quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O problema dos nomes


Umas das curiosidades desta terra onde vivemos são os "nomes de guerra" que os chineses, especialmente os mais jovens adoptam, para que seja mais fácil...distingui-los. Analisemos um nome chinês normal, Chan Sio Fong, por exemplo. Chan é o apelido do pai, "sio fong" são os nomes próprios, que quer dizer qualquer coisa como "pequeno vento". Formalmente, é conhecido por Chan sin sang (sr. Chan), entre os pais, irmãos e parentes, é conhecido por Sio Fong, entre os amigos é conhecido simplesmente por a-fong. O problema é que cada chinês conhece pelo menos meia dúzia de a-fong, a-miu, a-lan ou a-man. É preciso distingui-los.

Daí que adoptem nomes ocidentais. Os que estudaram português nos anos 80 e 90, foram irremediavelmente baptizados por Maria, no caso das meninas, e José ou António, no caso dos rapazes, normalmente pelos professores. Que falta de imaginação, aliada a uma religiosidade e simplicidade gritantes. Os que escolheram o nome fizeram-no em inglês, e os nomes da moda predominam, dependendo da época.

Lembro-me por exemplo no início dos anos 90, quando me aventurei num curso da UMAC, a maioria dos chineses que conhecia eram chamados de Eric, Patrick ou Cedric, no caso dos homens, ou Agnes, Sharon ou Miranda, no caso das mulheres. Tudo nomes escolhidos directamente do dicionário, depois de demorada ponderação. Afinal ainda hoje temos uma quantidade destes nomes em cargos de direcção ou chefia no território.

A maioria dos jovens, sem grande ambição, optam por nomes de artistas pop ou de cinema de Hong Kong, como Kelly, Amy, Phoebe ou Joey. Outras por nomes "docinhos", como Cherry, Kitty, Cindy, Candy, Debbie ou Lilly, inspiradas em desenhos animados japoneses, todas decoradas de lacinhos cor-de-rosa, ou filmes de hardcore porno norte-americanos ("Debbie does Dallas" ou "Deep Cindy", por exemplo).

Tenho um amigo que se chama Tom. Uma vez chamei-lhe Thomas, e ele perguntou-me "quem é esse?". Uma vez conheci um Freddy, e perguntei-lhe se "Fred" era a abreviatura de Fredrick ou Alfred. Respondeu-me que "nenhum, era só Freddy". No McDonald's aqui perto de casa trabalha uma "Monkey", que até não é feia, e já cheguei a conhecer uma "Green", um "Funky" e um "Cowboy".

Alguns optam por uma espécie de romanização do nome em chinês (Mei Lin = Melinda, Ka Man = Carmen, Mei = May), mas outros escolhem nomes que eles próprios não conseguem pronunciar. São os Mai-Kou (Michael), os Fek-Tá (Victor), os Pou (Paul) ou as Lou-Ein (Lorraine). Mais vale que se identifiquem por a-fong, a-mei ou a-lan. Assim sempre se evitam embaraços.

3 comentários:

Anónimo disse...

Money, Rabbit, Sim, Law...

Anónimo disse...

Olha, fala-se de nomes outra vez! Convém lembrar que os portugueses também deveriam adoptar outros nomes ocidentais que não os seus, como fazem muitos chineses. Assim sempre tinham alguma liberdade de escolha para além dos tradicionais Manuel, José, João, Paulo ou António, ou para além dos antiquíssimos (e agora na moda, chiquérrimos) Afonso, Bernardo, Dinis, Duarte ou Henrique. Embora haja muitos que gostam destas limitações, como já por aqui se provou. Ou então do que gostam mesmo é de censura e de proibições de toda a ordem, para se libertarem dos seus recalcamentos pidescos (patologia histórica associada a uma boa percentagem de portugueses, o que leva a crer que seja problema hereditário).

Anónimo disse...

gostei do que escreveu. é preciso ser portugues e entender cantonense para perceber o que este texto exprime.

MEI KOU (michael), VEK TA (Victor) haha

abraços