domingo, 5 de setembro de 2010

Mas qual comunidade?


Um grupo de "jovens macaenses" partiu na sexta-feira para Zhejiang "a convite do Governo Central". Serão estes jovens, e passo a citar, que vão "tomar as rédeas associativas e políticas da comunidade". Aqui por "comunidade", entende-se a comunidade macaense, suponho. Sendo esta uma "aposta no futuro", que demonstra "a grande atenção que o Governo Central presta à comunidade", resta-me perguntar: nesse eventual futuro, o que vai haver para "tomar as rédeas"? Que comunidade?

Já falei aqui vastas vezes da comunidade macaense, e tendo eu feito a minha parte ao produzir dois macaenses, penso que tenho pelo menos direito a mandar mais uma posta de pescada sobre o assunto, ou de nairo, neste caso. A comunidade macaense, a que está representada nesta excursão, simplesmente não existe. Ou existe, mas está em vias de extinção, a prazo. Existiu sim, e tinha força, quando ainda nem se falava da transferência de soberania. Um amigo meu macaense que entrou na administração nos finais dos anos 70, e entretanto já aposentado, dizia que na altura "não passava pela cabeça de ninguém" que Macau fosse entregue à China.

Isto serviu de desculpa para alguma falta de preparação que existia na comunidade, e à medida que 1999 se ia aproximando, foram-lhes dadas duas escolhas: ou aprendiam chinês e ficavam, ou partiam para Portugal, onde poderiam continuar cantando e rindo. Para muitos foi uma opção difícil de tomar, rodeada de incertezas, mas agora passados mais de dez anos, penso que ninguém ficou a perder. Os mais jovens assimilaram bem a mensagem, e a esmagadora maioria deles foi aprender o chinês, e inscreveu os filhos em escolas chinesas. Foram pragmáticos, pode-se dizer, e pelo menos tiveram o mérito de dar nomes portugueses aos filhos, mesmo que alguns deles tenham casado com chineses de Macau.

O Governo português de transição é a meu ver o grande responsável pelo enfraquecimento da comunidade e da língua portuguesa em Macau. Ao contrário do que foi feito aqui ao lado em Hong Kong, em que o governo britânico levou mesmo a sério o trabalho de manter os honconguenses genuinamente honconguenses. Aqui para nós, basta recordar as palavras do último Governador quando lhe perguntaram que conselho deixava aos portugueses que optassem por continuar em Macau: "que aprendam Mandarim". E não é que fomos todos aprender? Isto é demonstrativo da verdadeira preocupação por parte de quem de direito.

Os últimos bastiões da genuína comunidade macaense, a verdadeira, a antiga, que preserva verdadeiramente os costumes e tradições, estão agora em Portugal, no Brasil, no Canadá ou na Austrália. E os seus filhos e netos até podem achar muita piada à coisa, mas na realidade são cidadãos desses países, e nem lhes passa pela cabeça vir para Macau, a não ser durante o tal encontro das comunidades, que é uma festa muito gira. Quanto à comunidade que por aqui ficou, vai valendo meia dúzia de votos àquelas listas que aparecem de quatro em quatro anos nas eleições à Assembleia Legislativa, até ao dia em que se dissipe completamente.

No que toca aos meus filhos, foram aprender português porque sinceramente não considero que tenham grande futuro em Macau. Claro que a opção será deles, em última instância, mas não penso que Macau tenha uma grande oferta para os jovens no futuro, especialmente para os de ascendência portuguesa, e que falam português. Um dia eventualmente vão para Portugal estudar, e muito provavelmente ficam por lá. E não me acusem de ser oportunista ou chupista, pois quem pensa o contrário só pode ser mesmo sonhador. Nisto da miscigenação de raças a China já deu provas de que é especialista. Não foi à toa que foi implementada há alguns anos a política da aquisição de residência através do investimento. Acham mesmo que os pangyaos tinham interesse em vir aqui "investir"?

