quarta-feira, 30 de abril de 2014

Maio à vista


E termina mais um mês aqui no Bairro do Oriente, com o autor já sediado no seu local de origem, e com muita vontade de continuar o projecto que teve início em Dezembro de 2007 - vai para sete anos, portanto. Como devem ter reparado, venho "acelarando" a rubrica "Os sons dos 80", e hoje dediquei três artigos aos artistas que faleceram durante aquela década tão importante para a música como a conhecemos actualmente. Isto porque a partir de amanhã vou dedicar todos os dias um artigo a cada ano dessa década, começando em 1980 e terminando em 1989, de modo a deixar o menos possível de fora - e é impossível falar de tudo. Assim no dia 11 de Maio termina esta rubrica, e no dia seguinte tem início uma nova, que terá o nome de "A caminho do Brasil" (título provisório), onde durante o período de exactamente um mês que antecede o mundial de futebol, vou (tentar) recordar alguns dos melhores momentos da história da competição mais importante de selecções do desporto-rei. Mais uma vez obrigado pela preferência, e pela paciência, e já agora espero que tenham sentido um pouco de nostalgia recordando os temas que fizeram os anos 80. Salut!

Os sons dos 80: In Memoriam (parte III)


Liberace (1919-1987): Władziu Valentino Liberace, ou simplesmente Liberace, nasceu em 1919 em West Allis, no estado norte-americano do Winsconsin, filho de pai italiano e mãe polaca. Á nascença morreu-lhe o irmão gémeo, e talvez a ausência dessa metade com quem partilhou a gestação tenha tido influência na sua personalidade, que para a generalidade continua um mistério, do qual o recente filme "Behind the Candelabra", com Michael Douglas a encarnar Liberace, apenas deu algumas luzes. Pianista clássico, cedo descobriu que o dinheiro estava no "showbiz", e adoptando um visual extravagante, usando e abusando dos adereços e rodeando-se de todos os luxos que podia, tornou-se naquilo que se pode chamar de "lounge act" - um tipo de entretenimento destinado a pessoas que já beberam um bocado e têm dinheiro a mais para gastar. Teve um "show" nos primórdios da televisão, corriam os anos cinquenta, gravou dez discos e escreveu várias obras de literatura, quer de prosa, quer de poesia, e era também actor. Negou sempre ser homossexual, e processava quem se atrevesse a insinuar tal coisa, mas disfarçava muito mal. Faleceu a 4 de Fevereiro de 1987 aos 67 anos de doença relacionada com o vírus da SIDA, que contraíu em 1985. Neste vídeo vêmo-lo num espectáculo em Las Vegas, em 1980, interpretando "I'll Be Seeing You", que é como quem diz, "a gente vê-se por aí". Talvez, sem dúvida, um dia, mas eu preferia não conhecer este senhor. Não é por nada, mas...brrr.


Zeca Afonso (1929-1987): José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, nascido em Aveiro, estudou em Coimbra onde se fez fadista. Com a família espalhada pelos quatro cantos do globo, desde Moçambique a Timor, as influências eram diversas, e não surpreende que Zeca Afonso se tenha tornado a maior referência da música popular portuguesa. Autor de temas inesquecíveis como "Grândola Vila Morena", "Venham Mais Cinco", "Os Vampiros", "Traz Outro Amigo Também", "Canto Moço", entre outras. Foi perseguido pelo regime de que era assumido opositor, foi uma das figuras de proa da cultura dos póas 25 de Abril, e viria a falecer em Setúbal no dia 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos, vítima da esclerose múltipla que lhe foi diagosticada 5 anos antes. Fiquemos com esta "Canção de Embalar", do último grande concerto de Zeca no Coliseu dos Recreios, em 1983.


Peter Tosh (1944-1987): Winston Hubert McIntosh, mais conhecido por Peter Tosh, foi membro do Wailers, a banda de Bob Marley, e o instrumentista por excelência da poesia do rei do "reggae". Após a morte de Marley, Tosh partiu para uma carreira a solo com relativo sucesso, e continuou a propagar a filosofia "rastafari", na senda do seu antigo companheiro. Em 11 de Setembro de 1987, de regresso à sua Jamaica natal depois de mais uma digressão, foi morto na sequência de um assalto à sua residência em Kingston. O líder do grupo que o assaltou era Dennis Loban, um homem com quem Tosh tinha feito amizade, e ajudou depois de ter saído da prisão. A sua morte aos 42 anos não teve o mesmo impacto da morte de Bob Marley seis anos antes, mas mesmo assim deixou um legado respeitável para os fãs do "reggae", "ska" e "rock steady". Recordemos Tosh nesta sua versão de "Johnny B. Goode", um clássico de Chuck Berry gravado para o álbum "Mama Africa", de 1983.


Divine (1945-1988): Divine era o nome artístico de Harris Glenn Milstead, um transformista norte-americano de Baltimore, Maryland, que se celebrizou em finais dos anos 60 e durante toda a década de 70 graças à colaboração com o realizador experimentalista John Waters. Em filmes como "Mondo Trasho", "Pink Flamingos" ou "Polyester", entre outros, Divine fazia números que poucos actores aceitariam fazer, por muito que lhes pagassem - e Waters nem tinha orçamento para grandes despesismos. Quando não estava a comer fezes ou a realizar actos de bestialidade com frangos ou perus, Divine também cantava, e gravou inclusivamente quatro álbums. O mais bem recebido foi "The Story so Far", de 1984, que incluía este "You Think You're a Man (but you're only a boy)", que chegou a nº 16 dos "charts" no Reino Unido - é preciso ver (e ouvir) para crer. A grande fraqueza do artista era a comida, e tinha um apetite que lhe chegou a fazer pesar 200 quilos, e a situação piorou a partir do momento em que se habituou ao consumo de marijuana, um vício que assumiu, e que lhe fez aumentar ainda mais a gula. O coração não resistiu, e Divine faleceria de cardiomegalia a 7 de Março de 1988, sofrendo um enfarte durante o sono. Tinha 42 anos.


Andy Gibb (1958-1988): Andrew "Andy" Roy Gibb era o mais novo dos quatro irmãos Gibb, sendo Barry, Robin e Maurice os nossos conhecidos Bee Gees. Andy só iniciou a sua carreira em finais dos anos 70, já depois dos irmãos terem facturado com a era da disco e de "Saturday Night Fever", mas apesar de ter optado por uma carreira a solo, teve bastante sucesso, conseguindo colocar três singles no 1º lugar do top da Billboard. Um deles foi este "Shadow Dancing", de 1978, do álbum com o mesmo nome. Depois do seu terceiro disco, em 1981, chegou o declínio, teve uma relação amorosa com Victoria Principal, estrela da série "Dallas", e começou a ter problemas com o consumo de cocaína. Apesar de ter feito vários tratamentos de desintoxicação e recebido sempre o apoio da família, o coração não resistiu aos anos de abuso da substância, causando-lhe um enfarte que lhe tiraria a vida a 10 de Março de 1988, apenas cinco dias depois de ter completado 30 anos.


Hilel Slovak (1962-1988): Nascido em Haifa, Israel, e conhecido pelo "cowboy israelita", Hilel Slovak foi o primeiro guitarrista do grupo californiano Red Hot Chili Peppers, e com eles gravou os álbums "Freaky Styley" (1985) e "The Uplift Mofo Party Plan" (1987). O uso de drogas duras era um problema recorrente na banda, e a 27 de Junho de 1988 Slovak seria a vítima nessa "roleta russa", ao ser encontrado sem vida pela polícia no seu apartamento em Hollywood Hills, Los Angeles. Os restantes membros do grupo, ainda no activo, consideram-no ainda hoje uma das suas maiores influências.


Nico (1938-1988): Christa Päffgen nasceu em Colónia, na Alemanha, e teve desde a infância um a vida complicada, com o seu pai a falecer num campo de concentração no término na II Guerra Mundial. Apesar das contrariedades, viria a tornar-se modelo e actriz, e nesta última função participou no filme "La Dolce Vita", de Fellini, em 1960. epois disto vai vivendo em vários países pela Europa fora, mantendo vários relacionamentos, e de um deles, com o actor francês Alain Delon, tem um filho, Ari. Durante uma temporada em Londres,conhece Andy Warhol, torna-se numa das suas "Warhol queens" e participa do documentário "Chelsea Girls",de 1966. Aproveitando a embalagem, no ano seguinte grava com os Velvet Underground de Lou Reed o mítico "The Velvet Underground & Nico", onde dá a voz a três faixas do álbum, uma delas este "Femme Fatale". Segue-se uma carreira a solo, sem grande sucesso, e em 18 de Julho de 1988, durante umas férias com o filho em Ibiza, Espanha, sofre um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta, é atingida na cabeça por um táxi, vindo a falecer, a três meses de completar os 50 anos. O seu filho Ari, de nome completo Christian Aaron Boulogne, é actualmente um conceituado fotógrafo de moda francês.


Carlos Paião (1957-1988): Nascido em Coimbra, foi para Lisboa estudar medicina, tendo concluído o curso em 1983, altura em que era já um celebrado cantor, letrista e compositor. Escreveu para Amália, e trabalhou para Herman José, estando por trás das figuras musicais de Tony Silva, Serafim Saudade e José Estebes - foram mais de 300 as canções com a sua assinatura. Representou Portugal no Festival da Eurovisão em Dublin no ano de 1981 obtendo um (injusto) penúltimo lugar com o tema "Playback". No mesmo ano obteve o devido reconhecimento com a canção "Pó de Arroz", provavelmente a mais conhecida do seu reportório. Em Agosto de 1988 ia a caminho de mais um concerto em Penalva do Castelo, quando o condutor do veículo onde seguia precisou de fazer uma manobra brusca, devido a um pedaço de mangueira que se encontrava no meio da estrada. O acidente provocou a morte a Paião e aos restantes passageiros. Desaparecido aos 30 anos, é considerado uma das maiores perdas da música ligeira portuguesa.


Roy Orbison (1936-1988): Roy Kelton Orbison nasceu no Texas, numa família onde o peso da genética levava a que as crianças sofressem todas de uma grave miopia - eram os "toupeiras" lá do sítio. Mas nem o facto de precisar de usar lentes correctivas grossas afectaram a confiança do jovem Roy, que foi aprender a cantar e a tocar guitarra, e em finais dos anos 50 tornou-se uma estrela do género "rockabilly" e "country/western". Primeiro com o seu grupo, os Traveling Wilburys,e mais tarde a solo, assinou temas que se tornariam imortais, como "Oh, Pretty Woman", "Only the Lonely", "Blue Bayou" ou "Crying", e era um sucesso, tanto com os meninos como com as meninas. No último caso, chegou a mesmo a ter problemas com a primeira esposa, que o acusava de ser muito "malandreco". Nos anos 70 veio a decadência, e Roy Orbison seria reabilitado em 1986 graças ao filme "Blue Velvet", de David Lynch. O retorno aos dias dourados e aos concertos levaram a um calendário sempre ocupado com concertos e viagens para o pobre Roy, e o coração disse "basta" em 6 de Dezembro de 1988, depois de ter batido durante 52 anos. O seu álbum "Mystery Girl", lançado postumamente, foi um tremendo êxito, e daí saíu este "You Got It".


