domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pornografia


Há quem considere a pornografia uma forma de “arte”. Eu não iria tão longe, mas considero esta expressão tão, digamos, libertina, uma coisa perfeitamente normal, e aceite pelas sociedades mais civilizadas, com mais ou menos reservas. Quando era um pré-adolescente o sexo era um autêntico mistério, e o meu contacto – sempre acidental, claro – com a pornografia tinha um impacto violento. Como podiam aqueles indivíduos encarar o sexo de ânimo tão leve?

Praticamente inexistente durante a longa noite da ditadura, ou remetida à clandestinidade, a pornografia floresceu em Portugal nos anos 80, e o aparecimento dos clubes de video tornou os filmes pornográficos (vulgo “filmes de foda”) acessíveis ao cidadão médio. Mesmo aos mais jovens, a quem bastava requisitar os serviços de um irmão mais velho ou surrupiar uma cassete do quarto dos pais. Pessoalmente nunca achei muita piada. As cenas, sempre as mesmas, prolongavam-se quase eternamente, e para um amante da sétima arte como sempre fui este género é considerado um desperdício de fita. E quando os meus amigos com que assistia a estas sessões de badalhoquice começavam a comportar-se como os adolescentes que eram e sacavam o mangalho de fora com fins poucos higiénicos, era altura de dar o fora. Sessões de masturbação colectiva nunca foram o meu forte.

Em Macau a questão da pornografia chegou ao hemiciclo. Estes anjinhos que nasceram e cresceram aqui neste jardim à beira-China plantado consideram estes folhetos na imagem acima uma forma de “pornografia”. Aqui vemos umas meninas em roupa interior revelando um pouco de chicha, algumas frases em chinês provavelmente convidativas e um número de telefone onde se podem requisitar os seus serviços – e esses não garantem corresponder à menina da imagem. Não se vê uma única crica, um sardão intrometido ou sequer uma expressão erótica na face das moças. Nada que dê tusa, e nem um saudita mais conservador se entusiasmaria com esta “pornografia”.

Estes folhetos que convidam ao sexo pago com a menina do outro lado da linha daquele número de telefone são normalmente distribuídos por cidadãos anónimos que os espalham pelo chão discretamente, normalmente perto de hotéis, saunas e clubes nocturnos. Mesmo junto da Escola Portuguesa, que como se sabe fica localizada ao lado do Grand Lisboa, é possível encontrar esta curiosa forma de publicidade. Os homens e as mulheres que os distribuem não podem ser considerados pornógrafos, como alguns querem dar a entender. Isso é um perfeito disparate. Quem pensa que isto é pornografia não sabe o que é pornografia. O que mais se aproxima de pornografia propriamente dita é o que acontece depois de feito o telefonema e marcado o encontro.

Repito isto pela milésima vez e nunca me canso, porque é a verdade pura e dura: se temos uma cidade em que a economia depende do jogo, não podemos esperar que seja tudo rosas. A droga, a prostituição, a agiotagem e até esta “pornografia” são as moscas que entram nesta janela aberta, como dizia o pequeno génio Deng. Queriam excursões de jardins de infância aos casinos para que as criancinhas aprendessem de onde vem o dinheiro para o leitinho? Os elementos dialéctica do jogo-extorsão-foda e às vezes droga são elos indissociáveis desta indústria de que dependemos. E que mal tem se esses folhetos andam aí pelo chão? Não falta quem limpe no dia seguinte. E só telefona quem quer.

4 comentários:

Anónimo disse...

"E que mal tem se esses folhetos andam aí pelo chão? Não falta quem limpe no dia seguinte."

Você só pode estar a brincar!!!
Então agora também andar a lançar folhetos destes aos milhares directamente para o chão por todo o lado (não só em redor dos casinos, no norte da cidade também abundam) está OK??

E que raio de mania é essa de usar o jogo como principal fonte de receitas de Macau para justificar toda e qualquer imundice??

Também há outras cidades que dependem do jogo como Las Vegas, Monte Carlo, Atlantic City e que têm prostituição e em todas há uma tentativa de manter o nível e a qualidade da cidade para não se tornar num antro de javardice. Será que o nosso grau de exigência já desceu tanto que até andar a sujar a cidade com esta merda por todo o lado é aceitável??

Leocardo disse...

Erm. Caro anónimo, compreendo a sua posição e respeito a sua opinião, mas o que está aqui em causa é uma acusação grave: o crime de pornografia. Não concordo que alguém seja acusado de distribuição de material pornográfico pelo simples facto de espalhar folhetos deste tipo. Se o IACM intensificar a fiscalização e quiser multar os prevericadores à luz dos regulamentos dos espaços públicos, em que atirar uma beata de cigarro ou um papel de rebuçado ao chão dá direito a multa, isso é outra história.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

AHAHAHAHAH,não sabia quem em Macau distribuem folhetos de putas,esta é boa demais.Aqui em Portugal onde vivo quando um gajo quer ir as putas basta ir ao sites de jornais como o correiomanha,jornal de noticias ou diario de noticias e muitos outros sites de putas a anunciar os seus serviços LOL

Leocardo disse...

Pois é, mas aqui não há Correio da Manh~:)

Cumprimentos