sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Não fui ao beija-mãos


Vejam só como deixaram essa mesa, seus javardos!

Não, não fui ontem ao beija-mãos do Ano Novo Lunar. Não fui porque não me apeteceu, e depois? Ai disse que ia quando fizeram passar aquela lista parva duas semanas antes para confirmar a presença? E depois? Em duas semanas nasce e more muita gente. Deram pela minha falta? Duvido. Se especularam sobre a verdadeira razão da minha ausência? Com toda a certeza, e sabem uma coisa? Têm razão. Seja qual for o motivo que apontarem, foi isso mesmo. Ia, ia, foi exactamente o que se passou. Pois, pois, estava numa orgia com prostitutas e montes de cocaína e fui detido pelas autoridades. Fui para casa chorar porque me trataram mal. Faltei para me armar em importante e falarem de mim. Tudo isto e mais aquilo que quiserem.

"Mas era o almoço de Ano Novo, Leocardo, respeita as tradições", dirão uns. "Tem consideração pelos teus colegas, pelo menos", dirão outros. Epá, bom proveito, e vejam lá se não se engasgam, ou se não bebem por acidente o cálice envenenado por algum lacaio, eunuco ou outro conspirador que ambiciona a cadeira ao lado do rei. Ou da rainha, neste caso. Era pior se fosse o contrário, pensem lá bem. Imaginem que dizia primeiro que não ia, preparavam tudo para um número exacto de pessoas, e depois resolvia aparecer. Ia ser o diabo, com tudo entrar em pânico, cotovelos a entrar nos olhos enquanto todos se espremiam para me tentar acomodar. Ia tudo passar fominha da grossa, uma vez que a minha porção de comida ia complicar a precisa equação destinada a cada um dos outros convivas. Assim não fui, comeram mais, estão a ver? Lembrem-se de mim quando arrerem as próximas duas ou três poias, que pode ser que esteja lá a minha contribuição.

Deselegante, faltar a uma reunião de co-palacianos nesta época onde tudo é suposto ser harmonia, união, prosperidade e o caralho, mas pensaram nisso antes de minarem completamente o campo? Agora queixam-se de que faço estrondo cada vez que piso numa mina. Ora, desculpem, mas acho que acabei de ficar sem a outra perna. Importam-se que gema de dor, nem que seja um "ui" pequenino? O que fui fazer em vez de me sentar à mesa com os restantes no banquete dos danados? Já nem me lembro. Acho que fui dormir, mas se me perguntarem digo que estive a dar uma queca. Posso até ornamentar a fábula: ia a caminho do restaurante cheio de vontade de disfrutar uma boa dose de harmonia e de prosperidade, quando apareceu à minha frente a Scarlett Johansson completamente nua a implorar-me que fizesse amor com ela a tarde toda, caso contrário morria, e ainda me pagava dez milhões de dólares pelo sacrifício. Perante estes argumentos, queriam que eu fizesse o quê?

Portanto espero que vos tenha escorregado na língua como uma enguia, o arrozinho, as massinhas, a canjinha, e toda essa merdinha. E já agora que a integridade dos ingrediantes usados esteja garantida, não vão depois derreterem-se em diarreia, ou Deus vos livre, apanhar gripe aviária. Já é o que é ter que ouvir certas galinhas a cacarejar, imaginem o que seria se ainda tivesse que as aturar constipadas? Atch-cócoró-im! Portanto aproveitem o Ano do Cavalo, para prosseguir com o vosso elaborado plano para conquistar o mundo daquelas 20 ou 30 pessoas que precisam de vos aturar todos os dias. Espero que tenham guardado algum veneno do ano da Serpente, que pode vir a fazer-vos falta. E por falar em Cavalo, um mangalho daqueles dava mesmo um jeito do caraças, não dava? Pois é, não fui ontem ao beija-mãos do Ano Novo Lunar. Escolhi antes a barca da salvação. San Nin Fai Lok, "fuckers"!.

Não é lã, é cabelo


Uma mulher chinesa encontrou um meio pouco usual e até algo tétrico para preservar a memória da sua juventude. Xiang Renxian, 60 anos, demorou 11 anos e usou 116058 fios do seu próprio cabelo para tricotar um casaco e um chapéu para o marido. Xiang disse que teve a ideia quando começou a perceber que o seu cabelo começava a perder brilho, e o melhor era encontrar uma forma de preservá-lo, criando qualquer coisa com ele: “Na minha juventude, sempre fui famosa por ter um cabelo longo maravilhoso. Quando cheguei aos 49 anos, percebi que não ia ser para sempre assim". O casaco pesa quase 400 gramas, e o chapéu pouco mais de 100 gramas, e Xiang diz que o mais difícil foi separar os cabelos necessário. A técnica, essa, é a mesma de qualquer tipo de novelo que se usa no tricot, só que em vez de lã ou outro material, usou cabelo. “Aconteça o que acontecer no futuro, saberei que isso sempre estará lá como uma lembrança da minha juventude e das boas lembranças que eu e meu marido compartilhamos nesse tempo”. Agora resta saber se o senhor apreciou a atenção, e vai andar vestido com a "caspa" da esposa.

Os sons dos 80: Depeche Mode


Depeche Mode no início, com toda a frescura própria da "pop" dos anos 80.

Continuando pela música electrónica, e mais ou menos dançável, chegou a altura de falar com uma das bandas que mais de identifica com os anos 80 - pelo menos em termos de popularidade - os Depeche Mode. Formados exactamente em 1980 em Essex, na Inglaterra, os Depeche Mode tinham no seu alinhamento inicial Dave Gahan, Martin Gore, Andy Fletcher e Vince Clarke. Os três primeiros mantêm-se no grupo até hoje, enquanto Clarke saíu depois do primeiro álbum para formar primeiro os Yazoo, com Allison Moyet, e mais tarde os Erasure, onde ainda permanence ao lado de Andy Bell.


"Speak and Spell", de 1981, foi o primeiro disco dos Depeche Mode, que chegou a nº 10 no Reino Unido - nada mau para uma estreia. Para o segundo trabalho, no ano seguinte, entra Alan Wilder para o lugar de Vince Clarke, e "A Broken Frame" chega a nº 8 do top britânico. Seria em 1983 com o terceiro álbum, "Construction Time Again" (nº 6 no Reino Unido) que os Depeche Mode se tornariam mais conhecidos do grande público fora do Reino Unido, e muito por culpa deste single, "Everything Counts", muito mais acessível que o seu trabalho inicial.


Chegamos a 1984, o ano decisivo da "rock-pop", com a entrada de nomes como Madonna, Michael Jackson, Prince, George Michael ou Boy George na galeria dos "imortais" da década de 80, e os Depeche Mode iam tentando chegar ao topo com "Some Great Reward", o seu quarto registo de originais. A "recompensa" não foi assim tão grande, apesar do nº 5 no top do Reino Unido, onde iam melhorando progressivamente. Contudo o disco ficou marcado pelo sucesso do tema "People are People" - a primeira que ouvi do grupo - que foi o seu primeiro "hit single" nos Estados Unidos, chegando ao nº 13 do Billboard-100. Na Alemanha, onde eram especialmente populares, "People are People" foi nº 1, e "Some Great Reward" nº 3 da tabela de álbums. No país dos Kraftwerk, a música electrónica era levada a sério.


Foi preciso esperar até ao pós-Live Aid para ter os Depeche Mode a frequentar assiduamente os tops. O seu regresso dá-se em 1986 com "Black Celebration", que continha os singles "A Question of Time" e "A Question of Lust", e que foi bem recebido tanto pelos fãs como pela crítica - nº 3 no Reino Unido, nº 2 na Alemanha e nº 1 na Suíça, além da certificação como "disco de ouro" da Billboard Americana, apesar de não ter passado do nº 90 no top-200. Em 1987 sai "Music for the Masses", onde se inclui este "Strangelove", um dos temas mais conhecidos do grupo, e que lhes valeu o 1º lugar no top de "Hot Dance Club Play" da Billboard. Apesar de ser evidente tratar-se de música de dança, acentuava-se o tom sombrio, a voz cavernosa de Gahan, que pareciam fadá-lo para "poeta maldito" de uma geração.


"Music for the Masses" ainda não foi o nº 1 que os Depeche Mode tanto ambicionavam no seu país natal, o Reino Unido, e de facto quedou-se pelo nº 10. Isto não os impediu de partir numa digressão mundial com o (muito) material que tinham, e num desses concertos, o 101º, aproveitaram para gravar um duplo-álbum ao vivo, a que chamariam precisamente "101". O disco, acompanhado de documentário, foi gravado durante o concerto de 18 de Junho de 1988 no Rose Bowl em Pasadena, na Califórnia, e posto à venda em Março do ano seguinte. Dele selecionei este tema, "Shake de Disease". A ambiciosa produção e o carácter informativo do projecto
deram a conhecer os Depeche Mode a um público mais vasto, e preparava o caminho para o que se seguiu.


E o que se seguiu foi exactamente "Violator", o magnum opus de Gahan e seus pares. Com mais de 15 milhões de cópias vendidas, "Violator" foi certificado disco de ouro e múltipla platina em oito países, incluíndo Estados Unidos e Reino Unido - onde mesmo assim não foi além do nº 2. O disco manteve-se nos tops um pouco por esse mundo fora até 1992, com temas fortes que dispensam apresentações, como "Personal Jesus", "Policy of Truth" e este "Enjoy the Silence". Era difícil fazer melhor que "Violator", e talvez consciente disso mesmo, Gahan começa a trazer problemas para o grupo. Dependente de heroína, conhecido pelo seu feitio imprevisível, constantemente a fazer e apagar tatuagens, viria a tentar suicidar-se cortando os pulsos em 1995, e no ano seguinte teve uma "overdose" com um "speedball", uma mistura de heroína e cocaína. Pelo meio fica o álbum "Songs of Faith and Devotion", de 1993, que é FINALMENTE nº 1 no Reino Unido e na Billboard.


Mais uma prova que os anos passam mesmo por toda a gente.

É com David Gahan reabilitado que os Depeche Mode regressam em 1997 com "Ultra", mais um nº 1 em terras de Sua Majestade. Depois disso mais quatro trabalhos de originais, sendo o último deles "Delta Machine", do ano passado - para provar que ainda são o que são, chegaram ao nº 2 no Reino Unido e ao nº 1 da Billboard. Com uma carreira de mais de 30 anos com muitos altos e baixos, foi na década de 80 que os Depeche Mode se afirmaram como grande banda, e que culminaria em 1990 com "Violator", que os levou ao super-estrelato. Seguiu-se uma longa decadência, mas ainda hoje mantêm uma fiel legião de fãs de todas as idades (?), e vão fazendo parte da lista de convidados que gostariamos de ter numa festa privada organizada por nós. Era só necessário manter Dave Gahan longe do bar.

