sábado, 8 de março de 2014

Os sons dos 80: mulher, menina, senhora


Como hoje, dia 8 de Março, é Dia Internacional da Mulher, não podia fazer pelo menos uma referência à data, que parecendo que não, é até revestida de significante importância - devia até ser feriado, digo eu. Por norma não concordaria em atribuir um dia específico do ano à condição feminina, pois existe o dia mundial do deficiente, do idoso, da SIDA e do combate ao cancro, tubercolose, etc., etc., e ser mulher não é uma doença nem uma condicionante; ou não devia ser, pois em pleno século XXI ainda há por aí em certos quartéis uns tipos que consideram que o facto de se nascer com a genitália enfiada para dentro em vez de pendurada é um "problema", e que isso lhes confere o direito de tratar mal as fofinhas, que são um docinho cutchi-cutchi, especialmente se estiverem dentro do prazo de validade e cuidarem de aspectos como o peso, a aparência e a higiene. E já agora que não ressonem, digam obscenidades, falem alto, façam barulho quando comem, passem muito tempo ao telefone, exagerem no perfume ou chateiem quando vemos a bola. Bem, enquanto os cavalheiros levam as donzelas a comer fora ou a fazer outra despesa, o tio Leocardo contribui com temas musicais dedicados á mulher que foram destaque nos anos 80. Portanto quero desejar um feliz dia à mulher, amiga, companheira, camarada, fruto de ventre que nua na cama blá blá toda essa conversa comuna. E às meninas solteiras e descomprometidas, que tenham cuidado com esses homens malandros que por aí andam, que só querem andar na brincadeira e na palhaçada. Não confiem em nenhum deles - a não ser em mim, claro ☺


John Lennon, que já não está entre nós, bem como tantos outros (Elvis Presley, por exemplo) deixou esta lindo tema, "Woman", antes de partir dos vivos aos 40 anos, abatido por um maluco gordo com óculos. A canção é dedicada à sua esposa, japonesa Yoko Ono, que vemos ali toda agarradinha a ele - como era aliás hábito, umas vezes com roupa, outras nem por isso. Diz-se que Lennon queria dedicar uma canção a Yoko, e pensou em dar-lhe o título de "Creature" ou "Thing", mas...ah, ah, estou a reinar com vocês; isto é mentira mas podia muito bem ser verdade. O que é verdade é que dois dias antes de levar um tiro à porta do seu prédio em Nova Iorque (ele há dias que não se deve sair de casa...), o ex-Beatle disse numa entrevista à Rolling Stone que este "Woman" era uma versão amadurecida de "Girl", um dos clássicos dos "fab four". Também não menos verdade que o single póstumo vendeu muito bem, chegando a nº 1 no Reino Unido e nº 2 na Billboard. Parece que lhe deram a notícia, mas estranhamente Lennon ficou sem reacção. A verdade é que nunca escreveu mais nenhuma canção como aquela, o tipo. Nem como aquela, nem como outra.


Esta todos devem conhecer. "Woman in Love" foi escrita por Barry e Robin Gibb (vulgo Bee Gees) e gravada em 1980 por Barbra Streisand para o seu álbum "Guilty" - eles ainda pensaram em gravá-la eles próprios, mas o título podia dar lugar a mal-entendidos. Ouvi esta canção milhares de vezes e nem fazia ideia que era de Barbra Streisand, imaginem. Devo ter ouvido uma daquelas versões que vinham em flexidisco, como oferta da revista do Círculo de Leitores. E de facto "Woman in Love" foi um êxito esmagador, chegando a nº 1 em vários países, entre eles os Estados Unidos e o Reino Unido, e gravado numa miríade de línguas diferentes. Existem mesmo versões masculinas, com destaque para "Man in Love" (?!), do cantor jamaicano de "reggae" Echo Minott (ora essa...). Streisand, apesar do nariz descomunal, é senhora de uma voz ainda mais impressionante, e nesta versão original consegue manter uma nota no mesmo tom durante dez segundos! Quando canta I stumble and fall/But I give you it all, sai um "aaaaaaaallllllllllll". E ainda rima e tudo! Espantoso...


