sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A propósito...


A propósito das eleições em Angola, os jornalistas portugueses acreditados para cobrir o evento tiveram dificuldades em obter os vistos de entrada no país. Televisão, jornal, todos. Isto é notícia, porque surpreende. Surpreende e magoa. Se alguma coisa os simpáticos angolanos deviam ter feito era estender uma passadeira vermelha à imprensa dos seus ex-amos portugueses. O que foi não volta a ser, aparentemente, e já nada é o que era. Ainda por cima as eleições em Angola. Finalmente a concretização dos anseios democráticos de um povo irmão. Desfecho para o qual contribuímos também, no fundo. Contribuimos? Um pouco, talvez, ou quiçá pelo menos alguma coisa.

Um amigo meu diz-me que “Portugal é o país mais pacífico do mundo”. Deve ser. É um país amigo. Amigo não, amigalhaço. Os países “amigos” ganham qualquer coisa da amizade um pelo outro, é uma relação de simbiose. Nós gostamos de toda a gente. Gostamos dos ingleses (eu não especialmente), eles não gostam assim tanto de nós. Gostamos dos espanhóis, eles tratam-nos como irmãos mais novos. Praticamente toda a nossa literatura, música, cinema e arte bebe da influência francesa, mas os franceses acham-nos ridículos. Pelamo-nos por tudo o que é americano, mas os gajos ainda pensam que Portugal fica na Espanha. Com as ex-colónias não é assim tão diferente.

Atentemos ao caso do Brasil, por exemplo. Um dia os brasileiros vão lá ter em cada biblioteca uma secção dedicada às anedotas sobre portugueses. Nós sempre vimos neles o nosso alter-ego, a nossa criaçãozinha. Quando a nossa selecção era medíocre, vibrávamos com as vitórias do Brasil. Quando Nelson Piquet ou Ayrton Senna venciam o mundial de F1 diziamos: “o campeão do mundo fala português!”. Os brasileiros são os expeditores dos sucessos desportivos que nunca tivemos. Nos anos 80 ou 90 qualquer cantor brasileiro que chegava a Portugal recebia tratamento de chefe de estado. O país parava para ver as novelas da Globo. Em retribuição? Bom, enche-se-nos o nobre peito lusitano de orgulho quando vemos através da RTPi aqueles programas da série Contacto (insuportáveis, diga-se de passagem) em que vemos brasileiros, americanos, argentinos, etc, muitos deles de sucesso, a chorarem baba e ranho por Portugal, porque o pai ou o avô eram de lá, e a participar em ranchos e comezainas associadas com o ser lusitano. É tocante.

Os PALOP não haviam de ser diferentes. Falam português, pois, que remédio. Há alguns anos, quando na Guiné-Bissau disseram que se calhar dava-lhes mais jeito falar francês (a propósito, a filha do presidente Nino Vieira estava recentemente em Macau e expressou-se todo em tempo em francês…), ficámos tristes. Não que alguma vez tivessemos feito algo para ensinar e manter o português na Guiné-Bissau, mas porque pensamos sempre com o coração do que com a cabeça. Esperamos que gostem de nós e nos respeitem, mas tudo o que fazemos nesse sentido é gostar deles.

Tivemos um papel importante na auto-determinação de Timor-Leste mas não nos livramos do embaraço de lá ter os australianos a mandar e achar que estamos lá a mais. Talvez nos respeitassem mais se nos tivessemos batido desde a primeira hora pela causa do povo maubere, e não apenas após Novembro de 1991, aquando do atroz massacre do Cemitério de Santa Cruz, cujas imagens correram mundo. Antes disso quantos portugueses sabiam onde ficava Timor-Leste e o que lá se passava? Os mais informados – claramente em minoria – não contam.