Eis o Super-Papa


Já era de prever uma coisa destas. A popularidade do Papa Francisco, o pontífice mais "fixe" da história da Igreja Católica dá para tudo, e os agora é a vez da arte urbana dar o seu contributo. O "Super-Papa" apareceu ontem pintado na parede de um edifício junto ao Vaticano, em Roma, Itália, e mostra Jorge Mario Bergoglio a voar com a sua capa branca e com uma mala com a legenda "valores", onde também se vê um cachecol vermelho e azul, as cores do clube argentino que o Papa apoia, o San Lorenzo. A obra é assinada por Maupal, um "grafiteiro" italiano, e mereceu a aprovação do Vaticano, que partilhou esta imagem no Twitter, para a apreciação dos seus 84 mil seguidores.

Gato desnaturado


Uma mulher abandonou o seu gato por este ser alegadamente "gay". Uma história de homofobia, decepção e racismo que nos chega da Nigéria, ironicamente. A senhora abandonou o bichano nas ruas de Lafia devido ao seu "comportamento sexual anormal", pois o felino "recusava a companhia do sexo oposto", e por isso "não conseguia encher a sua casa de gatinhos". A última gota foi quando uma das gatas da casa teve uma ninhada, e "nenhuma das crias tinha a mesma côr do pelo do gato macho". Quando lhe perguntaram porque tinha abandonado o seu animal de estimação, a mulher respondeu: "Se houver alguém interessado neste gato gay pode ficar com ele, porque para mim já não serve para nada".

Vídeo da semana


O West Ham foi a meio desta semana empatar em Stamford Bridge frente ao Chelsea de José Mourinho, conquistando um precioso ponto na luta pela fuga aos lugares da despromoção. Enquanto o técnico português lamentou a atitude defensiva dos "hammers", que "só vieram com o objectivo de levar um ponto", do outro lado Sam Allardyce estava visivelmente animado. O treinador do West Ham, conhecido pelos adeptos ingleses por "Big Sam", ria-se do caso como se fosse uma anedota muito engraçada. Uma reacção curiosa, que não se vê todos os dias no desporto-rei.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Notas de um fim de Serpente


O que deseja você para este Ano Novo Lunar? Está aí o último dia do Ano da Serpente, e à meia-noite os panchões anunciam a chegada do Ano do Cavalo. Parece mentira que já tenham passado doze anos desde o anterior Cavalo. Tantas aventuras fantásticas que vivi, e que doces memórias guardo desse magnífico Cavalo, e em todas elas estava plenamente consciente que "isto só me está a acontecer porque estamos no Ano do Cavalo".

Agora falando a sério - ou talvez não. Há pouco estava a ver o Telejornal, que foi à rua saber o que querem os cidadãos para este Ano Lunar que amanhã começa. Os portugueses ainda confundem isto com o Natal, ou com o nosso Ano Novo, e dizem que querem "paz", "saúde" e outras inaninades. Uma senhora macaense, mais pragmática e conhecedora das tradições locais disse querer que "mandem embora a Secretária para a Administração e Justiça", que segundo ela, "faz tanta falta como uma viola num enterro". Isto é o que se chama ser curto e grosso, e posso quase garantir que não se tratava do Pereira Coutinho disfarçado de idosa.

O nosso Chefe do Executivo disse, e parem já as rotativas, "que vai apostar na diversificação da oferta turística", de forma a "dispersar a concentração de visitantes nas mesmas zonas". Interessante, isto. Não sei porquê, mas temos um sítio conhecido por "Doca dos Pescadores", onde existe uma réplica do circo romano, e as pessoas insistem em irem ver aquela porcaria das Ruínas de S. Paulo, tão feias. Não dava para tirar aquilo dali? Mais: até ao dia 9, é possível que uma das faixas de circulação de automóveis na Av. Almeida Ribeiro seja fechada para facilitar a circulação dos peões, e aquela Praça de Táxis ridícula onde há pessoas a fazer fila durante três ou mais horas vai ser mudada para junto do Edifício do Banco Luso. Prefiro ficar em casa mesmo, obrigado.

Noutra actualidade, parece que afinal a população "não demonstra grande interesse" na contratação de ajudantes familiares (vulgo empregadas domésticas) da China continental. Isto é o que se chama começar a construír a casa pelo telhado; onde estava esta "consulta popular" durante os anos que vêm anunciado a contratação de empregadas do continente, como se fossem a solução para todos os males do mundo? Nos mercados municipais, doidas, doidas, doidas andam as galinhas, e em plena época de festividades e jantaradas, os consumidores andam preocupados com a gripe aviária. Um deles diz que já não consome aves "há seis ou sete meses, desde que começaram as notícias sobre a gripe". Sim senhor, este é que é um palerma bem informado. É como eu: também já deve ir para mais de um ano desde a última vez que apanhei um táxi.

E pronto, por este Ano da Serpente é (quase) todo o fel que consigo despejar - amanhã há mais. Agora resta-me desejar a todos um Kung Hei Fat Choi, um San Tai Kin Hong, e um grande Não Me Chateiem, pá. E agora se não se importam vou receber condignamente o Ano do Cavalo: na cama, a dormir. Vão pela sombra.

- Prefiro prosa... - Ai sim? Então morre!


Dois russos da cidade de Irbit, na região de Svorblosk, discutiam literatura num bar onde estavam a beber. Os homens, na casa dos cinquenta anos, desentenderam-se quando um deles defender a prosa como a verdadeira literatura, sobreposta à poesia. O outro, um antigo professor de Literatura discordou, disse preferir a poesia, e daí saca de uma faca e mata o outro. As autoridades dizem ter-se tratado de "uma discussão sobre génios literários que acabou em rixa". Uma coisa normal, acrescento eu. 1) São russos, 2) Estavam bêbados, 3) Aconteceu na Rússia.

Os sons dos 80: italo-disco


Falei no Domingo do fenómeno do Eurodisco, a resposta europeia à "disco music" americana durante os anos 80. Mas dentro desse Eurodisco, há um género que merece ser apreciado individualmente: o italo-disco. Tal como os "spaghetti westerns" dos anos 70, era de Itália que chegava o que de mais e melhor se tocava nas pistas de dança pela Europa e não só. Os artistas eram 100% italianos, ou pelo menos completamente radicados em Itália, mas optavam por cantar em inglês, procurando outros mercados para além dos Alpes. O "padrinho" desta moda, sem segundas leituras que possam ofender os meus amigos italianos, foi Giorgio Moroder, uma espécie de génio da música electrónica que teve grande popularidade além-fronteiras nos anos 80, e que lhe valeram dois óscares da Academia para melhor canção original - um deles com este "Together in Electric Dreams", onde "empresta" a voz Phil Oakey, dos Spandau Ballet. Alguns dos artistas que escolhi para este capítulo da rubrica dedicada à década mais louca da música são bem conhecidos, e outros podem aparecer como uma surpresa para o leitor menos atento: "afinal este gajo era italiano???".


Por exemplo, recordam-se deste "I Love Chopin", de um tal Gazebo. Isso mesmo, o artista conhecido por "Gazebo" é um tal Paul Mazzolini, italiano nascido no Líbano, e o autor de "I Like Chopin" é Pierluigi Giomboni. O single de 1983 foi nº 1 nos tops da Suíça, Espanha, Áustria e Alemanha, e nº 2 na Itália (curiosamente) e França, e deu origem a várias versões, incluíndo esta de Alan Tam, de 1992, e que voltaria a ser gravada por Faye Wong, em 1999.


Ken Laszlo, um nome que soa a húngaro de origem ou pelo menos de ascendência, não era mais que o nome artístico de Gianni Coraini, um italiano de Florença que aproveitou a "onda" de Giorgio Moroder no início dos anos 80. O seu single mais conhecido será "Don't Cry", mas foi com este "Hey Hey Guy" que pôs as pistas de dança europeias a dançar. Actualmente Coraini continua a trabalhar como DJ em Itália, e já não coloca êxitos da italo-disco nos pratos, naturalmente, mas continua a gravar ocasionalmente, e "só para conhecedores".


Os Scotch eram um trio composto por Manlio Cangelli, Vince Lancini e Fabio Margutti, que saltaram para a atenção dos fãs da disco com o seu single "Disco Band", de 1984. O seu longa-duração "Evolution", no ano seguinte, teve uma boa recepção, e tanto "Disco Band" como outro single "Take Me Up", chegaram ao top-20 português, chegando a nº 4 e nº 11, respectivamente. Contudo considero este "Mirage", que foi nº 2 na Suécia, a sua melhor canção. Curiosamente é nesta que grande parte da letra é cantada em italiano.


E por falar em tops, lembram-se deste? Isso mesmo, "Tarzan Boy", que fez o seu grito ecoar pela lista de discos mais vendidos em Portugal no Verão de 1985, em competição directa com esse "monstro" que foi "We Are the World". Os autores do feito eram os Baltimora, um grupo italiano com um vocalist irlandês, Jimmy McShane, que viria a morrer vítima de SIDA em 1995, aos 37 anos. Além de Portugal, "Tarzan Boy" chegou a nº 1 em Espanha, França, Bélgica e Holanda, e coisa rara para um êxito da italo-disco, foi nº 3 do exigente top do Reino Unido. E mais: no top-100 da Billboard "trepou" até ao nº 13. E digam lá se não era irresistível? Oh oh oh oh oh oh oh oh...oh oh oh oh oh oh oh oh oh...


E claro que deixei o melhor para fim. O melhor, dependendo dos gostos, claro. Sabrina Salerno, ou apenas Sabrina, tomou de assalto a Europa no Verão de 1987 com o tema "Boys", que foi o seu primeiro êxito em inglês. O vídeo que acompanha o single é memorável, e nele vemos a estrábica Sabrina a cantar numa piscina, enquanto parecia ter algumas dificuldades com o guarda-roupa, nomeadamente a parte superior do bikini, que não conseguia conter os seus enormes...ahem, talentos. Uma versão "soft" do deboche italiano dos anos 80, que tinha a sua expressão máxima na actriz porno e deputada Cicciolina.


A moda da italo-disco durou praticamente durante toda a década de 80, e viria a perder o seu gás com a italo-house (estes italianos parecem ser muito senhores do seu nariz). É claro que não é possível falar de todos que contribuiram para este fenómeno, mas já agora ficam menções honrosas para Silver Pozzoli e o seu êxito "Around my dream", Spagna, conhecida pelo tema "Call Me" ou ainda os artistas italianos que cantavam na sua língua original sucessos que passaram nas pistas de dança, como Eros Ramazotti ou Gianna Nannini - sim, irmã do ex-pilot de F1 Alessandro Nannini. Os anos teimam em passar, mas a memória fica...

