sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Os blogues dos outros


Nos primeiros meses após o handover, quando ainda não havia o Bairro do Oriente (ahah), muitos portugueses residentes de Macau, ou antigos residentes, deram largas à sua revolta contra os abusos da administração vieirista no então frequentadíssimo Fórum Macau. A secção de debate, onde se "lavava a roupa suja", foi há muito desactivada, mas a extensa lista de documentos ainda continua disponível. Uma página a não perder por quem quiser saber um pouco mais sobre aquele tempo e as figuras que o marcaram.

Nuno Lima Bastos, O Protesto

O bispo da Diocese de Macau, D. José Lai, aliás Lai Hung Seng foi posto em causa pelo macaense José Guerra, membro da Confraria de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, por não ter permitido a eleição do presidente da Confraria como exigem os estatutos. A revolta de José Guerra prende-se igualmente porque o bispo prometeu-lhe pessoalmente que iria consultar o secretário da Confraria, Francisco Xavier do Rozário, de 94 anos, sobre a eleição dos corpos dirigentes, facto que não se verificou até à data em que o idoso faleceu. Entretanto, a Confraria tem sido dirigida por uma comissão não-eleita. A negligência do bispo Lai foi tema de uma carta de protesto enviada por José Guerra a responsáveis da Igreja Católica no Vaticano e em Portugal.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Vejo-o duas ou três vezes por semana na biblioteca. O Liu é professor universitário de história chinesa em Banguecoque, um conversador de talento, qualidades intelectuais assinaláveis, ávida curiosidade e grande abertura. Se alguém me tem ensinado o tailandês do dia-a-dia é o Liu. Insiste em ensinar-me e nunca se dá por vencido quando resvalo para o inglês. Hoje estava diferente. Os olhos cintilavam, o queixo erguido, a voz espaçada, uma bandeira vermelha na lapela. Perguntou-me: "não viste o meu país? Não viste como nos levantámos, que grandes somos ?". Sim, vi a enorme parada, as maravilhas da nova tecnologia chinesa, o aprumo das falanges apeadas, as intermináveis colunas de blindados, as baterias de foguetões, os céus de Pequim coalhados de helicópteros e bombardeiros. A China acordou e impõe a nova multipolaridade do século XXI.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

A declaração de Cavaco fez-me lembrar os velhos tempos de Octávio Machado. Falou muito sem no entanto dizer nada de concreto. O Sr.Silva como diria Alberto João Jardim, tem desempenhado um papel ridículo e provinciano nos últimos tempos. Sinceramente fico com a convicção que tentou dar uma ajudinha à sua amiga Manuela Ferreira Leite mas que tudo lhe correu mal e desde aí se tem vindo a enterrar cada vez mais. PS: Será que Cavaco se prepara para não nomear Sócrates como primeiro ministro? Uma hipótese teórica mas perfeitamente possível.

El Comandante, Hotel Macau

Já aconteceu a muito boa gente, numa altura ou outra da vida, receber mensagens públicas de apreço e reconhecimento de pessoas que preferiam que não dissessem que os conheciam. Terá sido o que aconteceu agora com José Sócrates, publicamente felicitado pela sua vitória eleitoral por aquela figura trágico-cómica que dá pelo nome de Hugo Chávez. "Nós juntamo-nos ao júbilo que há nos socialistas do mundo. Esse é o caminho" terá declarado um entusiasmado Chávez durante a II Cimeira África/América do Sul (ASA). Para acrescentar que "Esse é o caminho, o socialismo! África tem muito que apostar nisso, o socialismo africano, corrente muito forte que surgiu no século XX, que trataram de apagá-la mas que aí está, viva. [Muhamar] Kadhafi é uma testemunha disso, da República Socialista da Líbia" (via "Hoje Macau"). Ora aí estão duas companhias perfeitamente dispensáveis - Chávez e Khadafi. O Engenheiro também não merecia este castigo! As fontes do Devaneios garantem que, no Largo do Rato, Sócrates terá gritado bem alto - Por qué no te callas?

