A Escandinávia é a região mais a norte da Europa, composta oficialmente pela Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega, e as ilhas Faroé e a Islândia. Nunca visitei nenhum destes países, mas já conheci vários escandinavos de todas as origens, se bem que me falta conhecer um faroês para completar a colecção. Os países escandinavos estão cobertos de uma aura de bonomia a todos os níveis. São democracias liberais de sucesso, e os seus habitantes gozam dos resultados desse sucesso. Os escandinavos trabalham muito, labutam como lapões, e depois disso passam os anos da reforma a passear pelo mundo, aproveitando a vida que lhes resta da melhor maneira. São também conhecidos pela forma competente como são usados os impostos que pagam, que os levam a ter um invejável sistema de saúde, rede rodoviária, segurança social e educação – os alunos dos países nórdicos estão sempre no topo das listas mundiais.
A Suécia é talvez o mais conhecido dos países escandinavos. Tal como qualquer outro macho lusitano que se preze, a mulher sueca faz parte do meu imaginário. Basta ir ao Algarve no Verão para verificar a vasta gama de mulherame sueco. Altas, loiras, giraças e simpáticas, estão sempre dispostas a aturar as investidas dos homens latinos, tão diferentes dos suecos, frios e distantes. O nosso Luís Figo cometeu a ousadia de casar com uma sueca, a modelo Helen Svedin. Isto é só o Figo a ensinar-nos como se faz. A Suécia é também conhecida pelas multinacionais de sucesso que fazem parte do nosso cotidiano: os automóveis da Volvo ou da Saab ou os telemóveis da Sony-Ericsson. Apesar de se exprimirem num idioma imperceptível, os suecos dominam bem o inglês, e a banda musical mais famosa depois dos Beatles, os ABBA, são originários da Suécia. Ingmar Bergman, um dos maiores génios cinematográficos da história, era sueco. A Suécia ganha aos pontos em relação ao resto da Escandinávia em muitos aspectos.
A Leste da Suécia temos a simpática Finlândia, um país cheio de características únicas, apesar da sua natureza gelada. Das contribuições finlandesas para a humanidade destacam-se os telemóveis da Nokia, as saunas ou o famoso vodka Finlandia, provevelmente uma influência da proximidade com a Rússia. E por falar nisso, os sovietes tiveram sempre uma vontade tremenda de integrar a Finlândia na sua URSS, mas os bravos escandinavos sempre resistiram, tendo os comunas de se contentar com a Estónia, uma espécie de irmão mais pequeno da Finlândia. Apesar do inverno rigoroso, a Finlândia é conhecida pelo seu Verão ameno, decorado por lagos e bosques lindíssimos. Apesar de não existir uma marca de automóveis finlandesa por excelência, são dali originárias as maiores referências do desporto automóvel da Escandinávia e do mundo: Keke Rosberg, Mika Hakkinen, Kimi Raikkonen, Hannu Mikkola, Ari Vatanen, só para referir alguns. A Finlândia tem uma particularidade curiosa: é o país que regista os melhores resultados do mundo na disciplina de Matemática. É caso para dizer que estes finlandeses não só aceleram que se fartam, como ainda sabem fazer contas.
O país escandinavo mais a sul e por isso mais próximo do resto da Europa é a Dinamarca. Este país é quem sabe o menos exótico de todos neste sub-continente. Os dinamarqueses irritam-nos muito por culpa da rivalidade futebolística, e por falar nisso, é o único país escandinavo a orgulhar-se de ter conquistador um troféu internacional, o Euro 1992, disputado na Suécia. A Dinamarca é o berço da civilização Viking, parte do nosso imaginário infantil, e é seguro afirmar que Hagar, o terrível e o simpático Vicky eram dinamarqueses. É o país mais expansionista dos escandinavos, e a imensa Gronelândia, localizada na América do Norte, pertence à Dinamarca. Os dinamarqueses são por norma um povo simpático, que nos deram as bolachas e tortas da Dan-Cake e o queijo azul, mas há alguns anos pisaram a cauda dos muçulmanos quando publicaram no jornal Jyllands-Post caricaturas do profeta Maomé. A natureza provocatória dos dinamarqueses pode ser explicada pela sua proximidade com a Holanda. Os holandeses são uns sacanas provocadores com a mania das grandezas.
A oeste da Suécia e a norte da Dinamarca temos a Noruega, e os seus noruegueses. Quando voltei de Portugal em 1998 estava no aeroporto e no terminal ao lado partia um avião para Oslo. Fiquei surpreendido com a hemogeneidade dos noruegueses, apesar da Noruega ser provavelmente o mais multi-cultural dos países escandinavos, acolhendo refugiados dos mais diversos pontos do globo. Quando se pensa em Noruega, pensa-se em bacalhau. Portugal importa grande parte do seu fiel amigo deste país, cujo mar é também rico em petróleo. Talvez por ser um país naturalmente rico, a Noruega optou por não fazer parte da União Europeia e dividir essa riqueza com os outros. Fizeram bem. Com apenas cinco milhões de habitantes, a Noruega é o segundo país europeu com menor densidade populacional, o que nos leva à última paragem deste pequeno tour escandinavo.
A Islândia não pertence ao sub-continente escandinavo por excelência, mas insere-se no mesmo pote étnico. É uma ilha do mar do Norte, a mais fria e distante da Europa. Com pouco mais de 300 mil habitantes – menos que Macau – a Islândia esteve nas bocas do mundo há alguns anos pelos piores motivos. Considerado desde sempre uma economia exemplar, o país declarou falência em 2008, mas tem paulatinamente recuperado, o que lhe permite ainda ser um dos 20 países mais desenvolvidos do mundo. A sua primeira-ministra, Jóhanna Sigurðardóttir, é a primeira chefe de estado assumidamente lésbica, e é casada com outra mulher e tudo. Há cerca de dois anos um vulcão islandês com um nome impronuncíavel largou cinza suficiente para atrapalhar o tráfego aéreo em grande parte da Europa. Viver na Islândia deve ser complicado; o país é nitidamente isolado do resto do mundo, e o local do planeta onde o Big Mac é mais caro: cerca de 80 patacas. Quem não gosta de frio e de uma dieta onde predomina o peixe, não deve viver na Islândia.
Os escandinavos são de um modo geral uns tipos porreiros, um ingrediente saboroso nessa grande salada que é a humanidade. São pouco divertidos para o nosso gosto, frios, insensíveis e dotados de um pragmatismo que nos aborrece, evidente nas bandeiras dos seus países, todas parecidas umas com as outras. Deve ser difícil viver onde o sol, quando aparece, é normalmente gelado, e passar uma boa parte do ano em casa, abrigado da neve e do gelo. Temos imenso a aprender com eles, que talvez derivado da sua natureza gelada e um tanto indiferente, adoptam posições progressistas em muitos temas fracturantes, imunes a preconceitos de ordem moral ou religiosa. Que sigam sempre por esse caminho, que o mundo agradece.
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