sábado, 1 de fevereiro de 2014

Os sons dos 80: George Michael


George Michael e Andrew Ridgeley na imagem mais conhecida dos Wham!

Georgios Kyriacos Panayiotou nasceu em 1963 em Londres, e o nome pouco convencional deve-se ao facto de ser filho de um emigrante cipriota, um restaurador de seu nome Kyriacos Panayiotou. A sua mãe era Lesley Angold, uma dançarina inglesa (falecida em 1997 aos 60 anos), de onde o pequeno Georgios terá herdado a sua veia artística. Em 1981, já com o nome de George Michael, funda com o seu amigo Andrew Ridgeley os Wham!, que diga-se a título de curiosidade, foram conhecidos durante um breve period nos Estados Unidos por "Wham! UK" devido à coincidência no nome com outra banda americana - de que ninguém ouviu falar, claro. Os Wham! incluíam ainda as cantoras Helen "Pepsi" DeMacque e Shirlie Holliman, que viriam a tornar-se no duo Pepsi & Shirlie, e ainda Dee C. Lee, que formaria com Paul Weller os Style Council.


Era um George Michael ainda adolescente que assumia as despesas no departamento vocal dos Wham!, e ao lado de Ridgeley no departamento criativo. O primeiro single, "Wham! Rap" sairia em 1982, considerado uma "refrescante novidade", mas o assalto aos tops de vendas só aparecia com o segundo single, "Young Guns (Go for it)". O primeiro álbum aparecia no Verão de 83, e saltava para nº 1 do top do Reino Unido. Melhor estreia não podiam os Wham! desejar. Mas o melhor estava para vir: em Maio de 1984 sai o single "Wake Me Up, Before You Go Go", que chegaria a nº 1 dos dois lados do Atlântico. Este era definitivamente um som diferente, e os jovens adoravam. O público feminino já tinha sido conquistado pelos encantos de Michael, que era tãããooo giro. Mal elas sabiam que...bem, já lá vamos.


"Wake me Up..." foi apenas o primeiro single do segundo registo dos Wham!, "Make it Big", lançado em 1984, e aquele que seria o disco mais vendido do grupo. Outros singles incluíam "Freedom", "Everything She Wants" e este "Careless Whisper", que já se confunde com o trabalho a solo de George Michael. E de facto o grupo parece demasiado pequeno para albergar todo o talento do seu vocalista e mentor, e por altura do terceiro álbum, "Music from the edge of heaven", já não se sabia onde acabavam os Wham" e começava George Michael. O fim oficial da banda só seria formalmente anunciado em 1987.


E foi com "The Final", uma compilação com a reunião dos melhores temas dos Wham! em disco duplo que a banda anuncia o fim. Neste trabalho está incluído o single "Last Christmas", do Natal de 1984, que se tornaria uma referência no cancioneiro da quadra natalícia, com o seu famoso início: "o natal passado dei-te o meu coração, e no dia seguinte deitaste-o fora". Noutras faixas como "I'm Your Man" ou "A Different Corner" era já possível detectar o cunho pessoal de George Michael, que seria possível observar durante a sua carreira a solo, pelo menos nos anos que se seguiram.


Enquanto decidia se acabava ou não com os Wham!, George Michael "empresta" a voz ao projecto Band Aid, que grava no Natal de 1985 o single de beneficiência "Do They Know It's Christmas", ao lado de Boy George, Simon LeBond (Duran Duran), Bono, entre outros e participa ainda no mítico Live Aid, em Julho. Já como cantor a solo, recebe um baptismo de fogo, fazendo em finais de 1986 este dueto com a diva Aretha Franklin. "I Knew You Were Waiting (For Me)", escrito por Simon Climie (mais tarde dos Climie Fisher) e Dennis Morgan chega a nº 1 no Reino Unido e nos Estados Unidos, e é um dos discos mais vendidos de 1987. O feliz encontro entre as duas vozes só deixava água na boca para o primeiro trabalho (assumidamente) a solo de Michael, e já não faltava muito.


E de facto seria nesse mesmo ano de 1987 que sairia "Faith", oficialmente o primeiro disco de George Michael pós-Wham!. A estreia a solo não podia ter corridor melhor, e "Faith" valia-lhe o Grammy para melhor disco do ano de 1988. O single de apresentação é "I Want Your Sex", que demonstrava que Michael continuava danado para a brincadeira, e seguiram-se outros êxitos como "Faith" ou "Kissing a Fool", além deste meu favorito, "Father Figure". Aos 25 anos George Michael era um super-estrela da "rock-pop", e já com um reportório acima de respeitável.


Os anos 90 começam para um ainda jovem Michael com um projecto mais "amadurecido": o album "Listen Without Prejudice, vol. I". A recepção foi tão morna que nunca cahegou a haver um Vol. II para este trabalho. O seu maior êxito nesta altura apareceem 1992 num dueto com Elton John, integrado na colectânea "Five Live", uma homenagem ao cantor Freddie Mercury, desaparecido em Novembro de 1991. Apesar de Michael e Elton John já terem interpretado "Don't Let the Sun Go Down on Me" no Live Aid, em 85, é esta versão que colhe a preferência do público. O novo trabalho de originais chegaria em 1996, "Older", que nem por isso foi "better". Um George Michael na casa dos trinta anos parecia demasiado jovem para um trabalho tão "sério", ilustrado pelo single "Jesus to a Child".


Em 1998 dá-se uma viragem na carreira de George Michael. O cantor é apanhado numa rusga policial em Beverly Hills, California, enquanto solicitava sexo com outro homem num local público. Sentindo-se humilhado e revoltado pelo facto de ter sido usado um agente provocador, ironiza sobre o incidente no seu novo single "Outside", incluído na colectânea "Ladies and Gentleman: The Best of George Michael" e sai por cima, mas é obrigado a assumer a sua homossexualidade, de que havia rumores de longa data - paciência meninas. Em 1991 Michael esteve envolvido com um costureiro brasileiro, Anselmo Felappa, que morreria de SIDA EM 1993. Diz-se que o tema "Jesus to a child" seria dedicado a Felappa. George Michael encontra-se desde 1996 numa relação com Kenny Goss, um hospedeiro de bordo.


George Michael, "much older".

Orientação sexual à parte, a carreira de George Michael entrou em declínio com a chegada do novo milénio. Em 1999 gravou "Songs from the Last Century", e em 2004 "Patience", que é até à data o seu último trabalho de originais. Desde 2006 o cantor tem sido notícia por razões que pouco abonam a favor da sua imagem, nomeadamente relacionadas com detenções por se encontrar na posse de drogas leves. Uma celebridade que se deixa apanhar com drogas leves? Ou é parvinho ou está a fazer um "statement". Desde 2011 que George Michael está em "tour", antecipando o seu novo trabalho "Symphonica", que sairá este ano. Já vimos um Michael adolescente, na pujança dos vinte, na reflexão dos trinta e na "crise" dos quarenta. O que esperar deste cinquentão que passou pelos anos 80 como um furacão que levava tudo pela frente? E tudo o que nos foi dado a perceber foi o som: wham!

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