sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os blogues dos outros


É um dos assuntos mais discutidos ultimamente no noticiário que nos chega de Portugal. O Estado fez uso da golden share que detém na PT, bloqueando o negócio com a Telefonica, a empresa de telecomunicações espanhola, gémea da PT, que pretendia adquirir a participação que a PT detém na Vivo, esta última a congénere da PT e da Telefonica, mas em versão brasileira. Um mercado brasileiro em constante crescimento, e o peso que a Vivo representa no universo PT, aguçaram o apetite dos espanhóis. Simultaneamente, e atento a esse peso e ao "valor estratégico"(sic) da Vivo, o Governo português fez uso da golden share que detém na PT e vetou o negócio com a Telefonica. Os espanhóis recorreram desta decisão para o Tribunal Europeu, e os juízes do Tribunal Europeu declararam a intervenção do Governo português ilegal porque contrária ao princípio da livre circulação de capitais dentro da União Europeia. Uma decisão que os espanhóis já anteviam porque o Tribunal Europeu já havia tomado decisões semelhantes nas quais foram visadas as empresas Telefonica, Repsol YPF, Endesa, Argentaria e Tabacalera, nas quais o Estado espanhol era detentor também de golden shares. "Golden share" é a designação que se dá a um conjunto de acções preferencais, normalmente detidas pelos Estados, as quais, independentemente da percentagem do capital que representem, têm a virtualidade de vetar as decisões tomadas no seio da empresa. A existência de golden sahres, prevista nos estatutos da empresa, começou a ser um fenómeno conhecido a partir dos anos 80 do século passado, quando o governo britânico decidiu reter participações em empresas que entretanto privatizara, procurando continuar a ter uma palavra decisiva no respectivo futuro. A golden share nasce assim com um carácter transitório, associado a processos de privatização, mas vê esse carácter desvirtuado ao longo dos anos. Esse processo de desvirtuação tem sido combatido pelo Tribunal Europeu.
Mas também esse combate tem tido um carácter muito dúbio. Os juízes do Tribunal Europeu procuram que as golden shares sejam usadas com parcimónia, não que sejam afastadas, eliminadas, porque são esses mesmos juízes que reconhecem a necessidade de existência das mesmas no domínio do que apelidam de sectores estratégicos. Quais sejam esses sectores, e com que regras e limites podem ser as golden shares utilizadas pelos seus detentores, o Tribunal Europeu ainda não expôs claramente as suas ideias. A pergunta que deixo, e que já vi colocada por outras pessoas, é muito simples - se o Estado português não pode fazer uso da "golden share" que mantém na PT, ou, pelo menos, não pode fazer uso da mesma para vetar um negócio que considera prejudicial aos interesses da empresa, porquê, e para quê, manter a mesma?


Pedro Coimbra, Devaneios a Oriente

Não pertenço àquela tribo portuguesa que tem opinião sobre a bola e que é capaz de dizer de cor a formação da equipa de futebol do seu amor clubistico Como capaz é de assinalar as asneiras deste ou daquele treinador e afirmar com convicção que o seleccionador foi uma besta (sic) em ter tirado aquele jogador e posto aquele outro ou seguido a táctica xpto e não a ypto...Confesso a minha ignorância sobre essas tecnicidades. Sei apreciar um bom espectáculo de futebol e adoro o futebol ofensivo (tipo britânico) percebendo que no futebol (como na guerra) é preciso esconder as fragilidades quando se é menos forte e defender-se da assimetria de forças que favorece o adversário (o inimigo na guerra). Entendi que foi isso que o seleccionador fez, ontem, frente à Espanha. Não resultou paciência. Mas não posso deixar de registar com apreço a sua seriedade quando afirmou na conferência antes do jogo: com o jogo que a selecção tem feito não consegue vencer a Espanha; é preciso transcendermo-nos; jogar um metro à frente da Espanha. Não o conseguimos. Resistimos mesmo assim ao assédio atacante dos espanhóis, que só marcaram a 20 minutos do final da partida, beneficiando até aí de três ou quatro oportunidades para golo. Nós beneficiámos de quantas? Uma; duas? Pelos vistos, ao contrário do que arengava um jornalista da TDM feito à pressa comentador de futebol, o árbitro nada influenciou a verdade desportiva e esta foi: a Espanha tinha melhor equipa que Portugal e mereceu ganhar. Ponto final parágrafo. Quanto ao mais, o seleccionador está de parabéns e é uma estupidez elegê-lo agora bode expiatório das culpas de toda a selecção. Hoje de manhã fazia-se, por Lisboa, uma tempestade num copo de água com declarações normalissimas de Ronaldo remetendo para o mister o comentário ao resultado. Boa performance da equipa das quinas no campeonato mundial que não dislustram o nosso futebol nem o nosso país. Aprendamos dos erros mas não arranjemos bombo para a festa. Tenhamos tino.

Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

Noticia a SIC que o Governo regional dos Açores pagou 27.350 mil euros por uma viagem da mulher de Carlos César ao Canadá. Segundo o portal do Governo regional dos Açores, a “Senhora Luísa César” atravessou o Atlântico chefiando uma “delegação da Presidência do Governo Regional”. Acontece que a mulher de César não integra o executivo açoreano nem a lei prevê nenhum estatuto especial para a esposa do senhor governador… A senhora, que levou a companhia de dois (!) assessores - não se sabe se dela, do marido ou do periquito -, conseguiu torrar, em escassos cinco dias, mais de cinco mil contos na moeda antiga, o que dá uma diária superior a mil contos ou cinco mil euros, conforme se preferir. O marido diz que é normal, o que lá deve ser verdade, se nos lembrarmos das comitivas de centenas de pessoas que o acompanham nas viagens de caça-ao-voto-do-emigrante… O que já não é tão normal é a desfaçatez de se sustentar que os custos desta viagem da 1.ª dama açoreana são regulares e, ao mesmo tempo, anunciar que se está a tomar "oito medidas para a redução de despesas do executivo" açoreano. Que tal acrescentar uma nona, que é a de não obrigar os contribuintes a sustentar as viagens da senhora presidenta? E deixo ainda outra sugestão, desta feita ao Tribunal de Contas: faça uma auditoria às contas da Presidência do Governo regional dos Açores, de modo a se poder avaliar, entre outras, as despesas com viagens dos muchachos socialistas à conta do Zé pagode. Suspeito que a coisa seguia para o Ministério Público...

Rui Crull Tabosa, Corta-Fitas

Passada a fase do seleccionador que era esmurrado pelo jogador, veio a fase do seleccionador que esmurrava o jogador da equipa adversária. Depois passámos à fase do seleccionador que esmurra o jornalista e comentador televisivo. Agora estamos num outro nível, estamos na fase em que o seleccionador nacionaldescontente com o trabalho de um jornalista que o entrevistou o mimoseia com termos do género "vigarista", "execrável" e "aldrabão". A próxima fase deverá ser o insulto directo aos portugueses que não vislumbraram as suas virtudes. Por muitas qualidades que possa ter, quando um seleccionador nacional chega até aqui dizendo o que Queiroz disse, só há um caminho: a porta de saída. Não há nada que justifique a grosseria, qualquer que seja a razão que ainda tenha. Para isso talvez fosse necessário estarmos noutro planeta. Com Gilberto Madaíl à frente da Federação é natural que tudo fique como está. Madaíl sabe que quando se mexe na lama acaba-se sujo. Daí que também não se perceba para que quer ele o estatuto de utilidade pública se a agremiação que gere, desde Saltillo, é pródiga neste tipo de situações.

Sérgio de Almeida Correia, Delito de Opinião

Mas quem pensa Carlos Queiroz que é para insultar vergonhosamente um jornalista de "vigarista, execrável e aldrabão"? Esse assistente de treinador deve imediatamente ser processado pelo jornalista ofendido, já que publicou um trabalho baseado em afirmações verdadeiras de Queiroz que constam de uma gravação. Queiroz não tem personalidade nem espinha dorsal, não percebe nada de futebol, levou a selecção à triste figura que sabemos e depois atirou a água do capote para cima do "amadorismo" da Federação Portuguesa de Futebol, a mesma que lhe paga milhões de euros para o senhor investir em Moçambique. Não contente, ao ver-se desmascarado vá de insultar um jornal e o jornalista que ouviu as suas declarações patéticas.
E que tal dedicar-se à pesca na ilha de Moçambique e ir treinar a selecção daquele país? Pelo menos, deixava milhares de adeptos de futebol aliviados da sua incompetência futebolística por terras portuguesas, espanholas, inglesas, árabes, africanas, japonesas e americanas.


João Severino, Pau Para Toda a Obra

Como é que há blogues que praticam o onanismo em tão larga e babada escala? Se Sócrates é um "dead duck", como diz Marcelo Rebelo de Sousa, o sistema está completamente viciado e jogam-se as últimas cartadas de um póquer desastroso para Portugal, em matéria de blogues com o passos-coelhismo assistiremos à mesma baba vertida incansavelmente na direcção oposta: estes adversários e "inimigos" políticos, jugularóides, 31-dar-merdaróides, etc., adoram-se e adoram adorar-se. Tudo pelas audiências recíprocas. Perante tão espesso cinismo, núcleo central de interesses orgânicos à boca do Estado, quando vago, por que não os mandamos a todos para o caralho, num estágio solidário entre as massas, entre o Povo? Por exemplo, alguns de esses crocodile caramelos do 31 Dar-Merda não respeitam em nada os seus leitores, obrigando-nos a um pingue-pongue humilhante de e para os mesmos blogues à compita no WebBlog, coisa frívola, negócio de entreajuda blogosférica ao mais alto nível, absolutamente pulha e desrespeitoso para com quem os lê. Não têm vergonha de forçar a nossa liberdade para o nulo e de abusar do nosso espírito construtivo com o negócio do vazio e do fingimento?

