quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Macau ontem: China aqui ao lado


A primeira vez que atravessei a fronteira das Portas do Cerco foi em Dezembro de 1993. Um dia de compras em Zhuhai acompanhado pela mãe e por uma amiga chinesa do continente, com o aliciante de ser a minha primeira visita à República Popular. O que ficava na retina quando se saía de Macau era o imponente arco construído no século XIX e onde se lia: “A Pátria honrai, que a Pátria vos contempla”. Desconheço a autoria de tão inspirada frase, mas duvido que fosse Camões, Pessoa não era certamente e O’Neill não bate assim. Aliás o autor de “Há mar e mar, há ir e voltar” ainda não era nascido nascido na época. Seja como for, fosse eu um patrioteiro de gema e teria-me escorrido uma lágrima do canto do olho, como dizia o Bonga. Não me recordo bem dos procedimentos na saída de Macau, mas lembro-me como se fosse ontem da requisição de visto de entrada na China. Os vistos eram requisitados num pequeno escritório a caminho deGongbei, onde oficiais trajando uniformes folgados de pano verde tratavam os turistas com uma grande dose de arrogância. Depois de preenchidos os papéis e entregues os passaportes, estes eram deixados “a secar” por alguns instantes antes de validados e devolvidos – às vezes atirados – ao destinatário.

Já no outro lado, em Gongbei, era um mundo completamente diferente. O dia estava ensolarado, e na principal avenida depois da fronteira o comércio consistia de aparelhagens de som, produtos falsificados e demais lataria exposta através de uma rua pavimentada de gravilha onde funcionavam lojas cujos artigos eram facilmente negociáveis ao ponto da pechincha. Na altura a pataca era bem mais forte que o renminbi, e podiam-se obter ali mobílias, louças, tecidos ou objectos decorativos ao preço da uva mijona. O que mais me impressionou desta primeira visita foi a pobreza destas gentes, apenas dez anos passados da criação da Zona Económica Especial, idealizada por Deng Xiaoping. Era comum encontrar pedintes e prostitutas, e mesmo as mulheres que exerciam profissões consideradas dignas trajavam conjuntos que no total custariam cerca de 20 patacas, pelo câmbio de então. Almoçámos por lá, mesmo sem a certeza de ser uma opção segura, mas passados quase vinte anos aqui estou, pelo que valeu a pena arriscar.

Actualmente é completamente diferente passar a fronteira para o outro lado. O monumento que nos apela a “honrar a Pátria” mantem-se – por ser património, suponho – mas o posto fronteiriço é agora uma infra-estrutura moderna, funcional, preparada para dezenas de milhar de pessoas que vão e vêm diariamente. Sair de Macau é uma questão de minutos, e passar para Gongbei é igualmente rápido, com as excepções que já todos sabemos, do Ano Novo Chinês e das restantes “semanas douradas”. Mesmo a obtenção do visto, para quem não tem o salvo-conduto, já não é o que era. Os oficiais são muito mais expeditos e educados, uniformes bem mais catitas, e pasme-se, alguns falam inglês e tudo! E já não se atiram os passaportes nem se fazem caras de “mau”. Aliás é frequente deparar com pessoas a reclamar na alfândega com os oficiais chineses (e às vezes por bagatelas), algo que muitos não imaginariam ser possível. A imagem do oficial de alfândega chinês sofreu um “make-over” em termos de relações públicas, e não existe mais a imagem rígida e autoritária de quem controla a entrada num país fechado. A paciência e a simpatia são qualidades com que estas autoridades se dotaram nos últimos anos.

O desenvolvimento da própria cidade de Zhuhai é verdadeiramente espantoso. Longe vão os tempos das ruas de terra batida, é tudo muito mais modernizado, não faltam hotéis, restaurantes, cafés e outro comércio que satisfaçam as exigências mínimas, e a diferença em termos de limpeza salta à vista. A cidade vizinha tem agora a cara lavada, e foi mesmo considerada há pouco tempo uma das dez cidades mais românticas da China. A valorização do renminbi tornou a vida um pouco mais cara, mas ainda vale pena ir às compras e sentir a diferença. Tornou-se tão atractiva que muitos residentes da RAEM resolveram ir para lá viver, pois a habitação é muito mais em conta, e o tempo que demora a passar de um lado para o outro da fronteira não é impeditivo – chega a ser mais prático e rápido trabalhar em Macau e viver em Zhuhai do que trabalhar em Lisboa e viver na Amadora, por exemplo. Muitos dos noctívagos macaenses optam por ir ali “fazer a festa” e voltar à RAEM na manhã seguinte. A vida nocturna em Zhuhai granjeou uma certa fama, e além de mais barata as opções são mais variadas. E mais divertidas, dizem. Existem algumas arestas por limar, contudo; o simples facto de atravessar a rua é uma aventura (Macau também está diferente para pior neste aspecto), e há pequenos detalhes que ainda denunciam alguns vícios da velha China: a higiene nas casas-de-banho públicas, por exemplo ou alguma miséria ainda visível à luz do dia, para citar dois exemplos. No outro dia entrei lá numa padaria e junto dos “hot-dogs” estava uma placa onde se lia em inglês “german intestinal bread”. Assim não é tão convidativo. São pequenos detalhes, como já referi, e pouco a pouco se vai melhorando.

A fronteira funciona entre as 7 da manhã e a meia-noite, e fala-se da possibilidade de a manter aberta 24 horas por dia. É uma inevatibilidade, mais cedo ou mais tarde, até porque não implicaria um esforço significativo em termos logísticos e humanos. É apenas uma questão de vontade. Quando isto acontecer, a grande China ficará mais perto, e Macau arriscar-se-á a “perder” para Zhuhai em muitos aspectos. Quem viu há vinte anos aquela cidade que um dia Deng escolheu para Zona Económica Especial e olha para ela agora, percebe que ali se arregaçaram as mangas e foi feito um excelente trabalho. É muito mais limpo, bem mais seguro e nota-se uma grande vontade dos seus residentes em agradar. Os estrangeiros, especialmente, são recebidos com muita simpatia. Dá gosto visitar Zhuhai, e talvez dali pudessemos aprender qualquer coisa.

Obrigado e volte sempre!


O cônsul-geral de Portugal na RAEM, Manuel Cansado de Carvalho, deu hoje uma recepção na sua residência oficial, no Hotel Bela Vista, com o objectivo de se despedir da comunidade que serviu nos últimos 3 anos. A missão deste diplomata chega assim ao seu termo, e o seu substituto, Vítor Sereno, chegará ao território no próximo dia 27 de Maio. A comunidade aderiu para se despedir de Cansado de Carvalho, desejou-lhe a melhor das sortes, e aproveitou para “molhar o bico” no pequeno lanche que o sr. Cônsul ofereceu, como é habitual nestes encontros. O clima foi de festa, e do lado do sr. Cônsul existe a sensação de dever cumprido.

Não é fácil analisar o trabalho do Cônsul-Geral de Portugal na RAEM. É um cargo que obedece a um protocolo estabelecido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, e por mais competente seja a forma que um diplomata desempenha esta função, não se perpetuará no cargo, e muito dificilmente ficará mais de três ou quatro anos no território. O primeiro cônsul que ocupou o Bela Vista foi Carlos Frota, que recentemente fixou residência na RAEM depois de se ter aposentado da carreira diplomática, e o segundo foi Pedro Moitinho de Almeida, que curiosamente permaneceu em Macau durante cerca de seis anos. Vítor Sereno será o quarto ocupante da Estrada do Tanque do Mainato, e certamente que teremos um quinto dentro de poucos anos.

A função do Cônsul-Geral passa sobretudo por representar o Estado Português, uma função que se reveste de maior importância quando se trata de Macau, o território “estrangeiro” onde existe a maior percentagem de “portugueses”. A maior parte da comunidade chinesa do território tem nacionalidade portuguesa, apesar da esmagadora maioria não falar português ou conhecer bem a cultura portuguesa. Para estes o Consulado Geral, situado na Rua Pedro Nolasco da Silva, no belíssimo edifício do antigo Hospital de S. Rafael, é o local “onde se tira o passaporte”, que é ainda um documento de viagem útil e oferece vantagens a quem queira estudar ou residir na Europa. Se há pelos menos uma coisas que os chineses de Macau respeitam de Portugal, é a nacionalidade. Portugal fez aqui uma bem sucedida operação de charme, trazendo estes portugueses ultramarinos para o seu regaço. Já os honconguenses não tiveram tanta sorte, pois os antigos senhorios britânicos não foram tão generosos ao ponto de lhes atribuir o passaporte de Sua Majestade.

Apesar desta componente “funcional” do Consulado Geral, a chegada de um novo Cônsul é sempre notícia para a comunidade portuguesa. Gostamos de pensar que é “um dos nossos”, e que vem para este cantinho do sul da China para nos servir – e já agora para travar amizade connosco, porque não? Quem não sente não é filho de boa gente, e não queremos um diplomata apenas “em serviço”, indiferente à realidade que o rodeia e à importância histórica que Macau tem para Portugal. Muitos esperam dos consules que por aqui passam que se interessem pelos nossos problemas, e que de uma forma ou outra tenham pelo menos uma palavra a dizer, mesmo sobre as incidências da vida política ou social do território, que no fundo também mexe com o dia-a-dia da comunidade. É compreensível que a posição do Cônsul seja muitas vezes neutra, e que se evite o choque com as estruturas que governam a RAEM, mesmo que por vezes nos dê uma certa sensação de indiferença ou frieza. Se há algo que os representantes da República que passaram por Macau têm feito bem é manter uma relação cordial com o Executivo local. Nunca é demais ouvir dos dirigentes locais palavras positivas sobre os portugueses que aqui vivem e trabalham, dando assim também um contributo válido para a construção e para o funcionamento do território. É uma relação de amizade que está bem e que se recomenda.

Do novo responsável consular espera-se então que continue na senda dos seus antecessores, reforçando os laços de amizade com a actual administração, sempre consciente de que a nossa presença secular é uma herança pesada, e que o cargo requer uma sensibilidade muito própria. Vamos esperar pela primeira oportunidade para lhes darmos as boas-vindas e desejar-lhe um bom trabalho, e isso deverá acontecer já no Dia de Portugal, a 10 de Junho, curiosamente logo duas semanas depois da sua chegada. Para Manuel Cansado de Carvalho desejo-lhe toda a sorte do mundo, e pessoalmente gostava de lhe agradecer. Foi o único até hoje a que apelei para a resolução de um problema relacionado com um pedido urgente renovação de passaporte, e atendeu-me com toda a simpatia e profissionalismo. Como sou um rapaz agradecido, não podia deixar de mencionar a forma prestável com que se dispôs a ajudar-me. Um abraço para si, meu caro. Leve saudades de Macau e volte sempre!