Com um brilhozinho nos olhos


"Ainda há estrelas no teu olhar", era o tema de abertura do álbum "'Té Já", de Jorge Palma, que podia muito bem ser aplicado a este estranho caso. Um electricista norte-americano, cuja identidade não foi divulgada, levou um choque que o deixou com cataratas da forma de estrelas no globo ocular. O acidente deu-se há dez anos, quando o homem tocou acidentalmente com o ombro num cabo eléctrico com uma carga de 14 mil volts, mas só foi identificado pela comunidade médica agora que o paciente resolveu pedir ajuda. Segundo o dr. Bobby Korn, oftalmogolista da Universidade da Califórnia, diz que a "electricidade percorreu todo corpo do paciente, causando-lhe danos permanentes no globo ocular, provocando-lhe a redução da visão em ambos os olhos". O dr. Korn acrescenta que "o paciente tem muita sorte em ter sobrevivido", mas não consegue explicar a razão das cataratas que a descarga provocou terem forma de estrelas. É caso para dizer que o electricista "ficou a ver estrelas"...e ainda vê. Só que vê mal, coitado.

Papa was a Rolling Stone


O Papa Francisco, líder da Igreja Católica, fortaleceu a sua imagem de estrela "pop", ao aparecer na capa da revista Rolling Stone. O mais conhecido magazine de música moderna do mundo elegeu o sumo-pontífice para sua capa desta quinzena, que chega às bancas amanh (sexta-feira). Na imagem vemos um Papa Francisco sorridente e a acenar, ao mesmo tempo que se lê "Pope Francis: the times are a'changing", ou "Papa Francisco: os tempos estão a mudar", uma referência a um clássico do cantor Bob Dylan. No interior da revista vem um perfil de 800 palavras onde se destaca o facto do novo Papa ter mudado a perspectiva com que as pessoas encaram o Vaticano em menos de um ano de pontificado, e tenha abordado temas sensíveis como a homossexualidade ou os crimes sexuais por parte do clero, que antes eram tabu para a igreja. No entanto num inquérito recente realizado entre católicos norte-americanos, a maioria diz "não se rever" na doutrina da Igreja no que toca à sua posição quanto ao aborto, a contracepção e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Pois é, Chico, qualquer publicidade é boa publicidade, dizem. Mas com honras de capa na Rolling Stone, a bíblia daqueles que um dia a igreja chamou de "adoradores de Satanás", a responsabilidade aumenta. Mostra lá à malta que és mesmo "rock'n'roll".

E depois do susto



"Come and play with us, Danny. Forever... and ever... and ever.” O que faz lembrar isto? Isso mesmo, uma das imagens mais assustadoras de que há memória. Quem viu o filme "Shinning", de 1980, realizado por Stanley Kubrick baseado numa obra de Stephen King, lembra-se certamente das irmãs gémeas que assombram o Hotel onde um banho de sangue se prepara para acontecer...outra vez. Bem, as gémeas Loiuse e Lisa Burns, protagonistas deste momento que ainda causa arrepios a muita gente, tinham apenas 12 anos na altura, e agora que festejaram as 46 primaveras (no mesmo dia, obviamente) decidiram publicar no Facebook e no Twitter uma fotografia actualizada das suas horríveis figuras. Vendo bem, ainda assustam um pouquinho. Depois de "Shinning", que viria a ser o seu último (único?) filme, as irmãs resolveram desistir do sonho da representação, e foram fazer pela vida. Lisa é actualmente professora de Literatura, e Louise é micro-biologista. Ainda assim, 34 anos depois da "loucura" de Kubrick, são ainda presença frequente de convenções sobre filmes de terror. Como curiosidade, e paradoxo, de certeza.

Clubes da capital empatam, City aproveita


Realizou-se a meio desta semana mais uma ronda do campeonato inglês, a Premier League, desta feita a 23ª. Contas feitas aos jogos de terça e de quarta-feira, pode-se dizer que o Manchester City foi o grande beneficiado, isolando-se na liderança por troca com o Arsenal, e ainda ampliando a vantagem sobre o terceiro, o Chelsea, para três pontos. Tudo começou na terça no The Dell, em Southampton, onde o Arsenal deixou dois pontos, fruto de uma igualdade a duas bolas. O português José Fonte adiantou os "saints" no marcador aos 21 minutos, resultado com que se chegaria ao intervalo, mas logo no início da etapa complementar a "ala latina" dos "gooners" virava o resultado em apenas quatro minutos, com o francês Olivier Giroud e o espanhol Santiago Cazorla a assinarem os golos, aos 48 e aos 52 minutos. Mas foi sol de pouca dura, pois o Southampton não esmoreceu e empatava logo dois minutos depois por Adam Lallana, resultado que persistiria até ao apito final. Os arsenalistas jogaram a partir dos 80 minutos reduzidos a dez elementos por expulsão de Matthieu Flamini.


Entretanto em Anfield Road jogava-se o "derby" de Merseyside, entre o Liverpool e o Everton, que têm feito uma época entre os cinco lugares cimeiros da tabela. Em disputa além dos três pontos estava o quarto lugar, com os "reds" em igualdade pontual com o Tottenham e mais um ponto que o seu adversário de hoje. Poucos previam um desfecho tão desiquilibrado, com o Liverpool a golear os "toffees" por expressivos 4-0, especialmente tendo em conta que esta é apenas a terceira derrota da equipa de Roberto Martinez. A questão do vencedor ficou resolvida ainda na primeira parte, com o capitão Steven Gerrard a marcar aos 21 minutos, e Dean Sturridge a marcar duas vezes, aos 33 e aos 35 minutos. Luis Suarez fechava a contabilidade para o Liverpool aos 50 minutos - a juntar à veia goleadora do uruguaio, está agora a excelente forma de Sturridge, e a dupla é responsável por 36 dos 57 golos da sua equipa. O Liverpool reforça assim o 4º lugar, enquanto o Everton vai-se contentando com o 6º.


Em Old Trafford o irreconhecível Manchester United vai convalescendo de uma série de péssimos resultados, e desta feita saiu-se com uma vitória por 2-0 sobre o Cardiff, que é orientado por Ole Gunnar Solskajer, uma antiga glória dos "red devils" - quando se podia falar de glória por aquelas bandas. O holandês Van Persie, que tem expressado várias vezes o seu descontentamento com o desempenho da equipa, voltou ao onze inicial e marcou aos 6 minutos, enquanto Ashley Young confirmou o triunfo aos 59. A equipa de David Moyes vai mantendo o 7º lugar, agora a 13 pontos da liderança. Noutros jogos de terça destaque para a vitória do Crystal Palace sobre o Hull por 1-0, somando o segundo triunfo consecutivo e afastando-se da cauda da tabela, e do fim do jejum do Swansea City, que não vencia há oito jornadas (desde 5 de Dezembro) e desta feita bateu o Fulham por 2-0. Norwich City e Newcastle não foram além de um empate sem golos.


Chegados a quarta-feira, com Chelsea e Manchester City a terem a oportunidade de se colarem e até ultrapassar o Arsenal, no caso dos "citizens". A equipa de José Mourinho esteve em dia não, e ficou em branco na recepção ao aflito West Ham; dois pontos perdidos que valem a manutenção da distância dos rivais londrinos. O City aproveitou para se isolar na liderança ao golear o Tottenham por 5-1 em pleno White Hart Lane, a primeira derrota de Tim Sherwood desde que substituíu André Villas-Boas no comando dos "lillies". O City adiantou-se no placard aos 15 minutos pelo inevitável Sergio Agüero. Mesmo assim o equilíbrio foi a nota dominante, pelo menos até ao minute 50, quando o defesa Danny Rose, dos Spurs, faz falta para penalty e vê o cartão vermelho. Yaya Touré converte o castigo fazendo o 2-0, e com o adversário reduzido a dez homens, "só deu" City; Dzeko fez o terceiro aos 53 minutos, e depois de Etienne Capoue ainda ter marcado para o Tottenham aos 59, Stevan Jovetic e Vincent Kompany deram expressão à goleada aos 78 e aos 89. Muitos golos também em Birmingham, onde o Aston Villa bateu o West Bromwich por 4-3, enquanto o Sunderland continua a sua recuperação, somando mais três pontos ao bater em casa o Stoke pela margem minima.

Classificação (dez primeiros):

1 Manchester City 23 53
2 Arsenal 23 52
3 Chelsea 23 50
4 Liverpool 23 46
5 Tottenham Hotspur 23 43
6 Everton 23 42
7 Manchester United 23 40
8 Newcastle United 23 37
9 Southampton 23 32
10 Aston Villa 23 27

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Venha ver o que isto é


Aqui estou eu, de volta às lides bloguísticas, depois de dois dias a pôr os sonos em dia. E quem bem que sabe, afinal, apesar das dores nas costas que resultam de dez horas seguidas de papo para o ar. A idade não perdoa. Bem, e estamos em plena semana dourada, ou semanas douradas, não se percebe muito bem onde começam e acabam, e o que mais salta a vista são as multidões, os turistas que chegam do continente e arredores, e a dificuldade em circular em certas zonas de Macau, especialmente perto do centro da cidade. Ora como no meio é que está a virtude, vivo próximo do centro. Ou pelo menos passo mesmo pela zona crítica todos os dias, na ida e no regresso do trabalho. E que comentário tenho eu a fazer?

Primeiro cheguei à conclusão que um dia destes vai ser impossível andar na rua. Já sei, isto parece um daqueles lugares-comuns, como quando as donas de casa comentam o aumento do preço de algum bem de consumo de primeira necessidade e exclamam "assim é impossível!" e depois acabam por pagar na mesma (que remédio...). Mas não, quando digo que "vai ser impossível andar na rua", falo em termos de logística. Portanto, temos em algumas áreas pedonais cinco ou seis cidadãos a ocupar um metro quadrado destinado a passeio ao longo de vários metros. Sendo assim, há alguns que se vêem obrigados a andar na estrada, ora porque não cabem, querem passar mas não conseguem "furar" pelo meio dos restantes peões, ou são simplesmente empurrados para o asfalto, onde circulam os automóveis. Estes, com problemas que lhes cheguem, apitam, com esperança que o peão infractor - mesmo que involuntariamente - começe a levitar, de modo a deixar a estrada mais livre (ou menos ocupada). Soluções? Assim à vista o ideal seria que se acabasse com o trânsito e andássemos todos a pé, ou vice-versa. Se nem o Wong Wan sabe o que fazer, porque havia eu de saber?