Irving Berlin (1888-1989): e a década acabou com o desaparecimento de um dos maiores compositores americanos, Irving Berlin, que foi um caso sério de longevidade, vivendo 101 (cento e um) anos! Nascido em Mogilyon, no império russo (actualmente na Bielorússia) com o nome Israel Isidore Baline, no seio de uma família judaica, foi para a América com os pais ainda pequeno, e na imigração deram-lhe papéis com o seu novo nome, já "americanizado". Estudou música, na vertente clássica, e como compositor e instrumentista teve uma carreira que se estendeu por mais de sete décadas. São da sua autoria temas como "Always", "Blue Skies", "Puttin' On the Ritz", "Reaching for the Moon", "Cheek to Cheek", e talvez a mais célebre de todas, "White Christmas", que na voz de Bing Crosby foi "apenas" a canção mais vendida de todos os tempos. Foram centenas, senão milhares de canções da sua autoria. Aqui vemo-lo a interpretar "God Bless America" no Ed Sullivan Show em 1968, que muitos consideram o hino alternativo dos Estados Unidos. E isto de um homem que nem nasceu na América...

Os sons dos 80: In Memoriam (parte II)


Karen Carpenter (1950-1983): Os Carpenters foram um grupo formado em 1969 pelos irmãos Karen e Richard Carpenter, e que marcaram a música ligeira durante toda a década de 70, produzindo temas inesquecíveis como "We've Only Just Begun", "Yesterday Once More", "Top of the World", ou este "Close to You", entre muitos, muitos outros. Só que enquanto Richard ia conseguindo digerir o sucesso, a irmã Karen ia tendo muitos problemas, que se agravaram depois do seu casamento em 1980, com o empresário da construção Thomas James Burris. O casamento acabou 14 meses depois, pois a cantora, que queria muito ter filhos, descobriu que o companheiro tinha feito uma vasectomia, e começou a sofrer de anorexia nervosa. Depois de um tratamento em 1982, altura em que gravou mais um álbum com o irmão, teve uma recaída, e viria a falecer a 4 de Fevereiro de 1983, a menos de um mês de completar 33 anos, de insuficiência cardíaca. A sua morte serviu de exemplo para o tratamento de muitos distúrbios de ordem alimentar entre jovens das gerações seguintes.


Klaus Nomi (1944-1983): Klaus Sperber, conhecido pelo nome artístico de Klaus Nomi, era um contra-tenor alemão, conhecido pela sua extravagância em palco, e à teatralidade com que coloria os seus espectáculos. Nascido em Immenstadt, na Baviera, juntou-se à ópera de Berlim nos anos 60, ao mesmo tempo que actuava secreamente num clube "gay" da parte ocidental da cidade então divida entre o leste comunista e o oeste capitalista. Em inícios dos anos 70 viria para Nova Iorque, primeiro trabalhando como cantor lírico, e depois aproveitando a onda da "disco" e do "new wave" gravou alguns temas que viriam a ter algum sucesso comercial, entre os quais este "Total Eclipse", retirado do seu álbum de estreia, em 1981. Klaus Nomi viria a ser uma das primeiras personalidades do mundo do espectáculo a falecer de complicações derivadas do vírus da SIDA, a 6 de Agosto de 1983. Tinha 39 anos.


Jackie Wilson (1934-1984): Jack Leroy Wilson, Jr., ou Jackie Wilson, e também conhecido por "Mr. Excitment", foi um dos músicos mais importantes da transição do R&B para a "soul", e depois para o "rock'n'roll" como o conhecemos hoje. Nascido em Detroit, iniciou a carreira em finais dos anos 50, e o seu primeiro grande êxito foi exactamente este tema "Reet Petite" - mas já lá vamos. Durante a década de 60 foram sucessos atrás de sucessos, e uma agenda sempre sobrecarregada, que viria a ter o seu custo em 1975, onde durante um concerto de beneficência em New Jersey, Wilson perdia os sentidos em palco, após uma síncope cardíaca. Depois de quase 9 anos em coma, a família decidiu desligar-lhe o sistema de suporte de vida artificial em Janeiro de 1984, tinha o artista 49 anos. Em finais de 1986 foi reeditado o tema "Reet Petite", com um vídeo animado, e que valeu o 1º lugar no Natal desse ano, à frente de "Caravan of Love", dos Housemartins. Em Agosto do ano passado, Jackie Wilson passou a constar do R&B Hall of Fame em Cleveland, no Ohio.


Marvin Gaye (1939-1984): Marvin Pentz Gay, Jr., ou simplesmente Marvin Gaye, foi um cantor e compositor que tinha tudo; desde talento, um físico invejável e uma voz de ouro, foi um dos impulsionadores da Motown durante os anos 60 e 70, gravando 25 álbums entre 1961 e 1982, dos quais sairam 83 singles. Nesse ano de 82 conheceu um sucesso estrondoso com este "Sexual Healing", um tema bem ousado, que lhe valeu o nº 3 da Billboard, e o nº 4 no Reino Unido. No dia 1 de Abril de 1984, na véspera de comemorar o seu 45º aniversário, foi abatido a tiro pelo próprio pai, após um desentendimento familiar. E não, não foi mentira.


Matt Monro (1930-1985): Terence Edward Parsons, mais conhecido pelo nome artístico de Matt Monro, foi um daqueles cantores ingleses "à antiga". Iniciando a carreira nos anos 50, atingiu o auge em 1963, quando foi escolhido para interpretar o tema "From Russia With Love", do filme de James Bons com o mesmo nome. No ano seguinte foi o representante do Reino Unido no Festival da Eurovisão em Copenhaga, tendo terminado em 2º lugar com "I Love the Little Things", atrás da Itália, que levou a adolescente Gigliola Cinquetti e o seu "Non ho l'ettá". Depois disso continuou a gravar até aos anos 80, actuando em palcos dos quatro cantos do mundo, passando várias vezes pela Ásia já na fase final da sua carreira. Faleceu de cancro de fígado a 7 de Fevereiro de 1985, aos 54 anos.


Jeanine Deckers (1933-1985): Esta é uma história triste. Muito, mas mesmo muito triste. Jeanine Deckers era uma freira belga da ordem das Dominicanas com jeito para a música, e em 1963 conseguiu um feito fantástico, ao chegar ao nº 1 da Billboard norte-americana com o tema "Dominique", intrometendo-se entre quatro singles do "rei" Elvis. A humilde irmã Luc Gabrielle, como era conhecida, passou a chamar-se "Sœur Sourire", ou "irmã sorriso" no mundo francófono, e "Singing Nun", ou "freira cantora", no mercado anglo-saxónico. A fama não lhes fez lá muito bem, e em 1966 abandonou a igreja, vindo mais a tarde a adoptar posições antígonas ao catolicismo, chegando a apoiar o uso da pílula contraceptiva, só para dar um exemplo. Ah sim, e tornou-se lésbica, também, que é uma coisa muito pouco cristã, dizem. Já na meia-idade, passou por dificuldades de ordem financeira e teve problemas com o fisco belga, e por isso aceitou gravar em 1982 uma versão "disco" (?!) do seu sucesso de sempre, que vemos aqui, para mal dos nossos pecados. Ainda tentou dar aulas de canto e de religião, mas acabaria por colocar termo à própria vida juntamente com Annie Pécher, a sua companheira de dez anos, com uma overdose de barbitúricos, a 29 de Março de 1985. Tinha 51 anos.


Ricky Wilson (1953-1985): Ricky Wilson era guitarrista e um dos elementos que em 1976 fundou a banda de rock alternativo B52's, originários de Atenas, Geórgia, que não fica na Grécia nem na ex-república soviética, mas nos Estados Unidos, e foi também berço dos R.E.M.. Ricky e a irmã Cindy juntaram-se à vocalista Kathy Pierson e ao extravagante Fred Schneider e colocaram toda a gente a dançar, com êxitos como "Give me back my man", "Whammy Kiss" ou "Rock Lobster". A 12 de Outubro de 1985 viria a falecer de complicações da SIDA, de que tinha conhecimento estar infectado desde 1983. Tinha 32 anos.


Phil Lynott (1949-1986): Nascido na Irlanda, de mãe irlandesa e pai originário da Guiana Francesa, e de origem africana - o que explica a aparênica exótica - Phil Lynott foi durante os anos 70 o líder dos Thin Lizzy, grupo onde pontificava ainda o guitarrista Gary Moore. Com os Lizzy ficou até 1983 e gravou 12 álbums, de onde saíram temas memoráveis como "The Boys Are Back In Town", "Jailbreak", ou este "Whiskey in the Jar", um tema tradicional irlandês que Lynott e Moore transformam em magia pura. Já em 1984, com os problemas com o álcool e as drogas a agravarem-se, forma os Grand Slam, mas uma overdose de heroína mandava-o para o hospital de Wiltshire, em Salisbury, onde viria a falecer a 4 de Janeiro de 1986. Outra banda irlandesa, os Jape, gravariam em 2008 o tema "Phil Lynott", em sua homenagem, que chegaria a nº 1 da tabela de singles do seu país natal.


Cliff Burton (1962-1986): Os Metallica foram sem sombra de dúvidas um grupo revolucionário no panorama do "heavy-metal" dos anos 80, e o guitarrista Cliff Burton, natural de Castro Valley, Califórnia, um dos principais expeditores desse suecsso. Com a banda desde o início, ficou encarregado dos "riffs" nos três primeiros álbums, "Kill 'Em All", "Ride the Lightning", e "Master of Puppets". Na madrugada de 27 de Setembro de 1986, a banda fazia uma tourné pela Suécia, e nessa noite Burton apostou num jogo de cartas o lugar do vocalista James Hetfield no autocarro que os levava na digressão, que era no lugar ao lado do condutor, e por isso considerado o mais confortável. Burton ganhou o jogo com um ás de espadas, foi sentar-se na frente, mas a meio da noite o veículo saíu da estrada, e Burton foi atirado com violência pelo vidro, sofrendo morte imediata. Foi uma sorte ao jogo que terminou em grande azar para ele. Tinha apenas 24 anos.

