quinta-feira, 6 de março de 2014

Paulo Fonseca sai do FC Porto


Paulo Fonseca deixou de ser ontem, no dia do seu 41º aniversário, treinador do FC Porto. Os dragões anunciaram a sua rescisão com o técnico, aceitando assim o seu pedido de demissão feito após o empate em Guimarães no Domingo passado - o terceiro esta época. Paulo Fonseca, que como jogador foi defesa-central dos quadros do FC Porto, mas que nunca se afirmou no plantel principal, passou por clubes como o Leça, Belenenses, Marítimo e Estrela da Amadora, tendo sido neste último que deu início à sua carreira de treinador. Subiu a pulso, passando pelas divisões secundárias, onde treinou Pinhalnovense, Odivelas e 1º de Dezembro, depois deixou o Aves à beira da subida à divisão principal em 2012, e na temporada passada esteve em grande destaque no P. Ferreira, terminando em 3º lugar na Liga ZON Sagres, perdendo apenas para Porto e Benfica, e colocando os pacenses numa inédita eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. A sua ascensão meteórica foi agora interrompida após uma série de maus resultados do Porto, que se encontra a nove pontos do líder Benfica e a quatro do 2º classificado, o Sporting, arriscando-se o clube da Invicta a terminar a época 2013/2014 atrás dos dois rivais de Lisboa, o que não acontece há mais de 30 anos, e seria a primeira vez durante a presidência de Jorge Nuno Pinto da Costa. O presidente portista fez deste jovem treinador mais uma aposta pessoal, e ao contrário do que é habitual, perdeu essa aposta; Fernando Santos, José Mourinho, André Villas-Boas, Vítor Pereira e até o próprio Jesualdo Ferreira, que viu a sua longa carreira ser coroada com três campeonatos pelo FC Porto, são todos treinadores feitos campeões por Pinto da Costa.

Confesso que fiquei triste com o insucesso de Paulo Fonseca, e que esperava muito mais da sua passagem pelo FC Porto, que como muitos dos leitores devem saber, é o meu clube. De todos os técnicos despedidos por Pinto da Costa devido aos maus resultados - e que se podem contar pelos dedos de uma mão - é aquele com que mais simpatizo, e aquele de quem mais esperava. Quinito, Tomislav Ivic (da segunda passagem), Octávio Machado, Victor Fernandez e José Couceiro nunca tiveram a vida facilitada desde o início, mas Fonseca até começou bem a época, com uma vitória na Supertaça, e as primeiras dez jornadas da liga a saldarem-se em oito vitórias e dois empates. A participação menos conseguida na Liga dos Campeões e a derrota em Coimbra para a liga foram o princípio do fim, e o técnico nunca mais conseguiu subir à tona do mar de contestação. De cinco pontos de vantagem no campeonato passou a ter nove de atraso, e apesar de se manter em prova nas restantes competições (Taça, Taça da Liga e Liga Europa) ninguém seria capaz de apostar com firmeza nos dragões para vencer qualquer uma delas.

É um facto que o plantel do Porto perdeu dois jogadores fundamentais, João Moutinho e James Rodriguez, pedras basilares dos sucessos obtidos nas últimas três temporadas, mas depois de os ter feito "esquecer" com o excelente arranque em Setembro, começou a notar-se a falta de um "patrão" no meio-campo (Moutinho) e de um criativo nas alas, com queda para o golo (Rodriguez). A juntar a isto estão os erros individuais, que têm sido uma constante, e a demora em algumas das contratações em se afirmarem, como são os casos de Ricardo Pereira ou Quintero. Josué e Licá prometeram, mas não se afirmaram, Jackson Martinez está desinspirado em relação ao ano anterior, e tem sido difícil conter a indisciplina, que ficou evdenciada com os casos de Fucile e Otamendi, para não falar do circo mediático que foi a renovação do médio Fernando, um dos ainda pouco indiscutíveis do plantel portista. Pode-se dizer que o Porto 2013/2014 ia na direcção certa, e de repente descarrilou.

O diagnóstico que faço do falhanço de Paulo Fonseca só me pode levar a esta conclusão: falta de pulso. Quando se tem um início prometedor, como foi o caso, é preciso saber gerir alguns egos, quer os que se agigantam, quer os que contestam. Ao começar a definir a equipa tipo, não conseguiu motivar os que pareciam ter lugar cativo na equipa, nem lidar com a natural insatisfação dos que ficavam de fora, e assim "perdeu" o balneário. Desejo-lhe a melhor das sortes no futuro, ele que provou ser um bom técnico ao fazer o que fez num clube com a dimensão do P. Ferreira. O Porto é que parece ter sido um desafio que (ainda) não estava à sua altura, e pode ser que de uma próxima vez possa regressar pela porta grande. Agora no seu lugar fica Luís Castro, treinador da equipa "B" (que lidera a liga de honra, por sinal), para ver se coloca ordem na casa. O Porto está ainda em três frentes, e mesmo dando a Liga por perdida, é preciso garantir pelo menos o 3º lugar, e ter atenção ao Estoril, que está apenas a 4 pontos do último lugar de acesso à Champions. Não realizar pelo menos esse objectivo não seria uma época mal conseguida - seria trágico.

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