quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Same same but different


Com a escolha dos sete deputados nomeados pelo Chefe do Executivo, anunciados na última segunda-feira, estão encontrados os 29 deputados da 4ª legislatura da RAEM, quadriénio 2009/2013. Olhando para o novo hemiciclo, não se vislumbram grandes diferenças, e a meu ver perdeu-se uma excelente oportunidade para "começar de novo", que é como quem diz, renovar a AL no sentido de avançar para as tão necessárias reformas, como a democratização do sistema, ou um funcionamento mais fiscalizador e profissionalizado do orgão máximo legislador da RAEM.

Dos doze deputados eleitos no sufrágio directo do último dia 20 de Setembro, não há mudanças significativas a assinalar: perde-se um deputado da ala tradicional, entra mais um democrata. É verdade que o sector democrata fica a ganhar, e o sinal que passa é de que a população, se bem que timidamente, anseia por mais democracia. Neste caso aplica-se a máxima do "se um elefante incomoda muita gente" aplicada aos democratas: "se dois democratas incomodam muita gente, três democratas incomodam muito mais".

Os restantes deputados eleitos reflectem a cultura eleitoral que ainda vigora, infelizmente, em Macau: a cultura do sectarismo. Quem trabalha nos casinos vota no candidato dos casinos, os operários votam nos operários, os funcionários públicos votam em Pereira Coutinho e a malta de Fujian vota na malta de Fujian. Ainda falta cultura cívica que permita o eleitor pensar um pouco mais para além do seu umbigo, e que vote em alguém que possa representar os interesses de toda a população, e não apenas os seus. Diga-se também em abono da verdade que faltam candidatos para o efeito.

Dos deputados eleitos pela via indirecta, e permitam-me a redundância, fica-se sem perceber como vão lá parar, quanto mais o que estão lá a fazer. É verdade que existe alguma qualidade, com destaque para Leonel Alves, obviamente. Mas o processo pouco claro (de certeza que é legítimo, mas isso não significa que seja perceptível) que leva à (re)condução de nove deputados faz com que a população se sinta deixada de fora. Nove deputados são quase um terço do hemiciclo, e a juntar aos sete nomeados, são uma maioria.

Desta maioria os interesses empresariais estão fortemente representados, até pela via do sufrágio directo (Angela Leong, Chan Meng Kam, por exemplo). Isto significa que muito provavelmente os direitos dos trabalhadores ficarão novamente para segundo plano. No fundo o papel dos empresários no hemiciclo passa por garantir que os seus interesses estão salvaguardados, ou por outras palavras, que não lhes estragam o negócio. Muito pouco para uma Assembleia que se quer representativa e popular.

Quanto aos deputados nomeados pelo CE, cheguei a sonhar alto. Cheguei a pensar por instantes que fossem juristas, que dessem mais qualidade, credibilidade e celeridade à produção legislativa, acompanhados por profissionais da área social, que levassem para a AL os anseios e expectativas das classes mais desprotegidas do segundo sistema. Dos primeiros ficamos com Leonel Alves (via indirecta), Pereira Coutinho (directa) e Vong Hin Fai (nomeado). Dos segundos pouco ou nada.

Amanhã a 3ª legislatura, ainda em exercício, vota a controversa proposta de lei da contratação de trabalhadores não residentes. Seria uma surpresa enorme se essa lei não passasse. O que se quer da 4ª legislatura é que trabalhe mais e melhor que as suas antecessoras, de que não difere em substância e conteúdo. Era bom que os próximos quatro, oito ou doze anos trouxessem a tal maturidade política que o território necessita, para que possa decidir sozinha a sua direcção, no âmbito do segundo sistema e da grande China. Mas é o que se pode esperar de uma criança com menos de dez anos que é a RAEM: que não salte mais que o seu próprio tamanho. Por enquanto...

6 comentários:

Séc. XXI - Século de Idiotas disse...

"Isto significa que muito provavelmente os direitos dos trabalhadores ficarão novamente para segundo plano" (sic). De acordo. Só que nas verdadeiras democracias também há agora a tendência de retirar direitos aos trabalhadores a torto e a direito, o que prova que as democracias de hoje não são nada diferentes de sistemas menos democráticos.

Anónimo disse...

Este século XXI faz cada comparação mais idiota! Não compare os direitos dos trabalhadores de Macau aos da generalidade da Europa, por exemplo. Por muitas contracções que haja no direito laboral europeu, este ainda é de outra galáxia quando comparado com a miséria de Macau.

Séc. XXI - Século de Idiotas disse...

Eu não disse que era igual. O que digo (e isso só não vê quem não quer) é que na Europa, depois de muitos anos em que realmente esse continente foi um exemplo, as condições se estão a degradar muito mais rapidamente. A este ritmo, não faltará muito para que as condições na Europa sejam iguais às de Macau. Se a democracia foi fundamental no Velho Continente para que essas condições se verificassem, agora no século XXI não há democracia que valha aos trabalhadores. Das verdadeiras democracias europeias do século XX, já quase só resta o nome.

Idiota é, por exemplo, dizer-se que em Macau são os patrões e as classes altas que representam os trabalhadores e que isso é um caso único. Em Portugal, que é uma democracia, tirando o Jerónimo de Sousa, quantos operários há na Assembleia da República? Afinal onde está a diferença?

Anónimo disse...

Há mais operários na AR, assim como há inúmeras pessoas das mais diversas proveniências profissionais. Na nossa AL, há uma maioria mais do que absoluta de empresários.

Séc. XXI - Século de Idiotas disse...

Há mais operários? Quantos são? 4 ou 5 em 230? Os trabalhadores estão representados por quem, afinal? Há mais estudantes do que operários (alguns com mais de 40 anos de idade e que nunca trabalharam na vida, porque a AR é um belíssimo tacho).

Se em Macau há empresários a mais na AL, em Portugal há demasiados juristas e advogados na AR. Deve ser por isso que em Portugal os políticos são grandes mestres em retórica (que consiste em falar muito sem dizer nada e mentir de boca cheia). É defeito profissional. No meio de tantos advogados, já se sabe...

Anónimo disse...

No Oriente, o "trabalhador" agradece quem o contrata.
No Ocidente, o trabalhador insulta o patrão por achar que ele está a enriquecer devido ao seu trabalho!!!
No Oriente o "trabalhdor" quer alcançar o que o patrão tem através do empenho.
No Ocidente o trabalhador quer viver sempre à custa do maldito patrão.
São filosofias...
Basta pensar um pouco e observar a reacção das pessoas.