Pedro Coimbra, Devaneios a Oriente

Nunca fui cavaquista, mas sempre o reconheci como um homem cujo principal activo era a sua integridade. Agora especula-se: será que ele nos andou a enganar durante 20 anos? Tenho dúvidas. O tecido da política é demasiado poroso para que tal seja possível. Não querendo desculpá-lo, parece-me, cada vez mais que o que aconteceu foi uma trama urdida pela gente de quem se rodeou. Afinal Humphreys há muitos. Não foi por acaso que aquela série fez tanto sucesso quando passou. Diziam os políticos que a seguiam que retratava os bastidores da política tal como são.

Teresa Ribeiro, Delito de Opinião

Imaginemos que Cavaco procedera com cálculo eleitoral objectivo, aquando do seu silêncio prolongado na matéria das escutas e que, por omissões sucessivas, manifestara gravosa inépcia e inabilidade na gestão de tal problema obscuro, agravando-o numa escalada de fragilização da própria Presidência. Mesmo assim a verdade é só uma: os coiotes e as hienas do sistema político português logo se apressaram a senilizar o Presidente, eliminando-o politicamente, abatendo-o sem apelo nem agravo. Hoje aparece completamente isolado, alvo do escárnio de Ana Gomes, o que é lisonja, alvo da devastação argumentária de variados Filipe Tourais, objecto dos insultos sibilinos do Governo, contestado e autopsiado por qualquer blogger e blogue engajado como este, e é assim que o grande combatido e desprezado de Mário Soares aparece confinado na cena política portuguesa, passando ele pelo exclusivo urdidor de conjuras, pelo único perturbador do "normal" funcionamento da "democracia". Na verdade, o trunfo dos porcos vigora claramente em Portugal. Saem a perder os menos calculistas e menos capazes de perfídia. Saem a perder os detentores de uma rectidão rara, apesar de todos os defeitos e défices políticos. Nunca se leva a melhor, neste mundo de homens, em relação àqueles que vivem do lodo e para o lodo moral. Podem pois rafastelar-se no esgoto e no reles os que hoje desqualificam e apodam de zaranza Cavaco Silva: «É o primeiro encontro de Cavaco Silva e José Sócrates depois das eleições e da troca de acusações em torno do chamado caso das escutas.»

Joshua, PALAVROSSAVRVS REX

Não sei se, como contam os seus próximos, Mário Soares ainda se refere nestes termos a Cavaco Silva. Mas é importante esclarecer que chamar-lhe gajo não me parece nada depreciativo tanto mais que o termo gajo, na fulanização que tem implícita, dá conta daquilo que Cavaco Silva tem sido em Portugal: uma espécie de intruso, um tipo com quem volta e meia se esbarra e que suscita quase sempre uma pergunta meio irritada: “Mas o que quer este gajo?”. É preciso que se perceba que o espaço do poder governamental é em Portugal naturalmente socialista. Não por uma qualquer malfeitoria dos socialistas mas sim porque foram os socialistas os grandes vencedores políticos e morais do momento que fundou os compromissos do regime, o 25 de Novembro de 1975. O socialismo que o PS prometia aos portugueses pareceu-lhes tão paternalmente bondoso quanto o Estado Social anunciado por Marcelo Caetano, com a vantagem acrescida de se livrarem de que alguém os dissesse de direita ou estalinistas, pois se ser de direita permaneceu como algo de pejorativo já ser de esquerda, desde que daquela esquerda delimitada pelo PS, tornou-se um traço distintivo pela positiva. A isto que já de si não é nada pouco juntou-se a extraordinária mais valia da aristocrática concepção do poder do pater familias dos socialistas portugueses, Mário Soares. Ver Soares a deslocar-se é talvez o que temos de mais próximo com o que terá sido a naturalidade aristocrática com que D. Carlos devia passear em Vila Viçosa. Mas Soares não trouxe para os socialistas portugueses apenas a concepção de que o poder lhes é naturalmente devido, cultivou-lhes o espírito de corte: há um séquito que lhe repete as graças, as conversas com os grandes do mundo, a maravilha dos quadros que lhe ornamentam as casas, a grandiosidade da biblioteca e, não menos importante, reage ao primeiro sinal de crítica àquele que definem como pai da democracia.