Taça da Liga já não vai para a Luz


O Benfica foi afastado das meias-finais da Taça da Liga esta noite pelo Sp. Braga no Estádio AXA, na capital do Minho, através do desempate pelos pontapés da marca de grande penalidade, depois de 0-0 no tempo regulamentar. O Benfica falha assim a revalidação do título que não lhe fugia desde 2008 - os encarnados venceram as últimas quatro edições da Taça da Liga, que só lhes fugiu no ano de estreia, quando venceu o V. Setúbal. O Braga está na final, e curiosamente o herói dos minhotos foi o guardião Quim, ex-Benfica, que defendeu os remates de Luisão e Gaitán na lotaria dos penalties, enquanto Roderick rematou por cima. Os bracarenses foram mais eficazes, apesar de Artur ainda ter defendido o remate de Alan. O Braga fica à espera do finalista, que sairá da meia-final entre o Rio Ave e o FC Porto ou V. Setúbal. Os sadinos recorreram da decisão da Liga em nÃo atribuír uma derrota de 0-3 ao FC Porto no jogo entre as duas equipas, devido à utilização indevida de três jogadores dos dragões. Fica uma certeza, contudo: este ano a Taça da Liga já não vai para a Luz.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Macau ontem: Se bem me lembro...


O saudoso Campo dos Operários.

A maior parte da população actualmente residente em Macau estará tão habituada à cidade nova, aquela que se levantou nos últimos dez ou vinte anos, que certamente não sabe ou não se recorda de locais que fizeram história, e depois passaram à História. Eu próprio não sou uma excepção, e há locais no território edificados nos últimos anos que apagaram da memória o que lá havia antes. O Edif. Administração Pública, onde eu próprio trabalho, é um bom exemplo disto. Apesar de ter sido construído apenas entre 1998 e 1999, não me consigo lembrar do que lá havia antes daquele “centro de prestação de serviços”. Habituamo-nos tão rapidamente às novidades que se torna difícil lembrar mesmo o passado que não é assim tão distante. Já mesmo ali ao lado, no edifício recentemente ocupado pela Associação dos Operários, existia um centro comercial Chi Fu, e depois disso um restaurante da cadeia KFC. E por falar em operários, quem vive em Macau há pelo menos mais de 12 anos lembra-se certamente do Campo dos Operários, em frente ao velhinho Hotel Lisboa, e onde se situa actualmente o Grand Lisboa. O Campo dos Operários e a sua cantina anexa eram o local de convívio por excelência dos operários, como o próprio nome indica. Do proletariado, dos gajos suados, da massa bruta, do povo, pá! Infelizmente é o dinheiro e não o povo quem mais ordena, e em vez de um campo de terra batida e uma cantina onde se serviam sandes de costeleta de porco temos roletas e luxuosos “dim-sums”.

Os mais antigos, antes de mim, recordam ainda o Liceu Infante D. Henrique, que ficava em frente ao Hotel Lisboa, onde é hoje o Banco da China. Dessas memórias dos tempos de escola não posso dizer nada, uma vez que fiz a minha escolaridade em Portugal, mas recordo-me do antigo Liceu ser onde fica hoje o Instituto Politécnico, e a actual Escola Portuguesa funciona no edifício da antiga Escola Comercial Pedro Nolasco da Silva – com o condão do edifício se encontrar praticamente inalterado. Mesmo muito alterada foi a Escola Pui Cheng, na Av. Horta e Costa. Onde existe agora aquela estrutura da “era especial” havia um recinto mais humilde, onde era possível observar os alunos a brincar no patio ou a praticar desporto da rua, através do portão. A Universidade de Macau encontra-se no mesmo sítio desde que cheguei em 1993, mas prepara-se para mudar para o novo campus da Ilha da Montanha. Não sei o que vão fazer com a actual infra-estrutura, mas se a deitarem abaixo, as novas gerações rapidamente a esquecerão. E tudo se renova.

Há locais que pelo seu desenvolvimento mais recente, apesar de rápido, ainda fazem lembrar a sua forma no passado. Lembro-me ainda do COTAI antes da “strip” de casinos, do tempo em que corria água no istmo. O mesmo se aplica aos locais que hoje são ocupados pelo Wynn, MGM, Galaxy e outros que tais, que quando cheguei estavam ainda no início da fase de aterro. Quem chegou há pelo menos quatro anos ainda se lembra bem do antigo centro comercial Yaohan, que hoje é o casino Oceanus, enquanto o “New Yaohan” (já se chamava assim quando mudou) é actualmente na Praia Grande, ao lado do casino Emperor. Macau cresceu roubando espaço ao mar, exigência da fúria expansionista imobiliária, e não fosse a contenção trazida por um certo escândalo de corrupção há uns anos, e já seria possível ir a pé da peninsula até à Taipa sem atravessar a ponte. Recomendo a todos um olhar mais atento ao Macau que ainda vai ficando de outros tempos. Pode ser que amanhã já lá não esteja, e depois não faltará muito para que a nossa memória também se desvaneça num sopro.

Nou Camp aos pés de Mourinho


Barça 1 Madrid 3 发布人 jordixana
O Real Madrid qualificou-se para a final da Taça do Rei de Espanha ao bater no Nou Camp o Barcelona por 3-1, depois de um empate a uma bola na primeira mão. O Real tornou as coisas fáceis, marcando logo aos 13 minutos por Cristiano Ronaldo de penalty, castigando uma falta cometida pelo próprio. O Real marcaria o segundo aos 57 outra vez por Ronaldo, concluíndo uma jogada fantástica de Di Maria, e chocou o "ninho" dos catalães quando Varane fez o 3-0, correspondendo a um canto com uma excelente elevação. O melhor que o Barça fez foi reduzir já perto do fim por Jordi Alba, muito pouco para anular o domínio merengue, algo inesperado. Com esta vitória o Barça arrisca-se a ganhar "apenas" a liga espanhola esta temporada, enquanto Mourinho ganha margem de manobra no Real, numa época que tem sido irregular.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Macau ontem: Caixa Escolar



Antes e depois: o velho edifício da Caixa Escolar mantem-se, mas o campo desportivo "foi-se".

A Praça do Tap Seac, uma daquelas obras que visou “oferecer um espaço de lazer à população” mas que pouca gente frequenta, lembra-me sempre o antigo campo de futebol que ali existia. O recinto desportivo que a população conhecia por “campo da caixa escolar”, devido ao antigo edifício com o mesmo nome erguido em 1925, e que ainda ali se encontra preservado, tinha um relvado sintético, um pequeno ringue de patinagem e um campo de basquetebol ao ar livre, pavimentado de cimento, ao estilo do que é hoje conhecido por “streetball”, ou basquetebol de rua. O relvado sintético era destinado à prática do hóquei em campo e do futebol. Do hóquei realizava-se ali o campeonato local, e foi no Tap Seac que evoluiram as maiores glórias do “stick” local, e os aficionados vibravam com o mítico Lusitânia, clube constituído quase na totalidade por jovens “filhos da terra”. Era a idade do ouro do hóquei em campo no território, que todos recordam com saudade.

No futebol lembro-me de ter visto em 1995 jogar ali uma selecção de veteranos, onde pontificavam nomes como Jaime Pacheco, Vítor Damas, Augusto Matine, entre outros, e além destes, o grande Eusébio. Joguei neste sintético no torneio inter-repartições do 1º de Maio em 1998, e posso dizer com orgulho que pisei o mesmo relvado que o Pantera Negra. Era costumeiro um grupo de amigos ou colegas de trabalho alugar o campo aos fins-de-semana e resolver as diferenças e esquecer os problemas, e quem passava de carro ou a pé pela Av. Conselheiro Ferreia de Almeida no Domingo de manhã, junto à Biblioteca Central, podia reparar na animação dos que preferiam passar os dias de descanso aos chutos na bola. Hoje o desporto é praticado nos recintos topo de gama gerados pela sucessão de eventos internacionais que arrancaram com os Jogos da Ásia Oriental em 2005. O hóquei em campo mudou para a Taipa, ao lado do Estádio, e não sei se é possível alugar um campo de futebol onde um simples funcionário possa “ir às canelas” do chefe ou de um colega mais sacana, libertando assim o stress acumulado pela labuta diária, mas duvido. Não sei se Macau ficou bem servido com esta ideia do parque onde nada acontece no lugar do antigo campo da Caixa Escolar.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Macau ontem: Hotel Estoril


Hotel Estoril depois do abandono.

Passeei no Sábado à noitinha pela nova praça do Tap Seac (bem acompanhado, como sempre) e sentei-me por uns instantes num dos bancos mesmo em frente ao velhinho, abandonado e tristemente decadente Hotel Estoril. Voltei a pensar quando e como vão encontrar uma solução para este edifício, que além da beleza estética, tem ainda uma componente histórica – foi o primeiro hotel-casino do território, nos inícios dos anos 60. A pintura em azulejo da fachada principal é da autoriade Oseo Aconcci, artista plástico chegado ao território em meados do século passado e patriarca da família mais conhecida pelo negócio da restauração. Oseo é pai do recentemente falecido Vittorio Aconcci e dos gémeos Dino e Julio, que formam o conhecido duo musical “Soler”. Lembro-me bem quando o Hotel Estoril funcionava na sua plenitude, do “Dona Elvira” à porta, da sauna, uma das mais famosas do território, da fama que ostentava. Hoje é uma ruína, e o seu estado envergonha (ou devia envergonhar) a população de Macau. Com tantas petições para isto e para aquilo, ninguém se lembra de pedir a quem de direito que faça qualquer coisa pelo velho Estoril? Serão as garças do mangal tão mais importantes que um hotel, que mais do que isso, é um edifício histórico e uma mais valia em termos de arquitectura? Por ali continua aos caídos, e não sei porquê nunca consigo sorrir quando por lá passo.

Na Rota das Letras


Macau vai receber entre 10 e 16 de Março o 2º Festival literário “Rota das Letras”, cujo programa foi desvendado na última quinta-feira, e é de ficar de boca aberta. Já se sabia de antemão que viriam ao território alguns pesos pesados da literatura lusófona, mas conhecendo agora o formato do Festival, custa a crer que se vá realizar em Macau, onde muita gente nunca pegou num livro em toda a sua vida. Fosse este programa anunciado a 1 de Abril e ninguém acreditava. Na verdade ainda custa a acreditar, e o melhor mesmo é ver para crer.

Assim no dia 10 abrimos as hostilidades no Centro de Ciência de Macau pelas 15:30 com um painel estranhamente em lingua inglesa e moderado pela nossa conhecida Agnes Lam, intitulado “Writers influences and perspectives on a globalized world”, que contará com a presença de Luís Cardoso, José Eduardo Agualusa, Dulce Cardoso, do brasileiro Mauro Munhoz (penso ser o mesmo que pesquisei na net) , dois autores chineses e um autor local ainda a designar. Adianto desde já que estou disponível e que me honraria o convite, modéstia à parte.

No dia seguinte continuamos em lingua inglesa, e na Fundação Rui Cunha, com um debate versando a literatura de viagens, ou “Travel Literatures”, com participação do viajeiro local Joaquim Magalhães e Castro, entre outros. O debate, marcado para as 18 horas, terá a moderação do jornalista Hélder Beja. Segue-se a exibição da película “From one Place to another – Mongolia diaries”, da autoria, nem mais do próprio Joaquim Magalhães e Castro. Ao mesmo tempo realiza-se na Casa do Mandarim uma soirée de poesia em lingua chinesa, presidida por Yao Feng. Uma alternativa sínica à literatura de viagens.

