terça-feira, 29 de abril de 2014

Os sons dos 80: "Weird Al" Yankovic


Alfred Matthew "Weird Al" Yankovic é um californiano de ascendência sérvia, como o próprio nome indica, mais conhecida pelas suas paródias de grandes sucessos do "rock" e da "pop". Yankovic era um "nerd", ou em português, um "marrão" quando era estudante, facto que nunca se incomodou em ocultar, e passava as tardes durante a adolescência a ouvir Elton John e Frank Zappa, e a divertir-se com os filmes dos Monty Python ou as paródias de Allan Sherman, um "Weird Al" dos anos 60 e 70. Aprendeu a tocar acordeão quando era novo, uma tradição familiar, e aos 16 anos mandou uma cassete com algumas gravações para o programa de rádio do conhecido Dr. Demento, que acabaria por o apadrinhar. A sua primeira paródia musical a ir para o ar foi "My Bologna", decalcado do êxito "My Sharona", dos The Knack, mas com uma letra muito mais sugestiva. Foi o início de uma longa carreira que vai para quase 40 anos a "picar" os grandes nomes da indústria discográfica - e com tanto ou mais sucesso que os originais, também.


A primeira aparição televisiva foi em 1980 no "The Tomorrow Show", apresentado por Tom Snyder, e onde Yankovic interpretou uma paródia de "Another One Bites the Dust", dos Queen, intitulada "Another One Rides the Bus". O sucesso foi imediato, e nunca mais aquele rapaz alto, de cabelo encaracolado e óculos quase até aos joelhos sairia do olhar do grande público, sempre ávido de saber o que ia ele fazer a seguir. Daí a um contrato discográfico, foi um pequeno passo. Algumas aparições televisivas depois, Yankovic assinava pela Rock 'n Roll Records, uma pequena editora independente que "arriscou" na novidade, e acertou em cheio.


O primeiro álbum, homónimo, saíu em 1983 e foi produzido pelo famoso guitarrista Rick Derringer, e continha as paródias de Yankovic dos três anos anteriores. As primeiras "vítimas" foram Toni Basil, que viu o seu "Mickey" tornado num "Ricky", com Yankovic a inspirar-se na série cómica dos anos 60 "I Love Lucy", Stevie Nicks, com o seu ""Stop Draggin' My Heart Around" a tornar-se "Stop Draggin' My Car Around", e ainda este "I Love Rocky Road", um hino aos sabores de gelados ao ritmo de "I Love Rock'n'Roll", de Joan Jett & the Blackhearts. Não podiam faltar no primeiro registo do humorista os seus primeiros clássicos, "My Bologna" e "Another One Rides the Bus".


Em Fevereiro de 1984 sai o segundo álbum, "Weird Al Yankovic in 3-D", novamente produzido por Derringer, e que incluí a primeira "homenagem" a Michael Jackson, com "Eat It", um paródia de "Beat It" (lógico). Aqui o sucesso foi tal que o single chegou a nº 1 no top da Austrália, algo que o original do "rei da pop" não tinha conseguido, foi nº 12 da Billboard e arrebatou em 1985 o Grammy para melhor trabalho de comédia. E o que pensou Jackson de tudo isto? Gostou, e achou "engraçado". Para quem tinha acabado de fazer o LP mais vendido da história, porque havia ele de se chatear? E depois disto, ficariam mesmo amigos próximos. Do segundo registo de Yankovic destaque ainda para "The Brady Bunch", que foi ao mesmo tempo uma paródia da série televisiva e do tema "Safety Dance", dos Men Without Hats, ou "Rye of the Kaiser", inspirado pelo tema de Rocky III, "Eye of the Tiger", dos Survivor. É aqui também que Yankovic faz pela primeira vez o seu "medley" de "polkas", inteligentemente intitulado "Polkas on 45", que abrangeu mais um grupo de artistas de sucesso nesse ano que "levaram com a moca" - no bom sentido, claro. Era fácil gostar das paródias do artista, que não ofendiam de todo.


Em 1985 sai o terceiro álbum, "Dare to be Stupid", com Derringer novamente encarregado do departamento da produção. O disco tem um single com o mesmo nome, um original de Yankovic, e foram muitos em praticamente todos os seus trabalhos. Mas o que o público estava mesmo à espera era da paródia da temporada, e desta vez as baterias ficaram apontadas para Madonna, que tinha sido a sensação de 1984 com "Like a Virgin". Assim "Like a Surgeon" é ao mesmo tempo uma brincadeira com a cantora, e uma espécie de crítica ao sistema norte-americano de saúde pública; mas isso era o menos importante, pois recordo-me deste ter sido o meu primeiro contacto com "Weird Al" e achei hilariante. Outros temas parodiados pelo artista foram "Girls Just Wanna Have Fun", de Cyndi Lauper, que ficou "Girls Just Wanna Have Lunch"; "I Want a New Drug", de Huey Lewis and the News, aqui transformado em "I Want a New Duck"; e "Lola", dos Kinks, que Yankovic aproveitou para exibir o seu lado "nerd" prestando um tributo à saga da Guerra das Estrelas, dando-lhe o título de "Yoda".