Helena F. Matos, Blasfémias

Triste foi o que fizeram a Manuela Ferreira Leite. Ela entrou neste filme só porque Cavaco lhe pediu, é o que agora os acontecimentos permitem inferir. E cumpriu com excesso de zelo a sua missão. A senhora acabou a campanha a fazer coro com o Zé Manel na infâmia contra o SIS e a assustar os populares com a possibilidade de violação da sua correspondência pelo Governo. E também nos garantiu que os telemóveis poderiam estar todos sob escuta, qual reactualização da RDA, servindo-se para o efeito de declarações do Procurador-Geral da República retiradas do contexto e cujo sentido ficava adulterado. A cultura de grupo que permitiu tamanha indignidade, utilizando sem pudor a Manela como carne para canhão, é uma fatalidade do actual PSD. Um partido de advogados manhosos, videirinhos, e nada mais. Asfixiados pelo seu próprio fel.

Valupi, Aspirina B

Os irlandeses estão a votar no segundo referendo sobre o Tratado de Lisboa e, segundo dizem as sondagens, deverão aprovar o documento. No entanto, o simulacro democrático é demasiado eloquente sobre o actual estado de impotência europeia. Repetir a consulta até os irlandeses responderem o que se pretende é uma humilhação para os eleitores. Fui contra o referendo europeu em Portugal para evitar que nos passassem um atestado de incompetência como aquele que está a ratificar o povo irlandês. Ainda bem que não votámos, ou corríamos o risco de rejeitar o tratado e depois íamos votar outra vez até acertarmos na resposta. Há também a possibilidade dos irlandeses rejeitarem o tratado, mas penso que não se coloca a situação de decidirem por nós. Não se percebe bem o que acontece nesta circunstância, mas provavelmente existe um esquema de empurrar a Irlanda para um segundo (e menor) patamar de integração. Seria uma espécie de purgatório semelhante ao que alguns querem desenvolver para a Turquia, que cumpre todos os critérios de adesão mas que não entra no clube até que exista formalmente este segundo nível. Às vezes, apetece dizer sobre a UE o mesmo que Gandhi disse quando lhe perguntaram o que achava da Civilização Ocidental: "Acho que seria uma boa ideia". Deixo uma reflexão: a única solução para o défice democrático será a realização de um referendo a nível europeu para os futuros tratados da UE.

Luís Naves, Corta-Fitas

Testamento vital – O direito dos doentes terminais a recusarem tratamento não é um favor do Estado nem uma decisão que o Papa ou o Presidente da República devam impedir, é um sinal de respeito pelos cidadãos que cabe ao Parlamento acolher.

TVI – O saudoso Mário Castrim disse que o canal «nasceu na sacristia e acabou na sarjeta», um diagnóstico certeiro.

Costa Rica – Está em curso a reforma constitucional que pretende acabar com o último Estado confessional da América Latina, tema que aquece a campanha eleitoral perante o azedume dos bispos católicos face aos ventos da laicidade que sopram.

Irão – A aventura nuclear continua ao ritmo da demência islâmica à espera de que as democracias, assustadas, respondam com violência depois de esgotadas todas as tentativas de negociação.


Carlos Esperança, Diário Ateísta

Porque é que Campo Maior é uma planície?
Por café move montanhas.


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

1 comentário:

Professor Martelo disse...

O Corta-Fitas mostra, preto no branco, o que é a tal bem-amada grande democracia ocidental: votar tantas vezes até o povo escolher "democraticamente" aquilo que os seus líderes querem. Se fosse Chávez, era ditadura; como é na Europa, é democracia.