Já no dia 12 o Albergue da Santa Casa, na Calçada de S. Lázaro, realiza pelas 18 horas uma homenagem ao escritor baiano Jorge Amado, com a presença da sua filha Paloma. Segue-se a exibição do filme “Jorge Amado”, do realizador João Moreira de Sales. Como alternativa a Macau Pen Club organiza um evento cuja natureza não é clara. O programa diz apenas “Associação Fantasia com escritores chineses locais e convidados”. Pode ser que no programa em chinês se perceba melhor.

A fatia mais deliciosa do bolo ficou reservada para quarta-feira, dia 13. Rui Zink (o próprio), Ricardo Araújo Pereira (dos Gato Fedorento, ele mesmo) e Carlos Vaz Marques debatem “Literatura e Humor” no Centro Cultural, local adequado à dimensão do acontecimento. Será com toda a certeza o evento mais concorrido do programa, e pode-se contar com uma grande adesão da comunidade portuguesa. Depois do debate, que promete ser divertido, são exibidas três curtas metragens de produção local sobre a China e Macau.
Por incrível que pareça acontece mais qualquer coisa ao mesmo tempo que os três autores portugueses debatem o humor na literatura. Um debate qualquer sobre literatura chinesa “numa livraria ainda a designar”. Bem, trata-se de agradar a gregos e a troianos.

O programa segue até ao fim-de-semana com mais debates e exposições, com destaque para uma workshop de escrita creativa que será dada por Rui Zink na sexta-feira às 14:30 na Livraria Portuguesa, e que será certamente bastante concorrida. No mesmo dia o IPOR realiza o debate “Todas as literatures dentro dos países de Língua Portuguesa, que conta com a participação de vários escritores da lusofonia, com destaque para Francisco José Viegas, que recentemente foi notícia ao ter afirmado que mandaria “ir tomar no cu” um fiscal das Finanças que lhe pedisse para apresentar uma factura. No Sábado o Festival encerra com chave de ouro, com o concerto de Camané e os Dead Combo, no Teatro Venetian.

Animação não vai faltar durante essa semana portanto, e só é pena que não se realizem mais iniciativas do género, e que se traga mais gente da literatura, das artes e da cultura em geral ao território. Só nos ia fazer bem, e eles aproveitavam para ver como isto é. Até dia 10 de Março, na “Rota das Letras”.

Argo é o melhor filme do ano


Foram entregues a noite passada os oscares da Academia, e como seria de esperar o grande vencedor foi "argo", i filme realizado por Ben Affleck, que não foi sequer nomeado na categoria de melhor realizador. Das previsões feitas ontem no blogue, acertei em todas menos três. "Arrisquei" em Tommy Lee Jones para melhor actor secundário, mas Christopher Waltz recolheu a segunda estatueta na categoria em dois anos. Ang Lee venceu pela segunda vez na categoria de melhor realizador, depois de "Brokeback Mountain", deixando Spielberg a chuchar no dedo", enquanto o óscar para melhor filme de animação foi para "Brave", em vez do previsível "Wresck-It Ralph". De resto 9 das minhas 12 previsões foram acertadas, o que não é nada mau. Uma edição sem muitas surpresas, com uma cerimónia apresentada por Seth MacFarlane, um comediante controverso que dividiu opiniões. Recomendo a quem ainda não veu "Argo"que o faça. Não vai dar o seu tempo por perdido. Confira aqui a lista completa de vencedores.

Capital do móvel imóvel na capital


O Benfica dferrotou ontem o P. Ferreira por três bolas a zero no Estádio da Luz e manteve a liderança da Liga Sagres a par do FC Porto. O adversário de ontem era a equipa sensação do campeonato, que ocupa um pouco habitual 3º lugar, mas foi impotente para resistir ao futebol dos encarnados. Uma prova de que existe uma diferença abismal entre os dois candidatos ao título e as restantes equipas do primeiro escalão. Os golos foram apontados pelo contingente sul-americano, Enzo Pérez, Cardozo e Salvio.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Noite dourada em Hollywood


Realiza-se esta noite (segunda de manhã em Macau) a 85ª cerimónia da entrega dos Óscares, que mais uma vez distinguem o melhor que se fez no cinema do último ano. Como é hábito, com excepção apenas do ano passado, vou deixar aqui as previsões quanto aos vencedores nas principais categorias.

Melhor filme: “Argo” é o grande favorito, e dos filmes que já vi é de longe aquele que mais gostei. A história baseada em acontecimentos reais decorridos durante a crise dos reféns da embaixada norte-americana no Irão e realizada por Ben Affleck (quem diria…) já recebeu inúmeros prémios, e seria uma surpresa se não levar também este. Dos restantes candidatos destacam-se “Lincoln” de Steven Spielberg, um filme histórico que venceria certamente num ano menos concorrido, e “Life of Pi”, e Ang Lee, que antes de “Argo” era tido como um sério favorito. Quentin Tarantino terá que esperar pela sua vez, pois o seu “Django Unchained” está longe de ser material para número um – pessoalmente gostei muito mais de “Inglorious Bastards”. O filme austríaco “Amour” é a grande surpresa do ano, mas está nomeado para Melhor Filme Estrangeiro e provavelmente vencerá nesta categoria. Outra boa surpresa é o refrescante “Silver Linings Playbook”, sobre o fenómeno do síndroma de personalidade dupla, o filme mais “cool” da lista, mas que peca por ser uma comédia. “Les Miserables” beneficiou do alargamento para dez candidatos, fazendo aparecer na lista de dez candidatos alguns musicais e filmes de animação, e seria incrível que vencesse. Portanto, o grande vencedor da noite será Argo.

Melhor realizador: Ben Affleck não foi nomeado por “Argo”, o que causou alguma estranheza, e isto deixa caminho aberto para Spielberg obter reconhecimento com o seu biópico “Lincoln”. A maior ameaça será Ang Lee com “Life of Pi”, que teve o azar de encontrar concorrência de peso, e Michael Haneke corre por fora com “Amour”, o que seria uma grande surpresa. Previsão: Steven Spielberg.

Melhor actor: aqui parece quase certo que Daniel Day Lewis levará o óscar pela sua interpretação do presidente Lincoln. Será a terceira estatueta para o actor que se revelou há mais de 20 anos com “My Left Foot”, um “tri” inédito, uma vez que Jack Nicholson obteve três óscares, mas um deles como actor secundário. Bradley Cooper foi sensacional em “Silver Linings Playbook” no papel de um doente com personalidade dupla, mas o reconhecimento fica-se pela nomeação. Os restantes candidatos são Joaquin Phoenix e Denzel Washington, que apesar do “pedigree” são nomeados por papéis pouco memoráveis, e a maior ameaça para Lewis parte curiosamente de Hugh Jackman, que foi bastante elogiado pelo seu papel em “Les Miserables” (não fazia ideia que ele cantava…), mas sendo esta a maior ameaça…Daniel Day-Lewis.

Melhor actriz: se Bradley Cooper contenta-se com a nomeação, a sua co-estrela em “Silver Linings Playbook, Jennifer Lawrence, é a grande favorita nesta categoria – é justo que o filme leve pelo menos um dos grandes prémios. Emannuelle Riva em “Amour” é talvez a única concorrente de peso, enquanto Jessica Chastain, Naomi Watts e Quvenzhane Wallis limitar-se-ão a bater palmas à vencedora. Prevejo com muita convicção que será Jennifer Lawrence.

Melhor actor secundário: este será sem dúvida o prémio mais renhido, com dois actores que já venceram por uma vez a aparecerem como grandes favoritos. De um lado Tommy Lee Jones em “Lincoln”, do outro lado Christopher Waltz em “Django Unchained”. Aqui poderá entrar alguma “política”, mas mesmo nesse caso a escolha é complicada. Waltz ganhou há apenas dois anos com “Inglorious Bastards”, enquanto Tommy Lee Jones venceu em 1995 com “Blown Away”, o que joga a favor de Jones. Por outro lado “Lincoln” poderá ganhar outros prémios, e um óscar para Waltz poderia ser um prémio de consolação para “Django Unchained”. Perante este dilema, Robert de Niro (“Silver Linings Playbook”, a primeira nomeação do grande De Niro neste século), Philip Seymour-Hoffman (“The Master”) e Alan Arkin (“Argo”) terão poucas hipóteses. Mesmo arriscando a errar, escolho Tommy Lee Jones.

Melhor actriz secundária: vai ser aqui que a Academia vai dar um doce a “Les Miserables”, mais um remake da história que já todos conhecem. Anne Hathaway canta e encanta, e será desta que leva para casa o Óscar, em deterimento da veteran Sally Field, que regressou em grande com “Lincoln”. Outro regresso ao top-5 é de Helen Hunt, com “The Sessions”, com poucas probabilidades de sair vencedora, tal como Amy Adams em “The Master”. De notar que mesmo não sendo favorita, a nomeação de Jacki Weaver faz com que “Silver Linings Playbook” apareça nomeado em todas as principais categorias: melhor filme, realizador, actor e actriz principais e secundários e argumento (adaptado). Um pleno difícil de conseguir. Sendo assim, aposto em Anne Hathaway.

Outras categorias:
Melhor argumento original: “Django Unchained”
Melhor argumento adaptado: “Argo”
Melhor filme de animação: “Wreck-It Ralph”
Melhor filme estrangeiro: “Amour”
Melhor documentário: “Searching for sugar man”
Melhor canção original: “Skyfall”

Liga de Elite - 6ª jornada


Jogou-se este fim-de-semana mais uma jornada da divisão principal do futebol macaense, com três goleadas, duas delas bastante volumosas, alargando o fosso entre as equipas do topo e as da segunda metade da tabela. A ronda teve início na sexta-feira, com uma partida entre as duas únicas equipas que ainda não tinham pontuado. O Chau Pak Kei, agora desfalcado do seu contingente de jogadores franceses, goleou a equipa dos Sub-23 da AFM por cinco bolas a duas. Cheong Kin Chong esteve em destaque pelo C.P.K., apontando trêsgolos, dois deles nos primeiros oito minutos. Os jovens patrocinados pela associação de futebol do território afundam-se assim na tabela classificativa, contando por derrotas todas as partidas realizadas.

No Sábado abriram-se as hostilidades com um clássico do futebol local, o Polícia-Lam Pak, uma espécie de "derby"sempre apetecível, que em outros tempos era revestido de um significado especial, quando as duas equipas eram fortes candidatas ao título. O Lam Pak venceu por duas bolas a zero, com os golos a surgirem na segunda parte por Loi Wai Hong e William Gomes, este já em período de descontos. Seguiu-se o Monte Carlo-Lam Ieng, com a equipa de Firmino Mendonça a vencer por expressivos 7-0, denotando bem a diferença entre as duas formações. Felipe de Souza esteve em destaque do lado dos "canarinhos", apontando três golos.

