Quando vejo a malta aqui em Macau a marchar para dentro das cadeiras de
fast-food americanas como carneirinhos obedientes, fico a pensar: e se fizessem dentro das tascas do McDonald’s um inquérito aos consumidores sobre o que pensam da influência dos Estados Unidos da América no contexto da política internacional, por exemplo. Tenho a certeza que muitos deles diziam cobras e lagartos dos americanos, enquanto enchiam a boca de
french fries e tota-tola.
É engraçado como os chineses chamam
bao (pão) àquelas sanduíches deprimidas daquela minhoca moída com haxixe a que chamam “burguer”. Tratando aquilo como um regular “pão” com qualquer coisa lá dentro, é mais fácil engolir o imperialismo que pagaram para o almoço ou jantar (alguns dias as duas coisas, que falta de imaginação). Pois, mas são as crianças quem mais gosta, e às vezes os adultos só vão para acompanhar, a culpa é da bonecada e do Ronald McDonald’s (pedófilo?), isso tudo, mas a verdade é que a avó vai lá com o neto e aproveita para se encher com um Big Mac. O pai vai lá buscar o filho mas aproveita para levar uma
mo lo kai (Chicken McNuggets) para o jantar.
Mas sabem uma coisa? Não os censuro. Têm toda a razão em viver
la vida loca. Uma coisa é não gostar dos americanos, outra coisa é gostar dos produtos americanos (E escrevo isto enquanto bebo uma Coca-Cola Light). Eu sinceramente acho que sem o contributo dos americanos e da sua comidinha, o mundo era um lugar muito mais sombrio e triste. Foram eles que inventaram os
burgers, os
hot-dogs, as pizzas, tudo o que é bom! E antes que me comecem a mandar comentários insultuosos a dizer que não foram os americanos que inventaram a pizza, deixem-me explicar.
Quando era puto e não existiam McDonald’s em Portugal, a minha avó comprava hambúrgueres de perú no talho. Isso mesmo, de perú. Gostava imenso daquilo, mas foi quando estive em Londres pela primeira vez, em 1990, que saboreei pela primeira vez um
burger da Burger King, e fiquei rendido aos encantos dos
yankees. Não porque fossem melhores que os hambúrgueres da minha avó, mas porque estava ali a coisa mais próxima, e com contornos de eterno (ao contrário da minha avó, coitadinha).
Mas mesmo antes disso descobri a pizza. Quando estava no primeiro ano do secundário costumava almoçar lá na escola durante a semana, e para tal pagava uma senha de almoço que custava 55 escudos – estávamos no ano de 1985. O almoço era sempre qualquer coisa de agradável, como peixe cozido, bacalhau à Brás, frango guisado, coisas assim frugais e sóbrias. Mas um dia, tivemos pizza, e as senhas esgotaram num ápice. Cantina a rebentar pelas costuras, eis que a malta se preparava pela primeira vez para entrar à dentada na modernidade. Chegaram as tais pizzas, e foi uma desilusão enorme. Bocados abolachados de pão com molho de tomate e cebola. E nem era servido em fatias triangulares, como víamos nos filmes.
Em 1988 comi outra pizza, desta vez de atum, quando estive de férias na Nazaré, e para ser simpático, que bela merda que aquilo era. Foi só em Hong Kong quando entrei pela primeira vez num Pizza Hut que fiquei a saber o que é uma pizza a sério. Aquele salsichame e aquela queijonga a pingar, a molhaça de tomatal a saber a oregãos, uma festa na minha boca.
Voltando atrás e falando dos
hot-dogs. No café lá da terra e no bar da escola existiam “cachorros-quentes”, uma tradução portuguesa e bem literal de “hot-dogs”. Estes tais cachorros consistiam num papo-seco com duas salsichas de lata e besuntados com mostarda (a mostarda era muito boa, por acaso). “Hot-dogs” como nos “movies” só comi aqui mesmo em Macau, na extinta Panini (existia uma na Rua de Silva Mendes e outra na Travessa dos Anjos), e mesmo assim era alegadamente em estilo alemão. Os americanos inventaram os cachorros-quentes, quando enfiaram no meio da salsichonga os molhos, o
relish, a batata-palha, mil e uma coisas.
Os americanos inventaram tudo o que sabe deliciosamente bem e faz extremamente mal. Inventaram o KFC, os gelados com M&M’s ou Oreos partidos, a comida
tex-mex (uma delícia!), uma versão da comida chinesa mais deliciosa que a própria comida chinesa, as sanduíches do tamanho de submarinos, ensinaram o mundo a comer milho (o meu pai proíbia o milho lá em casa, porque “era das galinhas”), e para quem não gosta de carne têm as alternativas
veggie e
vegan e tudo isso. Os americanos têm mil e um méritos nos hábitos de consumo do mundo inteiro, e não os condeno por nada. Vou continuar a evitar o McDonald’s como o diabo foge da cruz, mas vou reconhecer-lhe o direito à existência. E venham de lá esses hambúrgueres!
12 comentários:
Oh Leocardo não seja mentiroso. Voce quando disse pizza, queria dizer piça, não eh?
Podia deixar aqui um comentário do tipo: "pergunte à sua mulher/mãe porque ela é que percebe de piças", mas isso seria descer ao seu nível, portanto não o faço.
Cumprimentos.
É pena que noutras situações, sobretudo quando fala de personalidades bem conhecidas, não saiba ver o lado positivo e negativo como soube vê-lo neste post. Não se deixou dominar por nenhum ódio de estimação e por isso é que isto desta vez está bem escrito (refiro-me ao estilo, porque na ortografia há um outro errozito, mas nada de mais). Desta vez apreciei, como quase sempre aprecio quando fala de coisas e não directamente de pessoas, que para isso não tem jeito.
as crianças do Leocas nunca terão o prazer duma saudável "happy meal"....
a não ser que a mulher os leve ás escondidas...
Depois admirem que há cada vez mais gordos.Não é por acaso que a maioria dos americanos são gordos.Só de ver aquele óleo que vem das pizzas e dos hamburgers do mcdoonalds já dá vontade de vomitar.
o da foto não é do macdonald's.... quanto muito é wendy's....
Só de ver aquele óleo já estou enjoado.
epá, hoje o Leocas "falhou"...
você está bem, Luis?
É como os jeans. Até os anti-americanos vestem calças de ganga. A incoerência faz parte da vida.
por ex: a internet foi inventada por... americanos....
palerma, o das 14:36....
O palerma das 16:04 deve achar que tem muita piada. Talvez seja talibã.
hã? talibã? porquê talibâ??
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