sábado, 8 de fevereiro de 2014

Os sons dos 80: Prince


Prince em 1979, numa imagem em que parece que foi tirado da cama para abrir a porta.

Prince Rogers Nelson nasceu am Minneapolis, no estado norte-americano do Minnesota, corria o ano de 1958. Criado numa família negra do sul da América, recebendo uma educação conservadora e uma influência musical clássica (o seu pai era cantor de jazz), o jovem Prince cedo percebeu que teria de se livrar do peso dos clichés da sua etnia, e deu ao "funk" e ao "soul" uma roupagem mais adequada ao grande público. Negro sim, porque não? Mas algo mais generalista. Depois de três anos na banda do cunhado, os East 94, grava em 1978 o seu álbum de estreia "For You". O primeiro single desse disco "Soft and Wet", já dão a indicação de que o artista era "danado para a brincadeira". Em 1979 sai o segundo registo, intitulado simplesmente "Prince". Apesar da capa e penteado engraçados, o disco vende mais que pipocas no circo, e chega a disco de platina. Além dos cinco singles que "Prince" produziu, está lá ainda o tema "I Feel 4 U", que viria mais tarde a gozar de popularidade numa versão de Chaka Khan. Esta seria uma tendência que viria a marcar a carreira de Prince: a cumplicidade com outros artistas e o uso de simbologia e aliases.


Prince entra nos anos 80 já como uma estrela, e em 1980 grava o seu terceiro álbum, "Dirty Mind", para grande aclamação da crítica, mas não indo além do 45º lugar do Billboard. O disco tem dois singles no top de R&B. Em 1981 sai "Controversy", com o single homónimo a servir de apresentação, e Prince sobre ao 21º posto no termómetro da Billboard, enquanto na tabela de R&B obtém um respeitável 3º lugar. Já em 1982 sai "1999", com os temas "Little Red Corvette", "Delirious", e o single do mesmo nome do album marcam o contacto com a malta branca, que começa a pensar logo: "Este Prince é bestial; é "soul" e "funk" adaptado aos nossos ouvidos não-africanos". O futurista "1999", que marca a primeira parceria com os The Revolution, a banda que acompanharia Prince durante a maior parte dos anos 80, é o primeiro grande sucesso comercial do artista, a todos os níveis. Para comerorar o feito, Prince veste-se de grená e grava com os Revolution a banda sonora de "Purple Rain", um filme onde também entra como actor principal. Além do tema "Purple Rain", que se torna numa das referências da década de 80, o disco inclui ainda os temas "I Would Die 4 U", "Let's Go Crazy" e este "When Doves Cry". O disco vendeu 20 milhões de cópias em todo o mundo, tornou-se a sexta banda Sonora mais vendida da história, entrou na livrarai do congress norte-americano como "material de importância cultural, histórica e estética do povo Americano", e em 2008 a Entertainment Weekly considera-o o melhor disco dos últimos 25 anos. Em 1985 "Purple Rain" teve a "honra" de ser um dos primeiros discos a receber a etique de "conteúdo explícito", mas por essa altura Prince já tinha perdido a conta aos zeros à direita na conta bancária - e é assim que soam as pombas, quando choram.


Em 1985 sai um novo registo, "Around the World in One Day", de onde sai o single "Raspberry Beret". Em 1986 Prince e os Revolution voltam a revolucionar e a desafiar convenções, e lançam o álbum "Parade", com alguns temas que servem de banda sonora do filme "Under a Cherry Moon". Deste disco saem os singles "Anotherloverholenyohead", "Girls & Boys" e este "Kiss", que Prince tinha escrito para a banda "soul" Mazarati, e que se torna o seu primeiro single a chegar ao nº 1 do Billboard, em Abril de 1986. O video que suporta o tema é ilustrativo do estilo muito particular de Prince. Não sendo muito dotado em termos físicos (é quase anão), dança como ninguém, tem um corpo bem ginasticado, e uma voz muito versátil, que aqui arranca um brilhante "falsetto". É também por esta altura que as Bangles gravam "Manic Monday", tema que catapulta a "band-girl" de Chicago para a fama, escrito e composto por um tal "Christopher", que é apenas um dos pseudónimos de Prince.