Esta tarde concluíu-se a ronda, com o Benfica a bater o Kuan Tai pela margem mínima, com um golosolitário de Filipe Duarte. A forma com que os encarnados se viram e desejaram para levar de vencida a equipa de João Rosa evidencia que os objectivos não deverÃo passar da conquista do 3º lugar, una vez que Monte Carlo e Ka I parecem estar alguns furos acima. E isso mesmo ficou provado no jogo seguinte, onde o Ka I goleou o Kei Lun por 8-0, fazendo ainda melhor que o rival e principal concorrente ao t;itulo, o Monte Carlo, no dia anterior. Os golos do campeão em título foram todos apontados por jogadores "estrangeiros", com Nicolas Torrão e Alison Brito a apontarem dois cada, enquanto Myckol, Nascimento, Reginaldo e Christopher apontaram um golo cada. O Ka I e o Monte Carlo continuam a liderar a classificação com 18 pontos, seguidos do Lam Pak com 15, Benfica com 12, Kuan Tai com 9, Polícia com 7, Lam Ieng com 4, Kei Lun e Chau Pak Kei com 3, e sub-23 com 0 pontos. A próxima ronda tem um jogo grande, com o Ka I a medir forças com o Lam Pak no Domingo, dia 3 de Março, pelas 16 horas no relvado do estádio da Universidade de Ciência e Tecnologia.

Entretanto na segunda divisão, realizou-se ontem o "derby" entre as duas únicas equipas de matriz portuguesa, o Sporting e a Casa de Portugal. Os leões venceram por expressivos 3-0, com golos de Leandro Fernandes, Wamba e Pascoal Júnior. O Sporting somou a quarta vitória consecutiva e ocupa o segundo lugar a um ponto do líder Lai Chi, que venceu este Domingo os sub-18 por uma bola a zero. A Casa de Portugal continua a ocupar os lugares da cauda da tabela com três pontos, fruto de apenas uma vitória em cinco partidas efectuadas.

Entregaram-se os anti-oscares


Foram ontem entregues em Santa Monica, na Califórnia, os Razzie Awards, os anti-óscares que distinguem os piores filmes de 2012. Este tipo de reconhecimento que ninguém quer vai já na sua 33ª edição, e são já um evento bastante aguardado. Como tem sido habitual a cerimónia realizou-se na véspera da entrega dos óscares propriamente ditos. O grande vencedor este ano foi o mais recente filme da saga "Twilght", "Breaking Dawn - Part 2", que venceu em 7 das 11 categorias para que estava nomeado, incluíndo o pior filme, pior sequela/prequela/remake, pior realizador, pior actriz (Kristen Stewart), pior actor secundário (Taylor Lautner), pior casal no ecrã (Mackenzie Fiy e Taylor Lautner) e pior "casting". Um fartote. Curiosamente Robert Pattinson, o "vampiro mais sexy do cinema", ídolo de tantas adolescentes por esse mundo fora, livrou-se do Razzie para pior actor, muito graças a mais um desatroso desempenho de Adam Sandler, desta vez em "That's my Boy". Sandler já tinha vencido o ano passado com "Jack and Jill", o que demonstra bem o momento menos feliz do comediante que já conseguiu alguns desempenhos interessantes no passado. Rihanna venceu na categoria de melhor actriz secundária em "Battleship", o que pode ser um sinal que a pequena devia ficar pela música. Os vencedores muito raramente aceitam o Razzie, e uma das mais memoráveis excepções foi Helly Berry, que subiu ao palco em 2005 para aceitar a "amora" de pior actriz no filme "Catwoman".

Real e Barça vencem à tangente



Real Madrid e Barcelona sairam vitoriosos dos seus compromissos de ontem da Liga
espanhola, mas suando muito para levar de vencida a oposição. Os merengues foram ao Riazor bater o lanterna-vermelha Depor, a equipa mais "portuguesa" de Espanha, por duas bolas a uma. Riki marcou para os galegos aos 37 minutos, Kaká empatou aos 73 e só aos 88 argentino Higuaín garantiu os três pontos para a equipa de Mourinho. O Barcelona, a jogar no seu estádio, venceu o Sevilha pelo mesmo resultado e o "filme" foi o mesmo. Botia adiantou os andaluzes no placard no primeiro tempo, para David Villa aos 53 e o inevitável Messi aos 60 virarem o resultado para os catalães. O Barcelona lidera com 68 pontos, mais quinze que Atlético de Madrid, que apenas joga hoje em casa frente ao Espanyol, e mais 16 que o Real Madrid.

Porto dá a volta ao Rio Ave


O FC Porto bateu esta noite o Rio Ave por duas bolas a uma no Estádio do Dragão, em jogo a contar para a 20ª jornada da Liga Sagres. Como acontece ultimamente quando o Porto sofre golos em casa, os visitantes marcaram primeiro, golo de Braga. Só que ao contrário da partida de há quinze dias frente ao Olhanense, os dragões conseguiram dar a volta ao resultado e amealhar os três pontos. Em cima do intervalo Jackson Martínez empatou na transformação de uma grande penalidade, e aos 78 viria a bisar, corrspondendo a um cruzamente do seu compatriota James Rodríguez. Um golo 100% colombiano. Com mias estes dois golos Jackson Martínez eleva para 22 a sua conta pessoal na Liga, destacando-se cada vez mais na liderança dos melhores marcadores. O Porto isola-se assim temporariamente no primeiro lugar com 52 pontos, ficando à espera do resultado do Benfica-P. Ferreira, que se disputa este Domingo à noite.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Foi sem querer


A polícia transporta pelos membros o activista Jason Chao, um tipo com um ar verdadeiramente ameaçador.

Wu Bangguo, presidente da Assembleia Nacional Popular e nº 2 do Governo chinês esteve em Macau esta semana por altura do 20º aniversário da Lei Básica, a mini-constituição que é o garante do segundo sistema na RAEM. A visita decorreu sem sobressaltos de maior até quinta-feira, ultimo dia de Wu no território, quando a Polícia Judiciária deteve três activistas, dois que tentavam entregar ao político chinês uma carta onde pediam o sufrágio directo e universal no país, e outro que filmava os primeiros. Até aqui tudo normal, mas a certa altura a pintura ficou borrada quando alguns agentes à paisana arrancaram das mãos dos jornalistas uma cópia da carta, um acto que foi visto como um atentado à liberdade de expressão e de informação que a mesma Lei Básica consagra – irónico, é o mínimo que se pode dizer. O jurista António Katchi afirmou ontem à Rádio Macau queos agentes da PJ podem ter mesmo cometido o crime de coacção.

Os manifestantes eram os nossos conhecidos Jason Chao, do Novo Macau Democrático, e os rapazes da Associação do Activismo para a Democracia, Lei Kin Yun e Ng Sek Io. Os suspeitos do costume. Para eles o dia ficou ganho, pois foram detidos, fotografados e espernear e enfiados na viatura da polícia, e tudo isso que implica essa nobre arte do activismo. Apesar de Jason Chao ter afirmado que estava a filmar Lei e Ng “na qualidade de jornalista” e todos terem contestado a detenção, já sabiam muito bem que não seria simplesmente chegar perto de Wu, entregar-lhe a cartinha e ainda apertar-lhe o bacalhau, com o dirigente chinês a agradecer a atenção. O que aconteceu a seguir foi o bonus que certamente não estariam à espera; a gaffe das autoridades gerou certamente uma onda de “high-fives” entre os activistas pró-democracia.

E foi mesmo disto que se tratou, uma “gaffe”, ou “excesso de zelo”, chamem-lhe o que quiserem. As opiniões, mesmo as mais conservadoras, são no sentido que a polícia errou – é apenas senso comum. Talvez por isso a PJ divulgou ontem uma nota à imprensa pedindo desculpa aos jornalistas, prometendo ainda averiguar o sucedido. Ao contrário de outras situações semelhantes mais, digamos, “fracturantes” (o caso do agente que disparou cinco tiros no 1 de Maio em 2007, por exemplo), as autoridades ficaram sem uma base de apoio que lhes permitisse justificar seja o que for. Ficou feio arrancar papéis da mão dos jornalistas. E logo quando se comemora o aniversário do documento que garante que este tipo de coisas não aconteça. Domage!

Fico um pouco sem perceber muito bem a imagem que Macau quer passar quando se cometem estas extravagâncias em nome da “segurança”. Já a proibição da entrada no território de alguns académicos, jornalistas e activistas de Hong Kong por “razões de segurança interna” deixa algumas dúvidas. Será que a RAEM quer mostrar à mãe China que é um filho bonzinho e obediente, ao contrário dos seus irmãos rebeldes de Hong Kong? Serão alguns dos sermões que nem a própria China encomendou uma prova de “amor à Pátria”? É isto uma forma mais velada de dizer “estamos convosco, vão em frente”? É difícil entender a motivação, uma vez que é um dado adquirido que no segundo sistema temos direito a escrever e dizer o que nos apetece, pensar de maneira diferente, discordar e até de nos manifestar-mos. Penso mesmo que este incidente deve ter deixado o próprio Wu Bangguo a revirar os olhos e a pensar: “qual foi a parte da Lei Básica que não entenderam ainda?”.

A lei não mata a sede (nem ajuda a esquecer)


Está em Portugal a sair a nova lei do álcool, que causou alguma controvérsia por distinguir o vinho e a cerveja das bebidas espirituosas. De acordo com o novo diploma, um jovem com menos de 18 anos não pode consumir bebidas espirituosas, mas a partir dos 16 pode consumir vinho ou cerveja. As únicas alterações de monta prendem-se sobretudo com o horário de venda de bebidas alcoólicas, que fica assim limitado a clubes nocturnos, aeroportos e outros estabelecimentos licenciados entre a meia-noite e as oito da manhã. Pouco mais que isso.Na elaboração da lei foram ponderados factores como as estatísticas e a tradição – e ambas dizem que somos um país de bêbados.

Ao contrário dos países mais civilizados onde o consumo de álcool por menores é visto como sinal de decadência e em alguns casos associado às camadas mais pobres e menos educadas da sociedade, em Portugal sempre existiu uma grande flexibilidade – e bebamos mais um copo para comemorar. Não é nem nunca foi fácil a um jovem de 10 ou 11 anos chegar a um supermercado e comprar uma garrafa de whisky ou de vodka, mas a coisa muda de figura quando se trata de uma garrafa de vinho ou uma litrosa de cerveja, nem que seja com o pretexto de estar a fazer um recado ao pai. Eu próprio ia deste tenra ao supermercado entregar o vasilhame e levar uma grade de Sagres para casa e nunca sequer fui olhado com desconfiança. Num país e brandos costumes como o nosso, é comum um menor entrar numa farmácia e comprar preservativos, ou num clube de video e alugar um filme pornográfico. Se lhe perguntarem é só dizer “é pró meu pai”, e fica o problema resolvido.

Quando estudava no Liceu existiam à volta da escola vários cafés, tascas e restaurantes que os alunos frequentavam, e nunca vi os proprietários recusarem servir bebidas alcoólicas aos estudantes, mesmo os menores de 16 anos. Os almoços eram muitas vezes acompanhados de cerveja e de vinho, e não se pedia o bilhete de identidade. Havia alunos de 12 ou 13 que pediam “um café e um bagaço”, que nunca lhes eram negados. Recusar servir um aluno podia valer ao proprietário ou taberneiro a fama de “careta” ou “chibo”, e isto era má publicidade, e alguns destes estabelecimentos dependiam desta clientela. Chegavam mesmo a acontecer situações embaraçosas, como de alunos a voltar à escola visivelmente embriagados, sem que contudo se fossem apurar responsabilidades. É esta a “tradição” que temos.

