Meus compatriotas e amigos,
Escrevo daqui de Macau, que como muitos de vocês devem ter aprendido na escola, foi em tempos parte do nosso glorioso e extensivo Império. Belos tempos, que pouco ou nada têm a ver com estes que agora atravessamos, e que tanto nos custam. No meu caso particular, já vivo longe da nossa amada Pátria vai para vinte anos, mas como sou um bom filho da terra que o viu nascer, que o criou e educou até à vida adulta, preocupa-me o que acontece desse lado, e procuro manter-me informado, dentro do possível. Os últimos dois ou três anos têm sido dramáticos para nós, meus caros concidadãos. É com o coração pesado que vejo o nosso povo sujeito a tantos sacrifícios, ainda por cima impostos por interesses de capitais estrangeiros. Pudesse ser esta luta decidida coma braveza de Aljubarrota, e tinhamos a nossa heróica Brites a malhar na tal “troika”. Infelizmente os tempos são outros, e temos que cumprir as malditas directivas, ou arriscamo-nos a ser atirados do comboio da modernidade. É um mal necessário.
É desolador ver o nosso povo tão triste, e é penoso assistir diariamente às notícias que dão conta do estado deplorável a que chegou o nosso tão amado país. São cortes atrás de cortes, cada vez mais impostos, meses cada vez mais compridos para rendimentos cada vez mais curtos. Quando daí parti nunca pensei que passado todo este tempo Portugal estivesse pior do que quando o deixei. Cheguei a acreditar que um dia poderia voltar ao berço e ser recebido de braços abertos, cheio de vontade de dar a minha contribuição para o bem comum e no fim sair deste mundo pela mesma porta que entrei. Mas estava enganado, meus amigos. Obrigado mas não, obrigado. Chamem-me de egoísta, se quiserem, mas o mal dos outros é uma daquelas coisas com que menos preciso de me ralar, e parecendo que não, também tenho problemas de sobra. É gratificante pelo menos poder depender apenas de mim, da minha vontade e do meu trabalho para obter a recompensa devida.
Não vos queria chatear, mas nós por aqui estamos bem, obrigado. Não pensem que sou arrogante, mas antes que vos dissessem que “emigrar” é uma opção, tomei eu próprio essa iniciativa. Nunca me senti a mais, mas prefiro sair antes que me apontem a porta da rua. Não há nada pior que nos dizerem que não temos lugar para ficar, e que é melhor fazer a trouxa e ir embora à procura de pastos mais verdes. Gostava de vos dizer que não é fácil viver longe de tudo que nos dá sentido à vida: a nossa cidade, a nossa casa, a nossa família e os nossos amigos. Por muito que nos custe, às vezes virar as costas ao passado e ao presente é a melhor opção para que se consiga conjugar o futuro. Não vos vou dizer que fujam, que desertem desse exército que parece derrotado, mas pensem sempre duas vezes, e se amarem mesmo o vosso país acreditem nele até ao fim.
Não adianta culpar este ou aquele indivíduo,o actual Governo ou o anterior pela situação a que chegou o colectivo. A culpa é de todos e não é de ninguém. É frustrante que se façam greves, manifestações, que se proteste e que se bata com o pé sem que ninguém nos dê ouvidos. Acreditamos sempre que o nosso contributo individual pode fazer toda a diferença, e não é nada agradável encontrarmo-nos num beco sem saída. Mas é assim, e não nos resta senão ficar a olhar a chuva pela janela, e esperar que o sol volte um dia a brilhar nas nossas vidas, e assim já podemos ir brincar lá fora outra vez.
Quero que saibam que estou aqui deste lado a torcer por vocês, meus irmãos. Quero que este ano de 2013 que agora começa seja o ano da viragem,o ano da retoma, e que daqui a um ano possamos receber 2014 sem o pessimismo que tomou conta de nós, e que teima em desfigurar a nossa natureza de povo feliz, em dilacerar a grande alma lusitana. Neste novo ano recordemos os que por nós tombaram ao longo da História, e que para isso conheceram privações bem maiores. Os portugueses que construiram o nosso belo país não precisaram de subsídio de Natal para o fazer, e não nos resta senão beber deles a inspiração que nos coloque novamente no caminho da prosperidade e do bem. Sejam fortes, e não desesperem! Tenham um excelente 2013.
Leocardo
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