Claro que Pequim se preocupa com a comunidade, pois então. Não representa nenhum tipo de ameaça, não está em expansão, e quem esperou quase 500 anos espera mais cinquenta ou cem até a casa estar arrumada. Estes jovens que se deslocaram na sexta-feira ao continente não são nenhuma "nova geração" de macaenses. São apenas os filhos da antiga geração - para tal atente-se aos nomes - nem uma cara nova. Para Pequim não custa nada arranjar meia dúzia de tachos em forma de direcção de departamento ou empresa, até porque dinheiro é coisa que não falta. E assim mostram que se preocupam com a "comunidade", e que os querem ouvir, coiso e tal. É a famosa paciência de chinês.

24 comentários:

Anónimo disse...

As pessoas gostam muito de confundir as coisas. O que é que difere um macaense dum lisboeta ou parisiense? Não é simplesmente o local onde nasceram?
Eu sou macaense simplesmente porque nasci em Macau. Até podia ser preto e ter nascido em Macau, era sempre macaense. A maior parte dos macaenses é de raça amarela, não fala português, não tem valores nem cultura portuguesas.
Porque complicam o que é simples? Que é isso da comunidade macaense senão todos os macaenses?

Anónimo disse...

Acho piada esse discurso dos jovens macaenses que vão tomar as rédeas políticas e associativas do território. Tentam transformar (ou manter) o que deveria ser resultado da meritocracia numa espécie de sucessão dinástica. Os pseudo-nobres macaios no seu melhor.
O zé povinho macaense não conta (só para o Pereira Coutinho) e os tugas também não. O que interessa é que os Chai Chais tontinhos continuem a mamar da teta do poder, fosse o poder colonial tuga ou seja agora o poder vermelhinho. Que corja!

Anónimo disse...

ó amigo Leocas, quando tira aqueles inquéritos antiquíssimos que aqui tem?

Anónimo disse...

Os ditos "macaenses" sempre tiveram uma palavra a dizer na política do território. É perfeitamente compreensível que a geração que agora vá terminar queira preparar o futuro. Não me ofende que tenham pretensões politicas. Se eles falam ou não português, isso já é outra história. E um tema bem diferente!

AA

Anónimo disse...

Podem ter as pretensões que quiserem. São livres de sonhar e desejar o que quiserem, como eu ou qualquer residente de Macau. Não lhes fica bem é dizer que vão tomar as rédeas da vida política e associativa da comunidade, porque a comunidade não os escolheu para nada. Devem ser como o Miro, que ia representar a comunidade na AL e desapareceu depois das eleições. A associação que ele criou já fez alguma coisa depois das eleições? Ou só vai aparecer na véspera das próximas eleições, reclamando que representa a comunidade e prometendo trabalhar muito nos quatro anos seguintes?

Anónimo disse...

Seria muito presunçoso da parte "deles" dar como dado adquirido que os filhos o tomar as rédeas da vida política e associativa da comunidade. Contudo, pela influência de algumas das famílias, não ficaria surpreendido que alguns o fizessem. Concordo plenamente que o fenómeno “Voz Plural, Gentes de Macau” voltou a deixar feridas ao léu. E volta a colocar em causa a união da comunidade que desde o Carlos de Assumpção peca por não ter um líder, um rosto, uma força. Provavelmente é isso que "eles" agora procuram.

