Há 60 anos Mao Zedong declarou perante uma multidão em Tiananmen que “o povo chinês levantou-se”, um momento de orgulho e esperança para um povo que saía de três séculos de Guerras internas e ocupação estrangeira. Mao e o Partido Comunista Chinês (PCC) chegaram ao poder sem qualquer apoio estrangeiro significativo – a revolução era fundamentalmente doméstica. Mao trouxe para a China um objectivo ambicionado desde os reformistas do século XIX da dinastia Qing: recuperar o
fu qing (riqueza e poder), dignidade, respeito internacional e integridade territorial. Para tal, Mao e o PCC apostaram na conquista do respeito e lealdade do povo chinês, uma linha que tem sido seguida pelos sucessivos governos.
Tragicamente, a crença de Mao em restaurar a grandeza da China passava pelo desejo de transformar o país num regime socialista e revolucionário. As medidas nesse sentido resultaram na quebra de produtividade e em campanhas políticas desastrosas que causaram a perda de vidas. Apesar de tudo, a China embarcou no comboio da industrialização e manteve-se firme, e 60 anos depois daquela manhã fria em Tiananmen pode-se dizer que atingiu progressos significativos e tornou-se uma potência mundial. Mao reconheceria o sucesso, o que não significa que estaria completamente feliz com ele.
Há muito para comemorar nesta dia do 60º aniversário da RPC. A nação mais populosa e industrializada do mundo “arrisca-se” até ao fim do ano a tornar-se na segunda maior economia mundial, à frente do Japão e apenas atrás dos Estados Unidos, que este ritmo, ultrapassará ainda antes de 2020. Tornou-se uma nação respeitável em termos de progresso e inovação científicos e diplomacia, é detentor de exército que nada fica a dever às restantes grandes potências, e está a desenvolver um sistema de ensino superior de grande calibre. O seu modelo híbrido de capitalismo de estado e autoritarismo semi-democrático – chamado “consenso de Pequim” – tem chamado a atenção dos países em desenvolvimento.
Os Jogos Olímpicos de 2008 foram a maior demonstração de desenvolvimento e modernidade da nova China, e a exposição mundial de Xangai no próximo ano está envolvida na mesma aura. A celebração dos 60 anos da República Popular em Pequim foram, como seriam de esperar, marcados por rigor e espectacularidade, e como os chineses nos têm habituado, nada correu mal. Porque não podia correr mal. O que é menos visível mas no deixa de ser um facto, é que a China é o primeiro país a sair da crise económica mundial, e a lever consigo o resto do mundo.
O progresso da China são mais espectaculares quando postos ao lado da linha do tempo. Os últimos trinta anos têm sido marcados por enormes transformações, principalmente nas cidades. Em 1979 vestígios da Revolução Cultural eram ainda evidentes, mas tornaram-se cicatrizes com a progressive democratização do sistema, centrado no desenvolvimento aconómico, encetado nos anos 80, e pontuado por por contra-campanhas lançadas pelos grupos neo-Maoistas na liderança do partido. Este padrão de convivência entre reformistas e radicais culminou nos incidente de 4 de Junho de 1989 em Tiananmen, quando a China “salvou” o regime da tendência que se vinha a acentuar da Europa de leste até à gigante Rússia: a queda do comunismo e a vitória do “western way of life” e do capitalismo.
Quando se pensava que o regime podia simplesmente implodir e desagregar-se lentamente, esse mesmo regime respondeu a essa “inevitabilidade” com crescimentos económicos anuais na ordem dos dois dígitos. Por cada um dos feitos conseguidos, deparam-se novos desafios. Um deles é o PIB per capita, que continua inferior ao de países como El Salvador, Turcomenistão ou Arménia, barómetro das desilgualdades que são ainda uma realidade, nomeadamente nas zonas rurais. Se os seus líderes se conseguirem adaptar às mudanças – como têm feito, e bem – esperam-se mais agradáveis surpresas, e novos avanços para o gigante asiático. Aqui em Macau só podemos esperar que sim, para o bem e progresso da região.
10 comentários:
Isto só dá vontade de rir à gargalhada.
Você já postou aqui hoje dois videos do Mao, de Deng XiaoPing, do hino da China com legendas e cheio de imagens patrióticas, uma canção propagandística do regime comunista de há mais de 60 anos, outra infantil de igual teor que mais parece saída da Coreia do Norte, uma encenação folclórica da Revolução Cultural e outro video das 100 (!) maiores cidades chinesas que ainda por cima começa com um simpático FUCK OFF YOU FUCKING RACISTS para quem criticar alguma coisa do seu conteúdo.
E remata isto tudo com uma dissertação destas, onde só falta colocar uma foto sua no cimo de uma montanha como uma bandeira da RPC a cantar o hino da internacional comunista.
E depois os outros de Macau é que são mais papistas que o Papa e fazem demonstrações que "ultrapassam a encomenda"????
Deve estar a gozar....
Caramba, nem o Ou Mun Iat Po fazia melhor que isto.
Morei na China por 7 meses.....sõ que esteve lá e conviveu com o Povo para ter idéia do poder dessa nação!
