terça-feira, 17 de maio de 2016

Bate-bola, jogo rápido


Em Portugal deu-se o insólito. Esperem, dois insólitos: o clube do bairro de Benfica, Lisboa, foi campeão pela terceira vez consecutiva, e mais extraordinário ainda, o treinador campeão é Rui Vitória, que se torna assim o primeiro ex-jogador do Grupo Desportivo Alcochetense a sagrar-se campeão nacional. Ao ponto que isto chegou, e qualquer dia ainda temos o troféu da Liga dos Campeões a ser levantado por um jogador da Musgueira Sul (não, o Nani é da Massamá, que ao pé da Musgueira é Miami). De facto o homem a quem em Setembro os adeptos do Benfica chamavam "Zé Colmeia" e já queriam ver pelas costas, mas agora é "o melhor treinador do mundo" teve uma carreira discreta como jogador, com o "auge" da discrição a chegar nas épocas 2001/2002 e seguinte, onde representou o emblema de Alcochete, que numa espécie de paradoxo irónico tem um equipamento igualzinho ao do Sporting - complexo de inferioridade, lá está. Deve ter sido lá pelos alcochetanos que Rui Vitória aprendeu aquela ladainha chata e comprida com que brindou a nação no passado Domingo, e que foi repetida "ad nauseum" na tevês: "em 13º o motorista que me levou a Fátima...em 87º o homem que me vendeu pipocas numa festa...". Epá ó Rui, essa apanhaste de algum bêbado lá no Barrete Verde, diz lá se não foi? Infelizmente não encontrei nenhuma imagem do novo treinador campeão nacional com a camisola do Alcoshit, mas antes esta imagem de 2010 que vides em cima, onde em vésperas de se estrear na Superliga ao comando do P. Ferreira dá um entrevista a este jornaleco da margem sul, e onde já demonstra os seus dotes de filósofo da taberna. Cozinheiro? Bem, deixo-o aqui com uma provocaçãozinha "à la" Octávio Machado: "Só se for no restaurante do Vítor Pereira, onde não se servem penalties contra o Benfica. Vocês sabem muito bem do que eu estou a falaaaar....!".


Já alguma vez pagaram bilhete para assistira um jogo de futebol, que depois é tão mau que deixam sair em jeito de desabafo qualquer coisa como "estes gajos deviam era ser todos presos, mas é"? Pois é, mas aqui está o vosso (nosso) desejo atendido. No maior escândalo de sempre (ou desta semana, sei lá?) do futebol português, foram detidos vários jogadores do Oriental e Oliveirense, bem como o presidente do Leixões, suspeitos de corrupção, mais precisamente manipulação de resultados. Por detrás do pérfido esquema estão as redes de apostas ilegais da Malásia, um daqueles pólos do futebol mundial onde é considerado "estúpido e inútil" assistir a uma partida sem se apostar numa das equipas, e era desse país asiáticos que chegavam malas cheias de nota para encorajar os tipos que vemos no vídeo em cima a fazer aquelas tristes figuras. O guarda-redes do Oriental, por exemplo, um tal Rafael Veloso, "vendia frangos a 15 mil euros cada". Epá, atendendo a que foi buscar a redonda 31 vezes ao fundo das redes nos 21 jogos em que esteve na baliza, foi um vender de frango que lhe daria para se mudar para a Quinta da Marinha, não fosse pelo pequeno detalhe de agora se arriscar a alinhar pela equipa do xadrez, e que não é o Boavista. Nem por acaso o jogo ali no vídeo é exactamente entre o Oriental e Oliveirense, e no caldo-verde (recuso-me a chamar àquilo "relvado") do Campo Engº Carlos Salema, em Marvila, e é possível verificar como não existe um fundo onde bater, para esta gente. Reparem nos golos, os marcados e os desperdiçados, e talvez fiquem pasmados, como eu fiquei, e por duas razões: 1) estes gajos ou representam muito mal, ou têm uma grande lata, e 2) as pessoas acharam aquilo "normal"! Ah, futebol português, que te arrastas pela lama. E pelo caldo verde.


Ainda falando de portugueses, e voltando aos treinadores, mas fora de Portugal - ou seja, de coisas alegres para variar. E alegre, ou até mesmo todo feliz da vida anda Carlos Carvalhal, que está a um pequeno passo de fazer história no futebol inglês. Isso mesmo, o ex-treinador do Sporting, V.Setúbal e Belenenses, entre outros, atingiu a final do "play-off" do Championship, o segundo escalão do futebol inglês, e que decide quem acompanha o Burnley e o Middlesbrough na Premier League na próxima temporada, como equipas promovidas, e isto ao comando do Sheffield Wednesday - lembram-se? É verdade, o clube que conta com cinco títulos de campeão inglês e 3 Taças de Inglaterra no seu historial andava pelas ruas da amargura, até ser adquirido há dois por um milionário tailandês, que este ano apostou na revitalização do clube, indo buscar o treinador para esse efeito. Vá-se lá saber porquê, mas em boa hora o fez, pois do cargo de coordenador-técnico do Al-Ahli do Dubai (onde joga Hugo Viana) foi para o banco dos "owls", após dois anos de ausência, desde que deixou o Istanbul BB, da Turquia. Carvalhal fez uma primeira época estrondosa, a melhor do Wednesday este século, mantendo a equipa sempre nos lugares cimeiros da tabela, terminando no sexto lugar, com direito a disputar o tal "play-off" da promoção. Após vencer o Brighton & Hove Albion a duas mãos, por  2-0 em casa, seguido de empate a uma bola em Brighton, a equipa vai discutir no dia 28 como Hull City a terceira vaga de acesso à Premier League, em pleno Estádio de Wembley, sala de visitas por excelência do futebol inglês. 


A juntar à excelente campanha no Championship, Carlos Carvalhal juntou ainda um percurso sensacional na Taça da Liga, ou League Cup, onde chegou aos quartos-de-final depois de eliminar  o Newcastle United em St. James, e o Arsenal em casa, com um resultado de 3-0. Isto valeu ao treinador português o prémio de melhor treinador do torneio, e juntando a isto tudo ainda conseguiu ficar sem perder durante 11 jogos oficiais, quase dois meses, feito que o elevou a um estatuto de semi-deus entre os adeptos do Wednesday, que entoam cânticos em sua homenagem e o reclamam como "o seu special-one". Valeu, Carlos, fica por aí que estás muito bem, e fico a torcer por ti no dia 28. Em Inglaterra és "too much", enquanto em Portugal ficavas três jogos sem ganhar levavas com "tomates". 


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