terça-feira, 22 de abril de 2014

Os sons dos 80: África nossa


Toda a música veio de África, assim como a própria espécie humana. Dos géneros que o continente negro influenciou, como a "soul", os "blues", o "raggae", o samba, o "jazz" e o próprio "rock'n'roll", ficaram as sonoridades de cada região daquele continente, que apesar da tumultuosa vertente política, foram evoluíndo, e dando-se a conhecer ao resto do mundo. Torna-se impossível falar de todos, ou de uma parte significativa deles, mas espero "entreter" um pouco que seja, apresentando algum do melhor que se foi fazendo na música africana contemporânea na década de 80. Espero que gostem e que me perdoem qualquer falta.


Miriam Makeba nasceu em 1932 em Joanesburgo, e aos 25 anos gravou o tema que a tornaria mundialmente famosa: "Pata Pata". A canção, que não tem data e foi entoada por todas as gerações que se seguiram é alegadamente um tipo de dança muito popular nos bairros negros da capital económica sul-africana, e foi especialmente popular durante o "apartheid". Makeba continuou a actuar até depois dos 70 anos, e viria a falecer aos 76 em Itália, após uma paragem cardíaca, quando participava em Novembro de 2008 de um festival em homenagem a Roberto Saviano, o jornalista napolitano que denunciou as actividades da Camorra na região da Campania. "Pata Pata", que significa "Toca Toca" no dialecto Xhosa, chegou a nº 12 da tabela de singles da Billboard em 1967.


Foi difícil escolher o representante lusófono neste artigo sobre música africana, mas penso que os Duo Ouro Negro são uma escolha consensual. Raúl Indipwo e Milo McMahon conhecem-se em Sá da Bandeira (actual Lobango) na província ultramarina de Angola, corria o ano de 1956, e formam um duo que interpreta música de popular de raíz africana, que os leva a viver entre Portugal e Angola, com concertos um pouco por todo o mundo, desde o Canadá à França, passando pelos Estados Unidos e Brasil. Como "agrupamento de bandeira" da multiculturalidade do império português, participam três vezes no Fesitival RTP da Canção, obtendo um 2º lugar em 1969. Do seu respeitável reportório destaca-se o tema "Vou Levar-te Comigo", talvez o seu mais conhecido. Este "Muamba, Banana e Cola", gravado nos anos 60, é aqui intepretado num prograna da RTP em 1984, um ano antes da morte de McMahon aos 45 anos, de edema pulmonar. O grupo terminou, mas Indipwo prosseguiu numa carreira a solo até 2006, data da sua morte, aos 73 anos.


O senegalês Youssou N'Dour é uma das maiores referências da música africana contemporânea, e um dos mais conhecidas fora do seu continente de origem. Muçulmano e sofista, manteve sempre residência na sua cidade-natal, Dakar, apesar das suas tournées o levarem aos quatro cantos do globo. Gravou com artistas como Peter Gabriel, Paul Simon ou Neneh Cherry, e é célebre a sua participação em eventos de benificência, em especial aqueles organizados pela Aministia Internacional - não é à toa que foi nomeado embaixador da boa vontade pela UNICEF. Vamos ficar com este tema, "Nelson Mandela", de um concerto realizado em 1985 no Estádio da Amizade, em Dakar, apelanso à libertação do líder histórico do ANC.


O egípcio Amr Diab é a "superstar" por excelência, e talvez o mais premiado cantor africano de sempre. Gravou 27 álbums de originais desde o início da sua carreira em 1983, quando tinha apenas 21 anos, e ganhou inúmeros prémios, incluíndo três galardões da World Music para "melhor artista em língua árabe". Cantor, actor e compositor, é provavelmente o cantor mais conhecido do médio oriente e do mundo árabe, e o seu último álbum, "Sucess of El Leila", de 2013, foi nº 1 no Egipto e em 7 países do golfo. Fica aqui um dos seus temas mais conhecidos, "Khalseen", do álbum de 1987 com o mesmo nome.


O guineense (da Guiné-Conakry, entenda-se) Mory Kanté tornou-se uma estrela no seu país de origem como cantor e sobretudo tocador de "kora", um instrumento tradicional de 21 cordas. Em 1987 saiu-lhe o "jakcpot" com este tema "Yé ké yé ké", do álbum "Akwaba Beach", que foi editado como single na Europa e chegou a nº 1 nos Países Baixos, a nº 2 na Alemanha e na Suíça, além de um respeitável nº 25 no top de singles do Reino Unido. Com tudo isto, tornou-se o primeiro músico africano a vender mais de um milhão de discos. A cantora de Hong Kong Priscilla Chan gravou no ano seguinte uma versão em cantonense de "Yé ké yé ké", e acreditem, é preciso ver para crer:




E vou terminar com o cantor maliano Salif Keita, que tem uma história curiosa. Descendente de realeza e albino de nascença, Keita nunca deveria ter sido cantor, por de acordo com o sistema de castas vigente no seu país, essa é a função de um "djeli", palavra que se pode traduzir em português para "servente", ou "criado". Contrariando o preconceito, tornou-se num dos maiores cantores de continente, chegando a ser apelidado de "A voz de ouro". Do seu reportório, que inclui música em francês, fica este "Nous Pas Bouger", do seu álbum "Ko-Yan", de 1989.

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