Ainda me lembro de uma excursão que fizemos a Évora no 9º ano, teriamos entre os 14 e os 16 anos, portanto. Alguns dos meus colegas mais malandrecos levaram cerveja, que pelo meio da manhã já estava tudo menos gelada, ou sequer fresquinha. Os rapazolas bebiam-na durante a viagem, apesar do desprazer físico que constitui beber cerveja morna, mas a forma pouco discrete com que o faziam dava a entender que se tratava de alguma forma de afirmação. E deve ser mesmo isso: os jovens bebem álcool porque se trata de um comportamento “adulto”. É mais ou menos o mesmo que se passa com o tabaco. Mais uma vez entra aqui a velha maxima do “fruto proibido”, só que neste caso o fruto foi fermentado ou destilado.

Sou consumidor de bebidas alcoólicas desde os meus 17 anos, pelo menos assumidamente, e na verdade nem simpatizava muito com o vinho ou a cerveja antes disso. À cerveja só lhe comecei a tomar o gosto graças às imperiais geladinhas, que no Verão escorregam melhor que água, e que nem deviam ser classificadas de cerveja. Contudo não me orgulho de beber, e seria melhor para mim que não o fizesse. Tenho consciência disso, assim como toda a gente que consome bebidas alcoólicas: é um hábito prejudicial à saúde, e não há “tradição” que lhe valha. Seria muito complicado impôr a proibição a jovens menores de 18 anos, para não falar dos custos para a economia. Basta constatar que a maioria da publicidade que se vê em festivais “rock” e quejandos é de marcas de cerveja e derivados. Portanto não sejamos mais papistas que o Papa, e bebamos, amigos. Quanto mais bebemos mais esquecemos. Até cair para o lado.

Sem testículos no meio


David Antunes e a Midnight Band, do programa Cinco para a Meia-Noite, analisam o problema da carne de cavalo nas lasanhas congeladas. Foi na última quinta-feira na RTP, e ao som de "Where the Streets Have no Name", dos U2. Uma ideia bem divertida.

Olho no Boavista


Os adeptos do Boavista por esse mundo fora têm razão para estar felizes, pois o seu clube poderá voltar na próxima temporada à primeira liga do futebol português. O Boavista foi despromovido em Maio de 2008 na sequência do processo Apito Final, e joga actualmente na 2ª divisão "B", longe dos lugares de acesso à promoção. Na quinta-feira, o Conselho de Justiça (CJ) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) deu provimento aos recursos do Boavista às decisões da Comissão Disciplinar (CD) da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), sem apreciar o mérito dos procedimentos disciplinares, mas provando a sua prescrição. Uma tecnicalidade que mesmo assim vale aos axadrezados o regresso ao convívio entre os maiores.

O Boavista é o segundo maior clube da cidade do Porto, venceu um campeonato, cinco Taças de Portugal e três supertaças. Participou duas veze na Liga dos Campeões e atingiu a meia-final da Taça UEFA em 2002/2003, e desde então entrou numa espiral de decadência que culminou com a quase extinção do clube, e passagem por cinco anos pelas divisões secundárias. O presidente João Loureiro - filho do mítico Valentim Loureiro, o homem responsável pelo engradecimento do Boavista desde os anos 70 até finais da década de 90 - regressou à presidência do clube recentemente. João Loureiro era o presidente do título em 2000/2001, e tudo indica que vai fazer novamente história. Resta saber como vai a Liga desatar este nó, se existirá um novo alargamento para acomodar o Boavista, e o mais importante, tendo o clube a razão do seu lado, quem os vai compensar pelos cinco anos de travessia do deserto?

Linha torta para o Sporting


O Sporting voltou a perder ontem para a Liga Sagres, e desta vez na Medideira, frente ao Estoril-Praia por 1-3. Foi a primeira derrota dos leões na linha em 37 anos, o que diz bem da época miserável da equipa de Alvalade, a viver a pior época de sempre em termos desportivos, e quem sabe administrativos, também. Wolfswinkel adiantou o Sporting no marcador ainda cedo, mas os estorilistas aproveitaram bem o caos leonino para dar a reviravolta, ficando perto da goleada. O Sporting somou a oitava derrota esta época, e fica praticamente afastado dos lugares europeus. Para piorar a situação, recebem o FC Porto na próxima ronda, e se a lógica imperar, vão-se afundar ainda mais na tabela, onde ocupam actualmente um modesto 9º lugar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Macau fora de horas


Artigo publicado na edição de ontem do Hoje Macau.

Apesar da pacata (e pataca) monotonia com que passam os dias, pontuados com a invasão de milhares de turistas que nos sufocam aos fins-de-semana e dias feriados, Macau é uma cidade que convida a uma saída nocturna. Quer dizer, para quem gosta. Não faltam opções para quem se quer divertir fora de horas, a escolha é cada vez mais variada, mas até neste ponto tenho saudades da Macau de outros tempos. Perdoem-me a nostalgia própria da idade que avança a um ritmo implacável, mas as actuais discotecas, bares e outros locais de diversão nocturnos da moda não me enchem as medidas. É tudo muito mais moderno, espaçoso e frequentado por gente jovem e bonita, mas sinto a falta de um passado ainda fresco na memória, em que a cidade se distinguia das restantes da região pela sua originalidade e simplicidade. Não existiam as festas por convite à beira da piscina de qualquer hotel de luxo, animadas pelos DJ’s da moda, os dançarinos profissionais, os “dress codes”, as fotos no Facebook no dia seguinte. Era tudo muito mais simples, mais humano, mais volátil e por isso mais precioso.

No início dos anos 90, há cerca de vinte anos, a animação nocturna que existia fora da esfera dos bares de karaoke estava delimitada a uma zona da cidade que todos os estrangeiros e portugueses residentes no território conheciam bem. A noite começava por volta das 11 horas na Rua Pedro Coutinho, onde se podia optar pelo Pyretu’s, um bar de música Africana que nunca desiludia os aficionados do género, ou na porta ao lado, no Talker’s, um agradável “pub” ao estilo ocidental animado com música de “juke-box”, e que servia de ponto de encontro aos noctívagos desejosos de emoções fortes. A vizinhança entre os dois bares, ambos extintos há mais de dez anos, permitia que os clientes se revesassem, o que era frequente. Quem optava por começar a noite num “mood” mais suave ia até ao Clube de Jazz, situado então na Rua das Alabardas, no Bairro de S. Lourenço.

Pelas duas da manhã, e já com os espíritos em alta, a discoteca Mondial era ponto habitual de romagem. Situada no segundo andar do hotel com o mesmo nome, na Rua de Silva Mendes, esta era uma “discoteca” na acepção do termo, e ali acorria todos os tipos de fauna do território. O ritual de “abanar o capacete” era cumprido religiosamente por portugueses, chineses, tailandeses, filipinos e estrangeiros das mais diversas origens, e um local de eleição para fazer aquele “engate” mais ou menos indiscreto, que fechava a noite mais cedo, mas com chave de ouro. Muitos anos antes da chegada a Macau das concessionárias de jogo do Nevada, esta discoteca foi pioneira de uma máxima que caracteriza Las Vegas: “O que acontecia no Mondial, ficava no Mondial”. Pela módica quantia de 90 patacas que davam direito a duas bebidas, podia-se dançar até quase às cinco da manhã, altura em que se acendiam as luzes que anunciavam o fim de mais uma bonita festa.

À saída era muito fácil encontrar um táxi que nos levasse a casa, sozinhos ou bem acompanhados, depois de mais algumas horas bem passadas. Os mais resistentes seguiam até ao restaurante tailandês Kruatheque, na Rua Henrique de Macedo, à distância de dez minutos a pé pela Avenida Sidónio Pais. O restaurante, que ainda existe, tinha naquele tempo uma pista de dança no rés-do-chão, onde a animação durava até depois das sete da manhã, completamente grátis – pagava-se apenas pelas bebidas, e o consumo não era obrigatório. Quem optava por cear, uma alternativa mais dispendiosa, fazia-o na companhia de jovens e belas tailandesas, mão-de-obra das saunas do território, então em muito maior número que hoje. Os mais ousados podiam meter conversa, e procurar a sorte que não lhes sorriu no Mondial. A madrugada era a altura do dia de maior negócio no Kruatheque. O regresso a casa fazia-se já bem depois do nascer do dia, anunciando um Domingo de merecido repouso.

Os bares da Pedro Coutinho e o próprio Hotel Mondial passaram de moda e tiveram a sua “demise” em finais da década de 90, quando a animação nocturna se transferiu de armas e bagagens para o NAPE, onde os bares começaram a surgir como cogumelos. A opção “discoteca” sofreu com o aparecimento do som “trance” e do “techno”, e resumia-se a alguns poucos locais onde o ambiente era muito mais pesado que o velhinho e saudoso Mondial. Eram novos tempos, diferentes, mas mesmo assim divertidos. A própria zona de bares do NAPE, que chegou a ser comparada com as docas de Alcântara, em Lisboa, foi perdendo o charme, resumindo-se actualmente a alguns estabelecimentos banais, sem o mesmo encanto de outrora.

Há quem diga que os gostos mudam da mesma forma que as gerações se sucedem, e se calhar sou eu quem está completamente “out”. Pode ser que sim. Estou de fora desta vida nocturna onde é tudo meticulosamente preparado, coreografado, e nada é espontâneo ou deixado ao acaso. Talvez seja também um demagogo e um forreta, mas ainda sou do tempo onde todos nos encontrávamos e festejávamos sem etiquetas nem compromissos, em que não se pagava por um afecto ou por um gesto mais sensual, e uma ousadia ou um atrevimento não eram negociáveis. Não estou por dentro desta “indústria” que produziu profissões como “DJ”, “VJ” ou “organizador de eventos”. Do meu tempo só restaram as pêgas e os traficantes, que talvez sejam agora conhecidos por outro nome mais pomposo. Resta-me agora curtir o reumatismo, sentado à lareira numa cadeira de baloiço, na companhia de um livro que vou lendo com as minhas lentes grossas. Só que de quando em vez vou parar para suspirar e desabafar em voz alta: “Que saudades daquela noite de Macau…”



Grandolemos, mas com cuidado


O ministro Maquiavel Relvas adere à moda do "Grândola".