Prince regressa em 1987 com o duplo album "Sign "☮" the Times", assim, com o símbolo da paz a ler-se "of". O disco é uma espécie de apanhado de três projectos diferentes que Prince tinha iniciado com os Revolution em 1986, "Dream Factory", "Camille" e "Crystal Ball", que acabariam abortados, e inclui temas escritos em 1982. A recepção é positiva, e "Sign "☮" the Times" chega a nº 4 no Reino Unido e a nº 6 do Billboard. Temas fortes são "If I Was You Girlfriend", "I Could Never Take the Place of Your Man", o próprio "Sign o'the times", , uma incursão de Prince na palavra cantada, uma espécie de declamação, e este "U Got the Look", um dueto com Sheena Easton que lhe valeu o nº 2 do top norte-americano.


Prince tinha programado para Dezembro de 1987 o lançamento do seu infâme "Black Album", um disco com a capa completamente preta, sem títulos ou quaisquer créditos: só música. Esta audácia não seria realizada até 1994, e em 1988 sai "Lovesexy", um novo trabalho de originais. A polémica está lá na mesma, e começa logo na capa do disco, com Prince a aparecer completamente nú, mesmo que não se revelem as partes "privadas". Em alguns países mais conservadores, como na Malásia, a capa foi editada com calças pintadas para cobrir as pernas do artista. "Alphabet St." é o tema de apresentação do álbum, que atinge o nº 1 no Reino Unido e o nº 11 da Billboard, e mesmo assim é considerado o trabalho menos bem sucedido desde "1999". No ano seguinte Prince grava "Batdance", juntamente com a restante banda sonora do filme "Batman", de Tim Burton. Esta seria a última colaboração dos Prince com os Revolution.


Como é que se lê isto, mesmo?

Prince surge nos anos 90 com uma nova banda de suporte, os New Power Generation, e grava com eles o disco "Graffiti Bridge", mais uma trilha para o filme com o mesmo nome. Em 1991 dá-se uma viragem no estilo do cantor, com o álbum "Diamonds and Pearls". O sucesso comerciali é estrondoso, com vários singles a chegar aos tops, como "Diamonds and Pearls", "Cream" - com que ganha o prémio de melhor vídeoi do ano da MTV - ou "Get Off". No ano seguinte Prince lança o álbum "Love Symbol" - assim ficou designado, pois o título consistia apenas daquele desenho na imagem acima, que é composto por um cruzamento dos símbolos do masculino e feminino. Para complicar as coisas, muda de nome, adoptando esse mesmo "Love symbol", devido a um litígio com a editora Warner Bros., que detinha os direitos do nome "Prince". E é assim que lança finalmente o tão aguardado "Black Album", em 1994, que acaba por desiludir, mas não tanto como "Come", do mesmo ano, onde aparece ainda com o nome de Prince - critério da Warner Bros.. Como o seu nome era impronunciável, a imprensa referia-se a ele como "The Artist Formerly Known as Prince", "o artista anteriormente conhecido por Prince", ou TAFKAP, na sigla inglesa. Para facilitar, havia quem apenas lhe chamasse "The Artist", ou "O artista".


Em 1995 sai "The Gold Experience", que contém o single "The Most Beautiful Girl in the World", e assinala o regresso de Prince à forma, e aos tops de vendas. Em 1996 grava "Chaos and Disorder", e cumpre o contracto com a Warner Bros. Para comemorar lança praticamente ao mesmo tempo "Emancipation", o seu primeiro trabalho com a EMI. Um triplo CD, com 36 temas, "Emancipation" inclui uma versão do êxito "One of Us", de Joan Osborne, bem como quatro outras "covers" de outros autores. Foi um ano ocupado para "o artista", que fez ainda a banda sonora do filme "Girl 6", de Spike Lee. Em 1998 lança o triplo "Crystal Ball", uma colecção de inéditos e "outtakes" de gravações anteriores que podia ser encomendado pela internet, e incluía um quarto CD grátis completamente instrumental no envio. Prince adiou o lançamento, que estava previsto para o ano anterior, alegadamente porque estaria à espera de garantir pelo menos 50 mil encomendas, o que deixou os fãs irritados. Estávamos em plena era do Napster e do download ilegal de música, algo a que Prince demonstrou repúdio desde a primeira hora. Em 1999 a Warner Bros. pôs no mercado uma colectânea de temas do cantor gravados pela editor entre 1985 e 1994, mais uma vez à sua revelia, e Prince respondeu com "Rave Un2 the Joy Fantastic", o seu último álbum do milénio, e que seria também o último sob o nome artístico de "symbol".


