciam a chegada do Ano do Cavalo. Parece mentira que já tenham passado doze anos desde o anterior Cavalo. Tantas aventuras fantásticas que vivi, e que doces memórias guardo desse magnífico Cavalo, e em todas elas estava plenamente consciente que "isto só me está a acontecer porque estamos no Ano do Cavalo".

Agora falando a sério - ou talvez não. Há pouco estava a ver o Telejornal, que foi à rua saber o que querem os cidadãos para este Ano Lunar que amanhã começa. Os portugueses ainda confundem isto com o Natal, ou com o nosso Ano Novo, e dizem que querem "paz", "saúde" e outras inaninades. Uma senhora macaense, mais pragmática e conhecedora das tradições locais disse querer que "mandem embora a Secretária para a Administração e Justiça", que segundo ela, "faz tanta falta como uma viola num enterro". Isto é o que se chama ser curto e grosso, e posso quase garantir que não se tratava do Pereira Coutinho disfarçado de idosa.

O nosso Chefe do Executivo disse, e parem já as rotativas, "que vai apostar na diversificação da oferta turística", de forma a "dispersar a concentração de visitantes nas mesmas zonas". Interessante, isto. Não sei porquê, mas temos um sítio conhecido por "Doca dos Pescadores", onde existe uma réplica do circo romano, e as pessoas insistem em irem ver aquela porcaria das Ruínas de S. Paulo, tão feias. Não dava para tirar aquilo dali? Mais: até ao dia 9, é possível que uma das faixas de circulação de automóveis na Av. Almeida Ribeiro seja fechada para facilitar a circulação dos peões, e aquela Praça de Táxis ridícula onde há pessoas a fazer fila durante três ou mais horas vai ser mudada para junto do Edifício do Banco Luso. Prefiro ficar em casa mesmo, obrigado.

Noutra actualidade, parece que afinal a população "não demonstra grande interesse" na contratação de ajudantes familiares (vulgo empregadas domésticas) da China continental. Isto é o que se chama começar a construír a casa pelo telhado; onde estava esta "consulta popular" durante os anos que vêm anunciado a contratação de empregadas do continente, como se fossem a solução para todos os males do mundo? Nos mercados municipais, doidas, doidas, doidas andam as galinhas, e em plena época de festividades e jantaradas, os consumidores andam preocupados com a gripe aviária. Um deles diz que já não consome aves "há seis ou sete meses, desde que começaram as notícias sobre a gripe". Sim senhor, este é que é um palerma bem informado. É como eu: também já deve ir para mais de um ano desde a última vez que apanhei um táxi.

E pronto, por este Ano da Serpente é (quase) todo o fel que consigo despejar - amanhã há mais. Agora resta-me desejar a todos um Kung Hei Fat Choi, um San Tai Kin Hong, e um grande Não Me Chateiem, pá. E agora se não se importam vou receber condignamente o Ano do Cavalo: na cama, a dormir. Vão pela sombra.

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