Liberace (1919-1987): Władziu Valentino Liberace, ou simplesmente Liberace, nasceu em 1919 em West Allis, no estado norte-americano do Winsconsin, filho de pai italiano e mãe polaca. Á nascença morreu-lhe o irmão gémeo, e talvez a ausência dessa metade com quem partilhou a gestação tenha tido influência na sua personalidade, que para a generalidade continua um mistério, do qual o recente filme "Behind the Candelabra", com Michael Douglas a encarnar Liberace, apenas deu algumas luzes. Pianista clássico, cedo descobriu que o dinheiro estava no "showbiz", e adoptando um visual extravagante, usando e abusando dos adereços e rodeando-se de todos os luxos que podia, tornou-se naquilo que se pode chamar de "lounge act" - um tipo de entretenimento destinado a pessoas que já beberam um bocado e têm dinheiro a mais para gastar. Teve um "show" nos primórdios da televisão, corriam os anos cinquenta, gravou dez discos e escreveu várias obras de literatura, quer de prosa, quer de poesia, e era também actor. Negou sempre ser homossexual, e processava quem se atrevesse a insinuar tal coisa, mas disfarçava muito mal. Faleceu a 4 de Fevereiro de 1987 aos 67 anos de doença relacionada com o vírus da SIDA, que contraíu em 1985. Neste vídeo vêmo-lo num espectáculo em Las Vegas, em 1980, interpretando "I'll Be Seeing You", que é como quem diz, "a gente vê-se por aí". Talvez, sem dúvida, um dia, mas eu preferia não conhecer este senhor. Não é por nada, mas...brrr.
Zeca Afonso (1929-1987): José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, nascido em Aveiro, estudou em Coimbra onde se fez fadista. Com a família espalhada pelos quatro cantos do globo, desde Moçambique a Timor, as influências eram diversas, e não surpreende que Zeca Afonso se tenha tornado a maior referência da música popular portuguesa. Autor de temas inesquecíveis como "Grândola Vila Morena", "Venham Mais Cinco", "Os Vampiros", "Traz Outro Amigo Também", "Canto Moço", entre outras. Foi perseguido pelo regime de que era assumido opositor, foi uma das figuras de proa da cultura dos póas 25 de Abril, e viria a falecer em Setúbal no dia 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos, vítima da esclerose múltipla que lhe foi diagosticada 5 anos antes. Fiquemos com esta "Canção de Embalar", do último grande concerto de Zeca no Coliseu dos Recreios, em 1983.
Peter Tosh (1944-1987): Winston Hubert McIntosh, mais conhecido por Peter Tosh, foi membro do Wailers, a banda de Bob Marley, e o instrumentista por excelência da poesia do rei do "reggae". Após a morte de Marley, Tosh partiu para uma carreira a solo com relativo sucesso, e continuou a propagar a filosofia "rastafari", na senda do seu antigo companheiro. Em 11 de Setembro de 1987, de regresso à sua Jamaica natal depois de mais uma digressão, foi morto na sequência de um assalto à sua residência em Kingston. O líder do grupo que o assaltou era Dennis Loban, um homem com quem Tosh tinha feito amizade, e ajudou depois de ter saído da prisão. A sua morte aos 42 anos não teve o mesmo impacto da morte de Bob Marley seis anos antes, mas mesmo assim deixou um legado respeitável para os fãs do "reggae", "ska" e "rock steady". Recordemos Tosh nesta sua versão de "Johnny B. Goode", um clássico de Chuck Berry gravado para o álbum "Mama Africa", de 1983.
Divine (1945-1988): Divine era o nome artístico de Harris Glenn Milstead, um transformista norte-americano de Baltimore, Maryland, que se celebrizou em finais dos anos 60 e durante toda a década de 70 graças à colaboração com o realizador experimentalista John Waters. Em filmes como "Mondo Trasho", "Pink Flamingos" ou "Polyester", entre outros, Divine fazia números que poucos actores aceitariam fazer, por muito que lhes pagassem - e Waters nem tinha orçamento para grandes despesismos. Quando não estava a comer fezes ou a realizar actos de bestialidade com frangos ou perus, Divine também cantava, e gravou inclusivamente quatro álbums. O mais bem recebido foi "The Story so Far", de 1984, que incluía este "You Think You're a Man (but you're only a boy)", que chegou a nº 16 dos "charts" no Reino Unido - é preciso ver (e ouvir) para crer. A grande fraqueza do artista era a comida, e tinha um apetite que lhe chegou a fazer pesar 200 quilos, e a situação piorou a partir do momento em que se habituou ao consumo de marijuana, um vício que assumiu, e que lhe fez aumentar ainda mais a gula. O coração não resistiu, e Divine faleceria de cardiomegalia a 7 de Março de 1988, sofrendo um enfarte durante o sono. Tinha 42 anos.
Andy Gibb (1958-1988): Andrew "Andy" Roy Gibb era o mais novo dos quatro irmãos Gibb, sendo Barry, Robin e Maurice os nossos conhecidos Bee Gees. Andy só iniciou a sua carreira em finais dos anos 70, já depois dos irmãos terem facturado com a era da disco e de "Saturday Night Fever", mas apesar de ter optado por uma carreira a solo, teve bastante sucesso, conseguindo colocar três singles no 1º lugar do top da Billboard. Um deles foi este "Shadow Dancing", de 1978, do álbum com o mesmo nome. Depois do seu terceiro disco, em 1981, chegou o declínio, teve uma relação amorosa com Victoria Principal, estrela da série "Dallas", e começou a ter problemas com o consumo de cocaína. Apesar de ter feito vários tratamentos de desintoxicação e recebido sempre o apoio da família, o coração não resistiu aos anos de abuso da substância, causando-lhe um enfarte que lhe tiraria a vida a 10 de Março de 1988, apenas cinco dias depois de ter completado 30 anos.
