domingo, 31 de agosto de 2008

Meu querido mês de Agosto


Termina hoje o nono mês de existência do Bairro do Oriente, e é com enorme satisfação que noto que este mês de Agosto que hoje acaba foi não só o mais produtivo (200 posts), mas também o mês em que se registou o maior número de visitas (6748). O total de visitas cifra-se em 45716, ultrapassando (largamente) em menos de um ano o número total de visitas que o blogue anterior conseguiu em vinte meses. Só me resta agradecer a todos que têm paciência para me aturar, os que gostam e os que não gostam, pois também contam. Obrigado.

Anunciação e Milagres


Olhando para a lista de nomes admitidos e de nomes não admitidos no website do Registo Civil, podemos esclarecer algumas dúvidas a pais que gostavam de ver os seus rebentos baptizados com os nomes mais extravagentes possível. Ali pode de uma vez por todas - quer goste ou não - saber exactamente se o seu Messias pode ser uma Excelsa ou apenas um Parsídio (esta não faz muito sentido, pois não?).

Se tiver um excelente sentido de humor e gostar dos trabalhos de Gil Vicente, pode baptizar a sua filha de Sátira da Conceição (só não sei se o padre vai gostar...). Se for o seu segundo filho, pode chamá-lo de Secundino, e se for um fã de Freud, pode chamá-lo de Segismundo. Se quiser que o seu filho tenha o nome de uma peça de vestuário, pode chamá-lo de Colete. Se o quiser chamar de Luís Figo, pode. Mas apenas no conjunto. Se quiser só Figo (ou outra fruta qualquer) não pode (excepto Tamara). Se acha que a sua filha vai dar muitas quedas na vida, sempre pode chamá-la de Torpécia. Se for um adepto da tabela periódica, pode chamar os miúdos de Hélio ou Néon. Se quiser ser mesmo radical e deixar as velhinhas que apertam as bochechas dos bebés confusas e com a língua embrulhada, pode chamar os seus filhos de Melquisedeque, Nominanda, Elioenai, Benevenuto ou Carmorinda. Se gosta de deixar os seus filhos para o fim da lista da chamada na escola, pode escolher entre as imensas opções de nomes começados por Z: Zara, Zaqueu, Zami, Zadilaque ou Zuleia.

Quanto aos nomes que não pode dar, são ainda mais interessantes. Abedenego, Agostínia, Girina, Isnandel, Katyuscia, Marucas, Minanú, Sandokan ou Sayonara não são permitidos. O que mais me pasma é que não se tenha o direito de chamar a uma filha Laranja. E porque não Rei ou Raínha, se tiver algum complexo de superioridade? E Rafaelo, se Rafaela é permitido? Por motivos conservadores e religiosos, Mãe de Deus não é aceitável. Quando pensaram em proibir nomes como Prtik, Fitz, Yodhin ou Baki, abriram uma verdadeira caixa de Pandora (nome permitido). Não bastava vir com uma lista com os nomes que são permitidos, e considerar todos os outros não aceitáveis? E que tal Vridok, Cabush, Toki ou Brdek? Não são permitidos, mas também não são proibidos. Quanto aos senhores muito clubeiros que gostavam de chamar à criança Benfica (na lista dos nomes proibidos), Sporting ou Porto, o melhor mesmo é comprarem um cão.

Isto dos nomes permitidos tem muito que se lhe diga, e todo o cuidado é pouco. Imaginem daqui a uma ou duas gerações termos uma ministra da saúde chamada Maria da Agonia, uma ministra da Agricultura e Pescas chamada Laura do Mar, um ministro da economia chamado Rúpio, casado com uma Valquíria qualquer, e todos liderados por um primeiro-ministro chamado Vasco da Gama. O presidente podia ser o Milagres, que é o que o país precisa.

Em defesa de Paulo Bento


Muito se tem dito do treinador do Sporting, Paulo Bento. As críticas têm sido sobretudo negativas. Mas afinal, olhando para a folha de serviços, o homem que como jogador passou pelo V. Guimarães, Est. Amadora, Benfica, Real Oviedo, e no seu ocaso pelo Sporting, que foi 35 vezes internacional "A", participou no Euro 2000 e no mundial 2002, os resultados são positivos. Em menos de três épocas no comando dos leões, conquistou duas Taças de Portugal, duas Supertaças, e terminou três épocas consecutivas no segundo lugar, que lhe deu acesso à Liga dos Campeões. Seria impensável, pelo menos há dez anos, pensar no Sporting como cliente habitual na Liga Milionária, independente dos resultados. Não fosse o domínio do FC Porto e já Paulo Bento tinha sido campeão nacional (ficou a um ponto em 2006/2007). É preciso recuar até aos anos 50 para encontrar um treinador que tenha passado pelo Sporting mais de 3 anos, e foi Randolph Galloway, que conquistou quatro campeonatos consecutivos. Tendo em conta que o clube assume frontalmente que o objectivo principal é a liquidez financeira, o que Paulo Bento não tem que os outros tinham?

Benfica-1 FC Porto-1


Aí está, o resultado do primeiro derby da época, um empate a uma bola entre o Benfica e o FC do Porto. Os portistas marcaram primeiro através de um penalty indiscutível sobre Lucho Gonzalez, que o mesmo converteu, e o Benfica empatou por Oscar Cardozo num golo em que a defesa portista tirou a bola para lá da linha de golo. E pronto, quanto a polémicas de arbitragem, tudo esclarecido. Katsouranis viu dois amarelos e foi expulso, o Benfica demonstrou má forma física, com várias lesões perto do fim do encontro, e o Porto, orfão de Quaresma e Bosingwa, por exemplo, parece menos forte que na época passada. No entanto, aos 20 minutos de jogo, um senhor com mais que idade para ter juízo invadiu o campo, vestido de diabo (!?) e agrediu o árbitro auxiliar, provavelmente como retaliação ao penalty assinalado alguns minutos antes. A polícia (de Lisboa) carregou nos adeptos benfiquistas e a festa estava estragada. Meus senhores, devemos ser o único país da Europa, senão no mundo, em que 300 km de distância querem dizer tanta coisa. O ódio das gentes de Lisboa pelas gentes do Porto e vice-versa é a prova mais viva de atraso civilizacional que conheço. Talvez seja por eu ser do centro, mas sinto-me tão bem na capital como na invicta. E que tal deixarem de se comportar como homens das cavernas?

sábado, 30 de agosto de 2008

A lenda dos semi-deuses 搜神傳


No canal TVB chinês, o Jade, passa diariamente desde a última segunda-feira e até dia 17 de Outubro uma novela produzida pela própria TVB, que se chama "A lenda dos semi-deuses" (搜神傳). A série conta com as participações desses brilhantes e super-conhecidos actores (estou a ser sarcástico) Sunny Chan (陳錦鴻), Linda Chung (陳錦鴻), Benny Chan (陳浩民) ou Nancy Wu (胡定欣). É uma daquelas novelas que já param Macau entre as 7:45 e as 8:30 da noite. As famílias sentam-se à mesa, olhos fixos no ecrã, a comer o seu min (eu que o diga). O problema desta série é o argumento. É suposto passar-se em "tempos remotos" (que pode ser há cem anos ou há dois mil, nunca se sabe), perpetua o mito de que todos os chineses bons sabem kung-fu, e os maus são bruxos, têm barba e cabelos brancos, e praticam magia negra. Todos sabem voar. A religião está fortemente representada, as donzelas jovens e bonitas são objecto de maquinações diabólicas por parte de outras mais velhas (que em tempo foram também jovens e bonitas) e, sinceramente, esta é uma imagem negativa que passa para o Ocidente. Não que as novelas passadas em tempos modernos sejam muito melhores, mas a TVB passa-as no seu prime time e a população não perde pitada. Há alguns anos passou também no canal de Hong Kong uma série sobre o dia-a-dia da cozinha imperial coreana, Dae Jang Geum (大長今), que também conseguia paralisar Macau.

Mas nem tudo é mau. Veja aqui a canção da série, "Swear" (發誓), cantada pela lindíssima Linda Chung.

Flashflache


Existe um novo blogue de fotografia em Macau que é do melhorzinho que há, o Flashflache. Parabéns ao seu autor e que continue a proporcionar excelentes imagens como esta, que reproduzo com a devida vénia. O link pode ser acedido à direita deste espaço.