AA

Anónimo disse...

estes macaenses da elite, da nossa pseudo-"nobreza" só sabem defender os seus interesses e o seu futuro por meio de associações.... estas organizações até fazem alguma coisa de jeito como defender a identidade e cultura macaenses, através da defesa da gastronomia macaense e do patuá.... mas eles esquecem-se do essencial: defender os interesses da comunidade macaense em geral.... alguma vez eles defenderam os meus interesses? alguma vez deu voz aos funcionários públicos macaenses discriminados pelos seus superiores chineses? alguma vez defenderam os interesses dos macaenses "do povo", ou alguma vez ouviram as reclamações e aspirações deles? onde estavam eles quando portugal tentou cobrar impostos às pensões dos macaenses e portugueses q se reformaram em Macau??? onde estavam eles qd portugal ameaçou chamar de volta os funcionários dos seus quadros q estavam a trabalhar em macau??? por isso é natural que Pereira Coutinho, apesar de ser um pouco populista e oportunista, seja o cabeça dos nossos conselheiros no Conselho das Comunidades Portuguesas e seja deputado na AL (pra tal, recebeu claro votos dos chineses)! e é perfeitamente natural que as listas da "elite", que aparecem de 4 em 4 anos, só recebem em média 800 votos.... os macaenses em geral nao se identificam com estes pseudo-"nobres"!!!! eles nunca foram eleitos por nós pra nos representar!!!! é por isso que macau é ainda uma pseudo-democracia (ou quasi-ditadura)!
ó Leocardo, a comunidade macaense ainda existe e está viva, só que está em vias de desaparecer....

Anónimo disse...

o anónimo AA acha que a elite vai conseguir encontrar um líder, um rosto pra a comunidade macaense, se as listas patrocinadas por ela conseguirem apenas em média 800-900 votos??? estas listas só aparecem de 4 em 4 anos e nao trabalham, no período entre eleições, pra a comunidade.... onde estao eles qd os macaenses têm problemas?? só aparecem em jantaradas de gastronomia macaense, em festas associativas e em sessoes culturais e teatrais (de patuá)... só aparecem de 4 em 4 anos... como é que eles acham q representam a comunidade macaense e podem uni-la???

Anónimo disse...

O anónimo AA acha que essa elite já compreendeu que não chegam só jantares e encontros culturais para levar a água ao seu moinho, dai, talvez, estar já a preparar o futuro com alguma antecedência. Todos eles têm uma certa representatividade na sociedade local, portanto, todos eles, na teoria, podem fazer mais e melhor em prol da dita comunidade. Contudo, convém não esquecer que Macau é muito pequenino e o chinês é melindroso. Depois, depois há egos enormes e difíceis de moldar. Com isto, não quero dizer que discordo com os comentários aqui colocados anteriormente.

AA

Anónimo disse...

"Essa elite já compreendeu que não chegam só jantares e encontros culturais para levar a água ao seu moinho". Pois não! Agora também é preciso lamber as botas às autoridades chinesas e declarar o amor eterno à Pátria China. Sobrevivência, a quantas obrigas.

Anónimo disse...

é só anjinhos e gente generosa por aqui...
deve ser, deve....

Anónimo disse...

Caro Leocardo, os portugueses de Portugal que queriam aprender Mandarim, so encontraram entraves.
A orientacao era dar preferencia aos locais e dificultar aos de Portugal.
Estava eu ja no quarto ano de Chines quando me vieram dizer que eu nao podia frequentar as aulas da hora do almoco, porque nao era localizado. E nao tinha qualquer outra alternativa.
E dava-lhe mais exemplos.
Portanto, nao me venham agora armados em coitadinhos dizer que os Tugas nao queriam aprender.

Anónimo disse...

hoje em dia a pior coisa é por 1 filho a estudar portugues em macau porque Portugal é 1 país miserável e sem futuro,muito desemprego,tantos licenciados desempregados,muitos que viveram em macau e foram tirar uma licenciatura em Portugal,estão agora desempregados,muitos voltaram para Macau

Anónimo disse...

A nossa elite tenta convencer-nos q nós (os portugueses e os macaenses em geral) não são discriminados.... q grande mentira!!!!! a nossa elite claro que nao é discriminada... até tem o privilégio de ser consultado pelo Governo Central e de participar nestas visitas pra conhecer a Mãe-Pátria.... mas nós, que nao temos acesso a estes direitos e privilégios especiais, somos discriminados pelos nossos patroes chineses.... mt vezes, estes patroes nao gostam de nós pq temos demasiadas opinioes e estamos ainda acostumados ao antigo espírito português, que já se foi com a transição..... portugal é um país pobre, mas tem melhores universidades e mais cursos do que em macau.... macau tb nao tem grande futuro pra os jovens, além das áreas de hotelaria, turismo e casinos (e temporariamente as áreas de tradução e direito)....