Os sons dos 80: In Memoriam (parte I)


Os músicos, apesar de em muitos casos deixarem obra que possa ser considerada "imortal", também morrem, como qualquer um de nós. A década de oitenta foi profícua no desaparecimento de artistas dos mais diversos géneros musicais, ora por acidente, por homicídio, ou por doença. Alguns precocemente - a grande maioria, como seria de esperar - e outros porque havia chegado o seu tempo. Muitos deles deixaram saudades, alguns chegaram mesmo a adquirir o estatuto de mito, e ainda hoje são recordados. Bem-vindo à secção de obituário de "Os sons dos 80", que devido à sua extensão, é dividido em três partes. Gostaria ainda de lembrar que o cantor português António Variações e o brasileiro Cazuza, ambos falecidos nos anos 80, tiveram um "post" dedicado a eles nesta rubrica, pelo que não contam do (extenso) obituário que se segue.


Bon Scott (1946-1980): Ronald Belford Scott nasceu na Escócia, e aos cinco anos foi viver com os pais para a Austrália. Aos 18 anos entra no seu primeiro grupo, os The Specktors, e depois ainda passa pelos The Valentines e Fraternity antes de substituir Dave Evans como vocalista dos AC/DC, em 1974. Com o agrupamento dos irmãos Young obtem finalmente o sucesso que não alcançou noutros actos, e o último álbum em que participa, "Highway to Hell", de 1979, tornou-se um dos grande clássicos da história do "hard-rock". Em 19 de Fevereiro de 1980, quando já estava a gravar o próximo disco do grupo, passou a noite a beber num bar em Londres, e foi encontrado morto no seu Renault 5 no dia seguinte, aos 33 anos. A causa de morte oficial foi "envenamento por consume exagerado de álcool, mas existem outras teorias. Bryan Johnson viria a assumir as funções de vocalista dos AC/DC a partir dessa data, e até hoje.


Ian Curtis (1956-1980): Nascido em Stratford, Lancashire, no Reino Unido, a voz de barítono era o dom de Ian Kevin Curtis, e que serviu a banda de pós-punk Joy Division, onde era ainda o compositor e letrista. Ian sofreu de epilepsia em criança, e imitava os ataques que sofreu nas suas presenças em palco, recorrendo ainda à dança e à mímica, dando à sua música uma expressão corporal pouco comum para a época. Com os Joy Division gravou dois álbums: "Unknown Pleasures" (1979) e "Closer" (1980); canções que remetiam para a desolação,vazio e desespero, de onde ainda assim se salva este "Love Will Tear Us Apart", a mais emblemática das canções do grupo. Maníaco depressivo, enforcou-se na sua casa em Macclesfield, a 18 de Maio de 1980, aos 23 anos.


John Lennon (1940-1980): Foi no dia 7 de Dezembro de 1980 que um homem de nome Mark David Chapman pôs fim a uma lenda. Chapman tinha passado o dia em frente ao edifício Dakota, em Nova Iorque, lendo o livro "À Espera no Centeio", de J. D. Salinger, à espera de John Lennon. Quando este chega, ao final da tarde, Chapman pede-lhe para autografar o novo disco do cantor, "Double Fantasy", ao que Lennon acede. Mais tarde, perto das 11 da noite, Chapman avança novamente sobre o seu alvo e pergunta-lhe: "Você é John Lennon?". Antes que acabasse de responder, Chapman dispara quatro vezes sobre o seu peito, e volta a sentar-se no passeio, quando um transeunte lhe pergunta: "Sabes o que fizeste?", ao que ele responde "Sim...matei John Lennon". Sim, e de facto o antigo letrista, compositor e vocalista dos Beatles morreria vinte minutos depois no hospital Roosevelt, tendo perdido 80% do seu volume de sangue.


Bob Marley (1945-1981): O "rastaman" não devia ter morrido - e não morreu, no fundo. O cantor que tornou o "reggae" conhecido à escala mundial, que transmitiu uma mensagem de paz e de amor entre os povos, que nos deu hinos de fraternidade como "No Woman No Cry", "Is this Love" ou "Redemption Song" foi diagnosticado em Julho de 1977 com um tumor maligno no dedo do pé, e a única solução seria amputar esse dedo. Marley, por motivos sobretudo religiosos, recusou-se a fazê-lo, e batalhou contra a maleita, continuando a gravar canções a dar concertos até 11 de Maio de 1981, quando viria a falecer num hospital em Miami. O seu legado é enorme para os parcos 36 anos que partilhou connosco.


Harry Chapin (1942-1981): O cantor "folk" nova-iorquino que se celebrizou em 1974 com "Cat's in the Cradle", o seu único nº 1 na Billboard, teve uma morte deveras infeliz, aos 38 anos. Envolvido num acidente de automóvel a caminho de um concerto, seria retirado do veículo acidentado ainda com vida, vindo mais tarde a morrer no hospital. Chapin tinha a licença de condução suspensa devido ao seu envolvimento noutro acidente semanas antes, e segundo a sua filha, levava um estilo de vida desregrado, "comendo pouco, e dormindo ainda menos". Nos anos 90 a banda de "hard-rock" Ugly Kid Joe regravou "Cat's in the Cradle", com grande sucesso, chegando ao nº 6 da Billboard.


Elis Regina (1945-1982): Uma das maiores criativas da Música Popular Brasileira, Elis Regina deixou, e deixa, muitas saudades. Um dos gigantes do tropicalismo, com incursões pelo jazz, bossanova e a mais elementar "pop", Elis imortalizou na sua voz os temas "Águas de Março", de António Carlos Jobim, e "Romaria", de Renato Teixeira, que aqui temos o prazer de a ver interpretar ao vivo durante o intervalo do Festival RTP da Canção do ano de 1978. Elis tive uma vida complicada, começando a carreira cedo, aos 16 anos, e aos 25 casou com Ronaldo Bôscoli, e quem teve um filho, e mais tarde com César Camargo Mariano, com quem teve mais dois, sendo a mais jovem Maria Rita, também ela cantora. Foi perseguida pela ditadura militar, e teve problemas com as drogas e com a bebida, vindo a falecer aos 36 anos após uma mistura explosiva de álcool, cocaína e temazepam, uma espécie de ansíoltico. Deixou-nos cedo e com muito por fazer ainda, a "pimentinha", como era conhecida.


Randy Rhoads (1956-1982): Randy Rhoads era um exímio da guitarra, um predestinado, que depois de um início de carreira na banda "hard-rock" Quiet Riot, juntou-se a Ozzy Osbourne na sua carreira a solo, depois de ter saído dos Black Sabbath. Com o "Ozzman" gravou os álbums "Blizzard of Ozz" e "Diary of a Madman", e a química entre ambos era evidente, e muitos consideraram-na a melhor parceria do "hard-rock" ou do "heavy-metal" do início da década de 80. Essa parceria foi tragicamente encurtada a 19 de Março de 1982, quando Rhoads apanhou um avião privado que faria a ligação entre Orlando, na Florida, e Nova Iorque, onde daria mais um concerto com Ozzy, avião esse que se viria a despenhar, provocando a morte dos seus quatro tripulantes. Mais tarde após a realização das autópsias, viria a saber-se que o piloto teria consumido cocaína antes do vôo. Ozzy nunca esqueceu Rhoads, e em 1989 dedicou-lhe um álbum ao vivo em sua homenagem.


Muddy Waters (1915-1983): Muddy Waters foi um dos maiores nomes da música "blues" do século passado. Nascido no Mississippi - como convinha para o efeito - passou pelas "passas do Algarve" que qualquer músico negro, ou qualquer negro em geral passou durante os anos da segregação racial. Depois de muitos anos na oscuridade, gravou o primeiro álbum em 1958, aos 42 anos, e depois disso ganhou seis Grammys para melhor artista de música "folk" e tradicional. Um dos seus maiores êxitos foi este "Hoochie Coochie Man", originalmente gravado em 1954, e aqui interpretado ao lado dos Rolling Stones no Checkerboard Lounge, Chicago, em Novembro de 1981. Muddy Waters, que tinha como nome de baptismo McKinley Morganfield, faleceu a 30 de Abril de 1983 aos 70 anos - passam hoje 31 anos desde o seu desaparecimento.

O Terminal - versão Macau


Muitos dos leitores devem estar familiarizados com o filme "The Terminal", de Steven Spielberg e com Tom Hanks no papel principal, e que conta a história de um homem que fica retido no aeroporto de Nova Iorque, pois não lhe é permitida a entrada nos Estados Unidos, e regressar ao seu país também não é opção, devido a uma revolução em curso. O personagem deste filme é parcialmente inspirado em Mehran Karimi Nasseri, um iraniano que passou 17 anos no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, impedido de entrar em França e sem possibilidade de regressar ao Irão. Macau não é Nova Iorque ou Paris, nem o caso que vou contar a seguir é assim tão dramático, mas não deixa de ser curioso, e constitui mais um daqueles "mistérios" a que as nossas autoridades já nos têm habituado - infelizmente.

Suwarni é uma mulher indonésia que chegou em Macau há um mês como turista, mas foi-lhe negado o visto de permanência, por "razões desconhecidas". Sem dinheiro para regressar, algo que também nunca teve a intenção de fazer, tem permanecido no terminal no aeroporto da Taipa, onde dorme, come e faz todo o resto sem que ninguém lhe preste qualquer tipo de assistência. O vice-cônsul da Indonésia encontrou-se com Suwarni na última sexta-feira, altura que diz ter tido conhecimento da situação, e nem ele próprio sabe os motivos que levaram as autoridades a negar a entrada à sua compatriota.

Os cidadãos indonésios, bem como os da grande maioria dos outros países, não carecem da obtenção de visto prévio para entrar em Macau como turistas, nem lhes é exigida a apresentação de prova de como têm meios de subsistência, ou qualquer tipo de referência, como por exemplo onde planeiam ficar, ou quanto tempo vão permanecer - dentro do tempo do visto, óbvio, que normalmente é de 30 dias. Um responsável contactado pelo Macau Daily Times, que publicou hoje a notícia em exclusivo, diz que a razão do visto ter sido negado pode estar relacionado com a violação de uma proibição prévia de entrada no território, ou qualquer outra questão do foro legal ou laboral.

Suwarni tem feito a sua vida no aeroporto, onde segundo uma fonte que ali trabalha, "tem realizado pequenas tarefas" para pagar a alimentação e a acomodação, que têm custado à administração qualquer coisa como 800 patacas diárias. A mulher ficou alojada num quarto na zona do terminal de chegadas, insiste que não quer regressar ao seu país de origem, e o que mais deseja é "ver o San Ma Lou". A polícia diz que o caso "é da responsabilidade do aeroporto", pois encontra-se fora da sua jurisdição, e da parte da autoridade de aviação civil de Macau não foram feitos quaisquer comentários sobre o caso. Um mistério no Terminal de Macau; pequenino, mesmo assim, tal como a própria cidade e o seu aeroporto.

Racismo! Racismo em toda a parte!