Serões na província


Agora que acabaram os Jogos Olímpicos, começa a ser um pouco difícil encontrar qualquer coisa de interessante para enfiar na programação. Eu adoro TDM, os seus profissionais, o seu esforço estóico para conseguir manter uma programação de qualidade, a sério, e ainda lhes estou para dedicar uma posta mui elogiosa um destes dias. Mas ontem, enquanto lia uns blogues (que sempre e melhor e menos imparcial que ler jornais) senti-me deprimido a ver o que passava num serão de sexta-feira na estação da Xavier Pereira.

Primeiro Os Maias. Mas aquela série, por muito qualidade que tenha, já não tinha passado na TDM há mais de um ano? Antes da tal telenovela com legendas em inglês? Mas o pior das repetições estava ainda para vir. O filme "O Herói", considerado "o nascimento do cinema angolano", e que também já tinha passado na TDM, é do piorzinho que alguma vez se viu. Nem se fosse um filme português era assim tão mau. Representação mixuruca, diálogos medíocres, história desinteressante. Contava com os actores Makena Diop, Milton Coelho e Patrícia Bull, que até não é má actriz, coitada. Detestei o filme quando o vi a primeira vez, e detestei-o mais ainda agora.

O filme conta a história de um combatente perneta (Diop), que depois de combater vinte anos, tudo o que quer é uma prótese. Enquanto isso assistimos aos dramas da classe pobre angolana, de um jovem a que não resta outra alternativa senão caír no mundo do crime, uma professora frustrada (Bull) e o seu namorado playboy (Coelho), enfim, clichés por toda a parte e um filme mais pobre que os bairros pobres de Luanda. Consideremos este diálogo; Patrícia Bull: Que bom que tudo acabou bem... (pausa) Namorado: Sim...(pausa ainda maior)...olha, vamos para a minha casa...(mais uma pausa), fazer amor". Fim do filme.

De seguida um documentário de uma hora sobre Naide Gomes que já tinha dado antes dos Jogos Olímpicos. O tal em que vemos quanto a menina treina, como é boa rapariga, os pais e a família apoiam-na muito, os amigos dizem que ela é uma jóia, etc,etc. Depois o ridículo: ela e o treinador "querem ganhar uma medalha". Depois em Pequim foi o que se viu. Mais valia terem logo ligado à RTPi...

Danny decisivo


O português Danny, recentemente chamado por Carlos Queirós para a convocatória da selecção nacional, fez história ao apontar ontem um dos golos da vitória dos russos do Zenit S. Petersburgo na vitória contra o Manchester United, em jogo da Supertaça Europeia. O Zenit adantou-se no marcador ainda na primeira parte por Pogrebnyak, e Danny aumentou a vantagem aos 59 minutos, com uma fantástica jogada, em que tira da frente vários jogadores do ManU. Os campeões europeus ainda reduziram através de Nemanja Vidic, mas os russos venceram a competição pela primeira vez na história.

Graças com Deus...


Uma escultura do falecido artista alemão Martin Kippenberger está a causar polémica em Itália. E estátua com trinta centímetros de altura representa um sapo crucificado, vestido com uma túnica, com a língua de fora e segurando uma caneca de cerveja numa mão e um ovo na outra, e está exposta no museu de Bolzano, no norte de Itália. O Vaticano já veio condenar a escultura, que considera "um insulto a todos que vêem na cruz o símbolo do sofrimento de Jesus e da sua eterna misericórdia". Já se sabe, com o Vaticano é assim. Graças a Deus todas, graças com Deus nenhumas.

Maísa, 6 anos, estrela de TV


No Brasil há uma menina de 6 anos que é a estrela do programa do sr. televisão brasileiro, Sílvio Santos. O seu nome é Maísa e já se prevê que o seu destino seja o mesmo que a maioria dos actores que se tornam celebridades com esta idade. Perdem a graça quando crescem, e acabam por ser notícia sempre pelas piores razões. A exploração do trabalho infantil não passa só pelas fábricas...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Leituras


- Esta semana em Leituras recomendo o artigo de José Carlos Matias na edição de ontem do Hoje Macau, a propósito dos 50 anos do Grande Salto em Frente. O Grande Salto, 50 anos depois.

- Severo Portela fala da maratona política que o Governo da RAEM tem que correr neste ano e meio de governação que ainda lhe falta, em Maratona.

- Carlos Morais José assina um editorial em que se despede do cargo de director do HM, jornal de que é proprietário. A partir de segunda-feira o director será Carlos Picassinos. CMJ adianta ainda que vai deixar de escrever a sua habitual crónica das sextas-feiras, o que considero uma enorme perda para o jornalismo de Macau. Mando-lhe daqui um enorme abraço, desejo-lhe a melhor das sortes, e espero que não desapareça (outra vez).

- No JTM o meu colega e amigo Nuno Lima Bastos analisa o que foram os Jogos Olímpicos e o que podiam ter significado no contexto da situação dos direitos humanos na China, em jeito de resumo de uma troca de ideias que decorreu neste blogue durante esta semana. A fechar a Olimpíada.

- No Diário de Notícias, Fernanda Câncio analisa a onda de criminalidade que assola a época estival em Portugal este ano, em Estado de Histeria.

- Os blogues Corta-Fitas e Combustões passam a integrar os links à direita do Bairro do Oriente. Só me resta pedir desculpa pela demora.

Bom fim-de-semana!

Os blogues dos outros


o prestigiado jornal "a bola", que até já foi chamado de bíblia, diz que a moeda da RPC é o iene. se a China sabe, proíbe a venda do referido jornal no quiosque que fica ao fundo da praça tianamen.

Santiago, MACA(U)QUICES

Politicamente a China não voltará a ser o que era. A abertura ao mundo é evidente e nota-se que uma nova geração mais moderna e aberta não deixará de forçar as alterações políticas e sociais de modo a elevar, também nesta área, a China a potência mundial.

Carlos, Galo Verde

O grande problema é que ainda não vi ninguém a perguntar-se porque será que este ano há tantos atletas a dizer coisas. Como se tivessem tido necessidade de se acharem lá para terem "sound bytes", para serem ouvidos. Mas o melhor é matá-los a todos (menos os medalhados) e naturalizarem uns quantos georgianos e arménios e lituanos para, assim, atingirmos um magnífico rol de medalhas que a todos encheriam o papo de orgulho.

Altino Torres, Food-i-do

Jogos Olímpicos? Quais Jogos Olímpicos? No fim-de-semana, regressou o totalitarismo alarve do futebol às televisões, jornais, rádio, Internet e às cabecinhas dos portugueses. Vanessa o quê? Nélson quem?

Eurico de Barros, Jantar das Quartas

Contudo, hoje andei pela cidade, fui às aulas de tailandês, fui à biblioteca, passei pelos centros comerciais e Banguecoque está, como sempre, frenética de vida, cheia de turistas e business. Dir-se-ia que nada está acontecer. Como Luís Capeto em 14 de Julho de 1789, apetecia-me escrever, hoje, 29 de Agosto de 2008: "nada a assinalar".

Miguel Castelo branco, Combustões

Um ourives de Barcelos, após ter sido assaltado e de ter ficado sem o ouro todo que possuia, teve o desplante de dizer o seguinte: "Eu sabia que isto me ia acontecer. Falava nisso todos os dias. Adivinhava que ia ser o próximo". Pois bem. Se ele sabia que ia ser roubado só tinha que guardar o ouro e os valores que possuia num cofre de um banco ou onde lhe apetecesse, suspender a actividade por uns tempos até esta onda de assaltos acalmar e mais tarde recomeçar com toda a segurança. Mas não, esta gente quer este mundo e o outro. Não admitem parar um pouco. Têm vivenda, mais que um carro, carrinhas, lojas, quintas, ouro, prata, diamantes e uma boa conta bancária. Mas não, parar é que não. Pois então, têm aí a resposta para tanta ganância...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

No momento em que escrevo, a TVI faz uma mega-reportagem sensacionalista sobre os assaltos verificados hoje durante o dia. Em rodapé aparece constantemente o termo "Encapuzados". A Média Capital é dominada por accionistas espanhóis, talvez eles não se ofendam com o "encapuzados", mas eu como bom português, preferia que usassem a expressão portuguesa: encapuçados. E o bom povo semi-analfabeto que vê a televisão em casa, aprende que "encapuçados" se escreve com "Z". O menino vai à escola no dia seguinte, escreve uma composição com a palavra "encapuzados" e um colega diz-lhe que está errado - e o rapaz retorque: "mas eu vi na televisão!...".