Mas melhor do que comentar nas redes sociais ou falar por falar, o melhor mesmo é ir sentir Macau, ou melhor, as zonas de Macau onde ouvimos dizer que é "impossível andar". Assim, nestes últimos quatro dias passei pela infame Rua da Palha pela hora de almoço, um período do dia especialmente crítico. Como já é hábito, o "estrangulamento" da via dá-se entre a barraca de gelados dos rapazes turcos e a Loja de Carnes Assadas Fong Seng, onde está uma senhora à porta com uma tira de carne assada e uma tesoura a gritar "KELEKELEKELEKELE!". Quando tudo o que a lógica indica é que as pessoas fujam desta arara, dá-se o efeito oposto, e as pessoas ficam curiosas em provar esta carne "gritada". Os turcos continuam a puxar bolas daqueles gelados pegajosos recorrendo-se de um número de circo, onde fingem que deixam cair o cone, causando um pequeno acesso de pânico ao freguês. Isto é tão popular que ficam ali turistas a assistir, a filmar, a rir, ou seja, tornou-se uma atracção turística mais concorrida que o Museu de Macau, situado uns metros mais à frente, junto da Fortaleza do Monte. Passado este ponto hiper-sensível, prosseguimos a caminho da Rua Pedro Nolasco da Silva.

Ontem tive o vagar e o cuidado de observar quem-é-quem neste mar de gente, misturar-me nesta mole anónima, olhar a besta no meio dos olhos, tentar perceber a sua linguagem. Atravessei a Rua da Palha a partir do BCM até à esquina da Rua Pedro Nolasco da Silva, onde está a Bodyshop. E quem vejo eu? Extra-terrestres. Sim, só podem ser criaturas de outro planeta. Primeiro estão a olhar à volta da Rua da Palha, atenção, DA RUA DA PALHA, com a mesma expressão de quem contempla pela primeira vez a Torre Eiffel ou o Taj Mahal. Para onde é que estes gajos estão a olhar, porra! Ou será um defeito da sua anatomia alienígena que não conseguem simplesmente olhar na direcção para onde vão? Levam malas com rodinhas que nos batem nas pernas, tiram fotografias, filmam!!!, pasme-se, e de quando em vez apontam em direcção a alguma parede fascinante, como o grumete que avista terra firme depois de meses no mar. Ia tendo a cabeça atravessada de um ouvido ou outro umas duas ou três vezes em menos de cinco minutos.

A atitude dos nossos residentes habituais continua a mesma. É fácil distingui-los dos "invasores", dessas criaturas de outro planeta: são aqueles que apresentam um aspecto remotamente humano. Mas dividindo a via pública por 10 outros transeuntes ou por 10 mil é a mesma coisa. Mandam mensagens no telemóvel, vão em passo de procissão em hora de ponta, e aos pares, ocupando o passeio inteiro, o conceito de "isto é muito meu, só meu" em todo o seu esplendor. Nessa tal Aventura de ontem pela Rua da Palha, passaram três deles, provavelmente trabalhadores de uma loja de roupa qualquer, que vinham a trazer uma espécie de jaula (aquelas onde as lojas enfiam as meias a t-shirts "leve 3 por 100") em cor azul. Vinham passando com o volumoso objecto, indiferentes a quem apanham pela frente, e a fazer uma cara de como quem diz: "por amor de Deus, estes gajos não vêm que vamos aqui a levar uma jaula azul com rodas?". Estes conhecem bem o código dos peões vigente: "tem prioridade quem levar uma jaula de uma loja de roupas, especialmente se for de cor azul e tiver rodas".

Os meus favoritos nem são esses. Tenho a maior admiração pelos residentes fazem fila durante dias à porta dos infantários para garantir uma vaga para os netos, dos que ficam desde madrugada, tantas vezes à chuva ou ao frio, à porta dos bancos ou dos Correios, para apanhar a leva de selos, notas ou moedas comemorativas, e aqueles que sabendo que podem precisar de aguardar horas, mas não se importam se fazer fila junto das paragens daqueles autocarros gratuitos, mesmo com 200 pessoas à sua frente. Sorrio sempre que vou num elevador a abarrotar de gente, mas há sempre um que vai a corer e "espreme-se" lá para dentro, e se toca o alarme, saem na mesma, mas procuram por alguém mais gordo que ele entre os restantes, para lhe atribuir as culpas "telepaticamente". Os condutores de automóveis não lhes ficam atrás, e onde há uma confusão, um congestionamento ou o trânsito está especialmente engarrafado, "enfiam" lá o nariz da viatura, para ajudar à festa. São os Duques de Hazzard, mas ao contrário. Como se pode constatar, mais visitantes podem fazer a diferença em termos de quantidade, mas em qualidade, as coisas ficam mais ou menos na mesma.

O que eu gostava era que o nosso Chefe do Executivo, que se diz tão preocupado com a qualidade de vida da população, viesse atestar em primeira mão, ao vivo e a cores o que custa andar na rua em Macau. Dispa-se da capa de "tutti-copi", dispense por um dia o carro-preto, os guarda-costas, os batedores, e vá como cidadão anónimo misturar-se com a população e os turistas no centro. "Be one with the streets". Sei que é difícil ocultar a sua distinta e volumosa figura e passar despercebido, mas recomendo que se disfarçe como aquele senhor anafado na capa do almanaque Borda D'Água: de casacão, polainas, cartola e monóculo, fumando um cigarro com a ajuda de uma boquilha. É isso mesmo, sr. Chui Sai On. Venha ver o que isto é. Depois diga-nos mais qualquer coisa sobre isso da "qualidade de vida".

Os sons dos 80: Paul McCartney


O Grammy para melhor canção "rock" do ano, entregue no passado Domingo, foi para "Cut me some slack", de Dave Grohl, Paul McCartney, Krist Novoselic e Pat Smear. Uma banda de peso. Mas esperem lá, como explicar quem são estes tipos e que significado tem o seu "ensemble"? Como explicar isto aos leitores com menos de 20 anos de idade. Esqueçam o Pat Smear, que é guitarrista dos Foo Fighters, um grupo que Dave Grohl fundou após os Nirvana, onde esteve com o baterista Krist Novoselic. Os Nirvana foram um grupo que fez um enorme sucesso durante meia dúzia de anos algures entre finais dos anos 80 e meados dos 90, e terminaram quando o seu vocalista e "guru" Kurt Cobain deu um tiro nos miolos. Não vale a pena falar aqui dos Nirvana, numa rubrica dedicada aos anos 80. Já quanto a Paul McCartney, aqui está um nome que se encaixa em qualquer das seis décadas a partir dos anos 60. Fazendo agora de "maquista chapado" da última geração, faço a pergunta a que eu próprio me proponho responder: "quim sân estoutro, Paul McCartney?"


John Lennon e Paul McCartney, no tempo em que eram a maior dupla de sucesso do "rock'n'roll".

Paul McCartney, tem, imaginem, 71 anos de idade, e nos anos 60 fez parte de um quarteto muito famoso que os vossos avós adoravam, os "Beatles". Quando os Beatles terminaram em 1970, por razões que pouco tiveram a ver com música, McCartney e o seu parceiro de escrita John Lennon partiram para bem sucedidas carreiras a solo: McCartney acumulava com a participação no grupo Wings, que formou com a sua primeira mulher Linda, e Lennon cantava ao lado de um gato siamês chamado Yoko Ono. Por alguma razão que me ultrapassa, Lennon tinha mais sucesso que McCartney - talvez por ser uma espécie de ídolo "hippie", enquanto o ex-companheiro dava uma imagem limpinha, e os Wings de "boys band". Lennon aproveitava para mandar farpas a McCartney sobre quem detinha o controlo criativo nos Beatles, e os dois andaram de costas voltadas durante quase toda a década de 70. A discussão acabou em Dezembro de 1980, quando Lennon foi assassinado à porta de casa; não por McCartney, como alguns poderiam imaginar, mas por um tal Mark David Champan. Quis o destino que McCartney ficasse isolado para a baliza no desafio dos anos 80, até porque o restantes Beatles tinham carreiras discretas; George Harrison tinha os seus problemas, e Ringo Starr fazia ainda menos do que fazia nos Beatles: tocar bateria.


O primeiro registo a solo de McCartney depois da morte de Lennon não ficou intitulado "Thank you, Mark David Chapman", ou "Burn in hell, Lennon", mas sim "Tug of War", o seu segundo trabalho a solo desde que decidiu terminar com os Wings. Neste disco está incluído este "Ebony and Ivory", um dueto com Stevie Wonder que é um "apelo à tolerância e amizade entre as raças". Hmm. "Ebony", que significa "ébano", é o preto, e "ivory", ou "marfim", é o branco, que quando combinados nas teclas brancas e pretas do piano, formam uma harmonia, assim como os homens, pretos e brancos, se procurassem combinar eles próprios...esperem. Não aguento. Acho que vou vomitar.


Em 1983 McCartney regressa com "Pipes of Peace", e o single com o mesmo nome, que vemos aqui em cima. Esta foi a primeira canção que ouvi de Paul McCartney, e os meus tenros tímpanos de criança com nove anos de idade perceberam que se tratava de alguém bonzinho, do tipo do Avô Cantigas. o vídeoi deste tema, por exemplo, é muito bem pensado. Recria a famosa trégua de Natal de 1914, durante a primeira Guerra, quando soldados das tropas aliadas, compostas por franceses e britânicos, interromped o combate com as tropas alemãs, e todos trocam prendas e jogam futebol. Esperem...aqui está outra vez o jantar a subir-me pelo esófago acima...tenho que parar.


O primeiro single de "Pipes of Peace" foi este "Say, say, say", que conta com a participação de um jovem e vivo (bem vivo) Michael Jackson. McCartney gostou da experiência com Stevie Wonder, e desta feita optou por um músico negro da moda que visse onde punha os pés, e que o fizesse melhor que ninguém. O ex-beatle devolvia o frete a Jackson no álbum seguinte deste áltimo, que foi "apenas" um tal "Thriller", que o viria a tornar uma mega-estrela. "The Girl is Mine" foi o título da colaboração de ambos para o disco de Jackson.


Tal como fazia com os Beatles, McCartney fazia de quando em vez uma "perninha" no cinema, e em 1984 participou ao lado de Linda McCartney e Ringo Starr no filme "Give my regards to Broad Street". A crítica reduziu o filme a cacos e o público teve uma recepção desapaixonada, mas o cantor McCartney obteve mais um sucesso com o single "No More Lonely Nights", que fazia parte da banda sonora. Por esta altura tinha eu 10 anos, e fiquei cada mais convencido que este Paul McCartney era um tipo mesmo bonzinho.