Fujam, fujam! Chegou o racismo! Esqueçam a gripe aviária, qual dengue qual carapuça; o racismo está aí, e veio para ficar. É pior que o carbúnculo da lepra, o antraz que nos come por trás. Ainda hoje fui ao banco tratar da mudança da morada do cartão de crédito, e depois de ter esperado mais de meia hora disseram-me que precisava de preencher uma declaração e juntar um recibo da água e da electricidade para confirmar o novo endereço. Para quê? Porque sou branco??? E era capaz de jurar que antes de me atender o rapaz segredou com uma colega da mesa do lado aquilo que me pareceu ser um comentário anti-semita. Não sou judeu? Pois não, mas podia ser. Não está escrito na testa que não sou, pois não? De volta a casa vinha uma menina de dois ou três anos no elevador, acompanhada da mãe, e passou o tempo todo a olhar para mim. Senti de imediato os grilhões a apertar-me nos tornozelos, o chicote a bater-me nas costas, e desatei a cantar "When the saints go marching in". É preciso acabar com o racismo antes que o racismo acabe connosco. Onde não há racismo, invente-se um qualquer, e depois acabe-se com ele!


Depois do incidente com Dani Alves, jogador brasileiro e mestiço do Barcelona, foram várias as figuras públicas que aderiram à campanha inicialmente lançada no Twitter por Neymar, colega da vítima quer no clube catalão quer na selecção brasileira. Aqui vemos o uruguaio Luis Suárez, acompanhado do seu companheiro de equipa no Liverpool, o brasileiro Philippe Coutinho, a deliciarem-se com uma saborosa amarelinha. Pelo menos Suárez teve o bom gosto de criar outro grupo na rede social a que deu o nome de #somostodosiguales, que sempre é melhor que #somostodosmacacos. Como já aqui expliquei ontem, não posso simpatizar de todo com esta ideia; quer dizer, os hábitos de higiene e os rituais de acasalamento de cada um só a eles diz respeito, portanto o Neymar tem a liberdade de se auto-intitular do que quiser, mas eu não me sinto macaco q.b.. Lamento.


Também o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, aqui de banana na mão (literalmente) e o selecionador de futebol da "squadra azzurra", Cesare Prandelli, aderiram à campanha que pôs toda a gente a comer mais fruta. Daniel Alves, por seu lado, está a recuperar bem, dispensa cuidados médicos e não necessita de quarentena. O autor do horrível atentado, esse terrorista que faz das inocentes bananas paus de dinamite do ódio, foi identificado, purgado, banido, esconjurado até à sétima geração. No more bananas for you, mudafucka!


Aproveitando a onda, qual Mick Fanning do politicamente correcto, eis que o campeão olímpico do triplo-salto em Pequim 2008, Nélson Évora, vem à praça pública denunciar um caso de racismo que se passou com ele um dia destes. O atleta mais um grupo de amigos, num total de 16 pessoas, foram comemorar o seu aniversário na discoteca Urban Beach, em Lisboa, e alegam terem sido impedidos de entrar pelo porteiro, que se justificou dizendo que "existiam pretos a mais" no grupo. Um responsável do grupo que gere esta e outras discotecas diz ter sido feito um inquérito, e nega que tal incidente tenha ocorrido, e que Nélson Évora podia ter optado por apresentar queixa na polícia, ou registar o sucedido no livro de reclamações do estabelecimento. Sem querer estar a chamar mentiroso a Nélson Évora ou estar a branquear a atitude racista do porteiro, a confirmar-se a sua veracidade, lógico, não posso deixar de concordar com este ponto de vista. Assim dá-me a entender que subitamente atiram uma banana a um jogador de cor do Barcelona que dá início a uma campanha anti-racismo, e o Nélson Évora de repente lembra-se que "ah e tal pois é, no outro dia também me aconteceu assim uma coisa semelhante, há mais de dez dias, mas por acaso esqueci-me de contar", e toca a escarrapachar a história no Facebook. Nélson Évora acrescentou ainda que "mais de metade” do grupo era formado por atletas que representam Portugal internacionalmente, como Francis Obikwelu, Naide Gomes, Carla Tavares, Susana Costa e Rasul Dabó". E...? Se calhar o porteiro não segue atletismo, prefere voleibol, sei lá, mas para mim parece-me mais uma razão para denunciar o caso com um pouco mais de imediatez.


E na América, nos Estados Unidos, o país mais racista do planeta, o dono dos L.A. Clippers, um clube de basquetebol da NBA, meteu-se num sarilho do caraças. Don Sterling viu divulgada uma conversa privada com a sua amante, onde lhe dizia para "não se relacionar com pretos", ou "com tantos pretos", não tenho bem a certeza. Aqui as questões da devassa da vida privada ou do adultério saltaram todos pela janela com a chegada do factor racismo, elemento absorvente de qualquer argumento. A verdade é que em apenas dois dias o proprietário dos Clippers perdeu patrocínios, viu os seus próprios jogadores a entrarem em greve, foi banido da NBA e multado em 2,5 milhões de dólares, ou 20 milhões de patacas na nossa moeda. Uma nota preta, oops, perdão, uma nota "afro-americana", e tudo por causa de uma parvoíce que o homenzinho disse, como tanta gente diz todos os dias, porque como pessoas livres que somos, sabemos que não anda por aí ninguém a registar tudo o que nos sai da boca, para depois ser usado e abusado em segundas e até terceiras leituras. O próprio presidente Barack Obama, actualmente em périplo por alguns países asiáticos, condenou Sterling, dizendo "Quando ignorantes querem promover a sua ignorância, não há muito para fazer, só tens de os deixar falar... Foi isso que aconteceu ali". Muito bem dito, só que depois estraga tudo quando acrescenta: "Os Estados Unidos continuam a lutar contra um legado de racismo, de escravidão e segregação. Ainda lá estão os vestígios de discriminação. Fizemos enormes progressos, mas vamos sempre continuar a ver estas situações de vez em quando". Ai sim? Problema vosso pá. E eu com isso?


É assim meus amigos, não estou aqui com este discurso a querer dizer que "não faz mal" produzir comentários racistas ou discriminatórios de vez em quando, ou que é a mesma coisa que dar um sonoro e gasoso traque: fical mal mas alivia. O que eu entendo por "racismo" é muito mais do que meras palavras. Racismo é negar o acesso aos direitos fundamentais com que cada ser humano nasce, independente de ter nascido na América, na África, no Pólo Norte ou no Japão. Não estamos em guerra racial uns com os outros simplesmente porque um tontinho qualquer resolveu atirar uma banana a um atleta que é pago a peso de ouro para aturar esse tipo de coisas e muito mais. O próprio Dani Alves nem se queixou; comeu a banana e foi marcar o canto. O Neymar, que andava com sede de protagonismo, é que lançou este caos da fruta, a que todos aderiram como se tivesse ido a Fátima Lopes à televisão dizer que nesta Primavera-Verão a banana é uma coisa que se vai usar i-men-so. Fosse o Eto'o a ser "agredido" com a banana, por exemplo, e começava a choramingar, pedia para sair e ia até à loja de CDs mais próxima adquirir a discografia completa do Tupac Shakur. E isso é outra coisa que eu não entendo: porque é que cada vez que um branco faz comentários depreciativos sobre um negro ou um asiático ou outra criatura qualquer do arco-íris da humanidade é apontado como "racista", mas quando se dá o oposto chamam-lhe de "cultura"? Os tipos do "hip-hop" e do "gangsta rap" e do raio que os parta podem dizer as maiores barbaridades e vendem milhões de discos, que até os brancos compram - aqueles com mau gosto, entenda-se. Mesmo aqui na China, onde vivemos, somos tratados por "ngao chai" (rapaz-vaca), os homens, "ngao pou" (senhora-vaca), as mulheres, e "kwai-lou" (diabo branco) para ambos, e é "normal". Será isto devido aos séculos de predominância das potências europeias, portanto brancas, sobre estes povos? E que culpa tenho eu disto? A escravatura acabou há 150 anos, já não há ninguém para contar como foi, e mesmo a tal segregação racial, sendo recente, sem dúvida, é uma coisa do passado. Custa muito olhar para a frente e deixarmo-nos de merdas? Não tenho amigos racistas, não gosto de racistas e quero que os racistas vão todos levar na peida, mas não sinto que deva especial reverência a alguém só porque é diferente de mim, e por isso Ai Jesus que é melhor ter cuidado com o que digo, não vão eles levar a mal, e lá vou eu para o canto de castigo fazer companhia ao adepto do Villarreal, ao porteiro do Urban Beach e ao proprietário dos LA Clippers. Se pensam assim, aplica-se o mesmo que disse dos racistas, e levem uma bisnaga de KY que pode ser que ajude. Ah sim, e para terminar, há racistas de todas as cores, sabiam? Acreditem, é mesmo verdade. E enquanto for assim, podem comer quilos de bananas até vos dar uma diarreia de arrancar a tripa, que vai continuar tudo na mesma. Ui o racismo...será que existe uma vacina? Uma mezinha, vá lá, outra que não as bananas, que mais que uma por dia deixa-me enjoado.

Real chega à Luz em estilo


O Real Madrid reservou ontem a primeira vaga na final da Liga dos Campeões, que se realiza no dia 25 de Maio no Estádio da Luz, em Lisboa. Os "merengues" foram dar um banho de bola ao Bayern, goleando os campeões europeus em título por 4-0. Depois da derrota de 0-1 na primeira mão em Madrid, os alemães sabiam que era preciso arriscar, e do outro lado o Real tinha a consciência que marcando primeiro complicariam muito a tarefa ao seu adversário, que precisaria então de três golos para virar a eliminatória a seu favor. Frios como gelo, os espanhóis aproveitaram dois lances de bola parada aos 16 e aos 20 minutos para ficar com a questão praticamente resolvida. Primeiro num canto, e depois na sequência de um livre, foi o defesa Sergio Ramos a vestir a pele de herói, indo lá a cima apontar de cabeça os dois golos. Dúvidas restassem, Cristiano Ronaldo fazia o terceiro, numa jogada de puro contra-ataque: Di Maria lança Benzema, que a seguir isola Gareth Bale, que na cara de Manuel Neuer, oferece o golo ao CR7, completamente livre de oposição. Chegava o intervalo, e o Bayern iria precisar de cinco golos no segundo tempo, um tarefa épica. A verdade é que não conseguiram nem um para a mostra, e já em cima da hora Cristiano Ronaldo fazia o 4-0 na transformação de um livre, o seu segundo na partida e 16º nesta edição da Champions, o que constitui um novo recorde. O Bayern falha assim a revalidação do título, e Guardiola fica debaixo de fogo - depois da derrota em Madrid já Beckenbauer, um histórico dos bávaros, tinha criticado o treinador catalão. Quanto ao Real, vai para a sua 13ª final, e procura o décimo título.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Nós, os vivos


Jason Chao e Sulu Sou, conhecidos elementos da Associação Novo Macau (ANM), pediram em nome da associação que eles próprios criaram, a Open Macau Society (OMS), a utilização do espaço do Largo do Senado no próximo dia 4 de Junho, de forma a assinalar a passagem de mais um aniversário do massacre da Praça Tiananmen de 1989, quando o exército oprimiu com recurso a meios violentos uma manifestação de estudantes, que se tinham juntado mês e meio antes na principal praça da capital chinesa, exigindo do Partido Comunista Chinês reformas democráticas e uma maior abertura do regime. Como já é hábito, o "regime" de cá, o tal do "segundo sistema", recusou o pedido, alegando motivos diversos. O principal é o que já todos sabem: o espaço foi previamente reservado por outra associação, que mais uma vez comemorará num palco improvisado junto à Estação Central dos Correios e em frente ao edifício do IACM o Dia Mundial da Criança, com três dias de atraso.