Leitor, Abrupto

Ainda não há muito tempo ler o "Correio da Manhã" era sinal de pouca cultura, alguém que se prezasse não ousaria levar o jornal "O Crime" debaixo do braço, até cheguei a receber mails a criticar o facto de citar o CM. Muita gente justificava o facto de não ler o "Correio da Manhã" porque só noticiava crimes. Agora o crime é tema fino, toda a agente procura pormenores sobre todos os crimes e os jornais de referência mandava logo os seus jornalistas mais experientes e cotados para a rua mal recebem a informação de que houve um assalto.

Jumento, O Jumento

Gente gira de Hong Kong




Guo Jingjing, diva chinesa dos saltos para a água, prepara-se para casar com Kenneth Fok (em cima), neto do bilionário e filantropo Henry Fok, desaparecido há dois anos. Guo Jingjing já disse que vai continuar a sua carreira no mergulho em Hong Kong, e considera mesmo representar a RAEHK nas próximas olimpíadas, em Londres.

Entretanto a menina bonita do canto-pop de Hong Kong, Kelly Chen (ao centro) está prestes a dar o nó com o seu namorado de há 16 anos (!), Lau Kin Ho (em baixo). Ele há gajos com muita sorte...

Azareio da UEFA


Se "sorteio" determina a sorte, não se pode dizer que os cinco clubes portugueses presentes na Taça UEFA tenham sido abençoados pela deusa da fortuna. À partida apenas o Sp. Braga tem a tarefa mais facilitada na 1ª eliminatória da prova, que precede a fase de grupos.

O Benfica vai defrontar os italianos do Nápoles, que apesar de não ser a mesma equipa dos anos 80, com Maradona e companhia, sempre se prevê uma deslocação difícil (será que já resolveram o problema do lixo na cidade?).

O Marítimo parece condenado ao fracasso, já que defronta os super-favoritos espanhóis do Valência, que contam nas suas fileiras com nomes como David Villa, Morientes, Sergio Silva ou o português Miguel.

O V. Guimarães - eliminado da Champions - defronta os ingleses dos Portsmouth, e a julgar pelos últimos resultados das equipas lusas em terras de Sua Majestada, não se augura nada de bom.

O V. Setúbal volta a encontrar os holandeses do Heerenveen, que há dois anos eliminaram os sadinos, vencendo o jogo da primeira mão no Bonfim por três golos sem resposta.

O Sp. Braga defronta o Artmedia Petrzalka, campeão da Eslováquia afastado da 3ª pré-eliminatória da Champions pela Juventus. Esta equipa chegou a surpreender (3-2) o FC Porto em pleno Estádio do Dragão há 3 anos, mas os minhotos são considerados favoritos.

Veja aqui o sorteio completo (em inglês)

Michael Jackson - 50 anos


Michael Jackson faz hoje 50 anos. Nasceu em Gary, Indiana, Estados Unidos, sétimo filho da família Jackson. Em 1969, com apenas 10 anos, juntava-se aos seus irmãos nos Jackson 5, um acto muito popular na época. Destacou-se, e com apenas 13 anos inicia uma carreira a solo. Torna-se mundialmente famoso com o álbum Thriller, de 1983, que entra no Guiness como o disco mais vendido de todos os tempos. Aclamado como "rei do pop", protagoniza nos anos 90 vários escândalos relacionados com alegados abusos de menores. Hoje especula-se muito sobre o seu estado de saúde, devido às inúmeras operações de cosmética a que foi submetido ao longo dos anos. Vamos recordá-lo neste tema Ben, de 1972.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Onde vamos parar?





O The Standard é um simpático jornal de Hong Kong que é distribuído gratuitamente em Macau. É gratuito porque cerca de metade das suas 48 páginas são preenchidas por publicidade, o que não lhe tira qualidade. Ultimamente não tenho visto a habitual senhora a entregar o jornal no Largo de Senado. Muitos cidadãos – mesmo os que não sabem ler inglês – levam o jornal. Sentam-se nele, forram o caixote do lixo, colocam-no debaixo do fogão, e em alguns casos enfiam-no no primeiro caixote que encontram. Para quê? O mais curioso é que se o jornal custasse uma pataca ninguém o queria.

Hoje passei perto da joalheria Lok Fok onde duas senhoras distribuíam o jornal gratuito em chinês, e aproximei-me para ver se tinham o Standard. Uma das senhoras fez um sinal de “alto!”, abanou a cabeça, fez uma cara feia e disse-me mou ying man (não há jornal inglês), como quem diz “queres jornais ingleses vai para Inglaterra”. Nunca percebi bem porque certos ignorantes passam pela vida sem enfiar os dedos numa tomada, ou sem se atravessarem em frente a um comboio em andamento.

Perto da Igreja de S. Domingos há uma senhora que tem habitualmente o The Standard. Fui lá, peguei no jornal e perguntei-lhe quanto era, como quem não quer a coisa. Olhou para o jornal (que não tem preço), hesitou um pouco e disse-me: “cinco patacas”. Cinco patacas. Por um jornal que não lhe custou um avo, nem de transporte nem nada. Em Macau não são só os taxistas que aldrabam em dias de tufão, ou os comerciantes que enganam no peso, ou as agências de turismo que são desleais. A roubalheira é generalizada.

É curioso andar pela baixa de Macau pela manhã. Aí podemos contemplar a fauna de cidadãos que vasculham os caixotes do lixo, apanham cartão, recolhem tudo o que por aí há de gratuito, entram pelos supermercados em pleno dia a exigir caixas de cartão, roubam guarda-chuvas. Há que lhes dar mérito. Acordam aí pelas seis da manhã, às oito já estão suados que nem porcos, trabalham de sol a sol. E não há como não os respeitar; arrastam os carrinhos pela cidade, à revelia das passadeiras, dos sinais de trânsito e do tráfego. Aos restantes transeuntes dão um “sai da frente”. Afinal estão a trabalhar. Coitados...mas espera, estes indivíduos,que na sua maioria se vestem mal e cheiram ainda pior, têm contas astronómicas no banco. Gastam meia dúzia de patacas por dia, andam sempre a pé e não gastam um avo em palermices.

Um dia comprei numa mercearia perto de casa um gelado da Dryer’s, de chocolate e amêndoas, que me custou quinze patacas. No acto do pagamento a proprietária da mercearia desabafou um “Quinze patacas. Com esse dinheiro podia comprar duas caixas de arroz...”. Atenção, foi a própria dona da mercearia a que eu estava a dar negócio que me disse isto.

Para se perceber este interessante fenómeno basta observar as filas que se formam à porta dos correios sempre que há edições comemorativas de selos, ou à porta da Kong Seng cada vez que se inicia a venda dos bilhetes para o Festival de Música. Não que sejam grandes filatelistas ou amantes das artes. O objectivo é conseguir bilhetes, e depois revender com lucro.

Estes últimos dias tenho reparado numa idosa que fica ali junto do Starbucks a estender a mão e pedir esmola a quem passa. Esta idosa até nem se veste mal, tem bom aspecto e um brinco de ouro em cada orelha. Pedir esmola é provavelmente o seu passatempo. Pode ser que um dia se arrependa. Talvez na hora da morte.

A juventude em Macau, amorfa como sempre, parece passar indiferente a tudo isto, e no caso das filas que se formam mais de 24 horas antes de selos, notas, bilhetes e o raio-que-os-parta começarem a ser vendidos, já começam também a participar. São os juniores da avareza, os Tio Patinhas do futuro. O Governo está-se nas tintas, desde que estes indivíduos não estacionem os carrinhos do cartão nos lugares junto do palácio destinados aos carros pretos. Isto é qualidade de vida.

