Não sou um adepto do ciclismo, um daqueles desportos complicados de ver, pois é difícil perceber quem é quem debaixo dos capacetes, dos óculos escuros e da confusão do pelotão, onde as camisolas coloridas se misturam de forma aleatória. Contudo não posso ignorar esse verdadeiro fenómeno e ao mesmo tempo fiasco que foi Lance Armstrong, o americano que venceu o cancro, ganhou sete vezes o “Tour de France” e agora foi condenado pelo uso e distribuição de substâncias dopantes. Uma história de sobrevivência, heroísmo e batota. Uma verdadeira montanha russa de emoções.
Só ouvi falar de Armstrong quando venceu pela primeira vez o “Tour”, e fiquei a saber que ainda um ano antes lutava contra um carcinoma que lhe surgiu nos testículos e se alastrou aos pulmões e ao cérebro. Era um milagre estar vivo, quanto mais conquistar os Pirinéus e vencer a mais exigente competição do ciclismo mundial. Depois da primeira vitória seguiram-se outras seis, uma fundação que apoia a luta contra o cancro e um sucesso comercial na venda de umas pulseiras de plástico que alegadamente ajudaram o atleta durante os seus momentos mais complicados.
Caíu o Carmo e a Trindade quando se soube que Armstrong fez batota, e que as suas vitórias se deviam ao uso frequente de substâncias proibidas, esteróides anabolizantes, e quem nele chegou a ver um herói, sentiu-se ludibriado. A machadada final foi dada no Domingo, quando o ciclista admitiu no programa de Oprah o uso de doping. Se foi na Oprah só pode ser mesmo verdade, e agora não restam dúvidas. Armstrong não entra para a história como o ciclista com mais títulos no “Tour”, até porque esses títulos foram-lhe retirados, mas como o maior batoteiro de todos os tempos. Valeu-lhe a coerência de sair da Fundação que criou, que mesmo assim serve uma causa nobre, e cuja existência se justifica, apesar da natureza desonesta do seu fundador.
Tenho um amigo romeno que foi ciclista amador e que me disse que é “quase impossível” subir as montanhas francesas da forma que alguns vencedores do “Tour” o fazem sem recurso a substâncias dopantes que melhorem o desempenho. Em suma, quem se droga chega lá primeiro. Os rumores do uso de doping por parte de Armstrong já eram conhecidos no auge da sua carreira, e a confirmação destas suspeitas não foi surpresa para muita gente. E não é só no exigente “Tour” que se especula sobre o uso de doping entre os profissionais deste desporto. Muitos foram apanhados nas mais diversas competições, o que retira credibilidade a este desporto já de si não muito espectacular ou interessante.
A queda do mito Armstrong é para muitos uma enorme desilusão. Gostariamos todos de acreditar que alguém que passou pelo que o americano passou tivesse alcançado o estatuto de semi-deus graças ao seu esforço e resiliência, e sem recurso a métodos fraudulentos. É desencorajador para quem acreditou que não existem impossíveis. Não sei com que cara Lance Armstrong vai viver o resto dos seus dias. É mais um desafio que terá que enfrentar, e desta vez não há droga que lhe valha.
2 comentários:
Sempre achei muito estranho um ciclista que teve cancro e esteve quase a morrer e ficou curado e ficou muito mais forte e ganhou tudo que havia para ganhar no ciclismo que é um desporto onde quase todos tomam drogas.Bom demais para ser verdade.
Pior que o doping foram as varias pessoas que ele intimidou e chantageou quando falavam em publico sobre o doping do Armstrong .
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