E para que todas as dúvidas ficassem dissipadas, surge no Natal desse ano este "We all stand together", que serviu de tema ao filme de animação "Rupert and the frog song". Desse filme sei muito pouco, mas da canção e do vídeo recordo-me com carinho. McCartney é coadjuvado pelo "choir frog" (coro de sapos) e retira do baú o que aparenta ser uma memória de infância, o que torna o tema ainda mais enternecedor. Agora passem-me os Kleenex que estou a chorar mais lágrima do que água jorra nas cataratas do Niagara.


O seu trabalho de originais seguinte foi "Press to Play", de 1986. Um tanto ou quanto mais intimista, sem o sucesso dos três discos anteriores, fica na memória fica este single "Press". No ano seguinte lança a colectânea "All the Best!", com temas da sua carreira a solo nos anos 70 e 80, e no mesmo ano toca na ainda União Soviética, feito que fica registado no trabalho ao vivo "Choba B CCCP", literalmente "O álbum soviete". Os anos 80 terminariam com o LP de originais "Flowers in the Dirt", que continha os singles "My Brave Face, "Put it There" e "Figure of Eight". Este registo serviria de pretexto para uma tournée mundial, que culmina num disco triplo ao vivo: "Tripping the Live Fantastic". Este "essencial" de McCartney ao solo inclui temas seus a solo, com os Wings, e até com os Beatles - e nem foi preciso pedir autorização a John Lennon.


"Ai acham que estou velho? Já olharam para o Lennon?"

"Sir" Paul McCartney, como é hoje conhecido depois da rainha Isabel II o ter feito cavaleiro, continuou a gravar, a vender discos, a somar sucessos e a ganhar prémios desde os finais da década de 80 até hoje. É também uma figura pública, pois além de ser um dos dois Beatles sobreviventes (Harrison morreu em 2001), é pai da conceituada estilista Stella McCartney e fundou com a mulher Linda uma linha de produtos vegetarianos. Linda morreu de cancro da mama em 1998 (o que deve ter sido má publicidade para a sua linha de produtos vegetarianos e supostamente "saudáveis") e McCartney voltaria a casar em 2002 com a ex-modelo Heather Mills, que só tinha uma perna. Tiveram um filho em conjunto, mas o casamento provou ser um desastre, terminando com separação em 2006 e divórcio em 2008. Para não morrer sozinho, o "sir" casaria uma terceira vez em 2011 com a norte-americana Nancy Shevell. Mas quer isto dizer que o velhinho ali na imagem de cima está acabado? Nada disso, é que além de ser uma respeitável figura da música moderna dos últimos cinquenta e ter provas dadas como compositor clássico e tudo, este Paul McCartney acaba de ganhar, com os Nirvana, o "grammy" para melhor canção "rock" do ano. Embrulha esta e mete-a no cachimbo, ó John Lennon.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Mil anos de ♪ (a capella)


Os Pentatonix, um grupo vocal de cinco simpáticos jovens, interpretam em pouco mais de quatro minutos e "a capella" temas musicais dos últimos mil anos. Desde o cântico do século XI, "Salve Regina", até "Gangnam Style", passando por "Thriller", "Stand by Me", "La Bamba" ou a quinta sinfonia de Beethoven, está ali um milénio de música para todos os gostos. Bastante divertido, vale a pena ver!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O palácio da intriga


Nós, os portugueses, tivemos desde sempre uma relação atribulada com o patronato. A imagem do patrão nunca foi propriamente venerada, e depois do 25 de Abril, com a obtenção de regalias por parte dos trabalhadores e a proliferação dos sindicatos, pior ficou. O patrão pode ser o melhor tipo do mundo, um indivíduo honesto, solidário e compreensivo, que vai haver sempre alguém que o considere um pulha da pior espécie, um sacana escalavagista, um tarado que abusa da secretária, e pior que tudo, um "fascista". E de facto torna-se difícil agradar a todos, pois para cada patrão existem por vezes 20, 30 ou mais subordinados, e por vezes é impossível gerir todas as sensibilidades de modo a obter um equilíbrio perfeito e atingir a "harmonia", esse ponto de rebuçado que todos ambicionam. Se em alguns casos o patrão é mesmo um tipo com maus fígados mas é ao mesmo tempo o dono da empresa (ou o filho deste), para muitos não resta senão engolir de vez em quando uns sapos vivos, se quiserem mesmo depender do dinheiro para viver, e que no fim de contas sai do bolso daquele gajo de quem dizem cobras e lagartos - mas às escondidas, claro. No caso dos funcionários públicos, tudo muda de figura, e ai do patrão, neste caso do "chefe" que se lembre de ser mauzinho para o seu pessoal. É comido vivo!

Nós, os funcionários públicos - e agora falo também por eu próprio - temos a plena consciência de que não temos o que se pode considerar uma entidade patronal em sensu stricto; tanto eu, como o meu chefe, o motorista ou a senhora da limpeza trabalhamos para a mesma entidade abstracta: o Governo. Claro que devemos respeito a toda a gente, e no caso de um superior hierárquico há ainda que ter em conta a sua eventual gestão e liderança, e é preciso não esquecer que também é ele quem deve dar a cara pela equipa que lidera, para o melhor e para o pior - o que nem sempre acontece. No caso do indivíuo, senhor ou senhora que conhecemos por "chefe", e que tratamos por "senhor doutor", "senhor engenheiro", "mister" ou seja lá o que for, ter um problema connosco, nunca se pode substituir ao Governo na função de nos dispensar, despedir, suspender ou tomar outra acção no sentido de nos prejudicar. Estamos protegidos por um mecanismo que nos garante que uma decisão desse tipo será sempre tomada por um colectivo que se sobrepõe ao nosso próprio dirigente. Mas do que eu queria falar era do caso de Macau, mais concretamente do caso actual, o da RAEM. Como é que se encara esta relação entre chefe e subordinado? E no meio de tudo isto, como fica a relação entre os próprios colegas? Como é? Vamos espremer esta fruta, que tem muito sumo para dar, certamente.

Analisando o panorama de Macau, ficamos com a percepção de que é bastante diferente daquele que temos em Portugal ou em muitos outros países ocidentais. Enquanto que lá longe no "saiong" vigora um permamente estado de PREC, com as chefias a temer mais os subordinados do que o oposto, aqui temos um cenário digno daquelas novelas das oito do canal chinês que falam de reis, princesas, criadas, eunucos e todos os restantes personagens que habitam o palácio imperial. Sim, sem mais meias palavras, a função pública em Macau é uma enorme intriga palaciana, com os que mandam e tentam consolidar o poder, outros que querem ficar nas boas graças do poder, muitas vezes no lugar daqueles que ocupam a cadeira ao lado direito do trono, e há ainda os que querem apenas sobreviver. Dê por onde der, é impossível ficar indiferente a tudo isto, querer ir até ao serviço, fazer o que nos compete e depois ir para casa tratar da vidinha. Mesmo que sejamos apenas o tipo que vai lá cuidar do jardim, os "palacianos" arranjam sempre uma forma de nos incluír na sua rede de intrigas. Optar por uma posição neutral é ser do contra, é ser anti-poder. Ou se está com o rei e os seus predilectos, ou se está contra eles.

É possível passar pelo fogo cruzado da intriga palaciana sem ser atingido por alguma bala perdida, ou de ricochete, mas para isso é preciso abdicar de quaisquer ambições, quer a uma promoção, aumento ou outra vantagem. Pode-se ainda optar por mandar "tirinhos" contra os dois lados da barricada, armar-se em engraçadinho, mas para esse efeito é melhor adquirir algum estatuto de indispensável, estar dotado de elavada empregabilidade, ou não se importar de ser "metido na prateleira". Quem quiser apenas limitar-se a cumprir com as suas funções de modo profissional, sem querer puxar a lustro às pratas de ninguém e manter uma relação "apenas" cordial com todos, precisa de uma vontade de ferro, uma carapace dura onde resvalem as provocações, e especialmente um "jogo de cintura" que o permita desviar-se das armadilhas. É um campo minado, e não vão faltar ocasiões em que o confrontam com uma situação, pedem uma opinião ou pedem-lhe para tomar um decisão que implique renunciar à tão estimada neutralidade. Às vezes sem saber vê o seu nome envolvido numa conspiração absurda, e se reagir, aí está, quebrou, tomou uma posição. Bem-vindo ao palácio.

Para estes subordinados as boas graças da chefia são o princípio, o meio e o fim de tudo. Quando são ignorados ou ostracizados pelo dirigente, choram, lamentam-se, dormem mal, não comem ou comem demasiado, perdendo ou ganhando peso, têm pensamentos suicidas, fazem-se de coitadinhos. Se estão nas boas graças do "rei", comportam-se como a própria realeza, falam em nome do dirigente, e sobretudo não se inibem de demonstrar que "quem se mete com eles, leva". Daqueles que estão "na fossa", como ele estava antes, dizem que "só se sabem queixar", e que "só querem prejudicar o serviço". Gostam pouco de fazer mas não se importam de mandar fazer, e se alguém questiona a sua autoridade - que normalmente não é nenhuma, pelo menos oficialmente - acusam-nos de "querer arruinar a sua magnífica gestão". Os que "entram no jogo" sorriem-lhe, demonstram simpatia, mas nas suas costas dizem as coisas mais horríveis que se possa imaginar. Se o dia "cair do trono", são os primeiros a pisarem-lhe em cima.

E as chefias? Bem, cada caso é um caso: há que não foram feitos para mandar, os que não sabem mandar, e os que confundem firmeza e liderança com tirania e autoritarismo. Mas nem sempre os maus chefes são assim porque nasceram "tortos", e são precisos dois para dançar o tango. Há chefes tolerantes e permissivos que são tidos como "frouxos" e sofrem abusos dos subordinados, e há ainda outros que na tentativa de mostrar quem manda comportam-se como verdadeiros ditadores. Isto depende tudo da qualidade do pessoal que se está a dirigir. A regra de ouro dos que querem "meter ordem na casa" é "dividir para poder reinar". A Administração até facilita as coisas, pois é praticamente impossível ganhar um recurso hierárquico que se faça contra um superior (a não ser que seja extramamente flagrante, e mesmo assim...), e existe o sistema da classificação do desempenho, que premeia com dez dias de férias ou metade do vencimento mensal os funcionários que obtenham "Excelente" na avaliação desse ano. Basta atribuir esta classificação a quem tenha méritos duvidosos e não a outro que se tenha efectivamente esforçado para andarem os dois "à estalada". E às vezes nem é preciso recorrer a artilharia tão pesada; basta elogiar um e não o outro, insistir nalgum tipo de injustiça (distribuição desigual de tarefas, dualidade de critérios na punição de faltas ou erros, etc) e já é suficiente para ter os colegas desavindos. É como pescar trutas num barril.