Liga dos Campeões 2008/2009


Pode-se dizer que o Sporting foi mais feliz que o FC Porto no sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões, edição 2008/2009, que se realizou esta noite no Monaco. Os leões vo jogar com o Barcelona, o Basel e o Shaktor Donetsk, enquanto os portistas vão defrontar o Arsenal, o Fenerbahçe e o Dinamo de Kiev. Em comum ambas as equipas portuguesas têm deslocações à Ucrânia. Eis os grupos:

Grupo A: Chelsea, Roma, Bordéus, CFR Cluj

Grupo B: Inter Milão, Werder Bremen, Panathinaikos, Anorthosis Famagusta

Grupo C: Barcelona, Sporting, Basel, Shaktor Donetsk

Grupo D: Liverpool, PSV Eindhoven, Marselha, Atlético de Madrid

Grupo E: Manchester United, Villarreal, Celtic, AaB Aalborg

Grupo F: Lyon, Bayern de Munique, Steaua de Bucareste, Fiorentina

Grupo G: Arsenal, FC Porto, Fenerbahçe, Dinamo Kiev

Grupo H: Real Madrid, Juventus, Zenit S. Petersburgo, BATE Borisov

As árvores matam de pé


Uma jovem de 19 anos perdeu a vida ontem à tarde em Hong Kong quando foi atingida pela grande parte da ramada de uma árvore centenária, que caíu da altura de 20 metros, em Stanley. Duas crianças, primas de 11 e 12 anos escaparam com alguns ferimentos, tendo-se desviado a tempo da queda dos ramos. A árvore foi recentemente considerada património histórico, e foi vistoriada a semana passada após a passagem do tufão Nuri. No Verão passado foi lavada porque alguns habitantes das redondezas se queixavam do cheiro. Este incidente vem questionar a política de preservação de árvores centenárias em Hong Kong.

O neto bate na avó


Um adolescente foi condenado a pagar uma multa de mil dólares de Hong Kong à sua avó, por a ter agredido. Wong Chung On, 19 anos, desempregado, agrediu a avó de 86 anos por esta ter passado em frente ao televisor enquanto ele assistia, em 7 de Agosto último. O jovem agrediu a velha com dois murros no peito e cinco pontapés. A idosa, em pânico, chamou a polícia. Wong diz-se arrependido pelos seus actos, e garante que agrediu a avó por se sentir "agitado". O juíz Ernest Lin Kam Hung, do tribunal de Tseung Wan, sugeriu ao jovem que da próxima vez que se sentisse agitado, que batesse nele próprio. Assim vai a justiça em Hong Kong.

V. Guimarães fora da Liga dos Campeões


O V. Guimarães ficou ontem afastado da fase de grupos da Liga dos Campeões, ao perder 1-2 na Suíça com o Basel, depois de um empate sem golos no Minho. Os vimarenenses bem se podem queixar da arbitragem, que lhes anulou um golo limpo a dois minutos do fim, que daria o empate. Noutros jogos destaque para a goleada imposta pelo Atlético de Madrid aos alemães do Schalke 04 (de má memória para o FC Porto), 4-0, depois de vitória dos alemães na primeira mão por 1-0. Noutro jogo considerado à partida mais equilibrado, o Steaua de Bucareste venceu o Galatasaray por 1-0, depois de 2-2 na primeira mão na Turquia. Os ingleses do Liverpool precisaram de um prolongamento de trinta minutos para levar de vencido o campeão belga, o Standard de Liége, com o único golo da eliminatória a ser apontado pelo holandês Dick Kuyt. O sorteio da fase de grupos da liga milionária realiza-se hoje à meia-noite (hora de Macau) e conta com duas equipas portuguesas. Anorthosis Famagusta (Chipre), BATE Borisov (Bielorrússia), Zenit S. Petersburgo (Rússia) e CFR Cluj (Roménia) fazem a sua estreia. Portugal está representado pelo FC Porto e Sporting.

Burn After Reading


Eis o novo filme dos irmãos Cohen, grandes vencedores da última edição dos óscares. "Burn After reading" conta a história de um agente da CIA que é despedido por alcoolismo, e resolve escrever as suas memórias. A disquete com o material para nas mãos erradas, e o ex-agente torna-se vítima de chantagem. O filme conta com um elenco de luxo: Brad Pitt, George Clooney, John Malkovich e Tilda Switnon, entre outros. "Burn After Reading" estreia na 65ª edição do Festival de cinema de Veneza, que arrancou ontem.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O abuso dos táxis


A recém-criada Direcção dos Assuntos de Tráfego (DST), está "preocupada" com o comportamento dos taxistas, que cobram taxas astronómicas a clientes durante os dias de tufão. Foram registados casos em que taxistas cobraram 200 ou 300 patacas por corridas ao aeroporto de Macau (o que nem faz sentido, uma vez de durante o tufão não saem quaisquer vôos...), quando o preço normal situa-se entre as 40 ou 50 patacas. A DST pede aos utentes que "apresentem queixa", mas quando se liga para o tal número e se é atendido por uma gravação, perde-se a vontade, come-se e cala-se. Enquanto as regras que regulam os táxis vão ficando na gaveta, as tarifas vão aumentar já na próxima segunda-feira, 1 de Setembro, sem que se tenha melhorado a qualidade do serviço.

É um caso típico de novo-riquismo. Ainda me lembro bem dos tempos da crise asiática, quando bastava coçar a cabeça para que parassem dois ou três táxis à nossa frente. Hoje os taxistas escolhem os clientes. Um amigo meu diz que pára no meio da estrada em frente aos táxis de braços abertos, para ter a certeza que o "vêem". O que é preciso resolver em primeiro lugar é esta questão dos tufões. O sinal 8 de tempestade tropical significa que se deve permanecer no domicílio, e que é perigoso permanecer na via pública.

Esta é a mensagem que tem que ser passada de uma vez por todas junto da população, dos serviços públicos e das empresas privadas. Sinal 8, toda a gente para casa. Assim evitam-se estes incómodos, estes assombros e situações de aproveitamento indevido por parte dos profissionais de táxi, ou outros que se queiram aproveitar da situação. É altura de parar de fazer contas aos "prejuízos" que implicam a paralisação dos serviços, e já agora os senhores taxistas também podem ficar em casa. Com a natureza não se brinca...

Veja aqui a reportagem da TDM.

Olimpismo: filhos e enteados


Começou hoje em Macau o torneio comemorativo do 25º aniversário da Associação de Patinagem local, com a participação de seis países, e com direito a cerimónia de abertura e tudo. O hóquei em patins tem sido o parente pobre do desporto mundial, e porque não dizê-lo, do olimpismo. Um desporto espectacular, rápido, com muitos golos e emoção, que sofre do defeito de ser exclusivo dos países latinos. Fosse um desporto de eleição de ingleses ou americanos, e fazia parte das modalidades olímpicas à muito, a par do hóquei em campo nos Jogos de Verão, ou do hóquei no gelo, nos Jogos de Inverno.

A par do hóquei em patins existem modalidades praticadas por milhares de atletas (e não só) em vários países que não estão incluídos nos jogos: o bilhar, o golfe, o karaté ou mesmo o rugby, que podia muito bem aparecer na vertente de sevens, e sem qualquer prejuízo para a modalidade, já que na sua versão clássica é desgastante efectuar cinco ou seis jogos nas três semanas que duram os jogos. Já o cricket, esse jogo imperceptível bastante popular entre os estados membros da Commonwealth, seria impensável, já que uma partida chega a demorar dias, e o campeonato do mundo vários meses.

Depois há os desportos dos ricos; a vela, o remo ou a esgrima. É impensável considerar sequer inscrever as crianças nestas modalidades, especialmente nos países mais pobres. No entanto, são também modalidades olímpicas. Outra coisa que me faz espécie é o hipismo. Ao contrário do ciclismo, em que o desempenho depende sobretudo da força e resistência do ciclista, nas competições equestres é o cavalo que corre, que salta os obstáculos, que mexe as pernas, que faz tudo. É o cavalo que devia ganhar a medalha, o dinheiro do prémio, usufruir da glória e dormir com modelos de bikini (isso seria interessante). No entanto acabam qualquer dia no matadouro, a servir de cola, ou de comida de cão. É injusto.

Medalhas e desenvolvimento


Três dias depois do fim dos Jogos Olímpicos de Pequim, fazem-se ainda contas ao número de medalhas, e ao desempenho dos diferentes comités presentes aos jogos. A China venceu, com 51 medalhas de ouro, contra 39 dos Estados Unidos, o que acontece pela primeira vez na história. Mas enquanto a China conta o número de medalhas de ouro (bem como quase todo o resto do mundo), os americanos consideram o número de medalhas no total: 110, contra 100 dos chineses. Nada a apontar, parece que sempre foi assim, mesmo quando os americanos ficam em desvantagem nessa contabilidade.

