sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Os blogues dos outros


Começa a Cimeira de Copenhaga e não fossem as notícias e seria um dia igual aos outros. Andou-se de carro, compraram-se coisas desnecessárias, fechámos a torneira tarde demais e já depois de muitos litros de água desperdiçados. Não fossem as notícias e quase nos esquecemos do que se trata em Copenhaga. Mas as notícias fantasiam muitas vezes e falam em "salvar o mundo". Divulgam-se mensagens para assustar, manipulam-se dados, acusam-se governos, perguntam-se e pagam-se opiniões aos tão falados especialistas em tudo. E as notícias dão-nos mensagens confusas sobre o que se vai decidir. Tanto se fala tanto se fala que há quem pense até que Copenhaga "já foi". Começa hoje. E não fosse estar no jornal e seria um dia igual aos outros. Pensamos demais em acusar e pouco em fazer. Culpamos os países como se não fôssemos todos parte deles. E, sobretudo, recusamo-nos a pensar num modelo económico em que seja possível produzir menos e consumir menos sem estar a arrastar ninguém para a pobreza. Talvez quando alguém provar esse modelo económico como viável, faça sentido falar em reduções. O nosso estilo de vida também precisa de uma redução. Um passo necessário para Copenhaga que, dizem as notícias, começa hoje.

Maria João Belchior, China em Reportagem

Ainda não discorri sobre o assunto, mas faço-o hoje: o grupo de Portugal no Mundial é bom. Acima de tudo, porque os jogos desta fase são nas cidades que pretendo visitar. Logo, é bom para mim. Mas, objectivamente, também julgo que são grandes as chances de vencermos o grupo. A Coreia é inferior à nossa selecção, pelo que não podemos deixar de ganhar esse jogo. A Costa do Marfim é bastante complicada, mas também não nos é superior. O Brasil, ao invés, é-nos substancialmente superior: não só porque é uma das melhores selecções do mundo, como também porque é penta campeão mundial. Porém, a sombra de Eusébio e companhia jogam a nosso favor (3-1 em 1966). E mais: Dunga acha que Portugal é o Brasil-B... Ora, se se refere ao facto de termos três naturalizados entre nós, não lhe ligo grande coisa. O Brasil é uma mistura de culturas e corre naquela selecção muito sangue português. Como tal, se a intenção tinha laivos de pureza étnica, a afirmação do seleccionador do Brasil diz mais dele do que da nossa equipa nacional - e, seguramente, não abona a favor da inteligência desse sujeito que ostenta nome de anão de conto de fadas. Se, por outro lado, pretendeu diminuir a qualidade dos três naturalizados que representam Portugal, então não percebe é grande coisa de bola (o que nos pode vir a dar uma ajuda): Pepe teria lugar na selecção do Brasil; Deco, em 2006, foi o médio que lhes faltou. E, quem sabe, talvez seja o levezinho a dar-lhes o arroz. Seria giro: um brasileiro a ensinar a Dunga (descendente de Italianos e Alemães) o que é a alma lusitana. Em Junho saberemos.

VICI, MACA(U)quices

Hoje celebra-se o Dia Internacional contra a Corrupção. Indignado fico até ao limite quando confrontado com a falta de respeito, o abuso de autoridade e ganância que as camarilhas - todas as camarilhas acolitadas nos partidos, mais lóbis e teias de influência, da direita como da esquerda - exibem perante as leis e regulamentos que estabelecem a indiferenciação dos cidadãos perante o Estado. A abstração e a universalidade da lei, a selecção pelo mérito, os direitos fundamentais e o acatamento das leis promulgadas deixam de valer o que quer seja quando nas mãos de gente que entende a coisa pública como propriedada sua. Para os amigos, o favor, para os outros, a lei. Paguei sempre caro não fazer lóbi, não ter cartão de partido, não carregar a mala do protector. Por isso, bati com a porta e saí. Um dia, talvez, a justiça se erguerá triunfante sobre um povo caído na escravidão. Sebastianista, pois claro, ainda acredito que na 25ª hora um sobressalto de liberdade moverá os corações e inteligências adormecidos e restituirá aos portugueses a cidadania confiscada, abusada e ridicularizada por todos os pequenos e grandes lóbis que nos reduziram a caricaturas.