O novo milénio traz-nos de volta um novo Prince, e em muitos sentidos. Regressa com o seu nome de baptismo, e acabado de se converter às Testemunhas de Jeová - e isto não é nenhuma extravagância derivada da sua artística "persona", pois assim permanece até aos dias de hoje. O primeiro registo deste Prince renovado é "The Rainbow Children", de 2001, um disco influenciado pelos sons "jazz" e "soul", e no ano seguinte sai "One Nite Alone...", onde o tema "Avalanche" causa polémica, com Prince a sugerir que o presidente Abraham Lincoln era racista. Os novos trabalhos eram discretos em termos de desempenho nos tops, e segue-se um períod experimantalista, onde Prince grava 4 discos em dois anos, praticamente todos instrumentais e predominantemente no género do "jazz". Os fãs andavam meio sem saber como reagir, e um destes trabalhos, "N.E.W.S." venderia apenas 30 mil cópias. O regresso aos tops daria-se em 2004 com "Musicology", um Prince de volta à grande forma, e seria confirmado em 2006 com "3121", que entraria directamente para o nº 1 da Billboard, o que acontecia pela primeira vez desde "Batdance", de 1989. Temas como este "Te Amo Corazon" deixavam os fãs mais tranquilos quanto às capacidades de Prince para se renovar após mais de trinta anos de carreira. Até 2010 gravaria mais três álbums de originais, sendo o mais recente "20Ten", que dividiu os críticos. Espera-se para ver o que vai fazer a seguir.


O Prince actual, um respeitável cinquentão.

A vida pessoal de Prince é, tal como a sua carreira, atribulada. Heterossexual acima de qualquer dúvida, é reservado no que toca aos seus relacionamentos amorosos. Diz-se que esteve envolvido com Sheila E, Madonna, Kim Basinger, Susana Hoffs (vocalista das Bangles) e Carmen Electra, mas nada ficou confirmado. Só casaria em 1996 (no Dia de S. Valentim) com Mayte Garcia e em Outubro do mesmo ano nascia o seu primeiro e único filho, Boy Gregory, que morreria uma semana depois devido ao síndroma de Pfeiffer, uma condição rara que impede o desenvolvimento dos ossos do crânio. Prince e Mayte divorciavam-se em 1999 e dois anos depois o músico casaria com Manuela Testolini, um enlace que duraria até 2006. Em 2005 correram rumores de que precisava de uma operação às ancas, mas o facto de ser Testemunha de Jeová impedem-lhe de receber transfusões de sangue. Mais tarde numa entrevista em 2010 Prince negaria alguma vez ter precisado da cirurgia. Actualmente com 55 anos, quase 40 anos de carreira, 32 discos de originais e sete grammys no currículo, Prince vendeu mais de 100 milhões de discos, encontrando-se nesta lista à frente de nomes como Tina Turner, Bryan Adams, George Michael, The Who ou os Beach Boys. É impossível ingnorar a sua influência, a sua figura camaleónica, sempre pronto a reinventar-se para enfrentar os tempos, sejam eles quais forem. Os mais jovens podem até nunca ter ouvido falar dele, mas tempos houve em que quando se falava de "Prince", o que vinha à ideia era o artista, e não um dos sucessores ao trono real britânico.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que delícia! Obrigado pelo presente. Amo o trabalho de PRINCE. D+++++³ - Não tem artista mais completo na atualidade. Valeu...messssssssmo! <3