A Liga Portuguesa terminou no passado fim-de-semana, e pela 35ª vez terminou MAL, com a vitória de um clubezeco de um bairro chuleco de Lisboa. Triste, muito triste. Apesar de ser necessário apenas ligar o televisor estes dias para não ouvir falar de outra coisa, e para ver "especialistas" na matéria a constatar o óbvio: foi campeão quem teve mais pontos. Não pude deixar contudo de puxar da colher, e metê-la nesta sopa, e com ajuda do media "Soccerway" - o mais completo, sucinto e de fácil consulta contendo informações sobre ligas e jogos em tempo real - fui descobrir alguns factos interessantes, alguns "duh, quem não sabe?", mas outros ainda que "uá, a sério???". Por exemplo:
Sabia que os jogos acabassem ao fim de 45 minutos, o Sporting tinha sido campeão com 7 (sete) pontos de vantagem sobre o seu grande rival encornado encarnado? Facto, e o resto não seria muito diferente; o Porto terminaria em terceiro na mesma, o Rio Ave em quarto à frente de Braga e Arouca, enquanto o Tondela descia de divisão em vez do U. Madeira, mas igualmente na companhia da Académica. Mais do que ir buscar Jorge Jesus, o que o Sporting precisava mesmo era de acabar com as segundas partes e pronto, era campeão. Ou então acabava com os intervalos propriamente ditos, que é durante esses quinze minutos que o tal Vítor Pereira liga para o árbitro do jogo dos passarinhos, e manda o seu subordinado "rectificar a situação", isto é, transformar 19 vitórias em...29! É fermento "penalty", o que mais eleva o seu bolo de corrupção campeão!
Mas pronto, deixemos-nos de brincadeiras, pois a agremiação dos bons pais de família foi merecedora do título de campeão...da segunda volta. Neste quadro pode-se ver como dos 14 pontos perdidos pelos Calabotes, 11 foram na primeira volta, realizando uma segunda metade quase imaculada, manchada apenas pela derrota em casa COM O MAIOR. Atenção a este "quase", que é tudo. Valesse "quase" alguma coisa, e os bebés nasciam pelo cu. Ora toma que já almoçaste no Pintelheiras, na Praia da Costa da Caparica. Das quatro derrotas, três aconteceram nas primeiras sete jornadas, e a título de curiosidade, perdão, FACTO INDESMENTÍVEL E PERTINENTE, os rabiosques vermelhos fizeram 0 (zero) pontos contra O MAIOR. Contra factos etc., etc.
Falando de outra fauna menos peçonhenta, no extremo oposto desta valência temos o V. Setúbal (não o Valência propriamente dito, entenda-se), que fez 22 do seu total de 30 pontos na primeira volta, realizando uma segunda absolutamente atroz, vencendo apenas a Académica, que também que foi a única equipa que não pontuou contra os sadinos. Talvez seja por essa e por outras parecidas que os estudantes ficaram em último lugar. No entanto aposto que entre os seus "adeptos" deve ter havido uma boa falange que chorou, mas de alegria, com o "tri-campeonato" dos outros. Olha, bem feita. Estudem, filhos, estudem.
Agora falando do "milagre", do "fenómeno", aquilo que lhe quiserem chamar: o Tondela. Ora bem, estes "pequenos" do distrito de Viseu, que é assim representado na divisão principal quase 30 anos após a (breve) passagem do Académico, disputava ainda em 2009 o campeonato da III divisão, entretanto extinto, e em seis anos colocou-se entre os "grandes", e no leme tinha Vítor Paneira, ex-jogador do, do...bem, do Vizela, Académica e V. Guimarães, "entre outros", além da selecção nacional. Ao fim de sete jornadas o clube conseguiu amealhar apenas quatro pontos, fruto de uma vitória e um empate, e como qualquer clube grande que se preza, despediu o treinador. Rui Bento sucedeu a Paneira, mas depois um empate inicial em Arouca seguiram-se quatro derrotas, pelo que o algarvio foi também vítima do chicote. Chegou então Petit, acabado de se demitir do Boavista, que perdeu na estreia em casa com o V. Setúbal, mas após uma vitória em Vila do Conde na ronda seguinte, parecia ser a escolha acertada. Só que o triunfo frente ao Rio Ave parecia ter sido obra do acaso, pois nos doze jogos seguintes os tondelenses apenas por mais uma vez conseguiram saborear a vitória, e outra vez fora, no reduto do Moreirense. A equipa chegou à 28ª jornada com 14 pontos, dez abaixo da linha de água, e tudo parecia perdido, mas uma surpreendente vitória no Dragão por 1-0 veio a assinalar o ponto de viragem, e o Tondela conseguiu nas últimas seis jornadas 16 pontos, mais do que no resto do campeonato.
Este tal Petit, "nom de guerre" de Armando Gonçalves Teixeira, um dos jogadores mais feios que alguma vez pisou um tapete verde, tem uma particularidade interessante como treinador: "é preciso dar-lhe tempo". Digamos que se não for corrido após perder e empatar os primeiros 10 ou 12 jogos, é capaz de fazer qualquer coisinha de jeito. Este é o seu registo desta temporada; depois de se demitir do Boavista à 11ª jornada com 2 vitórias, 3 empates e 6 derrotas, e ter assistido à 12ª jornada como espectador, foi para Tondela conseguir 7 vitórias e 4 empates, totalizando assim 9 vitórias e 7 empates, número idêntico ao do ano passado com o Boavista, com o senão de ter cumprido os 34 jogos com os axadrezados, somando portanto mais uma derrota. Um treinador ideal para quem gosta de "suspense" e outras emoções fortes.
A "fuga para a vitória", ou pelo menos da derrota final, não é inédita, e nem sequer a mais espectacular de sempre. Na época 1996/97 o Rio Ave tinha 2 pontos em 14 jogos, terminando a primeira volta com 6 pontos, e com a agravante de alguns dos seus jogadores chave saírem antes de se consumar a mais que aparente despromoção. Só que entretanto o capitão de equipa dos vila-condenses, um tal Carlos Brito, assume as despesas de treinador, e apesar de ter em mente uma época seguinte na Liga de Honra, obtém 29 pontos em 17 jogos, perdendo apenas por duas vezes, terminando acima da linha de água, à frente do Sp. Espinho. Estes últimos fizeram o caminho inverso, pois de um quarto lugar e 26 pontos à 14ª jornada, acabariam despromovidos, somando apenas 7 pontos em 20 jogos. Uma miséria. E por falar em miséria...
Será que alguém me explica do que se queixam tanto os adeptos do V. Setúbal e da Académica, por exemplo, se nem sequer se incomodam em ir cumprir a sua função de adeptos, e ir apoiar o clube? Os que vão que me desculpem, mas até esses devem perceber que como em tudo na vida, "não há dinheiro, não há palhaços". Com excepção dos três, que conseguem sempre "despachar" a maioria dos ingressos para os seus jogos em casa, honra feita ao Marítimo, que conseguiu esse mesmo feito, e um calduço no cachaço dos adeptos do Moreirense, que deixam os seus "bonecos" a jogar...para o boneco. Estranhamente o Arouca raramente conseguia atrair espectadores ao seu estádio, apesar do clube ter realizado a melhor época da sua história, coroada com a qualificação para o "play-off" da Liga Europa. Mas também convém recordar que a municipalidade de Arouca tem pouco mais de 20 mil habitantes. Para o ano há mais!
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