Parabéns pelo Post!
Anselmo - minervapop
Anónimo das 20:09, obrigado, um abraço para si.
Anónimo das 16:21, vou-lhe dizer um segredo: hoje foi dia da implantação da RP China, feriado. A sério! Não sabia? Talvez por isso tenha dedicado uns posts ao assunto.
A mensagem do início do video sobre as cidades é um pouco agressivo, sem dúvida, mas não é da minha autoria, e foi o melhor que consegui arranjar.
O Mao aparece em dois vídeos (curiosamente nunca tinha falado aqui do Mao), pois é. Foi dia fundação da RPC, é natural que se fale do seu fundador. Se calhar acha mal que no 10 de Junho também se dê tanta importância a Camões, não?
O resto do seu comentário não assenta em mais nada que não "a China é má e os chineses são maus". Não discuto, porque não vale a pena. Tive a ideia para esta dissertação depois de ler um artigo da revista Time da semana passada (algumas passagens são traduzidas). Se acha que está parecido com o que se faz no Ou Mun, então não conhece o Ou Mun.
Este é o Bairro do Oriente, um blogue que dá destaque a Macau e à China. Se não gosta pode porcurar outros blogues que falem de assuntos do seu interesse, como as escutas na Presidência da República portuguesa ou a campanha para as eleições autárquicas.
Cumprimentos.
O primeiro anónimo sofre da célebre dor de cotovelo ocidental, que dói mais quando alguém mostra assim tão claramente o progresso da China nos últimos anos, em oposição ao retrocesso do amado capitalismo selvagem ocidental. Dói, dói muito. Se gostar de mulheres, veja o lado positivo da coisa. Vá dar uma voltinha pelo Zhuhai e olhe bem para as chinesas. Caramba, até aí a China progrediu! Se nem isso o acalmar, se até isso negar, já não sei mais que lhe faça.
Eu confesso que às vezes não sei se você não percebe mesmo ou finge não entender.
Quando disse que parece o Ou Mun, foi no sentido de que apenas mostra o lado que lhe interessa da história e esquece tudo o resto, como se nada existisse.
Se quizesse fazer uma análise equilibrada e justa do desenvolvimento da China nos ultimos 60 anos, mostrando o minimo de honestidade intelectual, analisava os dois lados desta história. O desenvolvimento económico, sim, mas sem esquecer os constantes e graves atropelos nos mais básicos direitos humanos e liberdades que para si são como dados adquiridos mas que para outros ainda são lutas sem fim à vista.
Direitos tão básicos como aquele que permite-lhe estar aqui a escrever livremente neste blog todos os dias, e criticar quem e como quiser sem correr o risco de ser preso no dia seguinte.
Isso se calhar não lhe interessa nada, pois neste dia festivo o que importa é festejar o sucesso e as coisas positivas!
Mas depois não venha mencionar artigos da TIME, pois esses sabem sempre mostrar os dois lados da moeda com imparcialidade.
E não venha dizer que em Macau são mais papistas que o Papa pois você também não anda lá muito longe. Aquele video do Mao com quase 5 minutos a mostrar imagens do homem a ser venerado, com o hino da internacional comunista no fundo e entitulado Mao o salvador da China comunista é um requinte.
Obrigado. Mas será que no 10 de Junho, por exemplo, toda a gente fala dos problemas de Portugal? Não temos o resto do ano para fazer isso? E não diga que não se critica, pois se olhar para a rubrica "Volta à China" (publicada aos Sábados) percebe que a China é um país como outro qualquer, onde há criminalidade, pobreza, corrupção e tudo mais. Essa dos "atropelos aos direitos fundamentais" é uma bitola que já está muito gasta, não acha? Diga isso ao Ocidente, que saliva perante a oportunidade de fazer negócios com (da) China. Das duas uma: ou a China não interessa para nada, ou aceita o tal "socialismo de mercado com características chinesas". E os resultados estão aí e o resto é conversa.
Cumprimentos.
Conheço um português que está em Macau há 20 anos e que não suporta comida chinesa, detesta a China e os chineses. Também conheço um chinês que gosta de ver longe portugueses, mainlanders, filipinos, xangainenses, americanos e até se dá mal com próprios chineses.
Há sempre gente que não sabe o que quer em qualquer parte do mundo !
O post do Leocardo foi alusivo ao national day... a China celebra a sua festa....a massa crítica do blog continua e o jornal "Ou Mun" também, bem, obrigado...
O Anónimo crítico é apenas distraído. Quando no 10 de Junho o Leocardo também só fala da festa, ele esquece-se de alertar para os problemas que Portugal enfrenta cada vez mais.
"Conheço um português que está em Macau há 20 anos e que não suporta comida chinesa, detesta a China e os chineses" entao porque nao volta para a terra dele em Portugal,que portugues estranho,deve ser masoquista ou entao maluco coitado
O portugues que esta aqui ha 20 anos mas que nao gosta nada disto, porque nao fez as malas logo no segundo ano? Ha! mas gosta do dinheirinho, nao e?
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