Voltando ao Iuri Volcato, ontem segui com atenção a entrevista à Rádio Macau, no programa "Acorda Macau", do autor do Projecto de caridade ABC, que visa angariar fundos para aquela escola no Nepal. A certa altura Iuri diz que “onde eu crescia tinhamos pouca coisa, não havia internet, nem nada”. Ora esta frase dá que pensar. Os meus filhos perguntam-me a mesma coisa: como era o mundo antes da internet?
Os mais novos podem não acreditar, mas não viviamos em cavernas, não usavamos peles de tigre-dentes-de-sabre nem comunicávamos através de pinturas rupestres. Vivia-se até bastante bem, valorizava-se o conhecimento e a informação, porque era mais difícil de obter, e tinhamos acesso às notícias em tempo real, por incrível que pareça, através dessas duas invenções extraordinárias: a televisão e a rádio.
Basta olhar para a forma como os jovens realizam hoje os trabalhos de grupo: fazem pesquisa na internet, cada um na sua casa, contactam-se por MSN e depois guardam o trabalho numa pen. No meu tempo reuníamos-nos na casa de um colega (aquele com a maior casa e uma mãe que estivesse disposta a fazer um lanchinho) para o “brainstorming”, seguiamos para a biblioteca (ainda existem?) para recolher a informação, pagávamos a lojas para tirarem fotocópias (as impressoras eram coisas de milionários) e juntávamos tudo em papel, cartolina, colagens, com muito trabalho e suor.
Quando se generalizou o uso do telemóvel, passámos a uma nova escala da evolução humana onde o braço anda colado ao ouvido, num estado de semi-alienação. Até os miúdos de 9 e 10 anos têm um telemóvel nos dias de hoje, para “segurança”, dizem os pais. Não sei se sabem, mas há 20 anos as crianças eram constantemente raptadas, assassinadas e violadas, ou perdiam-se no regresso da escola em matas escuras habitadas pelo Lobo Mau, e comidas. Sim, como era difícil a vida antes do telemóvel.
Agora juntaram-se os dois impérios do mal, e já é possível aceder à internet através do celular. “Apenas à distância de um click”, como anunciam orgulhosamente aquelas empresas de telecomunicações. Antes ter cultura geral era visto como uma vantagem, uma coisa dos intelectuais. Mas para quê memorizar tantas datas e factos quando se podem encontrar em menos de 30 segundos na internet? Começa a ser difícil explicar aos adolescentes o que é “um livro”. Antes podiamos dizer-lhes que é uma revista com mais folhas e sem imagens, mas um dia vamos ter que lhes explicar que é como “a internet impressa numa árvore”. E eles vão achar muito estranho.
5 comentários:
Ainda me lembro dos primeiros contactos com o telemóvel. Foi em Hong Kong num restaurante onde um homem sozinho numa mesa falava alto através do dito. Achei infinitamente ridículo.
E continua a ser ridículo, anónimo, só que já nem reparamos. Já nos habituámos ao ridículo (eu só ainda não me habituei ao ridículo do auricular, que aí é que parece mesmo que vão a falar sozinhos).
O anónimo das 11:49 eh o João Santos Gomes, foi denunciado pelo "dito". Eh o k mais repete no blogue dele... lol
Leocardo, veja as coisas por outro prisma, a sua avó também devia dizer o mesmo de si quando era pequeno. Que a sua vida eram só facilidades, que haviam automóveis e podia ir de autocarro para a escola (e ela tinha de ir a pé no seu tempo), que havia luz e água nas casas e ela tinha de iluminar-se com candeeiros a petróleo e ir buscar agua à fonte. Que no tempo dela nem telefones haviam...
Um dia o seu neto ainda há-de rir-se à gargalhada quando souber que o avô cada vez que ia visitar a sua terra Natal, tinha de ir sentando (ou ensanduichado) durante umas 13 horas numa coisa chamada Boeing 747, depois esperar umas boas horas num aeroporto para ser enfiado noutra "lata de sardinhas" durante mais umas horas até chegar ao destino.
Bem apontado. Só que hoje as coisas vão acontecendo ainda mais depressa do que há 40 ou 50 anos, não concorda?
Não há necessidade de divulgar quem são os anónimos.
Cumprimentos.
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