Joshua, PALAVROSSAVRVS REX

Os portugueses falam de si na terceira pessoa do plural. Os portugueses, quando falam deles próprios, dizem “os portugueses” ou “eles” – na betaria dizem “as pessoas” -, sem esquecer quando se referem aos políticos-malandros-todos-iguais-“eles”. Eu digo “os portugueses” como se não fosse um deles. Carlos Queiroz diz “nós” quando se refere a ele mesmo. Os jogadores da selecção falam do “grupo de trabalho”, terceira pessoa do singular, ele, o grupo. José Sócrates fala no infinito “querer ganhar... ganhar”. Um comentador que não percebeu pevas do que escrevi neste outro post fala mesmo do “portuguesinho”, subentendendo-se que ele se considera um “portuguesão” (“do portuguesinho não se espera grande coisa, pois não?”, pergunta ele, o português...). Noto nos blogues que acompanho diariamente uma atitude que não distingue quem vive aqui de quem vive fora daqui – parece que todos vivemos “no estrangeiro” e olhamos cá para dentro como se isto fosse um aquário cheio de peixe selvagem. Já estive em almoços que reúnem famílias onde se consegue estar duas horas a dizer mal dos outros, que são afinal eles próprios, que somos afinal todos. Uma coisa tipo “eles se puderem fazem todas as pontes” – e isto era dito por quem planifica pontes logo em Janeiro de cada ano. Se me faço entender. Hoje dei comigo a fazer bracinhos e ri-me de mim próprio. Gozo os bracinhos, faço bracinhos. Talvez o nosso problema seja esse: não sabemos conjugar o verbo da pessoa que somos. Quem não sabe falar é como se fosse cego: pode até saber para onde quer ir, mas não sabe como ir. Como se não bastasse, nem sequer perguntamos o caminho. Porque no fundo, no fundo, nós sabemos. “Eles” é que não sabem.

Pedro Rolo Duarte, Pedro Rolo Duarte

Porque é que não tiram as aveiras de cima?
Porque é que não tiram as avelãs do caminho?
Porque é que não acolhem o senhor roubado?
Porque é que não tiram as cabeceiras de basto?
Quando é que finalmente tavira?
E trajouce para quê?


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

7 comentários:

Anónimo disse...

Quanto é 27.350 mil euros ? 27.350.000 euros ou 27.350 euros. A ignorância em relação aos números é enorme e o pior é que não hé consciência dessa ignorância. Isto é tão ou mais grave que confundir "há" com "à".
Samuel

Anónimo disse...

Também não percebi o número. Tem de ser um dos que o Samuel escreveu, porque o que o Leocardo escreveu pura e simplesmente não existe. Independentemente disso, isto é muito bem feito para os pidezinhos continentais que gostam de se entreter a malhar no Alberto João Jardim enquanto desculpabilizam sempre os Açores por tudo e por nada. Acham que a Madeira se tornou no que é enquanto os Açores nunca passaram da cepa torta porquê? Ah, pois, os Açores são nove ilhas, não são só duas, o que é mais difícil de gerir e tal. Ingénuos dum raio, que depois nem percebem, mesmo que os sinais sejam mais que muitos, porque é que o Alberto João Jardim é invencível na Madeira.

Leocardo disse...

Ai o Leocardo é que escreveu? Agora o Leocardo chama-se Rui Crull Tabosa. Que giro!

Anónimo disse...

O comentário do João Severino devidamente adaptado por causa de um suposto trabalho de investigação à Soconsult, que deu em artigo de jornal, dava uma pérola que tanto iria regalar o Carlos Morais José ao ponto de o pôr a dar cambalhotas de tanta risada!

Anónimo disse...

ESTÁ MELHOR ASSIM: O comentário do João Severino devidamente adaptado a um suposto trabalho de investigação à Soconsult, que deu em artigo de jornal, dava uma pérola, que tanto iria regalar o Carlos Morais José ao ponto de o pôr a dar cambalhotas de tanta risada!

Anónimo disse...

Assim do género: "não tem personalidade nem espinha dorsal, não percebe nada de jornalismo..."

Anónimo das 15:33 disse...

Peço desculpa ao Leocardo pelo engano. Na altura do comentário tinha o número estranho na cabeça. Baralhou-me de tal maneira que me esqueci de que o texto não era do Leocardo.