A crise em Portugal continua a estar na ordem do dia, e poucos conseguem disfarçar a insatisfação com as medidas de austeridade impostas pelo Governo de Passos Coelho, cujo executivo é visto como uma espécie de “bando de malfeitores”, uma corja. As asas que são dadas ao povo pela liberdade de expressão levam-no a manifestar o descontentamento sem que disso resultem dissabores ou se sofram retaliações (bem, depende…). Algumas dessas manifestações chegam a primar pela originalidade, enquanto outras são simplesmente descabidas, ou mero pretexto para cometer actos de vandalismo. A “moda” agora impedir os ministros do governo do PSD de falar em público ou à margem de eventos cantando “Grândola, vila morena”, o hino à liberdade da autoria de Zeca Afonso que serviu de senha aos militares que levaram a cabo a revolução que acabou com a ditadura, e permitiu que se exerçam as liberdades – mesmo desta forma pouco ortodoxa. Os ministros Miguel Relvas, o maior figurão do executivo de Passos Coelho, e Paulo de Macedo foram nos últimos dias vítimas desta espécie de protesto-cantado, e já ontem Vítor Gaspar escapou ao “Grândola” (dito assim parece o nome de um vírus) numa conferência sobre coesão e crescimento levada a cabo pelo PSD/Lisboa e realizada no Hotel Sana –muito por culpa do próprio PSD, que limitou a entrada a militantes e convidados, deixando de fora os indesejáveis “grandoleiros” (eh, eh). Como bom democrata, considero todas as formas de protesto válidas, desde que não façam uso da violência ou interfiram com a liberdade de outrém. O que se passa neste caso particular (além do evidente desrespeito pelos mais elementares princípios da boa educação) é exactamente isso mesmo: usa-se o protesto como forma de impedir outros de se expressarem. Chega a ser irónico que a canção que serviu de banda-sonora à chegada da liberdade, e com ela o exercício da livre expressão sirva agora para silenciar alguém, por muitas culpas que esse alguém tenha no cartório. Não foi para isto que o Zeca “grandulou”, meus amigos.

PS: O vídeo acima é cortesia da equipa que produz o "Contra Poder", o programa que marca o regresso à RTP do formato do "Contra Informação", que saíu do ar há dois anos. A nova série terá início a 5 de Março.

Negros hábitos


Enquanto que na Alemanha a Igreja autorizou a administração da pílula do dia seguinte a vítimas de violação – uma atitude super-progressista, falando de Igreja – em Portugal o clero ganha mais uma dor de cabeça graças ao comportamento extravagante de um dos seus mais conhecidos membros: o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo, resignou devido a suspeitas de abusos sexuais a outros membros da Igreja. O bispo reclama a sua inocência, naturalmente, mas nestas situações que envolvem figuras consideradas “acima de qualquer suspeita”, não há fumo sem fogo. Ninguém ia lá chatear o bispo se não existissem razões fortes para o fazer; acusar uma alta individualidade da Igreja Católica de cometer abusos sexuais não é o mesmo que acusar o bêbado da vila. Há quem diga que Carlos Azevedo é e sempre foi homossexual, e que este facto “não era um segredo” mesmo dentro da própria Igreja. O agora ex-bispo era tido como o principal candidato a suceder a D. José Policarpo no cargo de cardeal-patriarca de Lisboa, figura maior da Igreja Católica portuguesa. Curiosamente foi o mesmo Carlos Azevedo que afirmou há tempos que os crimes de pedofilia dentro da Igreja “envergonhavam a instituição”, e deveriam ser exemplarmente punidos. Claro que agora é preciso deixar a justiça seguir o seu rumo normal, e o clérico é inocente até prova em contrário, como qualquer cidadão. Caso o contrário seja mesmo provado, então este caso é mais um rombo no casco do navio daqueles que ainda defendem que existe alguma “teoria da conspiração” que visa denegrir o bom nome da Igreja. Mas pronto, e de quem a culpa? Será do omnipotente, que encarregou os homens de fazer o Seu trabalho?

Benfica em frente na Liga Europa


O Benfica venceu esta noite o Bayer Leverkusen por duas bolas a uma no Estádio da Luz, confirmando a vitória obtida a semana passada na Alemanha e carimbando o passaporte para a próxima eliminatória da Liga Europa. Os golos surgiram apenas na segunda parte, com o holandês Ola John a inaugurar o marcador aos 60 minutos, ampliando a vantagem dos encarnados no total das duas mãos. Quinze minutos depois Schürrle empataria para o Bayer, ficando os alemães a apenas um golo de virar a eliminatória a seu favor. Só que a incerteza não pairou no ar por muito tempo, pois apenas dois minutos volvidos Matic voltava a colocar o Benfica na liderança do marcador, resultado que se manteve até ao apito final. Mérito para a equipa de Jorge Jesus, que fez o pleno perante o actual segundo classificado da Bundesliga, um adversário teoricamente muito complicado. Agora nos oitavos-de-final o Benfica defronta os franceses do Bordéus, que eliminaram o Dinamo Kiev com uma vitória em França pela margem mínima, depois do empate a um golo na capital ucraniana. As águias são agora teoricamente favoritas para seguirem para os "quartos".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Família em stress


1) Ho Wai Tim, oficialmente presidente da Associação Ecológica de Macau mas nome ligado a 26 (!) associações do território, passou ao lado de uma brilhante carreira de humorista. Numa entrevista publicada pelo Ponto Final e num artigo do Hoje Macau desta quinta, o homem que saltou para a ribalta devido à sua ligação com uma associação que defendia a demolição de uma caserna dos tempos da Administração Portuguesa em Coloane diz de sua justiça, afirmando que se sente "perseguido", com consequências deagradáveis para si "e para a sua família". De recordar que o nome de Ho Wai Tim está ligado a um sem número de associações da mais diversa natureza em Macau, e enas 3 delas terão recebido os últimos trÊs anos um total de 1,8 milhões de patacas em apoio financeiro. Ho acusa a Associação do Novo Macau Democrático (NMD) de o perseguir, ao ponto de, e vejam só, ter "verificado se a sua morada coincidia com a sede das associações" - o que se confirmou, de facto. Estas são, segundo o próprio, "manobras do NMD motivadas por vingança", pois em 2006 Ho terá acusado os democratas de "fazerem um espectáculo público" a propósito de uma polémica quanto às marés salgadas e outras questões do ordenamento do território e do seu impacto ambiental. Ho diz ainda que "não confirma" o valor dos seus rendimentos nos últimos anos, e que isso "é uma conta que o NMD fará por ele". Ah, ah! Tomem lá que já almoçaram, seus democratas malvados. Até porque a associação que Ho Wai Tim (realmente) preside, a Associação de Ecologia de Macau, "tem provas dadas, e reconhecidas pela população". Uh, o quê? Importa-se de repetir?

2) A deputada Melinda Chan quer que a cara dos candidatos às próximas eleições para a Assembleia Legislativa conste dos boletins de voto, para que os eleitores identifiquem melhor os candidatos. É uma coisa "à Macau": é mais fácil identificar o cabeça de lista do que o extenso nome da associação ou lista a que este pertence, e alguns podem mesmo ficar confusos com a simbologia: "Eu não queria vir aqui, e tal...mas a patroa deu-me um lai-si para vir votar...onde é que eu ponho a cruz?" Faz todo o sentido, apesar de dar a entender que os cidadãos recenseados de Macau são atrasadinhos mentais. Faz lembrar alguns países de África, onde a maior parte da população era analfabeta, e os supermercados colavam uma etiqueta com o desenho do animal de onde a carne era originária. Quando a Gerber entrou no mercado com a sua comida para bebés, com a imagem de um petiz no frasco, os africanos pensaram que se tratava de alguma forma de canibalismo. Uma curiosidade engraçada. Se a ideia da sra. deputada for avante, até pode ser que alguns indecisos votem nela pelos seus lindos olhos.

3) Uma notícia de hoje do jornal Tribuna de Macau na minha secção favorita (a página 4, dedicada ao crime) tem contornos aboslutamente surrealistas. Uma jovem de 22 anos diz ter sido "violada" por mais de uma vez por um homem de 47 anos, uma acusação grave que é aqui utilizada de forma muito "libertária". A jovem em questão conheceu o homem na internet, envolveram-se num caso amoroso, mas quando ela descobriu que o namorado era casado, quis terminar a relação. Este ameaçou publicar fotos íntimas na internet, e com esse pretexto forçou-a a manter relações sexuais...no trilho da Taipa Grande, o que dá a entender que a relação consentida - que durou mais que um ano antes da jovem saber que o homem era casado - resumia-se a beijinhos e passeios de mão dada. Depois disso o suspeito "forçou-a" a mais pouca vergonha, desta vez do outro lado das Portas do Cerco, num hotel em Gongbei. É supreendente que na alfândega ninguém tenha reparado na forma "violenta" com que este homem horrível arrastou esta jovem inocente através da fronteira, enquanto esperneava e gritava "nãããooo...violação!", sem que ninguém impedisse a concretização do horrível acto. Violação, um crime sério que em Macau parece servir de paleativo para a dor de corno.

Milanesa indigesta para o Barça


Pode ser considerada a grande surpresa da primeira-mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões: o poderoso Barcelona perdeu em Milão, e logo por 0-2, um resultado complicado de contornar no jogo da segunda mão em Nou Camp, apesar de não existirem impossíveis para Messi e companhia. Esta "pizza Milanesa" indigesta para os catalães foi servida na segunda parte, e por dois jogadores ganeses: Kevin-Prince Boateng e Sulley Muntari. Nem os adeptos dos "rossoneri" estariam à espera de fazer a festa à custa daquela que é considerada pela generalidade a melhor equipa do mundo. Entretanto na Turquia o Galatasaray, reforçado no mercado de Inverno com Didier Drogba e Wesley Snjeider, não foi além de um empate a uma bola frente ao Schalke 04. Os alemães ficam assim em posição privilegiada para seguir em frente na prova.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Macau 2013


2013 é ano de eleições legislativas em Macau, quatro anos cumpridos após as últimas, realizadas em Setembro de 2009. Não surpreende que se fale agora de quem quer ser candidato, que se anuncie quem concorre ou volta a concorrer, que se deliniem estratégias, que se faça a política que é possível fazer num território com menos de 300 mil eleitores inscritos. Pois é, ainda parece que foi ainda ontem que tinhamos por aí os simpáticos candidatos em poses sorridentes a tentar angariar os necessários votos para sentar o rabiosque no hemiciclo, distribuíndo papelada, “mexendo-se” no meio das associações e prometendo “trabalho”.

E por falar em “trabalho”, se é que se pode considerar o cargo de deputado como tal, tenho um amigo bastante céptico quanto a isto de eleições – que despreza e faz questão de se abster – que diz que eleger um deputado pela via directa é “dar emprego a mandriões”. E é um bom emprego, sublinhe-se. Pode ser que tenha o seu quê de razão, uma vez que ao contrário de outras democracias mundiais, em Macau não se elege um Governo através do sufrágio, e trata-se tudo apenas de uma questão de representatividade dos diversos sectores que compõem a sociedade local.

Ficará tudo quase definido antes do Verão, quem concorre ou não, e por essa altura será possível vaticinar quem é que se vai sentar na Assembleia Legislativa até 2017, quando se repetir a charanga eleitoral. Este ano o número de deputados eleitos por sufrágio directo aumenta de 12 para 14, um aliciante extra, subindo o total de deputados de 29 para 33. Um aumento que se justifica pelo crescimento do território nos últimos anos. Os outros dois deputados suplementares virão do sufrágio indirecto, o tal que ninguém entende muito bem como funciona, e que se resolve “entre portas” pelas associações de interesses empresariais de Macau – e outros, mas sobretudos empresariais. São lugares virtualmente “comprados”, e só é pena que não se tenha optado por submeter a totalidade dos quatro assentos suplementares à vontade do eleitorado. Atribuir dois lugares ao sufrágio directo e mais dois ao indirecto é como chover no molhado.