Claro que tudo isto depende do tamanho ou da natureza do departamento, a qualidade humana do pessoal, o género (quanto mais mulheres pior; e desculpem, mas é mesmo verdade), da categoria, da verticalidade, ou falta, mas nunca do vínculo, pois nisto de chegar ao beija-anel ao rei não há cá definitivos, precários ou além-quadro: mordem-se, pisam-se, esfolam-se uns aos outros na mesma. Curiosamente nos tempos da Administração Portuguesa alguns dos que hoje andam caladinhos eram uns tipos muito valentes, pá. Às vezes o chefe tuga estava aqui a cumprir a comissãozinha dele, a ganhar o seu dinheirinho, e não queria arranjar chatices com ninguém, e vinham vocês chatear o gajo com berraria, abaixo-assinados, palavrões feios e até ameaças, e com estes piam fininho porque...e ouçam isto: "agora 'eles' é que mandam". Eles? Que "eles" é este? Os lobos? "Eles" andam aí? Aparentemente "eles" aqui são os chineses, aqueles que todos temiam antes de 99. Eu sempre achei que era preferível mandarem os chineses, que sempre cá estiveram, do que os visigodos, os alavos ou os suevos, ou outros de que não conhecemos. O problema é que estes novos senhorios não estão aqui em comissão, e se quiserem "chatices" com eles, eles estão cá para vos fazer a vontade - e querem ter a última palavra.

É pena que assim seja. A função pública é um palácio imperial, uma corte complete, com rei, rainha, príncipes e princesas, aias, cavaleiros, eunucos, clero, escravos, concubinas, jograis, e não falam sequer os bobos da corte. Todos numa luta constante para chegar à sala do trono, ou evitar cair nas masmorras e ficar a arrastar as correntes. E para quem não quiser nem uma coisa, nem outra? E quem quiser apenas fazer a sua vida e ficar alheio às intrigas palacianas? Ui, esses são os piores. Têm uma agenda escondida. Querem ser uma "terceira via", julgam-se espertos ao ponto de querer tomar o poder sozinhos. Ambicionam ao papel de místico da corte, de Rasputine. Esses são sempre os mais perigosos, e atenção a eles.

Os sons dos 80: U2


A longa e lucrativa saga dos U2 teve início em Setembro de 1976, quando Larry Mullen Jr., um jovem de apenas 14 anos, publica no mural da sua escola em Clontarf, Dublin, um anúncio onde apela a outros colegas músicos que se juntem à banda que quer formar. Respondem ao apelo um tal Paul Hewson, que dizia saber cantar, um outro David Evans, que dava uns toques na guitarra, mais o seu irmão Dik Evans, e Adam Clayton, que sabia dedilhar o baixo. Com influências do "punk-rock", a moda daquele tempo, nasce a "Larry Mullen Band", que rapidamente mudou de nome para "Feedback", e no ano seguinte para "The Hype". Como não atinavam com um nome definitivo para o projecto, pediram ajuda a Steve Averill, músico da banda "The Radiators", que lhes sugeriu sugeriu seis nomes, de onde podiam escolher um. Os elementos dos então The Hype optaram por U2, porque era "o menos mau". A grande oportunidade surgiu no dia de St. Patrick's de 1978, num show de talentos em Limerick, e onde o primeiro prémio eram 500 libras e a gravação de uma "demo" pela CBS Irlanda, que depois passaria na rádio. Os U2 ganharam o concurso e impressionaram os caçadores de talentos, ao ponto de em 1979 gravarem o seu primeiro EP, "Three", posto à venda apenas na Irlanda, onde teve um bom comportamento nos tops de vendas. Os U2 entravam nos anos 80 como uma promessa da música moderna, que se viria a confirmer, e em grande.
Quatro rapazes de um liceu de Dublin...


Em 1980 sai o primeiro album dos U2, "Boy", com produção do já conceituado Steve Lillywhite. Onze temas originais, todos escritos por Hewson, que na altura tinha adoptado o nome artístico de Bono Vox, do latim "bona vox", ou "boa voz" - mais tarde isto seria simplificado para o Bono que hoje todos conhecemos. Bono era um rapaz cuja infância foi marcada pela tragédia. Em 1974, quando tinha apenas 14 anos, a mãe morreu de aneurisma cerebral...durante o funeral do pai. Confrontado com a perda de ambos os pais em tão pouco tempo, o jovem Hewson fez pela vida, foi aprender música, e aperfeiçoou aquela voz áspera e sentida com que dava alma aos temas que ele próprio escrevia. "Boy" é uma espécie de grito de revolta de Bono, e ao mesmo tempo a sua afirmação. Dos temas inclinados para os dramas da juventude, algo com que o público mais jovem se identificou, como é lógico, saíram os singles "A Day Without Me" e "I Will Follow".


Depois de "Boy", os U2 foram numa pequena digressão pelo Reino Unido e arredores, com uma passagem por Portugal, onde tocaram no festival de Vilar de Mouros. Em Fevereiro de 1981 voltam ao studio para gravar material original, que se tornaria o seu segundo registo, "October" - que apesar do título, foi lançado em Fevereiro. Se a crítica já tinha gostado da estreia, gostou ainda mais deste sucessor, que chegou ao nº 11 do top do Reino Unido e atravessou o Atlântico pela primeira vez, mas ainda sem grande impacto. Deste "October" sairiam os singles "Fire" e este "Gloria", uma canção com uma temática religiosa.


Em 1983 sai "War", aquele que foi o primeiro grande sucesso comercial dos U2. Com um som mais pesado e uma temática mais política, "War" contém o inconfundível "Sunday Bloody Sunday", uma canção que aborda a problemática do confronto entre católicos repulicanos e protestantes lealistas do Ulster, com um título inspirado no "Bloody Sunday", o incidente de 1972 em Derry que causou 14 fatalidades. Outro tema forte foi"New Year's Day", que com um som mais acessível valeu aos U2 alargar o seu leque de fãs. "War" chegou a nº 1 do top do Reino Unido, destronando "Thriller", de Michael Jackson, e seria acompanhado meses depois pelo mini-LP ao vivo "Under a Blood Red Sky". O ano de 1983 tinha sido "gordo" para Bono e companhia, que se tinham tornado grandes estrelas.


Em 1984 sai "Unforgettable Fire", um disco mais ligeiro que "War", mas que mesmo assim contém "Pride (in the name of love)" e "Bad", um tema sobre o vício da heroína, dois dos temas mais conhecidos dos U2. A popularidade do grupo valeu a Bono um convite para participar do single "Do They Know It's Christmas", no Natal de 1985, mas o grande assalto ao grande público e aos mega-concertos ainda estava para vir. Em 1987 sai "The Joshua Tree" que contém temas como "With or Without You", "I Still Haven't Found What I'm Looking For", ou "Where the Streets Have No Name", chega a nº 1 de ambos os lados do Atlântico, vende 25 milhões de cópias e ganha o Grammy para álbum do ano para um duo ou grupo musical. Para consolidar a fama adquirida com "The Joshua Tree", os U2 regressam logo no ano seguinte com um novo disco e...um filme. O "rockumentário" e o novo disco chamavam-se "Rattle & Hum", e pode-se dizer sem exagero que foram para os U2 o que "A Hard Day's Night" foi para os Beatles. "Desire" foi o single nº 1 do disco.


Os anos 80 terminam em grande para os U2, e caso existisse um prémio para "grupo da década", seriam certamente um dos cinco nomeados. Depois de uma pausa sabática para recarregar baterias, regressan em 1991 com um novo trabalho de originais, o muito aguardado "Achtung Baby". A sonoridade é outra, mais electronica, com um som mais industrial, notável em faixas "Zoo Station", que abre o disco, "The Fly", o primeiro single, ou "Even Better than the Real Thing", mas os "velhinhos" U2, os dos anos 80, estavam lá, em temas como "Who's Gonna Ride Your Wild Horses" e "One", na minha humilde opinião a melhor canção do grupo - e de longe."Achtung Baby" chega a nº 1 em toda a parte e vende 18 milhões de cópias. Em 1993 regressam com "Zooropa", que marca um divórcio definitivo do som original dos U2. Bono, The Edge e companhia não queriam ficar datados, e apontavam à geração dos filhos dos que lhes tinham comprado "War". Nos anos 90 a banda enche estádios, vende milhões de discos e torna-se uma autêntica máquina de fazer dinheiro.


...e os avôs deles.

O circo mediático em que se tornaram os U2 valeu-lhes uma conta bancária bem recheada, e quanto a isso não há dúvidas, mas os fãs dos tempos de "Boy", "October" e "War" sentem-se um pouco traídos com a orientação que a banda levou. Duvido que alguém consiga nomear uma canção memorável de entre os seus dois últimos álbums de originais, "How to Dismantle an Atomic Bomb" e "No Line in the Horizon". Bono tem sido especialmente interventivo em várias causas filantrópicas, e depois de ter ganho um Grammy e um Globo de Ouro, só lhe falta um Prémio Nobel da Paz, e ele bem tem tentado. Só parece é estar a esquecer-se do essencial: a música. No entanto nada isto parece incomodar qualquer um dos seus elementos, pois os U2 continuam hoje, 40 anos depois, a ser os mesmos rapazes de Dublin que responderam ao anúncio de Larry Mullen para formar uma banda de liceu.





Pomba do Papa papada



Há dias em que não vale a pena apelar à paz. É simplesmente impossível pôr termo a certos conflitos, por muito que nos custe assumir o pessimismo. A gente pode tentar, mas logo à espreita estão as forças do mal para cortar de raíz a mais inocente das iniciativas. Foi o que aconteceu com o Papa Francisco, coitado, que como se sabe, é uma óptima pessoa. Ontem durante a habitual oração dominical do Angelus, o sumo pontífice lançou da varanda da Praça de S. Pedro duas pombas, "pela paz na Ucrânia". Só que uma gaivota, talvez mandada pelo presidente Yanukovich, ou até pelo próprio Vladimir Putin (aqui não há limite para as teorias da conspiração) surgiu de repente e zás!, abocanhou a pombinha. Ficaram lixados os ucranianos que querem a paz: "Bolas, ainda não foi desta!", pensaram. E é mesmo assim, a vida. Por cada pomba que lançamos, há sempre uma gaivota pronta para nos deitar o bico.

Aparelho do quem???