Os Roupa Nova são um grupo brasileiro de música "irópita", e este "Dona" é um exemplo cabal desse "iropitismo". O tema fez parte da trilha sonora da telenovela "Roque Santeiro", de que muitos certamente estarão recordados, e entrava normalmente quando aparecia a personagem interpretada por Regina Duarte, a viúva Porcina - e lê-se "PorSSina", e não "PorQUina", como cheguei a ouvir de alguns broncos. O single foi nº 1 em Portugal, se não estou em erro, dois ou três anos depois de ter saído no Brasil. Depois admiram-se que os brasileiros dizem que o "portuga" vive de "fléxibéqui" ("flashback", em dialecto brazuca). Os Ena Pá 2000, do magnífico Manuel João Vieira, gravam outro tema com o mesmo nome vários anos mais tarde, mas a julgar pelo refrão "Dona/tu és a nossa mãe/Dona/és de onde a vida vem", penso que não era bem "dona" que eles queriam dizer. Não deixa de ser uma homenagem bonita à mulher, enfim, a fertilidade, o amor na sua vertente do prazer, sei lá, qualquer coisa assim.


Desmond Child foi o autor deste "If You Were a Woman (And I Was a Man)", para o álbum "Secret Dreams and Forbidden Fire", de Bonnie Tyler, em 1986. A produção ficou a cargo de Jim Steinman, que como já vimos num "post" anterior, colaborava na altura com a cantora galesa. O título da canção significa literalmente "Se tu fosses uma mulher e eu fosse um homem", que é também o refrão, onde se acrescenta "não seria tão difícil de entender". Bom, não sei do que falam, mas posso tentar adivinhar. Esta é uma variante mais drástica do "se tu tivesses no meu lugar ias entender", mas vai um tanto ou quanto longe demais. Se não houver outra alternativa senão a operação cosmética, podem sempre realizá-la ali na Tailândia, e se forem juntos, pode ser que tenham um desconto: é só trocar "uma" pelo "outro". Agora é apenas impressão minha, ou o refrão é parecido com o tema "You Give Love a Bad Name", dos Bon Jovi? E não é coincidência nenhuma: é que o autor da canção dos rapazes de New Jersey foi...Desmond Child - e com apenas dois meses de diferença entre a edição dos dois singles. Falta de ideias?


Antes de mais nada, o nome deste grupo britânico significa mesmo "leopardo surdo", e quando sua fundação, em 1978, um dos seus elementos sugeriu que se mudasse de "Deaf Leppard" para Def Leppard, para que não fossem confundidos com uma banda de "punk-rock", muito na moda naquele tempo (e sinceramente não entendi o porquê da mudança). Outra coisa: "Women" é o plural de "woman", ou seja, o primeiro é "mulheres" e o outro é "mulher", assim como "children" (crianças) é o plural de "child" (criança); "womens" e "childrens" não existe, pura e simplesmente. Peço desculpa para quem já estava careca de saber isto, mas é dirigido a certos meninos que diziam no liceu que Inglês "era fácil", e que "não era preciso estudar", e depois davam erros deste calibre. Portanto se "woman" é uma, e "women" são duas ou mais, isto significa que enquanto John Lennon tinha que se contentar com uma japonesa com cara de louva-a-deus, os Def Leppard iam papando pitame sortido. Mas o que berram tanto eles às mulheres, ao ponto de deixar um leopardo surdo? Será "Mulheres" Mulheres! Para me lavarem a loiça/Mulheres! Mulheres! Para me passarem a roupa"? Nada disso, mas antes qualquer coisa como "Mulheres/montes de mulheres bonitas/Mulheres/não podemos viver sem elas. Os Def Leppard sempre foram um grupo de "heavy-metal", ou "hard-rock", que seja, muito lamechas. Satanás está muito chateado com vocês, meus meninos.


E para acabar com chave de ouro, Serafim Saudade com o tema "Mulher, Mulher", acompanhado das suas afinadíssimas coristas. Esta é a uma homenagem a dobrar ao alvo da nossa homenagem de hoje. Reparem como a palavra "mulher" aparece não uma vez, mas duas. Agora uma surpresa: Serafim Saudade é na realidade uma personagem criada pelo humorista Herman José para o seu programa "Hermanias", de 1984, e inspirada no cançonetista Marco Paulo. Pois é, lamento desiludir os que tinham gostado de ouvir, pesquisavam a discografia de Serafim Saudade e preparavam-se para subtraí-la de um sítio de "torrents" qualquer. E até podia ser que conseguissem alguma coisa, pois o personagem cheggou mesmo a editar vários singles, fruto da colaboração com o saudoso Carlos Paião. Reparem no fino recorte da letra deste tema: "Pedi-te p'ra fugir/P'ra viveres comigo mão na mão/Mas não quiseste vir/Pois gostas mais do teu irmão/Eu hei-de conseguir/Mudar a tua opinião". E pronto, agora que as meninas já estão servidas, feliz dia da mulher!

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