Enquanto um grupo de crianças - inocentes criaturas, manipuladas e sem culpa nenhuma - vão ficar ali a dançar com a cara pintada, assemelhando-se ao rabo de um babuíno, para meia-dúzia de gatos pingados que muito provavelmente são pagos para ali estar meia hora a olhar para aquilo, alguns metros mais à frente, perto da Igreja de S. Domingos, vai-se realizar a vigília em memória dos jovens estudantes que pereceram em Tiananmen naquele fatídico dia, vai agora para 25 anos. Os responsáveis por este lamentável espectáculo vão quase de certeza estar em casa, refasteladas no sofá, ou na sauna com as "mui-muis", ou ainda num restaurante de luxo, a brindar a mais um trabalho bem feito no sentido de manter a curvatura descendente e oblíqua da espinha dorsal da populaça que por aqui se arrasta, nem morta, como os estudantes em Pequim há um quarto de século; nem viva, como as criancinhas que vão estar aos pulinhos no Largo do Senado; nem vivaça, como os espertalhões que vão mantendo esta paz podre a quem teimosamente chamamos de "harmonia". Mortos-vivos, zombies, sim somos nós, os alegadamente vivos desta cidade que se diz do "santo nome de Deus". E ainda querem que eu simpatize com Deus?

Sim, já sei que "é mesmo assim", e que "vem sendo assim", desde 1995. Portanto, nos dias seguintes aos eventos de 4 de Junho de 1989 na Praça Tiananmen e durante os primeiros cinco aniversários do massacre, foi permitido velar os mortos, e a partir daí "kaputz", acabou-se o que era doce, para a mulher do arroz-doce. Acabou-se a democracia em Macau. Estou a exagerar, é, senhor doutor? Então explique lá a este néscio e ignorante como funciona isso do "harmonia", ou da "paz social". É preciso compreender que o Largo do Senado é um local de comércio, oui, oui, uma autêntica Alexandria dos belos tempos, só que num dia de semana, e à noite. E o que vai ali de turistas, daqueles da República do Congo ou da Costa do Marfim que se encontram normalmente por aquelas bandas àquela hora? Não vá uma velinha da vigília ganhar perninhas e queimar-lhes a testa, coitadinhas. Ainda entornam a lata de cerveja de algum filipino e depois fica ali tudo molhado e pegajoso, já pensaram como era?

Perante tudo isto, como é que se podia permitir que esses vândalos que se auto-intitulam de "democratas" e de "patriotas" vão para ali durante quatro horas, com duzentas cadeiras descartáveis apresentar duas peças, fazer dois discursos e, imaginem só, exibir um filme! E isto tudo até às dez e meia da noite, horas indecentes para uma cidade que quer ir dormir cedo, para cedo erguer, e abrir o comércio, e tocar com a economia para a frente. Sim, sim, porque isto das ideologias é muito bonito, mas não enche a barriguinha a ninguém. Perguntem a este povo que lava no Rio Casino e restantes se preferem acender velinhas pelos meninos que se portaram mal e por isso levaram tau-tau, ou se querem ir fazer dinheirinho, que é bom a gente gosta. "Dinheirinho, claro!", respondem eles, enquanto se esforçam para erguer a espinha curvada, exibindo o sorriso amarelo, sem dentes, sem raça sem nada. Sem vida. Ai nós os vivos, se é que nos podemos chamar assim...

Capitão Cobarde


Dizem que os ratos são sempre os primeiros a abandonar o barco quando este se afunda, mas no caso do "ferry" que naufragou no último dia 16 ao largo da ilha de Jindou, na Coreia do Sul, o primeiro a fugir foi um "ratão". Imagens agora divulgadas pela Associated Press e recolhidas mostram o capitão do navio MV Sewol, Lee Jun-seok, a ser o primeiro socorrido pela equipa de salvamento, depois de ter ordenado aos passageiros que "permanecessem sentados", e entregue o leme a um imediato com apenas quatro meses de experiência. A equipa de socorro que chegou ao local do acidente algumas horas depois do sinistro disse desconhecer que aquele era o capitão no navio. De recordar que dos 496 passageiros, apenas 174 foram socorridos, e entre as mais de 300 vítimas encontravam-se estudantes que iam gozar as férias da Páscoa em Jindou. É sabido que em regra o capitão "afunda com o navio", mas neste caso como é que se diz em coreano: "f...-se, ala que se faz tarde"?

Os sons dos 80: "Weird Al" Yankovic


Alfred Matthew "Weird Al" Yankovic é um californiano de ascendência sérvia, como o próprio nome indica, mais conhecida pelas suas paródias de grandes sucessos do "rock" e da "pop". Yankovic era um "nerd", ou em português, um "marrão" quando era estudante, facto que nunca se incomodou em ocultar, e passava as tardes durante a adolescência a ouvir Elton John e Frank Zappa, e a divertir-se com os filmes dos Monty Python ou as paródias de Allan Sherman, um "Weird Al" dos anos 60 e 70. Aprendeu a tocar acordeão quando era novo, uma tradição familiar, e aos 16 anos mandou uma cassete com algumas gravações para o programa de rádio do conhecido Dr. Demento, que acabaria por o apadrinhar. A sua primeira paródia musical a ir para o ar foi "My Bologna", decalcado do êxito "My Sharona", dos The Knack, mas com uma letra muito mais sugestiva. Foi o início de uma longa carreira que vai para quase 40 anos a "picar" os grandes nomes da indústria discográfica - e com tanto ou mais sucesso que os originais, também.


A primeira aparição televisiva foi em 1980 no "The Tomorrow Show", apresentado por Tom Snyder, e onde Yankovic interpretou uma paródia de "Another One Bites the Dust", dos Queen, intitulada "Another One Rides the Bus". O sucesso foi imediato, e nunca mais aquele rapaz alto, de cabelo encaracolado e óculos quase até aos joelhos sairia do olhar do grande público, sempre ávido de saber o que ia ele fazer a seguir. Daí a um contrato discográfico, foi um pequeno passo. Algumas aparições televisivas depois, Yankovic assinava pela Rock 'n Roll Records, uma pequena editora independente que "arriscou" na novidade, e acertou em cheio.


O primeiro álbum, homónimo, saíu em 1983 e foi produzido pelo famoso guitarrista Rick Derringer, e continha as paródias de Yankovic dos três anos anteriores. As primeiras "vítimas" foram Toni Basil, que viu o seu "Mickey" tornado num "Ricky", com Yankovic a inspirar-se na série cómica dos anos 60 "I Love Lucy", Stevie Nicks, com o seu ""Stop Draggin' My Heart Around" a tornar-se "Stop Draggin' My Car Around", e ainda este "I Love Rocky Road", um hino aos sabores de gelados ao ritmo de "I Love Rock'n'Roll", de Joan Jett & the Blackhearts. Não podiam faltar no primeiro registo do humorista os seus primeiros clássicos, "My Bologna" e "Another One Rides the Bus".


Em Fevereiro de 1984 sai o segundo álbum, "Weird Al Yankovic in 3-D", novamente produzido por Derringer, e que incluí a primeira "homenagem" a Michael Jackson, com "Eat It", um paródia de "Beat It" (lógico). Aqui o sucesso foi tal que o single chegou a nº 1 no top da Austrália, algo que o original do "rei da pop" não tinha conseguido, foi nº 12 da Billboard e arrebatou em 1985 o Grammy para melhor trabalho de comédia. E o que pensou Jackson de tudo isto? Gostou, e achou "engraçado". Para quem tinha acabado de fazer o LP mais vendido da história, porque havia ele de se chatear? E depois disto, ficariam mesmo amigos próximos. Do segundo registo de Yankovic destaque ainda para "The Brady Bunch", que foi ao mesmo tempo uma paródia da série televisiva e do tema "Safety Dance", dos Men Without Hats, ou "Rye of the Kaiser", inspirado pelo tema de Rocky III, "Eye of the Tiger", dos Survivor. É aqui também que Yankovic faz pela primeira vez o seu "medley" de "polkas", inteligentemente intitulado "Polkas on 45", que abrangeu mais um grupo de artistas de sucesso nesse ano que "levaram com a moca" - no bom sentido, claro. Era fácil gostar das paródias do artista, que não ofendiam de todo.


Em 1985 sai o terceiro álbum, "Dare to be Stupid", com Derringer novamente encarregado do departamento da produção. O disco tem um single com o mesmo nome, um original de Yankovic, e foram muitos em praticamente todos os seus trabalhos. Mas o que o público estava mesmo à espera era da paródia da temporada, e desta vez as baterias ficaram apontadas para Madonna, que tinha sido a sensação de 1984 com "Like a Virgin". Assim "Like a Surgeon" é ao mesmo tempo uma brincadeira com a cantora, e uma espécie de crítica ao sistema norte-americano de saúde pública; mas isso era o menos importante, pois recordo-me deste ter sido o meu primeiro contacto com "Weird Al" e achei hilariante. Outros temas parodiados pelo artista foram "Girls Just Wanna Have Fun", de Cyndi Lauper, que ficou "Girls Just Wanna Have Lunch"; "I Want a New Drug", de Huey Lewis and the News, aqui transformado em "I Want a New Duck"; e "Lola", dos Kinks, que Yankovic aproveitou para exibir o seu lado "nerd" prestando um tributo à saga da Guerra das Estrelas, dando-lhe o título de "Yoda".


Em "Polka Party", de 1986, a quarta colaboração de Yankovic com Rick Derringer, o cantor "brinca" com um dos gigantes da "soul", James Brown, tornando o seu "Living in America" em "Living with a Hernia". Não sei o que terá dito o autor de "I Feel Good", mas terá sido qualquer como: "damn, ah! weeee...rivetin', wa, eh!". Outras paródias incluíram "Addicted to Love", de Robert Palmer ("Addicted to Spuds"), "Ruthless People", de Mick Jagger ("Toothless People"), entre outras. O álbum foi o menos bem sucedido de "Weird Al" na década de 80.