Mais uma prova cabal da iletaracia colectiva que assola o nosso país. No programa "Quem quer ser milionário?" da RTP, transmitido na noite de sexta-feira e apresentado por Manuela Moura Guedes, uma concorrente foi eliminada logo na primeira pergunta - e como! À concorrente em questão, uma tal Fátima, foi feita esta pergunta: "Só um destes orgãos pertence ao aparelho digestivo. Qual?". As opções eram: A: Pulmão B: Esófago C: Rim D: Coração. A Fátima faz de imediato uma cara de pânico, com os olhos muito arregalados, como quem diz "Aparelho digestivo? Que merda é esta? Isto é um concurso para cientistas ou quê?" (Estou a inventar um bocadinho, mas de facto a senhora deu a entender que nunca tinha ouvido falar do "aparelho digestivo". Já semi-derrotada, desabafa com a apresentadora que "vai sair logo à primeira pergunta". "Não me diga" - questiona Manuela Moura Guedes, julgando que a Fátima estaria apenas a brincar. Mas não estava, e assim que respondeu "A: Pulmão", viu-se que não estava.

Há casos em que a ignorância se manifesta em questões que exigem alguma cultura geral, mas isso ainda se perdoa, e ninguém é obrigado a ter cultura geral - só depois não se admire for a este tipo de concursos fazer figuras tristes. O caso desta Fátima é mais grave do que isso; é mental. Não, não aceito que justifiquem isto com o facto de estar "nervosa", ou de como é mais fácil para quem está de fora, etcetera. Qual é a pessoa adulta, alfabetizada e aparentemente no uso pleno das suas faculdades mentais não sabe o que é o aparelho digestivo? Ainda se compreendia se a senhora não fosse portuguesa, e não entendesse uma palavra do que lhe estavam a dizer, mas não é esse o caso. E não me parece que estivesse embriagada ou sob o efeito de drogas dissociativas. O que era preciso era um pouco de triagem para evitar que aparecessem ali concorrentes destes. Podiam-lhe perguntar antes do concurso, sei lá, "quantas pernas tem", ou "como se chama essa coisa redonda que tem em cima do pescoço". Evitavam-se embaraços deste tipo. Digo eu...

Barça e Atletico não cedem


HD | Barcelona 3-0 Malaga - Sanchez 61' 发布人 simaotvgolo12
O Real Madrid passou da liderança ao mesmo terceiro lugar que ocupava há dois dias, isto porque os seus adversários directos, Barcelona e Atletico, decidiram ontem voltar às vitórias, e não ceder mais terreno para os "merengues". Os "colchoneros" foram os primeiros a entrar em campo, e foram ao outro lado da capital espanhola bater o Rayo Vallecano por 4-2. Turan, por duas vezes, David Villa e Diego Costa foram os marcadores de serviço para a equipa de Diego Simeone. De seguida no Nou Camp, o Barcelona não se deixou afectar pelo 3º lugar temporário que ocupou durante algumas horas, e bateu o Malaga por esclarecedores 3-0. Gerard Piqué, aos 40 minutos, Pedro Rodríguez, aos 55 e Alexis Sanchez aos 61 foram os autores dos golos, numa partida em que Messi jogou, mas não marcou - demora a reencontrar-se com os golos, o "pulga", depois da sua lesão prolongada. Barça e Atletico mantêm assim dois pontos de vantagem sobre o Real Madrid, disputada que está agora a 21ª jornada.

Oscar dá "prenda" a Mourinho


HD | Chelsea 1-0 Stoke City - Oscar 28' (FA Cup) 发布人 simaotvgolo12
O Chelsea qualificou-se ontem à noite para os oitavos-de-final da Taça de Inglaterra, ao bater em Stamford Bridge o Stoke City pela margem mínima. No dia em que o treinador José Mourinho comemorou o seu 51º aniversário, foi o brasileiro Oscar que "resolveu" para os "blues", ao marcar o único golo do encontro aos 28 minutos. Um livre executado de forma soberba pelo internacional brasileiro, que é um perigo nestes lances, e só lhe faltou uma fitinha em cima para dedicar ao técnico português. O resultado é enganador, tal foi o número de oportunidades do Chelsea, que mandou várias bolas ao poste. Mas essa deixou mesmo de ser a maior preocupação, pois no sorteio dos oitavos, realizado logo a seguir, ficou determinado que os londrinos vão a Manchester defrontar o temível City. O sorteio foi mesmo caprichoso, pois outra partida envolve Liverpool e Arsenal, no reduto dos primeiros, o que significa que as 4 equipas com o maior "pedigree" foram emparelhadas entre elas, quando existem ainda 12 outras equipas em prova. Bolas marotas, estas da FA Cup.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Zheng vai de carrinho


Zheng Anting, deputado eleito nas legislativas de Setembro último pela lista União Macau-Guangdong, deu uma entrevista ao Hoje Macau, publicada na sexta-feira passada. Confesso que fiquei com curiosidade em saber mais sobre este "fenómeno" que se conseguiu eleger como nº 2 de Mak Soi Kun através de uma plataforma ligada ao sector empresarial. Nunca tinha ouvido falar dele até há seis meses, e a única impressão que deu até ao momento foi negativa; como se recordam Zheng foi o autor da famosa "gaffe" dos transportes públicos, quando defendeu que "apenas os residentes deviam poder andar de autocarro". Um princípio que até faz algum sentido na Terra do Nunca: uma vez que são os residentes a pagar impostos, porque devem os não-residentes usufruír desse serviço, incluíndo os descontos nas tarifas oferecidos através dos subsídios do Governo? Já agora devemos questionar porque diabo andam esses gajos de fora a consumir a nossa electricidade ou a tomar banho com a nossa água. Agora que sei mais sobre o sr. Zheng, já não acho que ele seja um pateta retrógrado e obtuso. É ainda pior do que pensava!

Começando por explicar essa confusão dos autocarros. Quando a jornalista Cecília Lin lhe pergunta se seria realista não deixar um turista apanhar um autocarro, Zheng explica que o ideal seria que existissem autocarros para residentes, e autocarros para turistas - ah sim, e já agora autocarros para os não-residentes, porque afinal "também fazem uma contribuição para a sociedade", coitados. Diz ainda que existindo autocarros exclusivos para turistas "ajuda-se a Direcção de Serviços de Turismo a saber quantos turistas precisam de apanhar o autocarro", uma vez que muitos deles andam sobretudo de "tour bus", e em muitos casos naquele novo serviço de carros de aluguer selectivos e inflacionados que um dia foram conhecido por "táxis". As coisas que vão na cabecinha deste rapaz. É uma ideia mais eficaz do que dotar os motoristas com um cartão com quadradinhos que riscam cada vez que entra um turista no autocarro. E como é que vão saber se é um turista? Simples, basta perguntar: "V. Exa. é turista?". No caso da resposta ser afirmativa, "tick", um risquinho no quadrado.

O que esta ideia pioneira de autocarros para residentes, outros para turistas e ainda outros diferentes para não-residentes me lembra é o apartheid da África do Sul que vigorava até há vinte e poucos anos, e onde existiam autocarros para brancos e autocarros para pretos. O que Zheng sugeere é isso mesmo, uma forma de apartheid. Já agora os autocarros para os TNR podiam vir com pedais, e eles que fizessem o veículo andar, para economizar combustível. Quando lhe perguntam como seria possível aplicar esta medida do separatismo rodoviário, Zheng faz a comparação que faltava para comprovar com um elevado grau de certeza que é um perfeito idiota: nos postos fronteiriços também há canais para residentes, não-residentes e turistas! Ora aí está...postos fronteiriços e autocarros...a mesma coisa, estão a ver? Penso que não preciso de dizer mais nada.

Mas não pensem que o sr. Zheng é alguma espécie de nazi racista e xenófobo, nada disso. É apenas tontinho. Por exemplo, diz que mandar os idosos para lares construídos no continente "é má ideia", e que a sociedade de Macau deve primar pela integração, independente do preço da habitação ou dos terrenos. Se fosse má rês, dizia que "os velhos só servem para queimar e fazer sabão". Diz ainda que a língua portuguesa "é uma vantagem para Macau", e que aprender português "traria vantagem para os chineses", como ele. De facto estando em Macau, atendendo a factores como a História, coiso-e-tal, ainda é mais útil aprender Português do que aprender Sueco, por exemplo - mas amanhã nunca se sabe, pronto. Mas atenção que Zheng nunca foi sempre desta opinião; foi preciso assistir à última conferência ministrial do Fórum Macau para mudar de ideia quanto à nossa língua, que se calhar antes considerava "uma infeliz herança do passado colonialista" e blá blá blá a mesma retórica da treta do costume. Realmente nada como ir até aos sítios ver como as coisas são, sr. Zheng.

Sobre ele próprio diz "não ter ligações ao sector do jogo", e eu acredito nele, mas apenas em parte. Não é preciso estar ligado ao jogo para ter ligações ao jogo; basta estar ligado a um dos sectores onde se pavoneia a nomenclatura, seja a construção, as telecomunicações, importação e exportação ou qualquer outro monopólio para fazer parte da grande roda que no fim é sempre oleada pelo dinheiro dos casinos. Diz ainda que "é imigrante desde os tempos que se seguiram à transição da RAEM". Não sei bem o que isto quer dizer, mas subentende-se que chegou ao território há menos de 15 anos? Sim senhor, portanto aqui está alguém que conhece Macau q.b. para saber do que fala, e que merece estar na AL a fazer leis para a malta toda cumprir. Palmas para o maravilhoso eleitorado que temos, e viva a democracia. No outro dia falava-se por aqui e noutro blogue de "pára-quedistas", e na altura abstive-me de comentar sobre esse particular. Mas queriam ver como é um pára-quedista? Aqui está ele. Como capacete e tudo.

Cristãos há muitos, seu palerma!


Assistia hoje de manhã à transmissão da Missa Dominical em directo da Igreja da Sé, e apesar de não ser "doente, acamado ou presidiário" (em todo o caso obrigado pela atenção), prefiro assistive pela TV à "boa palavra", que hoje ficou a cargo do Pe. Peter Stilwell, que além de sacerdote católico é ainda reitor da Universidade de S. José. A certa altura o reverendíssimo Pe. Stilwell recorda-nos dos irmãos cristãos, que um pouco por esse mundo fora, são perseguidos "pelo facto de serem cristãos; sejam eles católicos, protestantes ou ortodoxos".

Ora aqui está algo interessante. Escutando estas últimas palavras do Pe. Stillwell, lembro-me dos meus colegas e outros conhecidos chineses, que pensam que "católico" e "cristão" são coisas completamente distintas, que os católicos "não são cristãos", e entendem por "cristãos" as confissões protestantes: as baptistas, adventistas, calvinistas, qualquer-coisistas que inventaram para ganhar umas massas à pala dos crentes e sem estarem debaixo da asa açambarcadora do Vaticano. Penso que este equívoco terá a ver com a tradução para chinês destas confissões.

