Enquanto em Portugal se discute o papel da ASAE, essa "besta negra" do povão, bem como tantas outras cuja designação começa por "autoridade", na China foi divulgado que morreram 258 pessoas de intoxicação alimentar o ano passado, um aumento de 32% em relação a 2006. De mão dada com estes trágicos números oficiais (os não oficiais devem ser ainda maiores) estarão os números do crescimento económico, a ambição desmedida de alguns agentes, a própria corrupção, e, lá está, um problema de que a China tem sofrido desde sempre, o controlo de qualidade.
Desde que me lembro, a malta deste lado da fronteira torce o nariz a tudo o que é "made in China". Conta-se o episódio de um empresário da região de Cantão que utilizou um lubrificante industrial para dar mais brilho a pevides de melancia, e que terá causado problemas de saúde graves ao seu próprio filho. A verdade é que muitas vezes não se olham a meios para se atingir os fins, e os fins normalmente passam pela maximização do lucro, custe o que custar, e sem o mínimo de respeito pelo precioso valor da vida humana.
Claro que existem excepções. Alguns produtos feitos na China por companhias multinacionais têm até bastante qualidade, isso porque o tal controlo é feito de acordo com os padrões exigidos pelos investidores estrangeiros no país do meio, onde, como se sabe, o preço da mão-de-obra é bastante convidativo. Quem se ressente com isto são as marcas chinesas; não há
marketing que consiga incutir no consumidor refinado o mínimo de confiança que seja na produção nacional que não passe por controlo estrangeiro.
Não surpreende que muitos dos 'convidados' à Aldeia Olímpica que a China montou declinem gentilmente o convite. A delegação americana vai levar a própria carne, enquanto o tenista número um do mundo, o suíço Roger Federer, prefere instalar-se num hotel de cinco estrelas. Tenho a certeza absoluta que tudo ia correr às mil maravilhas, a as autoridades chinesas iam ter cuidados redobrados com os seus convidados, mas nestas coisas, já se sabe, o seguro morreu de velho. Quanto à "teoria da batota" - e há quem diga que a China teria interesse em inferiorizar de algum modo os seus adversários - não comento.
Em todo o caso, são bastante elevados estes números de casualidades na China derivados de envenenamentos alimentares. Duvido que nos restantes países desenvolvidos este número seja muito superior a zero, e é nisto que ainda há muito que fazer nesta pátria de muitos milhões, e nem o número de habitantes serve de desculpa. Será que uma Autoridade alimentar assim do tipo ASAE dava jeito aqui na China? E com poderes redobrados, como convém...
Sem comentários:
Enviar um comentário