David Bowie morreu, Prince também, e eu próprio não me estou a sentir lá muito bem - isto citando a ladainha que imiscui Karl Marx, um gajo a quem levaram a sério quando era evidente que estava só a "reinar". Pois é, amigos rockeiros que atazanavam a vizinhança com os sons das profundezas da toca do tio Lúcifer: a festa está-se a acabar. Sim sim, e quando digo "acabar", bem, sabem aquilo que antes nos vinha à cabeça quando deparávamos com aquelas imagens dos anos 20 do século passado, daqueles tipos a dançar o "fox-trot", coisa super "rad" para a altura, e ficávamos a pensar "que foleirice"? Agora é a nossa vez, pá. Os Martins e as Marianas que sucederam (ou sucederão, como no meu caso) os nossos Diogos e Beatrizes vão encarar o som que a gente curtia com o mesmo desdém: "o que que o cota andou a fumar, man?". E olha que a brincar, a brincar, não é que os putos têm mesmo razão? O cota fumava sempre qualquer coisita, pois foi, belos tempos. Ou metia-se no bagaço, ou no Brandymel. Ou estava apenas armado em parvo.
Quando o José Rodrigues dos Santos abriu o Telejornal do último dia 21 com a notícia "O cantor Prince morreu", uma parte de mim reagiu indiferentemente. "Bah, e depois? Toda a gente acaba a fazer de almoço para os iscos da pesca", pensei. Uma outra, mais pequenina, pensou "este José Rodrigues dos Santos vá gozar com a prima dele, ó c...", mas por muito "saído da casca" que ande o ex-aluno do Liceu do Macau (há quem considere isto notável, pasme-se), não ia abrir com uma peta de 1 de Abril...a 21 de Abril. Penso que apesar de tudo ainda tem amor ao emprego, pronto. Mas uma outra parte de mim, esta oprimida, recalcada, e o melhor mesmo é que ande calada, parecia querer dar-me um "toque", como quem diz: "já viste, pá, aquele gajo que na tua infância e adolescência se contorcia todo e apesar do seu metro e meio de gente as gajas achavam-no o máximo, acabou de quinar?" Sim, e apesar de nunca ter sido um grande fã do artista que se chamava mesmo Prince, deixou de ser Prince e depois voltou a ser Prince (falando de crises de identidade...), gostava de alguns dos seus temas, e no fim de contas gostava do gajo, pronto, confesso. Era um fanfarrão, eu sei, e um bocado "overrated", mas vejam aquele vídeo ali em cima, aos 2:25, e digam lá se conseguiam fazer um "jogo de pernas" daqueles? Eram o conseguiam, rá! Tinha menos de 30 anos quando fez aquele vídeo, o Prince, e 57 quando nos deixou. Era velho, mas, tipo, não "velho velho", assim ao ponto de morrer. O que devem andar a gastar a Madonna e o Elton John em "check-ups", imagino.
Não, não se trata de nenhuma montagem, ou sequer um concerto de homenagem a algum "rocker" defunto. O que ali vêem é mesmo Axl Rose, sentado num cadeirão a convalescer de um pé partido (deve ser "normal" para ele), e o grande, o enorme, o único Angus Young, fundador dos AC/DC, um das bandas com que cresci, e com que prestava tributo ao Senhor das Trevas. Isso mesmo: Axl Rose, americanóide, figura de proa dos Guns N'Roses e recentemente mais badalados por terem demorado mais de dez anos a gravar um álbum de originais, é o novo vocalista dos AC/DC - pelo menos durante esta nova "tour", que teve um prólogo de respeito em Lisboa no último fim-de-semana, mais precisamente no Passeio Marítimo de Algés. Diz quem lá esteve que o Axl esteve excelso na função de berrar os temas da banda de "hard-rock" australiana, mas o que aconteceu com o berrador de serviço, Brian Johnson?
Da esquerda para a direita: Brian Johnson, Malcolm Young, Cliff Williams, Angus Young e Phil Rudd. Estes eram os AC/DC na sua formação clássica, ou pelo menos a que se foi mantendo com mais ou menos consistência desde 1980, ano em que Johnson substituiu o malogrado Bon Scott, que morreu de hipertermia, após uma noite nos copos em Londres. Acontece que há coisa de dois anos, Malcolm, que é irmão de Angus, foi acometido de demência, e esqueceu-se do próprio nome - quanto mais das canções do grupo, lá está. Demência, meus amigos, demência! Uma doença dos velhos! Agora foi Brian Johnson, a quem foi dito pelos médicos que se continuasse a dar concertos "ficava surdo". Ora bolas, este argumento é feito à medida para aquelas mães que passam a vida a chatear os filhos, para que não oiçam música muito alto, senão "ainda ficam surdos". E não é que ficam mesmo? Epá, porque é que não são todos como os Rolling Stones e o Mick Jagger, já bisavô e ali aos pulos no palco, a lamber os dedos com um ar lânguido e sôfrego? RIP - Rock in Peace.
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