sábado, 20 de setembro de 2008

O mal do cinema português


O que se passa realmente com o cinema português? Ontem a TDM exibiu "Tráfico", que apesar de me ter passado completamente ao lado há 10 anos, quando estreou, despertou-me a curiosidade. Dei mais uma vez o meu tempo por perdido. As minhas experiências com o cinema português são traumáticas. Quando era puto foi ver "O Querido Lilás", de Artur Semedo, com Herman José. Lembram-se? O Herman estava quase no auge da sua carreira, tinha feito o "Tal Canal" e o "Hermanias", só podia ter graça. Puro engano. Mas confesso que o filme não era propriamente indicado para catraios. Ficam desculpados dessa vez.

Uma vez em Macau fui ao Instituto Cultural ver "Os Mutantes", de Teresa Vilaverde, ainda durante o tempo da administração portuguesa. Ora bem, nova geração do cinema português, uma lufada de ar fresco, legendas em inglês e chinês, porque não? Até levei a mulher. Quem viu lembra-se certamente da cena em que a actriz principal dá à luz numa estação de serviço. Os berros eram tantos que quem estivesse lá fora pensava que em vez do ICM se tratava de algum matadouro de cinco estrelas. No final até a nata da sociedade macaense (governador Rocha Vieira incluído) conseguia disfarçar algum embaraço.

Depois da idade do ouro do cinema português (enquanto o resto da Europa combatia e recontruía-se da segunda guerra), alguém de direito se deve ter sentado um dia à mesa com o poder e determinado o destino a dar à produção cinematográfica nacional. Hollywood parecia ser muito pretencioso, então bebeu-se dos mestres europeus: Antonioni, Fellini, Bertolucci, Bergman, Buñuel. Mas mal, muito mal. O nosso maior expoente, Manoel de Oliveira, é responsável por algumas das críticas estrangeiras mais hilariantes que já li. E recorde-se que Oliveira nunca realizou uma comédia.

Os longos planos, a representação demasiado artística, os cenários cinzentões de deprimentes...E o que passa na sonoplastia? Além dos diálogos serem praticamente imperceptíveis, nas cenas de exteriores ouve-se o barulho dos carros, das motos, dos passarinhos. É suposto ser para dar um toque de realismo ou quê? Temos os melhores actores de teatro, e alguns de televisão também não são maus, mas todos parecem intimidar-se com a perspectiva de uma longa-metragem. Não sabem ser naturais, são-lhes dados diálogos ridículos com que não sabem o que fazer, e custa-lhes dizer um palavrão (e mesmo quando sai quase pedem desculpa). Os figurantes são os piores do mundo, e às crianças mais valia que lhes dessem os textos numa folha A4 para que lessem, já que é isso mesmo que parece.

É altura - se não for tarde demais - para mudar de orientação. Não temos o requinte dos franceses (pessoalmente acho o cinema francês uma seca, mas enfim), não temos a frieza dos suecos ou o à vontade dos italianos. Era preciso criar o cinema português genuíno, qualquer coisa que fosse nossa, como fizeram os espanhóis e os brasileiros. Lembro-me de um certo realizador português, que em meados dos anos 80 quando Pedro Almodovar foi nomeado para um óscar por "Mulheres à beira de um ataque de nervos, ter dito que "não é esta a direcção que interessa ao cinema português". Então qual é, afinal? E depois ainda se queixam que dependem de subsídios do IPACA. Meus amigos, por mim não viam nem um avo. E desculpem lá se isto soa pouco patriótico.

7 comentários:

Anónimo disse...

Mas o pior de tudo é que o cinema português já existiu. Comédias como o "Pátio das Cantigas", "O Leão da Estrela" ou "A Canção de Lisboa" tinham uma qualidade que as comédias italianas só conseguiriam ter alguns anos mais tarde.

Pois, já sei, foi no tempo de Salazar e tal, e havia que cortar com todas as tradições salazaristas. Foi essa maneira de pensar, esse corte radical, que fez com que Portugal se tornasse (e não estou a falar só de cinema) naquilo que se tornou.

Anónimo disse...

mais uma vez o Leocardo esta a atacar tudo o que e portugues...

Anónimo disse...

E mais uma vez aparece aqui alguém que não consegue perceber qual o significado da expressão "sentido crítico" e que não tem inteligência suficiente para louvar o que é de louvar e criticar o que é de criticar. Deve ser um grande fã de cinema português, este, embora não tenha explicado o seu ponto de vista. Eu, sinceramente, acho que este blogue merecia ser menos frequentado por idiotas.

Gotícula disse...

Também não sou grande fã do cinema português, mas tive curiosidade de ir ver Call Girl e confesso que me surpreendeu pela positiva. Um argumento simples e actual, com actores bastante naturais, não é nenhum filme candidato a prémios mas tinha os ingredientes todos e a nossa Soraia é muito sensual. Há uns anos atrás, tivemos a Zona J e Tentação que também foram filmes interessantes.

Leocardo disse...

Gotícula: seria interessante se a TDM passasse um dos filmes que referiu (o "Call Girl" seria pedir demais, mas os outros têm já alguns anos), em vez dos últimos quatro que foram exasperantemente maus. Mas se calhar é o meu gosto que está estragado, pois o "Tráfico" também foi muito elogiado quando saiu.

Anónimo das 14:45: eu referi a "idade do ouro" do cinema português. A decadência não teve tanto a ver com o Salazarismo ou o fim dele, mas com a passagem para a "modernidade". Aí não foi só o cinema português que sofreu, foi Portugal em geral.

Anónimo das 16:05: é curioso, mas quando leio a blogosfera em português, os jornais portugueses ou vejo o Telejornal só se fala mal de Portugal. Só desgraças, nem uma coisinha de positivo. Se calhar anda aí montada uma cabala contra Portugal e contra os portugueses.

Anónimo das 16:15: obrigado pelo seu comentário, mas no meu ver até os idiotas têm direito à opinião (sem querer chamar o anónimo anterior de "idiota") desde que não passem os limites do razoável, é claro. Alguns escrevem aqui o que muito bem lhes dá na gana (inclusivé ameaças dirigidas à minha pessoa) e mesmo assim não os censuro. Agora há por aí jornais e quejandos com uma secção de comentários onde metade deles nem passam. Mas daqui ainda se queixam. Enfim, fazer o quê?

Cumprimentos a todos.

Anónimo disse...

Não sei realmente qual é o problema de se criticar o cinema português aquilo que o Leocardo escreve é verdade, não ofende ninguém, o cinema português é parado, monótono, sem sentido nenhum.
Então o Manoel de Oliveira que é homenageado quade todos os dias por ter quase cem anos de idade e não pela qualidade dos seus filmes é o exemplo mais flagrante do que é mau, aquilo é melhor que valium para dormir.

Anónimo disse...

O melhor filme português que vi (descontando a tal antiquíssima época de ouro) foi um de que nunca ninguém fala. Uma comédia, por acaso, de nome "Mortinho por chegar a casa", um filme de 1996 de Carlos da Silva e George Sluizer. Português ou luso-holandês, não sei, mas bom e com uma excelente participação de Diogo Infante.