Se querem que os ajudemos? Claro que sim. Se eu fosse dos PALOP ou timorense se calhar sentia que Portugal tinha comigo um dívida histórica, em sangue e dinheiro, e aproveitava tudo o que me quisessem oferecer. O que não significa que fosse retribuir com lágrimas de emoção e juras de amor incondicional. Independentes à mais de três décadas - a maioria tendo obtido essa mesma independência de forma pouco pacífica - não conseguimos ter com eles a mesma relação que os ingleses têm com a sua Commonwealth ou os franceses com as suas ex-colónias africanas - por inércia.

Mesmo em Macau, o exemplo que realmente interessa, ficamos sentados à espera que a actual administração faça o obséquio de emitir a papelada toda na língua de Camões. Porquê? Porque sim. Porque foram “quatro séculos blá blá blá”. Oportunidades de investimento não faltaram. Pode-se mesmo dizer que Macau esteve de pernas abertas, passo a expressão, à espera dos portugueses. Só que o desinteresse e o desinvestimento dão cabo da paciência de qualquer um - até do chinês.

Não tivessem sido os nossos antepassados - os tais dos descobrimentos - tão empreendedores, espalhando por Macau, Goa e Malaca um manancial de igrejas, fortalezas, mestiços e tudo mais, e já tinhamos a nossa presença (não digo influência, porque essa pura e simplesmente não existe), reduzida ao rectângulo à beira mar plantado. E já não é nada mau. Tenho dito.

18 comentários:

Anónimo disse...

Em relação ao Brasil, posso dizer que nunca vibrei com as vitórias deles. Bem pelo contrário, quando são eliminados é uma festa.
Adorei os 3-o que levaram da Argentina nos Jogos

Leocardo disse...

Pois é, você e muito boa gente, sem dúvida. Mas eu praticamente cresci com os nossos pobrezinhos a vibrar com o Braaaaassiiiilll! como eles diriam.

Anónimo disse...

Gostei de ler. Os velhos portugueses deixaram no mundo obra suficiente para que Portugal não deixasse nunca de fazer parte desse mundo. Os novos portugueses, em geral ridículos e com obsessões europeias, conseguiram desbaratar tudo enquanto o diabo esfregava um olho. A capital agora fica em Brochelas. Mas aguarde um bocadinho, que já aí virão os portugueses europeus do século XXI chamar-lhe velho do Restelo por se atrever a dizer o que lhe vai na alma.

Anónimo disse...

Brilhantemente escrito. Ficamos sempre à espera que nos entreguem tudo de mão beijada e desiludidos ficamos quando a malta das ex-colónias vai no coiro que lhe batem os nossos amigos ingleses, americanos, alemães e franceses que por lá aparecem e arriscam..."Porreiro, pá".

Pena que tenha desaparecido o brilhantismo da nossa nação (em termos de iniciativa e gosto pelo risco). Para o relembrar basta ler "The First Global Village: How Portugal Changed the World". Um brilhante livro que relembra o contributo dos portugueses no Mundo. Pena é que esse espírito tenha desaparecido e que este livro tenha sido escrito por um...inglês (Martin Page).

"Porreiro pá"

Parabéns Leocardo por mais esta brilhante posta.

P.S. - Leocardo, também gosto de ver o Brasil, Espanha e França levarem na pá. O primeiro devido à maldita mania de superioridade, o 2.o e o 3.o porque nos invadiram e o último porque sempre se dedicou a pilhar tudo o que tinhamos (Oxford foi criada com uma biblioteca levada de um mosteiro em Faro por Sir Francis Drake).

Só discordo do seu comentário quanto ao Ayrton Senna. Aí vibrei com as vitórias dele devido ao seu brilhantismo.

Anónimo disse...

um post bem esgalhado, sim, senhor, mas....dá vontade de dizer: -Então conte lá à gente o que tem feito de diferente dos outros tugas...ou é só mesmo para criticar?

Anónimo disse...

Aí está! Já cá apareceu um que exige ao Leocardo explicações. E o Sousa, fez alguma coisa de diferente dos outros? E precisa de fazer para dar opiniões? Ou melhor, deixam-no fazer alguma coisa? Será que se trata do Zé Pinto de Sousa, que, esse sim, podia fazer alguma coisa de jeito, já que foi eleito para isso? Só mais uma coisa: quando, por exemplo, fala de futebol e diz que o jogador X ou Y é mau, consegue jogar melhor do que ele? Não? Então porque é que não fica calado?

