quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quem disse?


Uma das características mais irritantes que a maioria dos nativos daqui tem é a mania do “quem disse?”, que consiste em questionar o portador de algum tipo de novidade sobre a natureza da mesma. Muito inquisitório, muito à la Polícia Judiciária, interessa mais saber de onde partiu a notícia do que verificar a veracidade da mesma. Talvez seja parte do processo, pois se partiu de alguém com pouca credibilidade, deve ser uma falsidade. Fica tudo mais fácil.

Mas mesmo assim irrita. Por exemplo, imagine que digo a um colega “olhe sabia que o The Standard agora é grátis?” a primeira reacção é duvidar ("ai é?"), seguido muitas vezes de um “quem disse?” ou em chinês bin go wa (diz-se bingo-uá). A maior parte das vezes a minha resposta costuma ser “ninguém me disse, eu vi”. No caso de uma afirmação ou uma notícia, é impossível fugir ao inquérito de bolso que representa estas duas palavras seguidas de uma interrogação.

E é mesmo um pau de dois bicos. Os menos atentos podem cair no truque, e ficar ali até confessarem quem foi a sua fonte. Nada agradável quando a notícia é de natureza pessoal (fulano foi internado, outrano divorciou-se), e o tom daquele “quem disse?” já mais parece um “tens uma lingua muito comprida” ou “quem é que anda aí a dizer o que não deve?”. É um caso sério. Entre eles não se importam muito com isso, e respondem sem pensar duas vezes: “foi A.”.

O pior é a reacção de surpresa seguida da pergunta: “não é!” (ou em chinês um hai) balançando o corpo para trás, seguido do inevitável “quem disse?”. Dá logo vontade de perguntar: “porque quer saber, vai pedir satisfações?” ou “porquê, é alguma coisa consigo?”, ou ainda “não interessa, não acredita em mim?”. São especificidades, há que preservar

1 comentário:

Yāt go yàn 一個人 Yī gè rén disse...

aahahahha, fartei-me de rir!saudades dessas idiossincrasias...