Miguel Castelo-Branco, Combustões

Obviamente, não faz qualquer sentido Obama ter sido galardoado com o Nobel da Paz. Ele próprio o deu entender várias vezes e repetiu-o ontem. O domínio da política internacional por um país como os EUA, - democrático, cristão e liberal - foi e continua a ser fundamental para a paz no mundo. Esse domínio é exercido diplomaticamente quando do outro lado está um país dialogante, mas algumas vezes é necessário o uso da força. O uso da força implica guerra. E algumas guerras são sempre demasiadas guerras. Obama sabe isto. Os ObamaLovers sabem que ele sabe isto, mas, a sua fé inabalável levou-os a acreditar que o prémio exerceria peso suficiente sobre a consciência do presidente americano ao ponto de este abdicar da violência contra os déspotas espalhados por esse mundo. A crença é à primeira vista estúpida, mas ainda assim os fieis peregrinaram à Noruega com cartazes apontados à Oslo City Hall. A apologia da guerra como forma de espalhar a paz. Foi esta a mensagem que Obama. Saiu-lhes o tiro pela culatra.

João Moreira Pinto, 31 da Armada

Apreciei a delicada admoestação de Mário Soares a Barack Obama a propósito do reforço de tropa americana no cenário de guerra do Afeganistão. "Barack Obama viu-se obrigado pela sua própria retórica, dada a distinção que fez entre as duas guerras, a enviar para o Afeganistão mais 30 mil soldados das suas Forças Armadas. Provavelmente, contra a sua vontade e estratégia. Enviou-os com o pretexto de marcar o regresso das tropas dentro de um ano. Em 2011. Foi uma medida que lhe custou muito tomar - não duvido -, mas que representa uma concessão táctica muito impopular, pelo qual irá pagar um alto preço", escreveu Soares na edição de ontem do Diário de Notícias. Reparem nas atenuantes lançadas pelo ex-Presidente da República nesta suavíssima crítica ao actual inquilino da Casa Branca: Obama "viu-se obrigado" a enviar os soldados, o que sucedeu "contra a sua vontade e estratégia", e certamente "lhe custou muito tomar" tal decisão. Quase como se nem fosse ele o titular do poder executivo norte-americano. Aliás, em nome da mais elementar coerência, nem poderia ser de outra forma. "Obama é, fundamentalmente, um humanista e um pacifista, na linha do melhor pioneirismo americano, de Lincoln e Jefferson a Wilson, de Franklin Roosevelt, a Kennedy, Carter (também ele laureado com o Prémio Nobel) e a Clinton. É alguém que quer a paz, o desarmamento (sem excluir o nuclear) e a justiça social no seu País", escrevera o mesmíssimo Soares, também no DN, a 20 de Outubro, pouco antes de ser anunciado o reforço do contingente militar americano no Afeganistão. Como desdizer agora o que se proclamou com tanta convicção há mês e meio ainda sem alguns irrelevantes factos se intrometerem entre o doce panegírico e a dura realidade? Imaginem, por momentos, o que sairia da pena vigilante e contundente de Mário Soares se o presidente dos Estados Unidos ainda se chamasse Bush ou se o envio de magalas para Cabul se devesse ao dedo do pernicioso Dick Cheney. Nada que se parecesse com a meiga reprimenda a Obama: pelo contrário, seria algo digno de fazer estremecer paredes e calçadas. É nestas alturas que sinto ainda mais apreço pelo nosso ex-presidente. Quase tanto como a admiração que nutro pela arguta Academia de Oslo, que se prepara para entregar o Nobel a esse formidável pacifista perante quem o mundo se ajoelha em expressivas manifestações de júbilo. Hossana, Obama: nunca como hoje estivemos tão perto de alcançar a paz perpétua.

