segunda-feira, 3 de março de 2008

Carjacking e o bandido


Acabei de falar com um bandido. Bandido a sério. Daqueles que já conheceu vários estabelecimentos prisionais e que começou a sua vida de entre as grades em Macau. Conhecio-o ali quando resolveu residir naquele território para negociar em estupefacientes. Hoje vive em liberdade, em Lisboa, onde controla uma rede de bandidos. Ele próprio me diz que é bandido e que comanda bandidos. Salienta que é um revoltado contra a sociedade que o "injustiçou" e que o "atirou" para a marginalidade. Uma marginalidade de "alto nível", que envolve "bandidagem à séria" e que presta serviços "aos tipos da alta" bem sucedidos na vida...

Resolvo falar com o bandido porque há uns meses encontrei-o e o homem desfez-se em abraços a afirmar que não se esquecia "até morrer" que eu tinha sido a "única pessoa" que o tinha visitado na prisão da ilha de Coloane. Recordo-me perfeitamente que a minha visita ao presídio se ficou a dever à vontade que sempre me atingiu de querer fazer coisas diferentes dos outros. Na imprensa macaense foi a primeira entrevista a um presidiário. O bandido respondeu à chamada num ápice e pensou que eu estivesse em apuros por algum motivo. Acalmei-o, mandei-o sentar e disse-lhe que o único inimigo que tenho e que me destruiu a vida está bem longe, e como nem a esse guardo rancor, não o tinha chamado por precisar de qualquer serviço seu de bandidagem. Expliquei-lhe o que era um blogue, ao que me respondeu que sabia perfeitamente. Adiante. Disse-lhe que tinha achado inverosímil a versão que a Comunicação Social tinha tornado pública sobre a morte de Alexandra Neno, em Sacavém, mulher de um jornalista, e que se baseava na teoria de o crime ter sido uma acção de carjacking. Expliquei-lhe que no meu blogue tinha imediatamente a seguir ao crime escrito que não se tratava de carjacking. Que tinha recebido alguns emails a contrariar a minha tese e a perguntarem-me em que me baseava para afirmar que não era carjacking. E mostrei ao bandido os jornais desta manhã onde uma fonte policial afirma estar posta de parte a possibilidade de ter sido carjacking. Resposta do bandido: "Você tem razão. Mais uma vez mostrou que é um bom jornalista e que os seus colegas andam cá a ver passar os comboios. O gajo do crime não tem nada a ver com o carjacking... (pausa para beber uma cerveja às 9.30) o pessoal do carjacking actua sempre em grupos de quatro a oito. Quatro num carro, dois noutro carro e outros dois numa garagem para onde levam o chaço... não matam e atiram com o bimbo para fora do carro... querem é o chaço e daqueles dos bons, tipo Porsche, BM's, Mercedes e Volkswagen porque há uma grande procura das peças destes últimos... naquela zona faz-se carjacking e nunca se matou ninguém". Estava confirmado que o que eu escrevi aqui após o crime não tinha sido nenhuma leviandade.

O bandido adiantou-me várias razões que podem justificar o crime, plausíveis, mas que me abstenho de as mencionar. Isso é trabalho para as polícias. O bandido quis pagar a despesa e despediu-se com um "Para si, estou sempre livre, adeus!". E desapareceu. Com este bandido tudo pode acontecer até ser morto esta noite... porque é profissional da bandidagem. Mas, tem uma virtude: não tem falta de memória e nem é ingrato. Pessoalmente, confesso-vos: prefiro falar com um bandido destes do que com os 50 tipos que se diziam meus amigos e que agora nem o telefone atendem porque... são mais bandidos que este bandido.

João Severino, in Pau Para Toda a Obra

6 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre, não podia faltar o auto-elogio do JS no seu texto. Narcisismo?

Anónimo disse...

JS tem muita razão e eu apoio-o e como o compreendo. Se calhar este anónimo anterior que anda sempre aqui contra o JS é um dos que viveu à custa dele e que agora é o que se vê.

Anónimo disse...

Caro "Fernando", aliás, João Severino: eu conheci-o pessoalmente e nunca vivi à sua custa, graças a Deus. Nada tenho contra si e até já tive boa opinião a seu respeito. Mas não posso manter essa boa opinião quando você insiste nesse auto-elogio narcisista, agravado pelo facto de se fazer passar por terceiros para escrever comentários anónimos em sua própria defesa. Fica-lhe muito mal! Você toma-nos a todos por parvos, é?

Anónimo disse...

Que eu saiba, o João Severino nunca tomou todos por parvos. Quando muito, só os anónimos...

Anónimo disse...

É, os anónimos como o "j.c."...

Unknown disse...

Boa tarde,
Caso pretendam obter mais informações sobre o Carjacking em Portugal, acedam a www.carjacking.com.pt, onde irão encontrar notícias, formas de o evitar, entre outros.