O regresso à forma dá-se em 1988 com "Even Worse", já de si um título inspirado em "Bad", o álbum de 1987 que marcou o retorno de Michael Jackson, e o single de apresentação é "Fat", inspirado no single de "Bad", e que acabaria por levar o Grammy para melhor vídeo conceptual nesse ano. Particularmente inspirado e contando com a habitual produção de Derringer, "Even Worse" chega a nº 27 do top de álbums da Billboard, e inclui paródias de temas como "Mony, Mony", de Billy Idol ("Alimony"), "I've Got My Mind Set on You", de George Harrison ("This Song is Six Words Long"), "I Think We're Alone Now", de Tiffany ("I Think I'm a Clone Now"), e ainda "La Bamba", de Los Lobos ("Lasagna"). Um tiro em cheio de "Weird Al", que fez maravilhas para a sua reputação.


Ainda em 1988 o cantor grava uma versão do conto infantil "Peter and the Wolf", com arranjos de Wendy Carlos, e sai a primeira compilação, "Greatest Hits". Sem dar tréguas, regressa em 1989 com "UHF – Original Motion Picture Soundtrack and Other Stuff", a banda sonora do filme em que faz o papel principal, e nunca esquecendo de satirizar os sucessos dos tops desse ano. Com um pouco de atraso, chega a rendição de "Money for Nothing", dos Dire Straits, na forma de uma paródia à série "Beverly Hillbillies". O próprio Mark Knopfler, guitarrista dos Straits, fez questão de tocar guitarra no tema de Yankovic. O filme foi pouco consensual entre os críticos, e o álbum, o último a ser produzido por Derringer, ficou longe de ser memorável.


"Weird Al" entrou pelos anos 90 já com uma respeitável legião de fãs, não só nos Estados Unidos como no resto do mundo, sempre ávidos do comentário social da parte do artista. Tudo foi correndo mais ou menos bem, com Yankovic a lançar um inevitável "Food Album", onde compilava os temas que falavam de comida, ou de alguma desordem alimentar, que vendo bem, são a maioria deles. O único incidente de nota terá sido em 1996, quando para o álbum "Bad Hair Day" é feita uma paródia de "Gangsta's Paradise", um tema da autoria do "rapper" Coolio para a banda sonora do filme "Dangerous Minds", e que ficou "Amish Paradise", com os muito seclusos judeus-amish como alvo. Contudo não foram estes que ficaram desagradados com Yankovic, mas o próprio Coolio, que alegou não ter dado autorização para que se fizesse a paródia, e que Yankovic "estragou a canção original". Por acaso eu penso o contrário, por diversos motivos, mas à cabeça podemos dizer que depois disto Yankovic somou e seguiu, e de Coolio nunca mais se ouviu falar.


E assim Yankovic prosseguiu a carreira até aos dias de hoje, com altos e baixos. Em 1998 fez uma cirurgia laser para corrigir a miopia, e deixou de usar os óculos que tinham sido uma das suas imagens de marca. Em 2004 os seus pais faleceram num acidente doméstico, inotxicados por uma fuga de gás, e nem por isso Yankovic cancelou o concerto que tinha programado para essa noite: "não há melhor forma de contrariar as adversidades do que fazendo os outros felizes", disse na altura. Sempre à procura do alvo ideal, nos últimos anos as "vítimas" têm sido muitas, desde Britney Spears a Eminem, passando por Avril Lavigne ou os últimos sucessos do "hip-hop" e do "R&B". A paródia mais recente foi este "Perform this Way", extraído da costela humorística de "Born this Way", de Lady Gaga - e lá podia a Lady Gaga ficar livre da colher de pau de Yankovic. Actualmente com 54 anos, 13 álbums de originais gravados, além de participações em filmes, vídeos no YouTube e outros projectos paralelos, este é um dos senhores "show business" por excelência. Dele disse o malogrado Kurt Cobain, aquando da paródia que Yankovic fez dos Nirvana: "se ele nos parodiou, quer dizer que somos famosos". Amen.

Os sons dos 80: "one-hit wonders"


Musicalmente falando, diz-se que é uma "one-hit wonder" um artista ou grupo que obtém sucesso com um único tema e a partir daí não consegue fazer mais nada digno de nota. Foram tantos os "marinheiros de uma viagem" nos anos 80 que se tornaria um exercício fútil nomear aqui todos - ou metade deles. Mesmo assim consegui fazer um pequeno "pot-pourri" de alguns a quem gostariamos de perguntar hoje: "olha lá, só aquilo, mais nada?".


"Oh Mickey you're so fine, you're so fine you blow my mind, hey Mickey!". Certamente que já ouviram isto em qualquer lado não foi? De facto, trata-se de "Mickey", um single da autoria de Toni Basil, que foi nº 1 da Billboard, bem como dos tops da Austrália e do Canadá, e nº 2 no Reino Unido - nada mau, tendo em conta que os arrogantes britânicos certamente desprezariam esta coreografia de "cheerleader". Mas dwe bimba esta Toni Basil não tinha nada, até porque à altura do lançamento deste single, em 1982, tinha já a respeitável idade de 37 anos. Actriz desde os anos 60, tendo participado inclusivamente no aclamado "Easy Rider" (1969), entrou noutros filmes e séries de TV depois disto. Digamos que a música foi uma das suas "aventuras", e pelo menos ficou com uma para cantar (e contar) aos netos.


"Come on Eileen", dos Dexys Midnight Runners, foi simplesmente o disco mais vendido de 1982, e é tido como o exemplo supremos dos "one-hit wonders". É que o grupo de Birmingham conseguiu o nº 1 dos tops do Reino Unido e da Billboard, bem de como muitos outros países, e depois continuou a tentar. E a tentar...e a tentar...mas do limão não saiu mais nenhum sumo, até que desistiram em 1986. No entanto voltaram a reunir-se em 2003, e vão dando uns concertos por aí para fazer umas massas, que a vida está difícil para todos. E até sou capaz de adivinhar com que canção iniciam e terminam esses concertos.


Francamente não sei o que estavam a pensar as pessoas em inícios de 1983, atendendo ao sucesso deste "Safety Dance", dos canadianos Men Without Hats - e isso lá é nome que se dê a uma banda. A verdade é que esta momice suportada por um vídeo que recria uma daquelas feiras medievais da treta foi nº 3 da Billboard e nº 6 no top de singles do Reino Unido, e espalhou-se como o sarampo: nº 3 na Noruega, Irlanda e Suécia, nº 2 na Alemanha e Nova Zelândia, e na África do Sul atingiu-se o clímax da paspalhice, com o tema a chegar a nº 1. Dos "homens sem chapéus" nunca mais se ouviu falar depois disto, e ainda bem. Não sei se o mundo ia aguentar outra igual a esta.


Este quase que dá pena, não fosse pelo facto de ser tão foleirote, coitadito. Limahl, nome artístico de Christopher Hamill, gozou de algum sucesso no início dos anos 80 como vocalista dos Kajagoogoo, e seguiu para uma carreira a solo que atingiu o pique com "The Never Ending Story", tema composto por Giorgio Moroder para a banda sonora do filme juvenil com o mesmo nome. Com este single Limahl foi nº 4 na tabela de singles do Reino Unido, nº 17 da Billboard, mas chegou ao topo dos "charts" em alguns países europeus. Depois eclipsou-se, e no início dos anos 2000 chegou a ser visto na fila de agências de emprego. Mais tarde foi reabilitado por alguns nostálgicos dos anos 80, que se calhar queriam comparar o seu aspecto actual com aquela figura de menina que ostenta neste vídeo. Um docinho, o rapaz.


Aqui o problema não foi tanto o quê, mas como. A banda alemã Nena (sim, a banda chama-se Nena, a cantora é Gabriele Kerner) conseguiu em 1982 um êxito arrasador com "Neunundneunzig Luftballons", ou "99 balões vermelhos", um hino anti-nuclear, que apesar de ser cantado em alemão chegou a nº 2 da Billboard norte-americana (só dois anos mais tarde um tema em língua alemã chegaria a nº 1: "Rock me Amadeus", de Falco). No ano seguinte lançaram uma versão em inglês, "99 Red Balloons", para abranger um mercado mais vasto, e foram nº 1 no Reino Unido. Os britânicos deviam estar a ser sarcásticos, pois além de ser conhecida a sua pouca simpatia pelos alemães em geral, a Gabriele disfarrrça muito mal a prrronúncia alemã, ja? Depois disso muito se esperou dos Nena, sem que mais nada de semelhante tivesse surgido. Se calhar deviam ter ficado pelo alemão.


Os Dead or Alive eram uma banda britânica de New Wave que ficaram conhecido por este "You Spin Me Round (Like a Record)", primeiro em 1985, e depois outra vez em 2003 e em 2006. Da primeira vez, e vai para 30 anos, foram nº 1 no Reino Unido, Suíça, Canadá e Irlanda, em 2003 a reedição do single passou quase despercebida, e em 2006 voltou em força, com um nº 5 no top britânico, e tudo graças à visibilidade do seu vocalista Pete Burns, que participou no "Celebrity Big Brother", um "reality-show" reservado aos famosos - lá famoso ele ficou. Conhecido pelas inúmeras cirurgias estéticas que o deixaram com este aspecto, Burns é abertamente homossexual, apoiante das muitas causas daí derivadas, e uma vez acusou Boy George de ter "copiado a sua imagem". Ah, claro, e dos Dead or Alive, este tema é o que há, e pouco mais digno de registo.


Os T'Pau são uma banda inglesa que gozou de alguma popularidade na recta final dos anos 80, e voltou depois a regrupar-se em 1998, mantendo-se até hoje, se bem que despercebida. A sua líder e vocalista Carol Decker foi buscar o nome do grupo a um personagem da série de ficção científica "Star Trek", mais exactamente a um dos ansiãos do planeta Vulcano. O único grande êxito dos T'Pau foi "China in your Hand", nº 1 no Reino Unido, Bélgica, Noruega, Suécia e Países Baixos, e depois disso nem um top-10 para a amostra.


Finalmente este fenómeno que surpreendeu tudo e todos em 1988: Bobby McFerrin e "Don't Worry, be Happy", que foi nº 2 no Reino Unido, nº 1 na Billboard e muitos outros países. McFerrin, mais que um cantor, é condutor de orquestra, e à conta disso já ganhou 10 Grammy. Para este tema inspirou-se numa frase originalmente cunhada por Meher Baba, um "guru" indiano muito conhecido nos anos 60, e a particularidade mais interessante é não fazer uso de quaisquer instrumentos, usando apenas a voz. O músico (?) português Fernando Girão alega ter tido uma ideia semelhante antes de McFerrin, mas que na altura o chamaram de "maluco" - e tinham razão. Neste vídeo conseguimos reconhecer o actor Robin Williams a fazer algumas das suas habituais macacadas.