A maioria dos 14 lugares que dependem do voto popular estão à partida atribuídos, e a distribuição não será muito diferente da que foi determinada em 2009. Assim teremos pelo menos três lugares para o sector democrata, dois para os operários, um para a Associação de Moradores, vulgo “kai-fong”, um para Chan Meng Kam e a sua Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, um para os funcionários públicos de José Pereira Coutinho e outro “para o casino”, representado por Angela Leong. Os restantes cinco estarão em aberto, ou nem por isso. Resta saber se os democratas conseguirão aproveitar o “alargamento” para obter um quarto assento, se a lista de Fujian com Chan Meng Kam à cabeça manterá um segundo deputado, agora que Ung Choi Kun anunciou que não se recandidata, se os Kai Fong recuperarão o mandato perdido há quatro anos, se Melinda Chan conseguirá a reeleição, e se o sector da construção civil, representado actualmente por Mak Soi Kun, obtem um lugar pela via directa.

Mesmo que se concretizem todas estas possibilidades, sobra ainda um lugar, e é aqui que reside o principal interesse destas eleições, que raramente trazem grandes surpresas. Há quem especule sobre a eventual eleição de um segundo deputado para a ATFPM de Pereira Coutinho, depois de Rita Santos ter ficado relativamente perto há quatro anos, ou da entrada de uma novidade, ora da parte da União para o Progresso e Desenvolvimento, associada ao sector empresarial, ora da parte do Observatório Cívico de Agnes Lam, tendo ambos obtidos mais de 5 mil votos em 2009, mas ficando à porta do hemiciclo. Gostava de ver mais novas faces na Assembleia, mas verdade seja dita, nenhuma destas três opções me agrada. Aliás quem me conhece e acompanha o blogue há alguns anos sabe bem o que penso: não me revejo em nenhuma lista que represente um sector específico, e com excepção do Novo Macau Democrático, não existe uma opção realmente abrangente; quem vota normalmente põe a cruz ao lado de quem o possa servir, ou de quem lhe põe o pão na mesa.

Como é habitual em ano de eleições, fala-se da possibilidade de uma lista de matriz “portuguesa”, que é como quem diz, uma que possa cativar o interesse dos eleitores macaenses e dos portugueses expatriados recenseados, como é o meu caso. O fracasso das últimas listas desta natureza (que não chegaram aos mil votos) é por si dirimente de mais uma tentativa. A lista “Voz Plural – Gentes de Macau”, que foi no início vista como uma “lufada de ar fresco”, foi uma tremenda desilusão, que acabou por ser ainda pior depois de se esfumar depois do sufrágio de 2009, apesar da promessa de continuidade e de participação na vida civil. A experiência da “Voz Plural” tornaria um novo projecto alvo de chacota, dando aso a mais acusações de elitismo e desunião – um problema de que a nossa comunidade se ressente. É de acreditar que o recente anúncio da "disponibilidade" de Casimiro Pinto trata-se apenas de uma declaração de ocasião, um "vento" passageiro.

Fiquemos atentos portanto às novidades, que certamento irão surgindo até antes das férias, preparando a “rentré” política, que será em grande, com mais este sufrágio. Quem sabe se alguém conseguirá convencer algum segmento da população que não se revê nos actuais candidatos; a abstenção ficou pelos 40% em 2009, e sempre são cerca de 100 mil eleitores que podem fazer toda a diferença. Espero ansiosamente por essa temporada de eleições e respectiva campanha, que é sempre sumarenta em termos de notícias e curiosidades. A bem ou a mal, sempre se vai fazendo alguma “política” em Macau de quatro em quatro anos, e sempre dá para “sacudir” a monotonia. Tirando essas poucas semanas, o debate politico na RAEM resume-se a uma palavra: pasmaceira.

Félix da Costa o melhor de 2012


O piloto português António Félix da Costa foi eleito o Piloto do Ano 2012, numa votação levada a cabo pelo site "Driver Database", numa vitória arrasadora para o jovem português, de 21 anos, que ainda conquistou outros três troféus.

Félix da Costa, que em 2012 venceu quatro corridas de Formula Renault 3.5 Series, três de GP3 Series, duas de MSV F3 Cup e ainda conquistou o Grande Prémio de Macau, foi o preferido de 51,3% dos votantes, naquela que foi a sexta edição do prémio, que já foi ganho Kimi Räikkönen (2007), Sebastian Vettel (2008 e 2010), Jenson Button (2009) e Richie Stanaway (2011).

Além do prémio principal, Félix da Costa venceu os troféus de Jovem Piloto do Ano (59.8%), Piloto do Ano em Monolugar (53.7%) e Piloto Surpresa do Ano (60.2%).

In Record

Recordar Mário Viegas (nunca é demais)


Passou há momentos na RTPi uma pequena homenagem ao saudoso actor Mário Viegas, com testemunhos de pessoas que o conheciam e que com ele trabalharam. Foi muito agradável recordar Mário Viegas, uma figura da nossa cultura merecedora de todos os encómios e mais alguns. Excelente actor dramático com incursões pela comédia - todos nos lembramos com carinho dos curtos "Filmezinhos" de Sam - um natural do teatro, com uma respeitável carreira na televisão e no cinema. Uma vez disse que o teatro "era a arte da representação por excelência, mas é na fita que ficamos imortalizados". Um estudioso apaixonado da nossa literatura e da poesia, declamador exímio e narrador inconfundível, Mário Viegas deixou muitas saudades. Consciente da realidade do país, um homem muito culto e amante da liberdade, era também conhecido pela sua participação cívica, chegando mesmo a lançar uma candidatura à Presidência da República, que se viria a revelar fictícia - eu votaria nele. A sua orientação política era de esquerda, e sendo apartidário, afiliou-se na UDP - opção reprovável, que contudo se entende como apenas uma forma de poder passar o seu discurso ideológico. Era um homem cordato e sociável, um excelente amigo, que deixa a quem teve o privilégio e a honra de trabalhar com ele um sorriso nos lábios. Como disse Lia Gama, "como pessoa faz muita falta". Homossexual declarado, sem ser assumido, foi colhido pelo flagelo da SIDA em 1996, aos 47 anos. Mesmo na hora da sua morte Mário Viegas quis ser especial: deixou-nos no dia 1 de Abril. Mesmo a sua irmã diz que o Mário "escolheu aquele dia para brincar connosco". Tendo partido desta vida e das artes no auge, deixa no ar a dúvida do que seria hoje um Mário Viegas sexagenário, mais amadurecido. Teria feito História no seu ofício, certamente. Foi uma enorme perda para a cultura nacional, e é sempre bom revê-lo.

Com este mal passo eu bem


A cubana Yoani Sánchez está no Brasil, uma visita rodeada de polémica. Yoani, jornalista e blogger, é uma das figuras de proa da crítica ao regime de Fidel Castro, uma posição que lhe tem valido muitos dissabores no seu país natal, como seria de esperar. Nascida em 1975 e educada pelos princípios socialistas, o seu tempo de Liceu coincidiu com o fim da União Soviética, o país que mais ajuda económica providenciava à ilha caribenha, embargada pelos Estados Unidos desde os anos 60. Estudo Filologia na Universidade de Havana, chegando à conclusão que a àrea da "alta cultura" não era aquilo que esperava. Desiludida com o regime, partiu para a Suíça em 2002, onde estudou informática, e a partir daí começou a combater a censura em Cuba, criando uma rede de notícias "online". É fundadora e autora do blogue "Generación Y", traduzido já para 17 línguas. Agora no Brasil Yoani sofre a contestação de vários "esquedistas" que se dizem simpatizantes do regime cubano, e é acompanhada de oito guarda-costas. Certamente a via do diálogo não será uma das opções destes manifestantes para expressarem a discordância com as posições de Yoani. A autora é acusada de estar "ao serviço dos americanos", uma ladainha que cada vez mais serve aos regimes assumidamente anti-democráticos, que vão "baralhando e dando outra vez": "se estão contra nós, são a favor dos americanos". Numa planeta cada vez mais desumanizado e em crise, onde a economia e o capital ditam as regras, a figura dos americanos e do seu dólar não colhem a simpatia de quem deseja uma sociedade mais equalitária e mais justa. Só é pena que se extremem as posições, e que se confundam os valores, ao ponto de considerar o regime dos Castro uma "vítima", passando-os para o lado do "bem". Se é este o "bem" que estes pseudo-activistas desejam, prefiro o mal, que neste caso, é um mal menor. Assusta-me esta subversão de princípios, que parece ter cada vez mais adeptos.

O grande Sebastião Antunes


Estava no Domingo a ver o programa "Aqui Portugal", que contou com a participação musical do grupo Quadrilha, liderado há quase 20 anos pelo carismático Sebastião Antunes, seu vocalista e guitarrista. Sebastião Antunes é invisual, mas antes que mais nada (e talvez também por isso) é um excelente músico, um exímio letrista e a sua carreira de quase 30 anos é marcada por sucesso - quem sabe se merecia mais. A primeira vez que ouvi o Sebastião foi em 1988, nos bons velhos tempos da Rádio Cidade (quando ainda era pirata). O tema que ficou no ouvido de todos nesse Verão foi "Caixinha de Música", dos Peace Makers, que era na altura o grupo do cantor. No início dos anos 90 Sebastião formou os Quadrilha, um grupo com um som de raíz marcadamente tradicional portuguesa, dentro do género "folk", que gravou já cinco álbuns de originais e um ao vivo. Temas alegres e alguns até dançáveis, que reflectem bem o estado de espírito do seu vocalista. Sebastião Antunes é um exemplo de profissionalismo e abnegação, e para tal junta uma grande tose de talento. Nem se pede que a sua deficiência inspire algum tipo de simpatia: quase nem se nota que é invisual. Perante todo o resto, esse é apenas um pequeno detalhe. Deixo-vos então com este "O meu assunto preferido", um dos temas que os Quadrilha interpretaram no Domingo, aqui no programa "Portugal no Coração", de Outubro último.

Porto vence Málaga


O FC Porto bateu esta noite o Málaga por uma bola a zero no jogo da primera mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. O Porto dominou territorialmente perante a equipa andaluz, assumidamente defensiva, criou as melhores oportunidades e mereceu a vitória, obtida na segunda parte graças a um golo de João Moutinho. O Porto conseguiu o objectivo, que era vencer sem sofrer golos em casa, mas vai para o jogo da segunda mão com uma magra vantagem, fruto de alguma desinspiração da sua linha avançada. Curiosamente os dragões são até agora a única equipa a vencer em casa nesta ronda da Champions, quando falta ainda disputar o AC Milan-Barcelona e o Galatasaray-Schalke 04, que se realizam hoje. Noutra partida realizada na terça o Bayern foi ao Emirates Stadium bater o Arsenal por 3-1, carimbando praticamente o passaporte para os quartos-de-final.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

As Grandes Agências Secretas


O livro “As Grandes Agências Secretas”, do jornalista José Manuel Diogo, é mais do que um grande trabalho de investigação; é um documento que ajuda a entender melhor certos aspectos da História do século XX e a explicar muito do que se passa hoje nos meandros da diplomacia mundial. É um livro que se lê bastante bem, soberbamente organizado em capítulos onde o autor nos dá uma perspectiva histórica das “secretas”, inserindo-as no contexto dos dias de hoje.