Em "Polka Party", de 1986, a quarta colaboração de Yankovic com Rick Derringer, o cantor "brinca" com um dos gigantes da "soul", James Brown, tornando o seu "Living in America" em "Living with a Hernia". Não sei o que terá dito o autor de "I Feel Good", mas terá sido qualquer como: "damn, ah! weeee...rivetin', wa, eh!". Outras paródias incluíram "Addicted to Love", de Robert Palmer ("Addicted to Spuds"), "Ruthless People", de Mick Jagger ("Toothless People"), entre outras. O álbum foi o menos bem sucedido de "Weird Al" na década de 80.


O regresso à forma dá-se em 1988 com "Even Worse", já de si um título inspirado em "Bad", o álbum de 1987 que marcou o retorno de Michael Jackson, e o single de apresentação é "Fat", inspirado no single de "Bad", e que acabaria por levar o Grammy para melhor vídeo conceptual nesse ano. Particularmente inspirado e contando com a habitual produção de Derringer, "Even Worse" chega a nº 27 do top de álbums da Billboard, e inclui paródias de temas como "Mony, Mony", de Billy Idol ("Alimony"), "I've Got My Mind Set on You", de George Harrison ("This Song is Six Words Long"), "I Think We're Alone Now", de Tiffany ("I Think I'm a Clone Now"), e ainda "La Bamba", de Los Lobos ("Lasagna"). Um tiro em cheio de "Weird Al", que fez maravilhas para a sua reputação.


Ainda em 1988 o cantor grava uma versão do conto infantil "Peter and the Wolf", com arranjos de Wendy Carlos, e sai a primeira compilação, "Greatest Hits". Sem dar tréguas, regressa em 1989 com "UHF – Original Motion Picture Soundtrack and Other Stuff", a banda sonora do filme em que faz o papel principal, e nunca esquecendo de satirizar os sucessos dos tops desse ano. Com um pouco de atraso, chega a rendição de "Money for Nothing", dos Dire Straits, na forma de uma paródia à série "Beverly Hillbillies". O próprio Mark Knopfler, guitarrista dos Straits, fez questão de tocar guitarra no tema de Yankovic. O filme foi pouco consensual entre os críticos, e o álbum, o último a ser produzido por Derringer, ficou longe de ser memorável.


"Weird Al" entrou pelos anos 90 já com uma respeitável legião de fãs, não só nos Estados Unidos como no resto do mundo, sempre ávidos do comentário social da parte do artista. Tudo foi correndo mais ou menos bem, com Yankovic a lançar um inevitável "Food Album", onde compilava os temas que falavam de comida, ou de alguma desordem alimentar, que vendo bem, são a maioria deles. O único incidente de nota terá sido em 1996, quando para o álbum "Bad Hair Day" é feita uma paródia de "Gangsta's Paradise", um tema da autoria do "rapper" Coolio para a banda sonora do filme "Dangerous Minds", e que ficou "Amish Paradise", com os muito seclusos judeus-amish como alvo. Contudo não foram estes que ficaram desagradados com Yankovic, mas o próprio Coolio, que alegou não ter dado autorização para que se fizesse a paródia, e que Yankovic "estragou a canção original". Por acaso eu penso o contrário, por diversos motivos, mas à cabeça podemos dizer que depois disto Yankovic somou e seguiu, e de Coolio nunca mais se ouviu falar.


E assim Yankovic prosseguiu a carreira até aos dias de hoje, com altos e baixos. Em 1998 fez uma cirurgia laser para corrigir a miopia, e deixou de usar os óculos que tinham sido uma das suas imagens de marca. Em 2004 os seus pais faleceram num acidente doméstico, inotxicados por uma fuga de gás, e nem por isso Yankovic cancelou o concerto que tinha programado para essa noite: "não há melhor forma de contrariar as adversidades do que fazendo os outros felizes", disse na altura. Sempre à procura do alvo ideal, nos últimos anos as "vítimas" têm sido muitas, desde Britney Spears a Eminem, passando por Avril Lavigne ou os últimos sucessos do "hip-hop" e do "R&B". A paródia mais recente foi este "Perform this Way", extraído da costela humorística de "Born this Way", de Lady Gaga - e lá podia a Lady Gaga ficar livre da colher de pau de Yankovic. Actualmente com 54 anos, 13 álbums de originais gravados, além de participações em filmes, vídeos no YouTube e outros projectos paralelos, este é um dos senhores "show business" por excelência. Dele disse o malogrado Kurt Cobain, aquando da paródia que Yankovic fez dos Nirvana: "se ele nos parodiou, quer dizer que somos famosos". Amen.

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