Interessante é observar estatísticas do tipo "quantas medalhas por habitante". Nesse departamento, a Jamaica leva vantagem, com seis campeões olímpicos numa população de 2.8 milhões, o que dá mais ou menos um campeão olímpico por 460 mil habitantes (menos que a população de Macau). A Mongólia segue de perto (um campeão em 780 mil hab.) e até a Geórgia consegue a bonita contabilidade de um campeão olímpico por 1.1 milhões de habitantes. Portugal até não fica tão mal nestes números (1/10 milhões), ficando mesmo à frente da China (1/23 milhões), e quase a par da Rússia (1/6 milhões) e dos Estados Unidos (1/7 milhões).

Este tipo de contabilidade torna-se trágico para a Índia, que numa população de mais de mil milhões, tem apenas um campeão olímpico, ou da Indonésia, onde apenas um em 234 milhões se pode orgulhar de ter conquistado uma medalha de ouro em Pequim. Países há com uma população bastante superior à nossa, que nem um campeão olímpico conseguiram produzir: a Nigéria (148 milhões de habitantes), o Egipto (75 milhões), a África do Sul (48 milhões), ou a Malásia (27 milhões). Mesmo a Irlanda e a Suécia, países com maiores níveis de desenvolvimento que Portugal, ou a Grécia, berço do Olimpismo, não conquistaram qualquer medalha de ouro. As Filipinas são provavelmente o pior caso: população de 90 milhões, nem um único medalhado.

Em Portugal não se come mal


Eis o novo livro de Miguel Esteves Cardoso, "Em Portugal não se come mal". A obra é novamente publicada pela excelente Assírio & Alvim, e estará nas bancas em Setembro.

«A vida come-se quando é boa; come-nos quando é má. E às vezes, quando menos esperamos, também comemos com ela.
Em Portugal, antes de todas as coisas, está o tempo. Este tempo. Este que ninguém nos pode tirar e a que os povos com tempos piores chamam, à falta de melhor, clima.
Depois, há coisas que crescem por causa do tempo. Como o tempo é bom, são boas. E como as coisas são boas, os portugueses querem comê-las. E comem-nas bem comidas, o mais perto que possam ficar da nascença. Ou da cozinha.»

Harry Potter indiano


A Warner Bros., detentora dos direitos de imagem de Harry Potter, vai processar uma produtora cinematográfica indiana. Isto porque a companhia Mirchi Movies, sediada em Bollywood, produziu um filme intitulado "Hari Puttar: A Comedy of Terrors", que a WB considera ser "bastante parecido" com o pequeno mago que encantou miúdos e graúdos no mundo inteiro. Munish Purii, director da Mirchi, já se defendeu dizendo que tudo não passa de uma coincidência. "Hari é um nome muito comum na Índia, e 'Puttar' significa 'filho'", afirmou. O filme, que se estreia na Índia no dia 12 de Setembro, conta a história de um jovem filho de um cientista que combate criminosos que tentam roubar uma fórmula do seu pai.

Regresso ao passado: Tamagotchi たまごっち


Se pudessemos condensar os anos 90 numa hora, o tamagotchi tinha ocupado uns cinco minutos. A moda deste brinquedo electrónico criado por Aki Maita e comercializado pela Bandai andava no bolso de quase toda a gente entre 1997 e 1998. O conceito era simples: um animal de estimação electrónico, que era preciso alimentar, limpar, e brincar com ele. Cansava-se, dormia, ficava aborrecido e às vezes doente. Se não se cuidasse bem dele, morria. O Tamagotchi tinha idade, mas penso que ninguém chegou a saber quanto tempo vivia.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Chamem a polícia


K. é uma colega da minha mulher que conhecemos há pouco tempo. Baixinha, sorriso espontâneo, com aquela graça dos seus vinte e poucos anos. Quando a conheci algo chamou-me imediatamente a atenção. K. tem uma cicatriz no pescoço, quase de orelha a orelha, que é impossível de ignorar pura e simplesmente. Perguntei-lhe o que foi aquilo, se algum acidente de trânsito. Depois de alguma hesitação respondeu-me que não, que tinha sido vítima de um roubo violento. Há mais ou menos dois anos voltava tarde a casa, na Av. Horta e Costa, e foi assaltada por um indivíduo armado de uma faca, que depois de se aperceber que K. levava consigo apenas algumas dezenas de patacas, desferiu-lhe um golpe no pescoço. Isto em Macau, onde outrora se julgava impossível tal coisa acontecer.

Abrimos os jornais e damos com notícias de roubos a roçar o surrealismo. Lemos o caso da senhora que acordou e encontrou um ladrão ao lado da cama, a roubar-lhe os valores. Outra que ouviu os ladrões a abrir a porta de ferro, que fugiram depois de se aperceberem que havia alguém em casa. Os roubos a habitações durante o dia têm sido frequentes. Bandidos ágeis e esguios sobem pelos aparelhos de ar-condicionado, chegam a passar pelas grades e entrar nas residências. Os roubos na rua, à mão armada ou por esticão, têm aumentado.

Em geral, a criminalidade aumentou mais de 11% este ano em relação ao período homólogo do ano passado. Estamos na presença de ladrões profissionais, muitos da China continental, o que torna difícil localizar o problema. As autoridades sentem-se impotentes, mais preocupadas com o tráfico de droga (uma guerra que estão a perder), a criminalidade organizada (cada vez mais insignificante) ou esses novos "males", o crime informático (qual?), ou o tráfico humano (ó mãe, porque levaram o pai?).

O cidadão, esse, sente-se cada vez mais desprotegido e inseguro. E estupefacto, porque não. Macau sempre foi um oásis de segurança (palavras do outro, lembram-se?), e a população estava apenas habituada aos carteiristas, a pequenos crimes relacionados com o jogo ou a prostituição. Nada de crimes de ponta e mola, de "a bolsa ou a vida", e muito menos invasões ao domicílio com esta frequência.

De um modo geral, considero que a polícia em Macau até faz um bom trabalho. Funciona com mais ou menos eficiência e prontidão, não é difícil encontrar um agente, e tratam sempre quem os procura com cuidado e atenção. A investigação criminal (com as excepções que todos conhecemos) funciona bem, e é levada a cabo por indivíduos competentes e inteligentes. Só que não estavam preparados para esta nova onda de crime. Saiu-lhes grande, a encomenda.

É bom que as autoridades tenham identificado e assumido o problema, e que o combatam pela raíz, ou arrisca-se a ter na Segurança o novo parente pobre, o que efectivamente ninguém está interessado em que aconteça. E a propósito, quanto aos burlões, como é? Uma boa parte da população está muito bem informada destes "truques", e de como funcionam. Custa assim tanto aos que não caem no conto do vigário denunciar estes "artistas", de modo a que não façam mais vítimas? A participação da população é também fundamental, pois Macau é de todos. E era só o que faltava, uma polícia que tudo sabe e que tudo pode...

Mais do mesmo na Tailândia


Parece que os problemas ainda estão longe de ser resolvidos pelo país dos sorrisos. À margem das praias, dos bordéis e das massagens, prepara-se mais um golpe de estado...ou um massacre. Saiba tudo nos blogues Combustões e Visto de Bangkok.

Playback


A música com que Carlos Paião representou Portugal no Festival de Eurovisão em 1981, em Dublin. "Playback" venceu o festival RTP da canção à frente de artistas como José Cid, Maria Guinot, ou as Doce. Vamos recordar.

Pó de arroz


Provavelmente a música mais conhecida de Carlos Paião, "Pó de Arroz". Uma música de amor como poucas, que nos deixa recordar o homem e o artista.

Carlos Paião, 20 anos de saudade


Passam hoje vinte anos desde a morte prematura de Carlos Manuel de Marques Paião, um dos maiores génios da música portuguesa. Autor, compositor, licenciado em medicina, Carlos Paião muito cedo revelou talento para aquilo que seria a sua verdadeira paixão: a música. Sempre disse que "preferia ser um bom músico a um mau médico". E ainda bem para nós. Gravou apenas dois álbums de originais, 13 singles, e escreveu para artistas tão distintos como Herman José e Amália. Representou Portugal no Festival da Eurovisão em 1981, com o tema "Playback", que ficou (injustamente) em penúltimo lugar. Deixou-nos no dia 26 de Agosto de 1988, aos 30 anos, num acidente de viação.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Divórcio a la minuta


O presidente da República vetou a semana passada a nova lei do divórcio apresentada pela Assembleia da República, que simplifica os procedimentos e termina com o divórcio litigioso, com fundamento na desprotecção do cônjuge que se encontre em situação mais fraca. Vetou muitíssimo bem, na minha humilde opinião. Não porque considere o casamento uma “sagrada união”, e que “o que Deus uniu nenhum homem pode separar”. Nada disso. Refiro-me ao casamento no seu estado terreno e civil. Primeiro é um contrato, com carácter vinculativo, celebrado livremente por duas partes com vontades convergentes. Não faz sentido que se abandone o carácter sancionatório que a quebra desse mesmo contrato implica, como em qualquer outro tipo de contrato.