Por vezes tento explicar-lhes que "cristianismo" é apenas a filosofia baseada nos ensinamentos de Cristo (uma relação que nem sempre fasem), e dessa raíz, o cristianismo, derivaram as três religiões principais (católica, protestante e ortodoxa), e dessas muitas outras - mas sem dúvida que são os protestantes que mais usam e abusam das palavras "cristão", "Cristo" ou "Deus". Dizer-se que se é "cristão", é ambíguo, a não ser que se queira dizer que apesar de seguir a filosofia de Cristo, não se identifica com qualquer religião - e isso seria bestial. Nada de errado em ser cristão.

Entre as reações que obtenho quando anuncio esta novidade variam entre a indiferença, dos que acham que "isso é muito complicado", e portanto convivem bem com a sua ignorância, e aqueles que não ficam lá muito convencidos, e pensam que os estou aldrabar. Reacção semlelhante têm as indonésias quando lhes tentamos fazer ver que o Deus que adoram é o mesmo Deus dos cristãos, ou seja, aquele inventado pelo patriarca Abrãao. Algumas até consideram isto um insulto! Mas é típico dos crentes; se soubessem mais sobre a religião que dizem seguir, eram capazes de mudar de ideias. E não é isso que as religiões querem, está visto.

Os sons dos 80: Eurodisco


O género "disco" teve o seu expoente máximo nos finais dos anos 70 na América. Foram os dias loucos da "Febre de Sábado à Noite", da música dos Bee Gees, das lantejoulas, dos penteados extravagantes e das calças de boca-de-sino. Do outro lado do Atlântico, na Europa, aderia-se à moda, ao mesmo tempo que alguns artistas do velho continente tentavam contribuir eles póprios. Foi assim que apareceu o Eurodisco, e a sua ramificação italiana, o "italo-disco" (que vai merecer um "post" mais tarde durante esta semana), e que viria a fazer dançar os europeus até finais dos anos 80. É impossível contar aqui a história completa do fenómeno do Eurodisco, ou do Eurodance ou ainda Eurobeat, como também lhe chamaram nos anos 90, desde as suas origens e sem deixar de fora alguns dos seus maiores nomes, mas ficam aqui registados alguns dos momentos altos da moda que deixou a Europa a dançar nos anos 80.


As primeiras manifestações da Eurodisco tiveram como veículo de divulgação o Festival da Eurovisão. Os suecos ABBA deram o mote com a vitória em 1974, com o tema "Waterloo", e foram autores de clássicos que fizeram dançar os fãs da "disco" em todo o mundo, como "Voulez-Vous", "Dancing Queen" ou "Gimme, Gimme, Gimme". Outro vencedor da Eurovisão que propunha um ritmo europeu dançável foram os holandeses Teach-In, que venceram em 1975 com "Ding-a-Dong". O expoente máximo deste novo som de dança terão sido os alemães Dschinghis Khan, que surgiram em 1979 no Festival com o tema homónimo, um sucesso que se estendeu pelos quatro cantos do globo, e ainda repetiram a gracinha com o single "Moscow", em 1980. A estrela da companhia era Louis Potgieter, o "Gengis Khan" de serviço, que viria a morrer vítima de SIDA em 1993, aos 42 anos.


Do que se fazia quanto a música de discoteca na Holanda, na escola dos Teach-In, o destaque no início dos anos 80 vai para os Video Kids, que fizeram furor com o tema "Woodpeckers from Space", literalmente "os pica-paus do espaço". Parece uma anedota, mas a verdade é que este single foi nº 1 na Espanha, Noruega e...Portugal. Malta jovem nascida nos anos 90: se querem uma prova da foleirice que foi a geração dos vossos pais, aqui está ela. Aproveitem para rir na cara dos "cotas". "Ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah-ahahaha-ahahaha"..pois, pois.


Mas seria da Alemanha que viriam os nomes grandes do Eurodisco. Com o patrocínio da revista Bravo, completamente escrita em alemão e com as páginas a cheirar a caruma de pinheiro, era religiosamente adquirida pelos jovens europeus da moda, ávidos dos "stickers" e dos "posters" que saíam em cada edição, que em muitos casos divulgavam artistas alemães que cantavam em inglês. Entre estes, um dos primeiros que alcançaram sucesso internacional foram os Alphaville, que se imortalizaram com a balada "Forever Young", e que se tornaria seu cartão de visita. Enquanto isso as pistas de dança europeias "curtiam" outros temas da banda de Hereford, como "Big in Japan" ou este "Sounds like a melody".


Outra alemã, Sandra Ann Lauer, que viria a ser conhecida no mundo musical apenas pelo primeiro nome, fazia sensação com "(I'll Never be) Maria Magdalena), que seria nº 1 em muitos países do continente europeu, mas seria esnobada pelos britânicos, que nunca a deixaram passar de um modesto nº 87 do top do Reino Unido. Sandra fez parte do trio Arabesque, fundado em 1979 e que fazia da música "disco" o seu negócio, e foi nessa altura que conheceu o seu futuro marido Michael Cretu, que a lançaria numa carreira a solo. No auge da sua carreira, em meados dos anos 80, Sandra chegou a vender mais discos que Madonna, imaginem. Michael Cretu era além de produtor de Sandra um músico independente, que depois de uma discreta carreira a solo criou em 1990 o projecto Enigma, que lhe valeria reconhecimento internacional.


Ainda da Alemanha chegavam em meados dos anos 80 os Modern Talking, um duo composto por Thomas Anders e Dieter Bohlen, que tomaram de assalto a Europa com o single de estreia "You're my Heart, you're my Soul", em 1984, e "You can win if you want", no ano seguinte. Os dois temas chegaram a ocupar os dois primeiros lugares do top português no Verão de 1985, e faziam parte do primeiro disco do grupo "The 1st album", que seria o primeiro de cinco álbums de originais dos Modern Talking em três anos, até 1987, altura em que "sumiram do mapa" até 1998, quando regressaram com "Back for Good". Do terceiro trabalho, "Ready for Romance", assinala-se este "Brother Louie", que foi nº 1 na Alemanha, Espanha e Suécia, e venceu a arrogância do top do Reino Unido, chegando a um honroso 4º lugar.


Fora da Alemanha, mas nos arredores, uma das grandes sensações da época foram os austríacos JOY. Originários da pequena localidade de Bad Aussee, com uma população de 5 mil habitantes, obtiveram os seus 15 minutos de fama com o single "Touch by touch", que seria disco de ouro na sua Áustria natal, bem como em Portugal e Espanha. Este era um tempo em que as modas eram difíceis de entender, mas os JOY rivalizavam com os Opus (Life is Live, la-la-la-la-lala, lembram-se?) e com Falco pelo lugar de maior número musical vindo do país de Mozart.


Outro fenómeno passageiro da Eurodisco foi CC Catch, nome artístico da holandesa Caroline Catherine Müller, que gravou cinco álbums entre 1985 e 1989. Descoberta por Dieter Bohlen, o loirinho dos Modern Talking, um dos seus maiores sucessos foi "Heartbreak Hotel", do seu segundo trabalho de originais, "Welcome to the Heartbreak Hotel".


Já durante o ocaso do Eurodisco, surge Desireless, nome artístico de Claudie Fritsch-Mentrop, que lança em 1987 lança este single "Voyage, voyage", que não podia servir de melhor epílogo à moda "disco", quer na sua versão norte-americana, quer na sua versão europeia: "bon voyage", ou em bom português, "adeus, ó vai-te embora".

Lá morrer morreu, mas...


Reconhecem aquele senhor à direita na fotografia? É Adolf Hitler, a maior "persona non grata" do século XX, autor de uma das páginas mais negras da história da humanidade. Pelo menos é que nos garante Simoni Renee Guerreiro Dias, uma judia brasileira, no seu novo livro "Hitler no Brasil - a sua vida e a sua morte". Desde o seu alegado suicídio em Abril de 1945, muitas têm sido as teorias da conspiração que davam conta da fuga do líder do Terceiro Reich para a América do Sul, onde teria vivido até o que lhe permitiu o seu tempo biológico. Há quem defenda que Hitler terá viajado com Adolf Eichmann e Josef Mengele para o Brasil, e ainda quem pense que fugiu com Eva Braun para a Argentina, mas Guerreiro Dias diz que o fuhrer foi primeiro para o Paraguai, e de seguida para Cuiabá, no Brasil, onde procurava um tesouro escondido pelos Jesuítas com ajuda de um mapa que lhe foi oferecido por aliados dentro do Vaticano. A autora diz ainda que foi a Santa Sé a patrocinar a nova vida de Hitler, que durante a passagem pelo Brasil adoptou o nome de Adolf Leipzig, e morreu em 1984, aos 95 anos. Na imagem "Leipzig" aparece com a sua companheira Cutinga, uma negra que escolheu para namorada "de forma a não revelar a sua identidade" - parece-me um argumento pouco credível. Em Cuiabá era conhecido por "o velho alemão", e no livro conta-se ainda que escolheu o nome de "Leipzig" em homenagem à cidade onde nasceu um dos seus compositores favoritos, Juan Sebastian Bach. Historiadores e investigadores consideram as conclusões da autora "uma patetice", mas Guerreiro Dias pede a exumação dos restos mortais de Leipzig - que existiu mesmo, e é aquele que vemos na fotografia - para que o seu ADN possa ser comparado com um dos poucos descendentes conhecidos de Hitler, actualmente a viver em Israel. Morto em 1945 ou em 1984, de morto já não passa, mas seria interessante saber a verdade. Nem que fosse apenas para "acertar as agulhas" da História.

Irmãs, afinal


Mikayla Stern-Ellis, de San Diego, e Emily Nappi,de San Francisco, conheceram-se nas redes sociais quando procuravam um parceiro para dividir o alojamento na residência universitária onde estudavam, em Nova Orleães. Não chegaram a partilhar o quarto, mas ficaram amigas, e descobriram muitos pontos em comum: eram ambas filhas de casais lésbicos, adoram teatro e são sonâmbulas - isto além das evidentes semelhanças físicas. Como nada é por acaso, descobriram após uma investigação sobre a paternidade que são filhas do mesmo dador de esperma, um colombiano que aos 19 anos depositou o ADN que as duas partilham num banco da Califórnia, e portanto são meias-irmãs do lado do pai. Coincidências? Dificilmente existirão tantas assim. Se o mundo é pequeno? Mais pequeno do que pensamos, aparentemente...