O racismo não tem caroço


É um dos temas mais discutidos após o último fim-de-semana desportivo em Espanha. No Domingo, durante a recepção do Villarreal ao Barcelona no El Madrigal, um adepto da equipa da casa atirou uma banana ao jogador brasileiro Dani Alves, que representa as cores da equipa visitante. Por falar em cores, parece que este acto de atirar um peça de fruta a um jogador negro ou mestiço é considerado uma acto de racismo. Agora a pergunta sacramental: porquê? Aparentemente a mensagem que se está a passar através desta acção é que o jogador em causa, neste caso particular Dani Alves, assemelha-se a um símio, vulgo macaco, e portanto apreciaria que lhe atirassem uma banana. A verdade é que Dani Alves, provavelmente sentido os seus níveis de potássio em baixo, agradeceu a oferta e comeu a banana. Entretanto os responsáveis do Villarreal identificaram o adepto em questão, e garantiram que seria banido dos jogos da equipa que se realizarem no El Madrigal - se for nos jogos fora e ele quiser levar consigo um cacho de bananas, o Villarreal não se responsabiliza.


Pronto, não vou discutir se o adepto do Villarreal teve ou não uma atitude racista com o atleta Dani Alves, mas o que eu duvido muito é que o adepto seja racista por natureza. Senão vejamos, olhando para o plantel do Villarreal, é possível observar alguns jogadores da mesma categoria genética de Dani Alves, como são os casos do brasileiro Gabriel Paulista, do mexicano Javier Aquino, ou ainda de Giovanni dos Santos, que é as duas coisas: mexicano e brasileiro. Na linha avançada temos ainda o nigeriano Ikechukwu Uche, e este só pelo nome já daria para atirar uma bananeira inteira, na putativa proporção do acto "atirar uma banana=racismo". Caso fosse este adepto um racista militante, um defensor da pureza da raça ariana, um mini-Hitler de trazer por casa, e certamente nem punha os pés no El Madrigal para assistir aos jogos. E não estou em crer que vá ali para atirar bananas ao Giovanni, ao Aquino ou ao Paulista, se bem que este último até merecia, pois marcou um autogolo. Do Ikechukwu então é melhor nem falar; atirava-lhe com bananas, amendoins e ainda se montava nas suas costas para lhe catar e comer os piolhos - isto seguindo a tal tabela do racismo, entenda-se.




Entretanto no Brasil, a coisa foi levada muito a sério, um assunto de estado, e até a presidente Dilma Rousseff se diz "chocada" com o incidente - já o "mensalão", pronto, é menos grave, enfim. O também futebolista Neymar, colega de Dani Alves no Barcelona, foi ao ponto de criar um canakl na rede social Twitter onde apela a personalidades dos mais variados quadrantes a demonstrar a solidariedade com esta "causa", e assim vemos o próprio Neymar, Michel Teló e a apresentadora Ana Maria Braga comendo ou segurando em bananas, e assim tornando este mundo um melhor lugar para se viver, livre de racismo e preconceito (?). Agora vejam bem que nome o Neymar foi dar ao canal do Twitter: #somostodosmacacos. O quê? Quer dizer, fala por ti, ó Neymar. Eu gosto de comer bananas, e ainda esta manhã fiz um batido de banana, mas não o fui beber para cima de uma árvore enquanto coçava o meu rabo vermelho. Vamos lá ver, eu até entendia se o DanI Alves tivesse sido agredido com uma facada, uma pedra, uma moeda, sei lá, qualquer coisa de pesado ou contundente, mas...uma banana? Que ainda por cima comeu? Não entendi...


Ah esperem lá, agora sim, já entendi. O MC Bola, um popular "funkeiro" (?) ajudou a explicar. É racismo sim senhora, e a indignação é completamente justificada. Enforquem já esse sacrista desse adepto do Villarreal! Abaixo as bananas do ódio!

Prima da Maria e do Zé


Esta chalupa, perdão, esta senhora chama-se Mary Beth Webb, e vive em Murrysville, Pensilvânia, Estados Unidos. Mary, curiosa sobre as suas origens, andou a pesquisar os seus ancestrais, e chegou a uma conclusão extraordinária: é 64ª bisneta de São José de Arimateia, e portanto "prima da Virgem Maria" - não sou religioso, mas penso que existe um "furo" qualquer nesta alegação. Bom, a verdade é que a senhora foi por ali fora, e chegou a este resultado, e mais longe tivesse ido, e ia descobrir para seu espanto que é descendente em linha directa de Adão e Eva. Mas para que não restem dúvidas sobre a sanidade de Mary, saiba-se que outro dos seus "hobbies" é "falar com os mortos", dom que descobriu após a morte do seu irmão em 1999, vítima de cancro. Os dois conversam, conversam, conversam, e sendo irmãos devem ter imenso para dizer um ao outro, de facto. Uma das suas conversas predilectas é de como o irmão "chegou ao Céu", e Mary garante que tem todos os detalhes dessa "passagem". Ah sim, e também fala com os pais, claros, ambos falecidos. Isto agora desde que o Céu aderiu ao Skype, tem sido uma maravilha. Entretanto esta mui dotada rapariga comunicou a sua descendência ao "site" Ancestry.com, uma espécie de arquivo das ascendências, e de lá disseram-lhe simplesmente que "deve ter cometido um erro algures durante o processo". Sim, ao que parece Gengis Khan queimou alguns assentos de nascimento, enquanto outros foram perdidos durante um naufrágio de um dos barcos viking. Falando por mim, preferia provar que era bisneto de algum dos Rockefeller, ou dos Champalimaud, ou até quem sabe de Camões (imaginem o que era em direitos de autor). Agora de um pobretanas de um carpinteiro...pfff!

Simon says...


Paul Simon e a esposa Edie Brickell foram detidos este fim-de-semana no Connecticut, Estados Unidos, por terem andado ao estalo um ao outro. A polícia diz ter recebido uma chamada anónima reportando um caso de violência doméstica, e foi buscar o casal à sua casa na pequena localidade de New Canaan. Segundo o relatório policial ambos apresentavam "leves escoriações". Simon e Brickell foram apresentados a um juíz, estavam de mão dada, e dizem que "tudo não passou de um mal-entendido" - um daqueles que por acaso terminou à porrada, portanto. O juíz não decretou nenhuma medida restritiva, mas quer que o casal se volte a apresentar em tribunal no dia 16 de Maio. Só para ver se estão os dois vivos e de saúde, e já agora, se possível, pedir um autógrafo.

Queria o mesmo que aquela senhora, s.f.f.


Um vídeo que está a correr as redes sociais: uma mulher na América (onde mais?) foi internada porque continuou a ter orgasmos durante duas horas após ter tido relações sexuais, e o "festival" prosseguiu no hospital, mesmo enquanto estava a ser entrevistada. As opiniões dividem-se sobre as razões deste estranho fenómeno; há quem diga que o tipo que a "papou" deve ser de uma competência a toda a prova, há quem pense que a senhora é histérica, e há ainda quem ache que isto é tudo fita - se bem que neste último caso fica difícil entender porquê. Se por acaso foi alguma coisa que ela comeu, de certeza que muitas senhoras vão querer saber o que foi. Para evitar, claro, ahem, o "embaraço". Pensavam o quê?

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O proble Madas Síla Bas





Um dospro Blemas que encon Tramos naslojaschi Nesas é o da Sepa Raç ão dassílabas. Com oa sono Rização dos Cara Cte Res chine Ses não tem maisdetrêssí Labas, nor Malmente, fi Cacomplicado aoschi Neses iden Tificarasno Ssas síl Abas, e porve Zes ore Sultado é hila Ri An Te, oucon Fu socomo nes Tecaso. Os exem Plos aquiexi Bi Dos sã o de Est Abele Cimeto de Comioas, de uma Associação Geraldos Idosos, ou de Fo Mento predialmas há por aí mui Tos outros. Ésó pro Curar. Bo Asorte!

Depilações


- E hoje regressa a nossa rubrica de opinião "Depilações", e temos em estúdio o director do "Bairro do Oriente", Leocardo. Boa noite Leocardo, o IACM não autorizou a utilização do Largo do Senado para a habitual demonstração do 4 de Junho, que assinala o aniversário do Massacre da Praça Tiananmen...

- Boa noite, Borges Rivas. De facto assim é, mas não sei onde está a novidade, pois ali nunca se assinalou Massacre de Tiananmen nenhum, é mentira, eu estava lá e não vi.

- Mas todos os anos se assinala ali a data...quer dizer, a vigília, os cartazes, a exposição de fotografias e recortes de jornais...

- Pois é, Borges Rivas, mas isso não é o Largo do Senado, 'tás a ver? E mais ali para os lados da Igreja de S. Domingos, que não tem nada, mas mesmo nada a ver. No Largo do Senado normalmente o espaço é ocupado nesse dia por outras actividades de interesse público, como as comemorações tardias do Dia da Criança ou a exibição de um qualquer grupo de ginástica vinda lá dos confins da China. E depois estou lá uns velhotes a assistir, de livre vontade, e tal, e nem lhes pagam um jantar ou lhes dão um "lai-si" para sentarem ali a peida engelhada. Macau é harmonia, Borges Rivas.

- E quanto ao 1 de Maio? Prevê-se um feriado agitado, com operários e democratas a virem para a rua.

- Sim, exacto, e este ano também os "croupiers". Eu penso que isto é importante, pois caso os manifestantes militantes se sintam aborrecidos, os "croupiers" podem lançar-lhes umas cartas ou atirar uns dados para eles se entreterem...isto contando que não fumem, claro.

- Muito bem. E quanto à lei que atribui compensações a detentores de cargos públicos que saem para o sector privado, e a que Pereira Coutinho e o seu número dois Leong Weng Chai se opõem?

- Olha, Borges Rivas, esta lei só peca por tardia. Quer dizer, os tipos, que são qualificados como o caraças vão para ali, servir o interesse público, sacar o seu das fundações e receber as duas mil rufas da presença em reuniões ao mesmo tempo que arrancam a pele do saco escrotal de tanto o coçar de não fazer nada, e no fim são lançados para o mercado, onde têm que aprender a viver do seu trabalho, cumprir horários e coiso e tal, e sem qualquer tipo de compensação??? Não pode ser!

- De facto não pode ser, Leocardo. Obrigado e até à próxima.

- Obrigado eu, Borges Rivas, e viva o Benfica!

- Erm, pois, está bem.