A jornalista Fernanda Câncio justifica o seu desacordo com o veto presidencial com o facto do Prof. Cavaco Silva estar “desligado da realidade”, e de que as mulheres hoje "não são parte fraca" de um matrimónio, e de que o PR insinua de um modo geral que são os homens que se querem divorciar. Quem me parece aqui desligado da realidade é a sra. Câncio. O presidente Cavaco Silva não caíu aqui de pára-quedas, e sabe do que fala. Portugal é uma sociedade de base patriarcal, onde as mulheres ainda ganham menos que os homens (um facto), estão em maioria nos números do trabalho precário (a par dos menores), e ainda há mulheres que não trabalham. Nem todas as mulheres (aliás, muito poucas) têm uma vida fabulosa como a sra. Câncio, que é independente, desempenha uma profissão liberal, passa férias fora de Portugal quando quer e faz o que muito bem lhe apetece.

Ninguém é obrigado a casar, e se o faz de ânimo leve, faz mal. Portugal não é um país do terceiro mundo em que se casa para se fugir à miséria. Também não é um país desenvolvido, como outros em que experiências deste tipo deram resultado. Estamos muito longe de ser uma Noruega, uma Suíça, ou mesmo uma Alemanha. As coisas boas não acontecem aos países maus ou medíocres, com níveis de desenvolvimento como os de Portugal. As comparações são perigosas. Esta lei pode levar a situações surrealistas do tipo "olha amor hoje conheci uma tipa gira no autocarro e quero o divórcio" ou "quero o jantar na mesa às oito, senão, divórcio". Parece quase uma piada, não? Um divórcio é sempre uma experiência desagradável, principalmente se existem filhos menores, e com a modalidade do divórcio litigioso, sempre se pensa duas vezes.

O Bloco de Esquerda já veio considerar o veto de "reaccionário". Para o BE de Francisco Louçã o casamento não faz sentido se uma das partes não quiser. O casamento é uma união, não uma vontade coincidente de dois indivíduos completamente autónomos. O BE devia perceber isto, pois no fundo é ele próprio um casamento entre três partidos diferentes. É curioso, irónico até, que o BE seja a favor do casamento dos homossexuais pelas mesmas razões que é a favor da lei do divórcio. Ou seja, os homossexuais têm direito a casar, e os heterossexuais têm direito a divorciar-se. No que é que ficamos?

O silêncio é de ouro


Agora que se faz o balanço da prestação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim, com a melhor participação de sempre (uma medalha de ouro e uma de prata), é altura de perguntar: de quem é a culpa do estranho comportamento dos atletas portugueses de que tanto se fala? Primeiro do Comité Olímpico Português, que prometeu o que não devia. Portugal é um país de 10 milhões de habitantes, o desporto é, com excepção do futebol, amador, e não há uma modalidade em que os portugueses tenham uma tradição de resultados excepcionais.

O maior erro que se cometeu foi a falta de humildade, o desrespeito pelos adversários, e o desconhecimento completo das dificuldades que iriam encontrar. Foi o velho síndrome português do “sou o melhor da minha rua, portanto sou o melhor do mundo”. Telma Monteiro, por exemplo, é campeã europeia de judo. O que vale realmente o título europeu numa modalidade normalmente dominada por asiáticos? Depois desculpou-se com as arbitragens, a mais velha desculpa no livro. Marco Fortes queixou-se do horário da competição do lançamento do peso, afirmando que para ele “manhãs só na caminha”. Outros lembraram-se que afinal só recebem mil euros por mês, e o caldo ficava definitivamente entornado.

Vicente Moura anunciava a sua retirada do COP, e depois da vitória de Nélson Évora reconsidera nova candidatura. A vitória de Évora não salvou a participação de Portugal. Fez simplesmente que não se caísse no ridículo, atendendo às expectativas que foram criadas. É verdade que muitos profetas da desgraça já falavam de um desastrosa presença em Pequim, mesmo antes da vitória do português no triplo-salto, e quem sabe se a madalha tivesse chegado mais cedo, a moral seria outra.

Não sei se a fraca participação de Portugal foi anunciada em orgãos de comunicação estrangeiros, mas os meus colegas chineses, pelo menos, ficaram estupefactos com as histórias quasi surrealistas que lhes contava dos feitos menos dignos dos nossos atletas. Mas fica aprendida a lição (ou não), da próxima vez que se use a linguagem do futebol de que tanto se gosta no nosso país: “não prometo títulos, só muito trabalho”. Foi assim que surgiram homens e mulheres de grande fibra como Carlos Lopes, Rosa Mota ou Fernanda Ribeiro. Às vezes a coragem e a vontade valem mais que mil promessas. E muito tento na língua, é o que faz falta.

Post Meridiem


Uma imagem curiosa. O atleta português Marco Fortes, o tal que afirmou em Pequim que "manhãs só na caminha", em Macau, durante os primeiros Jogos da Lusofonia, realizados em 2006. Agora resta saber se em Macau a prova foi depois de almoço ou à tardinha, quando está menos calor...

Rato Phelps


Os utentes de uma piscina pública em Tseun Kwan O, em Hong Kong, tiveram uma desagradável surpresa ontem à tarde: a companhia de um rato. O simpático roedor, que provavelmente procurava refrescar-se das temperaturas de 34º que se registaram ontem na vizinha RAEHK, apareceu a nadar ao lado dos veraneantes. A piscina foi imediatamente evacuada e as autoridades sanitárias foram chamadas ao local. No entanto, quando lá chegaram, uma triste notícia. O ratito tinha-se afogado. A piscina foi desinfectada e alguns dos piscineiros mais persistentes voltaram três horas mais tarde. Supõe-se que o rato nadador terá vindo de uma lixeira que se encontra a cem metros da piscina.

Xangai debaixo de água


O tufão Nuri, que passou na última Sexta-Feira por Macau faz estragos na China continental. Em Cantão contam-se três mortes, e em Xangai a tempestade tropical trouxe as piores chuvas em mais 100 anos. Foram registados 117.5 mm de precipitação numa hora (!) no distrito de Xujiahui, três vezes mais que a capacidade de drenagem daquela cidade costeira da China. A chuva bloqueou as estradas, inundou ruas e provocou o encerramento do aeroporto. As autoridades esperam que a situação melhore amanhã.

Regresso ao passado: Stars on 45


Os Stars on 45 foi um projecto holandês que teve um enorme sucesso nas pistas de dança europeias no início dos anos 80. Um grupo de músicos, sob a orientação do maestro Jaap Eggermont, tocava êxitos dos Beatles, ABBA, disco e 60's, fazendo uma espécie de medley desses temas juntando-lhes um "beat". Foi breve mas foi giro. Vale a pena recordar.

domingo, 24 de agosto de 2008

Fim de festa


Terminam hoje os Jogos Olímpicos de Pequim, a terceira olimpíada realizada na Ásia, e discutivelmente a melhor de sempre. Não por ter sido na China, já lá vamos, mas pelas marcas conseguidas, pelos recordes batidos, pela competitividade, pelas expectativas, surpresas, e todos os fait-divers que lhe deram cor. De Pequim saíram novos heróis, outros que podiam ter sido e não foram, histórias de sucessos inesperados, e outros fracassos ainda mais inesperados, um pouco de tudo. Confesso que nunca segui um olimpíada tão de perto, mas também foi a primeira a merecer uma cobertura televisiva quase total, e logo no mesmo fuso horário em que me encontro.

Os jogos foram realizados na China, o que mereceu a crítica do Ocidente, de alguns ocidentais, de opinistas de todos os quadrantes. Li alguns que me põe de boca à banda. Argumentos que passam pela “demonstração de força” da China, pelo exibicionismo do “poderio militar” ou organizativo, pela “vontade de ganhar mais medalhas”, todos os paus serviam para bater. Primeiro congratulo-me que a China tenha organizado uns bons jogos. Se a China tivesse falhado, não percebo para quem isso seria bom. Quem ficava a ganhar se a China tivesse organizado mal os JO? O Tibete? Os direitos humanos? A liberdade de imprensa? A Falun Gong?