Anónimo disse...

No jornal noticiou que nao teve criterio na escolha foi por disponibilidade. Alguem por acaso perguntou se a meu filho estava disponivel? Claro que ninguem perguntou.

GeneSimmons disse...

Em Portugal há emprego, simplesmente é difícil trabalhar com os muguinhas intriguistas/invejosos/ignorantes.
Gente que vai para o local de trabalho ouvir RFM's e MEGAFM's e Ladies gaga's e coisas dessas...assim é difícil...

Macau é mais chill.

Anónimo disse...

Trabalho em Portugal há sempre, Gene Simmons, nem que seja nos bombeiros voluntários. Salário é que não há, mas o que é que isso interessa? Não é?

GeneSimmons disse...

obviamente não vou perder tempo a comentar o que disse, porque se,( á partida ),não há salário , não é "trabalho"...
e se for voluntário, também não....

talvez isso não lhe interesse porque se calhar é um daqueles meninos de Macau/pt com 30 anos e que ainda anda pela casa dos pais, ou melhor, daqueles que já andaram por Portugal depois os papás chamaram de volta para Macau, mas entretanto estes já lhe alugaram uma casinha para si e para a dama ?

Anónimo disse...

Enganou-se redondamente. Sou casado e com filhos, tenho uma licenciatura a sério (pré-Bolonha) e já vivi em vários países, em todos eles melhor do que em Portugal. Nunca usufruí de cunhas, embora isso se deva apenas ao facto de não conhecer ninguém importante (muito menos o são os papás, coitados, que são apenas remediados e pouco poderiam fazer por mim).

Estou em Macau porque concorri (suponho que com centenas de pessoas) a um lugar e fui escolhido. Não conhecia cá ninguém. Pago casa e tudo o resto que tenho. Ah, e pago tanto à minha empregada filipina (que não deverá ter muito mais do que a quarta classe) do que estavam dispostos a pagar-me a mim, com curso superior, na miserável Tugalândia. Esclarecido?

Anónimo disse...

emprego há sempre em qualquer parte do mundo.Trabalhar nas obras,restaurantes,limpeza etc são empregos também.Estou em Portugal mas tenho amigos licenciados que estão a trabalhar em caixas de supermercados ou em lojas.Eu por exemplo sou licenciado em psicologia mas não arranjo emprego aqui como psicólogo,e tenho uma casa de putas há 2 anos para sobreviver

Anónimo disse...

hahahahahahahahahhahaahahahhahahah

Anónimo disse...

Ora aí está. O comentário das 23:34 é um testemunho vivo do Portugal de hoje.

Anónimo disse...

Sem duvída,o anónimo das 23h34 tem razão e ter uma casa de putas para ganhar dinheiro não é nenhum crime,a não ser que obrigues as putas a prostituirem,agora se for tudo por livre vontade não acho que seja crime,vejam o exemplo das saunas de macau,há lá prostituição,mas ninguém vai preso ou vai.em muitos países do mundo a prostituição é legal,no tempo de salazar também era legal durante alguns anos

Paulo39 disse...

@Firehead

Estás enganado.
O verdadeiro macaense é aquele que resulta duma união inter-étnica/racial. Ou seja, descendente de portugueses e chineses. O simples facto de ter nascido em Macau não faz com que sejamos macaenses. Quando muito, poderás considerar-te macaense por, além de teres nascido em Macau, sentires um grande afecto pela cidade (que é o meu caso). Mas isso já é um abuso de linguagem, porque o real macaense é aquele que eu descrevi.