Anónimo disse...

Para Leonidas,

"(...) também gosto de ver o Brasil, Espanha e França levarem na pá. O primeiro devido à maldita mania de superioridade, o 2.o e o 3.o porque nos invadiram...

Como se diz no meu pais: mal de muchos, consuelo de tontos.

Saudaçoes

Anónimo disse...

Para o anónimo das 23:10,

Obrigado pelo provérbio do seu "pais". No meu escreve-se país.

Saudações. Ou, como se escreve no seu "pais", "Saudaçoes"

Anónimo disse...

Para Leonidas,

De facto, no meu também se escreve país. Mas vejo que do outro prefere nao dizer nada...Continue a nao gostar da Espanha, mas nao se esqueça de ir fazer suas compras ao El Corte Inglés... Thanks for your visit. Volte sempre!!

Saudaçoes

Anónimo disse...

Meu caro anónimo,

Obrigado pela sugestão, mas nunca fiz compras no El Corte Inglés, Zara ou Massimo Dutti e outras parolices do género e não ia ser agora, depois de velho, que o iria fazer.

Pura e simplesmente não gosto de espanhóis ou coisas espanholas a que você bate palmas. Deixo isso para os que se vendem a tudo o que vem do outro lado da fronteira e sugerir a outras pessoas. Continue a ir lá e aprender os ditos provérbios espanhóis. É da maneira que não nos cruzamos.

Como diria um poeta, "Saudaçoes"

Anónimo disse...

Caro Leonidas,

Desejo-lhe sorte na sua vida. Eu, por acaso nem gosto nem deixo de gostar das pessoas pela sua nacionalidade. Sendo Espanhol até falo português, mesmo que minha escrita, como o Leonidas já fez questao de lembrar, nao seja perfeita.

Keep your friends close and your enemies, closer.

O Espanhol

Leocardo disse...

Obrigado pela participação. Só um reparo ao sr. Sousa: então sou eu obrigado a salvar o país? Pelo menos tive a coerência de não gostar e ir embora. Cumprimentos.

Anónimo disse...

A xuxalhada arruína o país e a nossa geração 80 e agora quer a malta lá vá para dar uma mão aos gajos. Meus amigos, antes pagar impostos aos chineses. O Sr. Sousa pode pagar e dizer "porreiro, pá

Anónimo disse...

Ó espanhol,

Não ligues às tontices de alguns comentadores que aqui aparecem. Os portugueses e os espanhóis têm algumas rivalidades históricas, mas somos bons vizinhos e companheiros ibéricos, e o resto é história.
Tens é que deixar de me marcar golos.
Um abraço.

Anónimo disse...

Espanhol: pergunte ao anónimo espertalhão se ele sabe escrever em castelhano.

Tenho pena que esta gente, sempre tão solícita quando se trata de corrigir alguém que se esqueceu de um acento, não entre em discussões bem mais produtivas, como aquela dos "para-olímpicos" ou "paralímpicos". Os conhecimentos não chegam a tanto, não é? Então entretenham-se a ver onde é que outros se esqueceram dos acentos para poderem assim demonstrar a vossa "douta sapiência"...

Anónimo disse...

Quando o anónimo das 23.36 diz que há portugueses que "se vendem a tudo o que vem do outro lado da fronteira", está-se a referir a tudo o que vem de Espanha, suponho. Mas se calhar é um europeu convicto e aplaude o facto de Portugal se ter vendido à Europa que, por acaso, também fica do outro lado da fronteira.

Anónimo disse...

Anónimo das 7:29,

Não, não bato palmas. Não sou um europeu convicto. Vá continua a adivinhar e a congeminar o "se calhar".

Pode ser que se calhar lá chegues.

Calado eras um poeta.

Anónimo disse...

Meus caros,

Nao se preocupem por mim, "a palabras necias, oídos sordos".

O Espanhol