A questão do militarismo provoca também divisões. Em relação à cerimónia de abertura, por exemplo, onde se vasculhou debaixo do tapete à procura de todas as nódoas. Fico feliz que enquanto as outras potências mundiais tinham as suas tropas no Iraque ou na Geórgia, a China tinha o seu exército a ajudar nos Jogos. Se estavam lá a mais ou a menos, é apenas uma questão de gosto. A questão da "visibilidade" tem sido das mais mencionadas: "a China ganhou visibilidade aos olhos do mundo". Vê isso quem quer ver os Jogos como uma oportunidade de fazer propaganda. E os restantes países que os organizaram? Queriam só fazer um favorzinho ao COI?

Quanto ao facto da China ter vencido mais medalhas de ouro, é normal. É perfeitamente natural que o país mais populoso do mundo, que gosta e investe no desporto, tenha mais medalhas que os restantes países. A China era já a segunda potência em 2004, à frente de “clássicos” como a Rússia, a Alemanha e a Austrália, e só não o foi antes porque passou anos na obscuridade até à década de 80 do sec. XX. Como disse muito bem o Hélder Fernando, então a partir de agora com estas infra-estruturas, serão imparáveis. É verdade que nos últimos anos os chineses trouxeram especialistas estrangeiros para melhorar nas modalidades em que são menos fortes, mas e depois? Isso é censurável? Que desportivismo é este em que se aponta o dedo a quem quer ganhar?

O meu colega Nuno Lima Bastos levantou uma questão interessante. Não seria melhor que o COI atribuísse os jogos à China depois dos chineses se aproximarem dos padrões ocidentais de democracia em vez de lhes entregar os jogos de mão beijada e esperar que isso acontecesse naturalmente? Nunca, mas nunca o COI entregou ou vai entregar a organização dos Jogos a um país completamente inocente, ou de quem toda a gente goste. E curiosamente em Pequim estiveram todas as delegações inscritas no comité. Todas as 204.

Primeiro é preciso analisar a frieza dos números. Não é fácil organizar os jogos, quer em termos de investimento, quer em termos de retorno. Montreal organizou em 1976 e só os acabou de pagar em 2002. Barcelona organizou em 92 e ainda os está a pagar. Não sei qual a situação de Atenas, que organizou em 2004, mas não deve ser muito melhor. Mesmo em Portugal, quando se levantou a hipótese de organizar em 2020, muitos ficaram de cabelos em pé.

É verdade que candidatos nunca faltam à organização dos Jogos, mas são quase sempre cidades norte-americanas, europeias ou japonesas. Tivemos vários exemplos de organizações associadas com regimes pouco simpáticos. Nem falando dos jogos de Berlim em 1936, com que se faz uma – grossa, diga-se de passagem – comparação com estes jogos. A Argentina do ditador Videla teve o Campeonato do Mundo de Futebol em 1978, em Moscovo realizaram-se dois anos depois os JO de todos os boicotes, e aparentemente só a Colômbia dos cartéis renunciou à organização do Mundial de 1986, que acabou por ser no México. Foi assim e assim vai ser sempre. Preparem-se para que a “nova Rússia” apareça um destes dias com uma sede de organização de eventos desportivos sem igual.

Depois há a questão do Tibete. Estes Jogos marcaram o nascimento de um novo desporto radical: pendurar faixas de apoio ao Tibete na Praça Tiananmen. Cansados da indeferença do Governo norte-americano às demonstrações de repúdio à Guerra do Iraque em frente à Casa Branca em Washington, os adeptos deste desporto encontraram em Pequim a sua Meca. Agora que acabaram os Jogos, como vai ser tratada esta questão? Com a mesma intensidade? Uma sugestão: e que tal começarem a preparar a romagem a Londres 2012 onde podem protestar contra a situação na Irlanda do Norte, ocupada pelos ingleses? Proponho uns chavões: “Libertem o Ulster”, “Uma só Irlanda” ou “Irlanda para os irlandeses”.

E depressa, já que pecaram pela ausência em Sydney em 2000, onde podiam ter melhorado o mundo protestando contra o tratamento desumano que é dado desde sempre aos aborígenes da Austrália. Se calhar tem mais piada ir à China, onde existem leis contra este tipo de manifestações. A adrenalina sobe mais quando se visita um país e desrespeitam-se as leis desse país. É como besuntar-se completamente de mel e passear numa floresta repleta de ursos.

Uma nota final para a população e o público chineses. Receberam bem os jogos e os seus visitantes, não se registaram incidentes de maior. Em competição demonstraram um enorme desportivismo, aplaudiram os vencedores e vibraram intensamente com os feitos, independente da sua origem e nacionalidade. Não se apuparam atletas nem se assobiaram hinos. Houve muito boa gente que terá ficado desiludida...

Momentos Olímpicos


Foram oito medalhas. Oito. Um recorde histórico. O nadador Michael Phelps é no só o atleta mais medalhado de sempre na história dos Jogos Olímpicos, mas também o mais medalhado numa só edição.


Pequim revelou ao mndo o homem mais rápido de todos os tempos. O jamaicano Usain Bolt venceu os 100 metros, os 200, e a estafeta 4x100 metros, tudo com recordes mundiais. O momento que fica para a história foi a final dos 100 metros, quando Bolt, ainda a cerca de 20 metros do fim, abre os braços em sinal de vitória e começa a bater no peito.


O norte-americano James Blake protagonizou uma das maiores surpresas no torneio de ténis em singulares, ao eliminar o número 1 do mundo, o suíço Roger Federer. Blake seria eliminado nas meias-finais pelo chileno Fernando Gonzalez, e perderia o bronze para o sérvio Novak Djokovic.


Um exemplo de determinação e persistência. O americano David Neville conquista a medalha de bronze nos 400 metros depois de se ter atirado para o chãona recta final da prova, deslizando literalmente para o terceiro lugar.


Liu Xiang desiste da eliminatória da prova dos 110 metros barreiras, que tinha vencido em Atenas. O menino-bonito dos chineses deixa uma nação de mais de mil milhões em prantos.


O nosso momento: Nélson Évora vence a final do triplo-salto e levanta a bandeira de Portugal ao mastro mais alto das Olimpíadas de Pequim.


O armeno naturalizado sueco Ara Abrahamian protagonizou um dos momentos menos bonitos dos jogos. Não satisfeito por ter sido eliminado das meias-finais da competição de luta greco-romana, retirou a medalha de bronze do pescoço e projectou-a no tapete.


O cubano Angel Matos foi banido para sempre dos Jogos Olímpicos, após agredir o árbitro sueco Chakir Chelbat, que o desclassificou por ter considerado que o atleta perdeu tempo durante um kye-shi (time-out médico).

O sonho renasce


O "dream team", nome pelo que é conhecido a equipa de basquetebol dos Estados Unidos, recuperou o título olímpico masculino, depois de vencer esta tarde a Espanha 118-107, num jogo em que ambas as equipas revelaram uma pontaria bastante certeira. Dwyane Wade esteve em destaque ao marcar 27 pontos. No jogo da atribuição da medalha de bronze a Argentina venceu a Lituânia por 87-75.

No voleibol masculino o Brasil não conseguiu repetir a proeza das senhoras no dia anterior, e perdeu para os Estados Unidos por 1-3. Desilusão para os brasileiros, treinados pelo nosso bem conhecido Bernardo Resende, que esteve várias vezes em Macau aquando dos Grandes Prémios de Voleibol, quando era treinador da equipa feminina. A "escola russa" levou o bronze, ao vencer a Itália por 3-0.

No andebol a França venceu o torneio olímpico pela primeira vez, ao derrotar a surpreendente Islândia por 28-23. Os nórdicos levaram a prata, que é também a primeira medalha na história da Islândia nos JO. No jogo para o terceiro lugar a Espanha venceu a Croácia por 35-29. Os croatas, campeões em Atlanta e Atenas, voltam para casa com as mãos a abanar.

No quadro das medalhas a China venceu pela primeira vez, com 51 medalhas de ouro de um total de 100. Em segundo lugar ficaram os Estados Unidos com 36/110, seguidos da Rússia com 23/72, Grã Bretanha 19/47, Alemanha 16/41, Austrália 14/46, Coreia do Sul 13/31, Japão 9/25 e Itália 8/28. Portugal terminou no 46º lugar com uma medalha de ouro e uma de prata.

