terça-feira, 2 de setembro de 2008

Assédio a sério


Uma ex-funcionária da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) foi indemnizada em mais de cem mil patacas por danos psicológicos. A lesada terá sido perseguida e mais tarde viu o seu contrato não ser renovado, por ter aceite ser testemunha num alegado processo de assédio sexual que há cerca de dois anos rebentou que nem uma bomba na DSEC, e que já chegou mesmo a causar uma vítima mortal – uma das queixosas não chegou a comparecer em Tribunal, porque se suicidou.

O assédio sexual – e não estarei aqui a dar nenhuma novidade – é uma coisa terrível. Pior é ainda quando se concretiza, quando entra em vias de facto, e como nesta situação, acaba em tragédia. Este caso que veio à praça pública (e apesar das versões sobre quem é o “mau da fita”), outros casos há em que as vítimas optam pelo silêncio. Para nós, gente civilizada, que levamos uma vida pacata e rotineira, trabalhamos sentadinhos, não conseguimos imaginar o alcance de uma situação desta natureza.

Como é possível que alguém, que contribui com a seu esforço, com o seu trabalho, o seu precioso tempo possa estar sujeito a um comportamento retrógrada deste tipo. O assédio sexual não tem normalmente nada a ver com amor ou ódio, nem com desejo ou luxúria – mas com poder. Na maioria dos casos, em que é praticado por indivíduos do sexo masculino, é o falo que simboliza a arma com que se exerce esse poder. O assediante comete o assédio porque pode, porque está em posição privilegiada de o fazer.

Quem está em Macau há mais de dez anos deve estar perfeitamente lembrado do que se passava, por exemplo, com as empregadas Filipinas. Casos graves de assédio, abusos de toda a ordem, paternidades não assumidas, de tudo um pouco. Na maior parte das vezes exercidos pelos nossos compatriotas, lamentavelmente, aqueles com menos educação e não só. Talvez ciosos das sensações dos antigos marinheiros acabados de chegar à Ilha dos Amores, ou querendo manter viva a tradição colonial dos abusos análogos cometidos em África. Uma das desculpas mais usadas era o “ela quis”, da família do “ninguém é santo”. Não havia de querer, quem precisa do trabalho muitas vezes para fugir à miséria e em muitos casos para sustentar a família.

As relações inter-pessoais no local de trabalho têm muito que se lhe diga. Afinal trata-se de passar oito ou mais horas do dia fechados no mesmo local com um grupo de desconhecidos, cada um com a sua personalidade muito própria, com gostos diferentes, e, no fundo, ser obrigado a conviver com esses estranhos. No meu caso particular reduzo as relações laborais ao mínimo indispensável (sou da famosa escola do “a vida está lá fora”), pelo menos enquanto ainda não se cultiva a saudável tradição britânica do pub depois do trabalho. Mais ainda quando se trata de chefes, chefinhos, directores, CEOs, donos, presidentes e tudo o mais, a que o contacto se resume a um “bom dia”, “boa tarde”, “então e esse Benfica?”, no caso de uma conversa mais informal, e pouco mais.

Não me surpreende no entanto, talvez graças à personalidade muito pouco social das gentes de Macau (especialmente os mais jovens) que a maioria das relações inter-pessoais sejam desenvolvidas no local de trabalho, que por vezes são as únicas, além dos colegas da escola. O pior é quando as coisas correm mal. Se uma amizade se torna colorida, se acaba uma relação, se numa noite de copos (que nunca se devia ter proporcionado) se cometem excessos, se os actores de todos estes processos forem casados, ou, aí está, se verificar o tal assédio sexual. Com que cara se vai enfrentar o outro, provavelmente durante os muitos anos em que ainda vai durar a relação laboral?

É curioso reparar como em Macau nem conhecemos os próprios vizinhos, como olhamos com desconfiança para o próximo, como nos tornamos tão defensivos quando um desconhecido se aproxima de nós. O famoso anúncio da Impulse aqui seria qualquer coisa como: "e se um desconhecido lhe oferecer flores...isso é assédio. chame a polícia". Eu próprio nem sei quem vive do outro lado do mesmo andar onde moro. Talvez porque não sou obrigado a viver com eles…

5 comentários:

Anónimo disse...

Porque que a maioria dos patrões contratam para suas secretárias mulheres jovens e bonitas?Porque será?

Anónimo disse...

Porque que a maioria dos patrões contratam para suas secretárias mulheres jovens e bonitas?Porque será?

Anónimo disse...

"porque que"?

Anónimo disse...

HAHAHA "porque que"?

Anónimo disse...

Os comentários das 0.55 e das 6.36 são dois magníficos exemplos de como deve ser um comentário. Não são?