quinta-feira, 10 de abril de 2008

O gajo grávido


Dizia um certo escritor que desde o momento que o homem salta de dentro de uma mulher começa uma das relações mais complicadas que a ciência falhou em decifrar. As mulheres passam a vida a queixar-se da sorte. Não é para menos, eu pelo menos não me consigo imaginar com seios e os restantes apetrechos, e ter os homens a olhar para mim. Ah os homens, esse ser brutal, peludo e pézudo. Uma das queixas mais frequentes prende-se com a gravidez, a capacidade de gerar vida, que não é brincadeira nenhuma, e dela depende a continuidade da espécie humana, e é exclusivo das mulheres.

Mas uma ameaça paira no reino da normalidade. Já sei que dependendo da minha próxima escolha de palavras vou ser acusado de homofóbico e outros adjectivos tão comuns do maranhal que exige “tolerância” mas não admite opiniões diferentes das suas. Não sou contra os homossexuais, estou-me nas tintas para os casamentos gay e quanto à adopção, as criancinhas sempre estão melhor com casais homossexuais do que abandonados. Pronto, o mundo não se compadece com a moralidade ou o conservadorismo, e é cada um por si.

Foram perseguições injustas durante anos; foi a igreja católica, depois os nazis, os republicanos e todas as religiões mainstream menos o budismo condenam a homossexualidade. Hoje em dia nos países desenvolvidos ser homossexual não é um problema; o nível civilizacional mede-se quase pela tolerância em relação à homossexualidade, aos seus (riquíssimos, diga-se de passagem) valores culturais, quer no cinema, na arte, na moda, enfim, as contribuições são mais que muitas. Na Arábia Saudita, por exemplo, a homossexualidade é considerada uma doença mental, e os homossexuais confinados a hospitais psiquiátricos.

Ora alguns insatisfeitos com o género (?) podem hoje usufruir dos benefícios da cirurgia cosmética para que se pareçam uma mulher, no caso dos homens, ou um homem, no caso das mulheres. Note-se que aqui as palavras chave aqui são “cosmética” e “pareçam”. Ninguém se transforma num homem ou numa mulher. Pode alterar a sua fisionomia de modo a que se assemelhe ao sexo oposto, mas quem nasce um homem nunca vai ser uma mulher, e vice-versa. Cosmética, mon cher, cosmética. Acho piada ao pessoal que vai à Tailândia e diz que “é difícil distinguir as mulheres dos transsexuais”. Impossível não é, mas com alguma boa vontade e uns copinhos a mais...

Daí que salta para a imprensa o surrealista e o impensável: um homem grávido. Oh, oh, oh, até parece uma anedota. Parece saídinho do teatro de revista. Já imagino a peça “O gajo grávido”, que nos anos 60 – gloriosos para a revista à portuguesa – podia ter sido interpretado pelo versátil Raúl Solnado, ou hoje em dia pelo afectado João Baião. Aquilo é que ia ser só rir, com a mensagem de que “a gravidez é privilégio das mulheres” como a cereja no topo do bolo. Jamais uma mulher dirá a um homem “vocês não sabem o que é estar grávida” sem que eles respondam “então e o gajo que ficou grávido?”. Ora embrulha.

O tal Thomas Beattie, outrora conhecido por Tracy, que nasceu mulher, optou por um tratamento hormonal seguido de uma operação cosmética para se tornar um homem. Segundo ele próprio, o tratamento através da testosterona fez com que o seu clitoris dilatasse de modo a parecer um pequeno pénis, que lhe permite ter relações com a sua mulher. Entretanto interrompeu o tratamento hormonal, o que lhe permitiu manter os seus orgãos reprodutores femininos intactos, e engravidar em vez da sua parceira, que não pode ter filhos, através de inseminação artificial. Parece complicado, não? Cheio de sumarentas questões morais e éticas.

Imagine-se que ficou chocado porque teve dificuldade em encontrar um obstetra que quisesse cuidar dele. Pudera. Se calhar viram aqui como o Thomas foi outrora a atraente Tracy. E já agora aproveitem para ver a entrevista que deu na Oprah.

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