Hilel Slovak (1962-1988): Nascido em Haifa, Israel, e conhecido pelo "cowboy israelita", Hilel Slovak foi o primeiro guitarrista do grupo californiano Red Hot Chili Peppers, e com eles gravou os álbums "Freaky Styley" (1985) e "The Uplift Mofo Party Plan" (1987). O uso de drogas duras era um problema recorrente na banda, e a 27 de Junho de 1988 Slovak seria a vítima nessa "roleta russa", ao ser encontrado sem vida pela polícia no seu apartamento em Hollywood Hills, Los Angeles. Os restantes membros do grupo, ainda no activo, consideram-no ainda hoje uma das suas maiores influências.
Nico (1938-1988): Christa Päffgen nasceu em Colónia, na Alemanha, e teve desde a infância um a vida complicada, com o seu pai a falecer num campo de concentração no término na II Guerra Mundial. Apesar das contrariedades, viria a tornar-se modelo e actriz, e nesta última função participou no filme "La Dolce Vita", de Fellini, em 1960. epois disto vai vivendo em vários países pela Europa fora, mantendo vários relacionamentos, e de um deles, com o actor francês Alain Delon, tem um filho, Ari. Durante uma temporada em Londres,conhece Andy Warhol, torna-se numa das suas "Warhol queens" e participa do documentário "Chelsea Girls",de 1966. Aproveitando a embalagem, no ano seguinte grava com os Velvet Underground de Lou Reed o mítico "The Velvet Underground & Nico", onde dá a voz a três faixas do álbum, uma delas este "Femme Fatale". Segue-se uma carreira a solo, sem grande sucesso, e em 18 de Julho de 1988, durante umas férias com o filho em Ibiza, Espanha, sofre um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta, é atingida na cabeça por um táxi, vindo a falecer, a três meses de completar os 50 anos. O seu filho Ari, de nome completo Christian Aaron Boulogne, é actualmente um conceituado fotógrafo de moda francês.
Carlos Paião (1957-1988): Nascido em Coimbra, foi para Lisboa estudar medicina, tendo concluído o curso em 1983, altura em que era já um celebrado cantor, letrista e compositor. Escreveu para Amália, e trabalhou para Herman José, estando por trás das figuras musicais de Tony Silva, Serafim Saudade e José Estebes - foram mais de 300 as canções com a sua assinatura. Representou Portugal no Festival da Eurovisão em Dublin no ano de 1981 obtendo um (injusto) penúltimo lugar com o tema "Playback". No mesmo ano obteve o devido reconhecimento com a canção "Pó de Arroz", provavelmente a mais conhecida do seu reportório. Em Agosto de 1988 ia a caminho de mais um concerto em Penalva do Castelo, quando o condutor do veículo onde seguia precisou de fazer uma manobra brusca, devido a um pedaço de mangueira que se encontrava no meio da estrada. O acidente provocou a morte a Paião e aos restantes passageiros. Desaparecido aos 30 anos, é considerado uma das maiores perdas da música ligeira portuguesa.
Roy Orbison (1936-1988): Roy Kelton Orbison nasceu no Texas, numa família onde o peso da genética levava a que as crianças sofressem todas de uma grave miopia - eram os "toupeiras" lá do sítio. Mas nem o facto de precisar de usar lentes correctivas grossas afectaram a confiança do jovem Roy, que foi aprender a cantar e a tocar guitarra, e em finais dos anos 50 tornou-se uma estrela do género "rockabilly" e "country/western". Primeiro com o seu grupo, os Traveling Wilburys,e mais tarde a solo, assinou temas que se tornariam imortais, como "Oh, Pretty Woman", "Only the Lonely", "Blue Bayou" ou "Crying", e era um sucesso, tanto com os meninos como com as meninas. No último caso, chegou a mesmo a ter problemas com a primeira esposa, que o acusava de ser muito "malandreco". Nos anos 70 veio a decadência, e Roy Orbison seria reabilitado em 1986 graças ao filme "Blue Velvet", de David Lynch. O retorno aos dias dourados e aos concertos levaram a um calendário sempre ocupado com concertos e viagens para o pobre Roy, e o coração disse "basta" em 6 de Dezembro de 1988, depois de ter batido durante 52 anos. O seu álbum "Mystery Girl", lançado postumamente, foi um tremendo êxito, e daí saíu este "You Got It".
Irving Berlin (1888-1989): e a década acabou com o desaparecimento de um dos maiores compositores americanos, Irving Berlin, que foi um caso sério de longevidade, vivendo 101 (cento e um) anos! Nascido em Mogilyon, no império russo (actualmente na Bielorússia) com o nome Israel Isidore Baline, no seio de uma família judaica, foi para a América com os pais ainda pequeno, e na imigração deram-lhe papéis com o seu novo nome, já "americanizado". Estudou música, na vertente clássica, e como compositor e instrumentista teve uma carreira que se estendeu por mais de sete décadas. São da sua autoria temas como "Always", "Blue Skies", "Puttin' On the Ritz", "Reaching for the Moon", "Cheek to Cheek", e talvez a mais célebre de todas, "White Christmas", que na voz de Bing Crosby foi "apenas" a canção mais vendida de todos os tempos. Foram centenas, senão milhares de canções da sua autoria. Aqui vemo-lo a interpretar "God Bless America" no Ed Sullivan Show em 1968, que muitos consideram o hino alternativo dos Estados Unidos. E isto de um homem que nem nasceu na América...