O livro debruça-se sobre cinco agências secretas: os SIS, de Portugal, a norte-americana CIA, o MI-6 britânico, o KGB russo e a Mossad israelita. A obra é pontuada com histórias de espiões que chegam a roçar o romantismo (contudo, e repito, todas devidamente documentadas), e muitas curiosidades que tanto eu como certamente muitos desconheciam. Alguns dos episódios relatados chegaram a ser material ultra-secreto, e dá até um certo gozo pensar que foi perigoso ter conhecimento de certos factos ali divulgados. Há mesmo coisas que é melhor nem saber.

O livro despertou-me a curiosidade mais pela sua componente histórica e documental. Não sou adepto de espionagem, nem dos filmes de James Bond (que me parecem todos extremamente datados e improváveis), mas aprecio a intriga política e os seus fins que justificam a existência de uma rede de informação de contra-informação que permitam aos estados vencer os seus inimigos por antecipação. A espionagem, o secretismo, a traição, a tortura e todo o resto que podemos encontrar em muitas das histórias que José Manuel Diogo nos conta são aspectos negros da natureza humana, mas como o nome indica, é uma “natureza”, e não há nada a fazer.

O primeiro capítulo fala-nos do SIS, a “secreta” portuguesa, que como em todo o resto traduzido à dimensão do nosso país pequeno e periférico, está longe de ser considerada uma “grande agência”. José Manuel Diogo terá optado por tratar inicialmente a nossa própria realidade, cuidando por não pecar por essa omissão. Achei fascinante a descrição dos primórdios da espionagem em Portugal, que remonta aos gloriosos tempos da expansão ultramarina, e as aventuras e desventuras dos nossos primeiros espiões, ao serviço da coroa. Menos fascinante é o próprio SIS, que de secreto tem muito pouco, ao pouco de se terem mesmo tornado públicos os vencimentos dos seus agentes. Espiões “à portuguesa”. Tive pena que não se ficasse a saber mais da PIDE/DGS, a polícia secreta ao serviço da ditadura do Estado Novo. Certamente que existirá material que justificaria só por si um outro livro.

A norte-americana CIA teve um papel preponderante durante a Guerra Fria, e perdeu algum do seu “elan” com a desagregação do seu maior inimigo, a União Soviética. A CIA era um verdadeiro polvo cujos tentáculos se estendiam aos cinco continentes, e tiveram uma acção tal nos mais diversos palcos que chegavam a derrubar regimes e a levantar outros. O desinvestimento que se fez na “intelligence” americana nos anos 90 pode ter sido um erro de cálculo, ace ao surgimento de um novo inimigo: o terrorismo islâmico. É difícil de imaginar que papel poderia ter tido a CIA na prevenção dos ataques do 11 de Setembro, por exemplo. O fim da União Soviética foi mesmo mau para o “negócio” da espionagem “yankee”.

O MI-6 e os espiões britânicos confundem-se com a personagem de James Bond, espião fictício criado por Ian Fleming, ele próprio um agente ao serviço de sua majestade. Aproveitando-se desse estatuto, não faltou a Fleming inspiração para o personagem, e agentes como Sidney Reilly, “Biffy” Dunderdale ou Sandy Glen – cujas histórias são contadas no livro – têm todos o seu quê de “bondesco”. A importância do MI-6 diluiu-se com o fim do Império Britânico. Mesmo assim a sua acção durante a II Guerra Mundial e a Guerra Fria deram origem a histórias tão apaixonantes como rocambolescas.

O capítulo seguinte, sobre o KGB, é o meu favorito. E digo isto com um certo complexo de culpa, pois chega a ser um prazer sádico ler sobre a forma cruel com que o povo russo tem sido tratado nos últimos cinco séculos, nas mãos de indivíduos a quem chamar “loucos” fica longe de os definir com precisão. Indivíduos como Nikolai Yezhov ou Lavrentiy Beria entre outros “cães de fila” de Stalin e do regime soviete não se inibiam de perseguir, matar, torturar ou desgraçar famílias inteiras e gente inocente, usando para o efeito os métodos mais cruéis que se possa imaginar. Pode parecer mentira, mas será actualmente durante o consulado do déspota Putin, ele próprio um ex-KGB, que a Rússia e os russos conheceram finalmente alguma paz. Do mal o menos.

O último capítulo é dedicado à Mossad israelita, uma agência que se confunde com o próprio estado de Israel. A génese do estado-judaico é já por si controversa, e o pequeno país depende fortemente da acção musculada do seu exército e da sua “secreta” para evitar a obliteração, rodeado que está de inimigos. A Mossad tem uma filosofia muito própria e métodos que fazem escola. Mais do que garantir a protecção de Israel, os seus agentes são requisitados por outras potências mundiais no sentido de partilhar técnicas e conhecimentos. É uma agência recente mas famosa pela sua eficácia clínica, frieza e pragmatismo, sempre um passo à frente do seu inimigo. É a Mossad que personifica a espionagem moderna, quer se concorde ou não com os seus métodos ou com a sua própria motivação.

Feita que está a apresentação, recomendo que leia “As Grandes Agências Secretas”. Penso não ter dito aqui nada que torne o livro menos surpreendente, pois José Manuel Diogo consegue contar episódios de sucessos, fracassos e equívocos que vão muito além daquilo que possamos imaginar. É interessante como tantas vezes nos cruzamos com tanta gente anónima no nosso dia-a-dia, no café, a caminho do emprego, em trânsito num qualquer aeroporto por esse mundo fora, inconscientes de que podemos estar a ser figurantes numa trama complexa que poderá mudar a face do mundo. É um livro que nos faz sentir um tanto insignificantes. Tem esse condão.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

De um rico pudim a pudim rico


Quando era ainda um chavalinho imberbe, no início dos anos 80, a China era ainda um gigante adormecido. O Dragão ainda sarava as feridas de décadas de equívocos tremendos, e em Portugal a única referência era o livrinho vermelho de Mao, leitura de mesinha de cabeceira de alguns idiotas, perdão, intelectuais…não, eram mesmo palermas, que se diziam maoistas. Os excessos do PREC que se seguiu à revolução dos cravos deu para tudo, até para considerar o Maiosmo viável. Gostava de perguntar aos Durão Barrosos e às Ana Gomes desta vida que bicho amarelo os mordeu. Mas quem os viu e quem os vê, ah ah.

Para quem ignorava isto, a China era, ora, a China. Fulanos de bigode fino e comprido vestidos de roupão amarelo com desenhos de dragões e chapéus em bico, como na embalagem do pudim flan El-Mandarim, indivíduos amarelados de olhos minúsculos que puxavam um Riquexó enquanto abanavam a longa trança, mulheres misteriosas vestidas de cabaia com um ar maquiavélico, como no anúncio da sopa chinesa da Maggi. Os restaurantes chineses eram ainda muito poucos, e os seus proprietários/cozinheiros/empregados eram entidades misteriosas, ao estilo do Dr. Fu Manchu ou do Detective Charlie Chan. Qualquer pessoa com olhos em bico era inevitavelmente “chinês” (mesmo um japonês, coreano ou até um malaio) e mesmo um português de gema com o olho mais rasgadinho não se livrava da alcunha de “China”. Macau era uma realidade distante, e os portugueses que aqui trabalhavam eram vistos quase como condenados ao degredo.

Confesso que esses tempos tinham uma certa piada. Era uma forma de racismo tolerável, considerar que todos os chineses comiam arroz com pauzinhos e sabiam lutar kung-fu. A série de produção honconguense “Jovens Heróis de Shaolin”, transmitida pela RTP em meados dos anos 80, serviu para enaltecer ainda mais a aura mística à volta da China e dos chineses. Da mesma forma que o Brasil era o país que viamos nas novelas do serão, a China era exactamente como na série dos alunos de Shaolin: não mudou nada. Nunca me passou pela cabeça naquele tempo visitar a China um dia. A distância em só por si um factor dirimente. Agora aqui estou, e já passei a maior parte da minha vida na terra dos Mandarins. Ora bolas.

Não sei se prefiro aquela China da minha infância ou a China dos dias de hoje. Claro que para os chineses não se coloca sequer esta questão, pois o caminho é (e sempre foi) para a frente. Mas a China dos Mandarins, dos bazares, dos bigodes compridos e dos riquexós era bem mais inofensiva que a actual segunda maior economia mundial e potência militar que rivaliza com os Estados Unidos. Apesar de tudo, os portugueses não deixaram de achar piada à ideia. Os chineses continuam a ser vistos com “aquela gente esquisita”, e para agravar o preconceito, vieram as lojas dos chineses. Tenho a certeza que os chineses em Portugal adorariam integrar-se no seu país de acolhimento sem que pese sobre eles a fama das lojas e dos restaurantes. Aposto que os chineses em Portugal adoram o nosso país, comem bacalhau e sardinha assada, vão à Caparica no Verão e ouvem o Toy. Se não o fazem, com toda a certeza que vontade não lhes falta.

Hoje somos massacrados com a visão economicista do país do meio. Todos querem ir para a China, a China é apetecível, a China é que está a dar. A tendência espalhou-se um pouco por toda a Europa, e até na semana passada os jogos de alguns campeonatos europeus transmitidos à hora de almoço não esqueceram as comemorações do Ano Novo Lunar, com os jogadores a envergarem caracteres chineses nas camisolas e nos coletes. Há 30 anos seriam motivo de chacota. No século XXI têm “visão” e “piscam o olho” ao mercado asiático. Ninguém diria que alguns grandes clubes europeus ( Everton, assim de repente) teriam um patrocínio chinês nas camisolas, e não é de massas chinesas ou de pudim flan. A forma com que o capital se rendeu ao potencial chinês chegou mesmo ao ponto do ridículo, quando o meu conterrâneo Paulo Futre saltou para a ribalta com a história dos “charters cheios de chineses” nas últimas eleições do Sporting.

Curiosamente o amor que sentimos pelos chineses é correspondido, mas não pelos mesmos motivos. Os turistas chineses pelam-se pela Europa, pelas igrejas, pelos monumentos, pelos castelos, pelos motivos de interesse histórico em geral. A mim encantam-me os templos, as cidades chinesas, os jardins, os pagodes e tudo mais. Estou-me nas tintas para os castelos medievais, para as catedrais checas e húngaras, para os canais de Veneza ou para a Torre Eiffel, tudo mais que visto. É uma questão cultural: somos atraídos pelo que é diferente.

A nossa Europa está falida, infelizmente, apesar da nossa contribuição para os valores humanistas mais elementares, da nossa arte e da nossa tão apregoada cultura. Chegámos ao ponto da rotura, não há arte renascentista e capela Sistina que nos valha, e não nos resta senão a viragem ao mercado asiático, que é onde para o “carcanhol”. Demos o braço o torcer, e o “perigo amarelo” dos anos 60 deu agora lugar à “oportunidade amarela”. O Dr. Fu Man Chu e os heróis de Shaolin não viraram a cara à luta, e venceram a batalha. E quanto aos que ainda riem…riem do quê?