Os sons dos 80: Dig That Groove Baby


Hoje completo a quadrologia de álbuns de marcaram a década de 80, mesmo que dos artistas que os gravaram não tenha sido feito mais nada merecedor de grande destaque. Depois de "Brothers in Arms", dos Dire Straits, "Born in the USA", de Bruce Springsteen e "Appetite for Destruction", dos Guns'n'Roses, é com grande prazer que hoje falo de "Dig That Groove Baby", o álbum de estreia dos Toy Dolls, datado de 1983. Os Toy Dolls são uma banda de Sunderland, Inglaterra, formada em 1979 por Michael "Olga" Algar (voz, guitarra), Phillip "Flip" Dugdale (baixo) e Robert "Happy Bob" Kent (bateria). A banda tocava (e toca, acho) música que se pode inserir num sub-género do "punk" designado por "oi!", que está normalmente associado a "skinheads" e jovens da classe média urbana, mas com uma temática que apela à amizade e ao entendimento. Se podemos dizer que há grupos que acertam à primeira e depois ficam longe do alvo, esta é uma delas - "Dig That Groove Baby" é um disco fantástico, que se ouve do princípio ao fim com prazer, e sem ter a tentação de passar à frente qualquer uma das suas doze faixas. Vamos falar de algumas delas.


"Dig That Groove Baby" é o tema que dá nome ao disco, pode-se traduzir por qualquer coisa como "Entra nessa cena, filha". Os Dolls falam aqui do espírito do fim-de-semana, da sexta-feira à noite, com a malta a tomar um banho mais demorado, a vestir os casacos de ganga e de cabedal, calçar as botas e ir assistir a um bom concerto de "oi!" antes de ir para o "pub" e tentar a sorte com as garinas - isto é, se alguém já um pouco mais bebido não der início a uma cena de pancadaria. Enfim, um cenário típico de uma qualquer noite britânica.


A segunda faixa é "Dougy Giro", dedicada a um tipo que tem provavelmente o mesmo nome, e é amigo dos gajos da banda. Este Dougy não tem casa, dorme onde calha, debaixo da ponte, coberto de cartões, nunca muda de roupa mas mesmo assim "sorri e é feliz". Em suma, é um indigente e um sem-abrigo, que muito possivelmente padece de doença mental, ou sofre da dependência de substâncias, ou de alcoolismo. Ou tudo isto junto...


Agora imaginem que se estão a vestir para mais uma noite de paródia, e encontram uma aranha no armário. Por muito que tentem esmagar a peste, esta, matreira, vai fugindo, e como uma aranha é coisa com que não se partilha um quarto, a noite promete, e será completamente dedicada à caça da patuda. Esta é a temática da terceira faixa, "Spiders in the Dressing Room", um tema cheio de "speed", muito ao jeito do "oi!".


Portanto isto é assim: a Glenda andava deprimida, pois o seu namorado, o Kevin, andava a arrastar a asa para uma tal Carol Sands. Como todas as mulheres pensam a solução para endireitar uma relação é ter um filho, e Glenda não era diferente, resolve então engravidar. Depois de várias tentativas, ouve do médico que não pode ser mãe, o que a deixa ainda mais triste, e então começa a ler um livro onde fica a saber que agora (estamos em 1983, recordo) é possível ter um bebé-proveta. Tudo piora quando o pai de Glenda morre, e é então que ela se decide a inscrever-se para ter um bebé proveta, à revelia do Kevin, que não sabe de nada e anda mais entretido com o seu namorico, a Carol Sands. É disto que nos fala a quinta faixa do álbum, "Glenda and the test tube baby", que termina com o clássico: "I will have a baby, Kevin...I'll have a test tube baby!".


A quinta faixa é "Up The Garden Path", e a seguir vem "Nellie the Elephant", talvez o tema mais conhecido dos Toy Dolls. Originalmente uma canção infantil, lançada em 1956 e co(a)ntada pela actriz Mandy Miller, os Dolls dão-lhe aqui o tratamento "punk", que lhes vale um surpreendente 4º lugar na tabela de singles do Reino Unido. Nellie é uma elefanta que veio da India, pula a cerca do circo e foge em liberdade, nunca mais sendo vista. Ouvi dizer que foi para a Alemanha e anos depois tornou-se chanceler. Fim.


Era uma maravilha colocar aqui todos os vídeos das canções do álbum, mas infelizmente isso tornaria o "post" demasiado comprido, pelo que passamos os temas "Poor Davey", "Stay Mellow", "Queen Alexandra Road Is Where She Said She'd Be, But Was She There To Meet Me... No Chance" e "Worse Things Happen At Sea" e chegamos às duas últimas faixas. A penúltima é uma versão muito própria de "Blue Suede Shoes", um clássico dos inícios do "rock'n'roll", a quem os Dolls dão um novo "elan" - a pedido de várias famílias, é claro.


E para terminar, a última faixa do disco, "Fiery Jack", que é o nome de um produto para aliviar as dores reumáticas e das articulações - como a banda aliás faz questão de mencionar, dizendo que "se acordarem com dores nas costas, ponham Fiery Jack". Que atencioso da parte dos rapazes. O vídeo foi retirado de um concerto já do início deste século, incluído no DVD de 2004 "Our LAst DVD?". E é só isto, o que tinha a dizer sobre esse álbum essencial dos anos 80, "Dig That Groove Baby". Espero que tenham gostado.

Os sons dos 80: Ney Matogrosso


Peço desde já desculpa se estou a ofender os entendidos na matéria, mas o meu artista musical brasileiro favorito é Ney Matogrosso. É, sempre foi, e possivelmente sempre será. Para mim é de longe o mais completo, o mais original, aliando a excelente voz a uma teatralidade que tornam os temas que interpreta únicos, e é impossível não identificar a sua marca. Para ser perfeito só faltava mesmo escrever e compôr, mas não existe artista, desde Chico Buarque a Caetano Veloso, passando por Mílton Nascimento e Rita Lee, que não gostassem de ver os seus temas "tratados" por ele. Nascido em 1971 em Bela Vista, no estado de Mato Grosso do Sul, saíu de casa aos 17 anos para ingressar no exército, pela via da força aérea - "Aeronaútica", como lhe chamam no Brasil. Depois disso quis ser actor, juntando-se a uma troupe teatral, e mais tarde teve a sua primeira experiência musical, num grupo vocal, mas acabou como "hippie", vendendo artesanato. Foi aí que conheceu o compositor João Ricardo, e no início dos anos 70 formaram os Secos e Molhados, cujos dois álbums fariam história no panorama musical da música brasileira, quer pela originalidade, quer pelo conteúdo - eram a resposta do país do samba aos britânicos Queen e Genesis. Em 1974 Ney parte para uma carreira a solo, e tonrar-se-ia um dos artistas mais produtivos, gravando praticamente um disco por ano até à década de 90.


Desde a sua saída dos Secos e Molhados, gravou cinco álbums até 1980, sendo o primeiro "Água do Céu-Pássaro", em 1975. O cuidado com a estética é uma das suas imagens de marca, e torna-se difícil colocar aqui todos os seus vídeos que valem a pena ver, pelo que recomendo que vejam aqui a colecção completa, na sua página pessoal. Para ilustrar este período inicial de Ney Matogrosso, escolhi este "Bandoleiro", um tema escrito por Lucinha, e que consta do seu trabalho de 1978, "Feitiço".


O início da década de 80 foi especialmente produtivo. Em 1980 sai "Sujeito Estranho", onde Ney interpreta temas da autoria de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Oswaldo Montenegro e outros. A atracção pelas composições femininas é evidente, com Angela Ro Ro e Lucinha a serem duas das suas compositoras favoritas neste período. No ano seguinte sai um álbum homónimo, que inclui temas como "Espinha de Bacalhau", de Severino Araújo, "Deixa a Menina", de Chico Buarque, e dois dos mais conhecidos do seu reportório: "Folia no Matagal", de Eduardo Dusek, e este "Homem com H", de António Barros. No vídeo gravado para o programa Fantástico, é mais uma vez possível observar as muitas metamorfoses do artista, que se transforma com recurso aos adereços e à coreografia, tão desinibida como sexualmente ambígua.


Em 1982 sai "Matogrosso", que inclui outro clássico da autoria de Chico Buarque "Tanto Amar", e em 83 a colaboração repete-se no álbum "...pois é" com o tema "Até ao fim", e dá-se início à parceria com Cazuza, em "Pró dia nascer feliz", repetida no disco seguinte, "Destino de Aventureiro", com "Porque é que a gente é assim". Mas voltando ao registo de 1982, a popularidade de Ney conhece um novo patamar com o tema de Ceceu "Por debaixo dos panos", uma alusão à corrupção vigente num país que vivia ainda sob uma ditadura militar. O vídeo é também muito bem conseguido, e não se fica pelas meias-palavras.


Por alturas de 1984/85 Ney Matogrosso deixava o Brasil inteiro ainda mais quente, a dançar com a sua versão muito própria de "Vereda Tropical", do mexicano Gonzalo Curiel. Não surpreendeu portanto que o cantor fosse escolhido para abrir o primeiro Rock in Rio, em 1985, e fê-lo com um do seus temas mais conhecidos do início de carreira, "América do Sul". Se a ideia era incendiar o palco do Maracanã, foi conseguido. A festa arrefeceu contudo nos anos seguintes, com a chegada da SIDA, que faz vítimas no mundo artístico, entre Sandra Brea, Lauro Corona, e o próprio Cazuza, amigo próximo de Ney. Sabendo-se que o cantor era homossexual, há uma revista que adianta a notícia que estaria também infectado. Ney vai para tribunal e é indemnizado, dizendo mais tarde numa entrevista: "o único jeito de atingir estes malas é indo-lhes ao bolso".


O final da década de 80 coincidem com um Ney mais intimista, talvez consciente de que se aproximava dos 50 anos, da "idade dourada". Em 1986 grava "Bagre", que inclui "A Balada do Louco", de Rita Lee e Arnaldo Baptista, e em 1987 sai "Pescador de Pérolas", onde faz esta rendição do clássico de Consuelo Velasquez, "Besame Mucho". Em 1988 participa com João Carlos Assis Brasil e Wagner Tiso na musicação de "A Floresta do Amazonas de Villa-Lobos", dando a sua voz ao piano e aos sintetizadores dos outros dois músicos.


Desde a década de 90 continuou a gravar, ora numa nota mais formal, ora transvestindo-se e assumindo um dos seus muitos lados animalescos. Foram discos ao vivo, colaborações com vários artistas, trilhas sonoras, e muitos, muitos concertos, com algumas passagens por Portugal - e ainda bem para nós. Este vídeo foi gravado em Juíz de Fora, Minas Gerais, no ano passado, com Ney a interpretar "Roendo as Unhas", de Paulinho da Viola, promovendo o seu último trabalho, "Atento aos Sinais". Agora, alguém acredita que este homem em cima daquele palco tem 72 anos?