Que Wanjiru


Samuel Wanjiru venceu a maratona masculina, na prova que encerrou as competições de atletismo dos JO de Pequim. Wanjiru completou os 42 km em 2:06:32 horas, batendo assim o recorde olímpico que pertencia a Carlos Lopes há 24 anos. O segundo foi o marroquino Jaouad Gharib, e o terceiro foi o etíope Tsegay Kebede, confirmando assim o domínio dos africanos nas provas de fundo. O português Paulo Gomes foi 30º, e Hélder Ornelas foi 46º.

Vasco e os Jogos


Artigo de opinião de Vasco Pulido Valente no "Público", 22/VIII:

«No meio da tanta conversa sobre os Jogos de Pequim, quase não se falou dos Jogos de Pequim. Primeiro, da cerimónia inaugural (que vi em repetição), que lembrava irresistivelmente o congresso de Nürnberg de 1934, na versão de Leni Riefenstahl. A coreografia militar daquela massa indistinta e obediente não celebrava qualquer espécie de acontecimento desportivo, celebrava o novo poder da China e prometia o "triunfo" de uma nova "vontade". Sempre foi assim? Não exactamente. Apesar de tudo, nunca a América se atreveu a ir tão longe. Nem o Ocidente democrático era susceptível de engolir sem protesto aquele espectáculo. A conversa, evidentemente, mudou (como não mudaria?), mas não mudou a ameaça implícita da ordem, do número e da superioridade rácica.

Eis a habitual comparação rasca. Desde a primeira hora que se pegou no “perigo amarelo”, juntou-se os Jogos Olímpicos e pimba, toca de comparar com a propaganda nazi de 1936. O medo alimenta os ignorantes. Ainda bem que a Polónia não fica mesmo aqui ao lado. Essa da superioridade rácica é que me dá vontade de rir, e muito. Já repararam como os mais letrados já falam nos “han” em vez de falar de chineses? Se todo este preconceito serviu para alguma coisa, serviu para que aprendessem que afinal os chineses “não são todos iguais”. Quanto ao detalhe da “massa indistinta e obediente”, se calhar o douto historiador não faz ideia do orgulho e da satisfação com que os chineses receberam os Jogos, desde a primeira hora. Quem acha – como já li algures – que as infra-estruturas foram construídas com “mão-de-obra semi-escrava”, deve pensar que os operários que construíram os estádios em Atenas, Sydney ou Barcelona (e do Euro2004, em Portugal) têm um Porsche na garagem e uma casa de férias em Malibu.

Também não se disse uma palavra sobre o aberração em que pouco a pouco se tornaram os Jogos. O interminável aumento das "modalidades" levou a extremos de ridículo e desequilíbrio. A maior parte das provas "clássicas" só tem uma justificação "arqueológica" (e mesmo essa ténue: quem se interessa hoje pelo lançamento do dardo, do peso ou do martelo?). Outras disciplinas (a natação, a ginástica e o mergulho, por exemplo) são tão minuciosamente divididas, que um único atleta, como Phelps, consegue apanhar oito medalhas. Pior ainda: alguns "desportos" mais recentes (o triatlo, para começar) não fazem o mais vago sentido, excepto provavelmente comercial. E, como se isto não chegasse, o golfe (com dezenas de milhões de praticantes no mundo inteiro) não aparece e o futebol é um campeonato fictício entre equipas de terceira ordem.

O sr. Pulido Valente não deve estar a insinuar que foram os chineses que inventaram os Jogos Olímpicos, nem os antigos, nem os modernos, nem escolhem as modalidades. Sim, esta é uma crítica ao COI. O que têm estes Jogos, nestes aspectos que refere, de diferente dos Jogos de há 4 ou 8 anos, ou de outros quaisquer? É curioso que refira o futebol, a única excepção à regra. O único desporto nos Jogos em que o título mundial é mais importante que o título olímpico. Nas restantes modalidades colectivas os países levam as melhores equipas, e todos sonham estar nos Jogos Olímpicos

Falta acrescentar o mais desagradável: os Jogos não aperfeiçoam o corpo, nem o espírito. O corpo é sistematicamente deformado a benefício dos resultados. Há "modalidades" que produzem monstros: montes de músculo ou de gordura, ou de músculo e gordura; esqueletos a que se pendurou um torso e umas pernas; máquinas concebidas para meia dúzia de gestos, sem beleza e sem uso. De resto, quanto ao espírito, e já para não mencionar as pré-adolescentes da ginástica (um verdadeiro abuso de menores), basta lembrar aquele nadador que ganhou, aos 21, uma medalha para que se tinha preparado 15 anos. Não se imagina nada de mais triste. O "ideal" olímpico acabou num horror sem alívio.»

É uma opinião, está certo. Ninguém obriga os atletas a estarem nos Jogos Olímpicos. Vão porque querem. É o sonho de qualquer atleta estar nos JO. O que se preparou 16 anos para uma medalha provavelmente venceu os que só se preparam 15 anos, ou apenas 13 ou 14. Essa das “máquinas concebidas para meia dúzia de gestos, sem beleza e sem uso” tem graça. Isto não é o ballet do Bolshoi, é uma competição com regras. Queria que os atletas o entretessem, que dançassem para si? O “ideal olímpico” de Coubertain, dos “jogos para os amadores”, já há muito que está morto e enterrado. É um negócio sim, e os “negociantes” – atletas incluídos – agradecem. Foi preciso chegar a Pequim para perceber isso?

Eu até acho que o sr. Pulido Valente escreve e pensa bem, mas às vezes parece que é pago só para falar mal. Quem não o conhece bem pensa que vive numa caverna escura rodeado das carcaças dos bovinos e caprinos que por lá foram aparecendo, o que está muito longe da verdade. Exerce o seu direito à opinião como ninguém, o que é de louvar, só que aqui fala de boca cheia. E do que não sabe, ou sabe pouco.

sábado, 23 de agosto de 2008

Leituras


- No Hoje Macau Pinto Fernandes fala de um problema de Macau: a "infracção", em A Infracção, a Conjuntura Mundial e o Homem Invisível

- No JTM Luís Machado recorda os gloriosos tempos do Ténis Civil, em O Ténis em Macau.

- Também no JTM, Nuno Lima Bastos fala dos Jogos Olímpicos, e sobre O que mudou na China.

- Ainda no JTM Leonel Barros assina a sua habitual crónica sobre as superstições e tradições chinesas, em As Forças Ocultas.

- N'O Clarim, José Miguel Encarnação fala do novo cônsul de Hong Kong e dos resultados dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos, em Formatados.

- Finalmente no Diário de Notícias, Fernanda Câncio critica o Presidente da República por ter vetado a nova Lei do Divórcio, em O Divórcio da Realidade.

A continuação de um bom fim-de-semana.

Brasil na rede


As brasileiras provaram que não têm rival no voleibol. A juntar ao GP de voleibol feminino deste ano e ao 2º lugar no mundial do Japão o ano passado (o único título que lhes falta), conquistaram pela primeira vez o título olímpico ao bater os Estados Unidos por 3-1. Pareceu tudo fácil. No jogo de atribuição da medalha de bronze, a China venceu Cuba, também por 3-1. As cubanas, campeãs em Barcelona, Atlanta e Sydney, e terceiras em Atenas, ficaram desta vez fora das medalhas.

No basquetebol feminino os Estados Unidos levaram o ouro pela quarta vez consecutiva, e terceira contra a Austrália, campeã do mundo. O resultado não deixa dúvidas: 92-65. É o sexto título das norte-americanas em nove edições (não participaram em 1980). A Rússia levou a medalha de bronze ao bater a equipa da casa, a China, por 94-81.

No andebol a Noruega venceu pela primeira vez e quebrou o domínio da Dinamarca, vencedora das últimas três edições do torneio feminino, ao derrotar a Rússia na final (34-27). A Coreia do Sul (vencedoras em 88 e 92) ganharam o bronze, ao bater a Hungria por 33-28.

No hóquei em campo masculino a Alemanha derrotou a Espanha na final por 1-0. A Austrália levou o bronze ao golear os Países Baixos por 6-2. No baseball o torneio (apenas masculino) contou com a participação de oito países. A Coreia do Sul venceu o ouro, Cuba a prata, e os Estados Unidos o bronze(!).