Pedro Correia, Delito de Opinião

O presidente norte-americano Barack Obama deu hoje um salto até Oslo, na Noruega, para receber o Prémio Nobel da Paz. Para além de ainda não ter visto o Barack Obama a fazer nada pela Paz Mundial desde que chegou à presidência dos EUA, ele pelo contrário, já enviou bastantes soldados para guerras (lembremos a recente divulgação do envio de soldados para o Afeganistão). Durante o discurso que Obama fez em Oslo, defendeu perante todos que a guerra é necessária para assegurar a paz. Apesar de não concordar muito com esta filosofia, tenho um episódio na minha vida que até dá alguma razão ao Obama como poderão constatar já de seguida. Estava eu à porrada com o meu irmão num belo dia quando de repente, eu empurrei-o e ele caiu em cima de um vaso com um cacto que lá tínhamos em casa. Apesar de alguns espinhos se terem alojado no traseiro dele durante a queda, o que gostaria de realçar nesta história foi o facto de que acabámos com a porrada, ou seja, o cacto, através da guerra usando como material bélico os seus espinhos, conseguiu promover a paz entre mim e o meu irmão. Apesar deste feito pela paz, o cacto não recebeu qualquer prémio, muito menos o Prémio Nobel da Paz. Confrontado com isto, resta-me enumerar algumas pessoas, vegetais e empresas que deveriam ter recebido o prémio em lugar deste ter sido atribuído a Barack Obama:
Eu – Eu mereço receber o Prémio Nobel da Paz porque ao ter criado o pior blog de todos (para quem está a ler isto mas está distraído, informo que estou-me a referir ao AindaPiorBlog), fiz com que as pessoas não vissem no meu blog algo pelo que devessem lutar, algo que gostassem de alcançar, algo porque morrer ou matar, algo a invejar, nada disso. Ninguém gosta do AindaPiorBlog, por isso, não irão de certeza existir guerras provocadas por ele;
O cacto – O cacto que referi há pouco, apesar de ter feito alguma moça com os seus espinhos, fez mais pela Paz que o Barack Obama;
Infinity Ward – A empresa que desenvolveu o Call Of Duty - Modern Warfare 2, o jogo de guerra mais vendido de sempre (só nas primeiras 24 horas de comercialização foram vendidas mais de 4.7 milhões de cópias, para além das outras tantas cópias piratas) que faz com que milhões de jogadores, por esse mundo fora, se matem uns aos outros, mas sem aleijar, promovendo a paz mundial.


Ainda pior blogue

...anda mesmo giro, ai anda anda.
Um gajo que há meia dúzia de meses ninguém conhecia de lado nenhum - a não ser uns gajos na Indonésia e outros algures em Àfrica - vai receber o prémio Nobel da Paz. Mas vai rapidinho e vem ainda mais rapidinho. Recusou o jantar de gala com a familia Real Norueguesa, recusou ficar a dormir no Palácio Real, recusou inaugurar uma exposição sobre a paz dedicada a ele mesmo e a Nelson Mandela, recusou conferências de imprensa, bem mais ou menos, reservou um minuto, sim 1 minuto, para rersponder a 2 perguntas, uma de um jornalista norueguês e outra de jornalista qualquer, ambos tirados à sorte por moeda ao ar. Eu percebo-te pá, até tu ficaste envergonhado com esta nomeação. Vá vai lá à tua vidinha e ao menos arranja o sistema de saúde na América que eles bem precisam, isto se os lobbys te deixarem. Aproveita enquanto a malta, alguma malta, ainda te acha graça e as gajas te acham um jeitoso.
Até a barraca abana.


Francis, O Dono da Loja

Aminetu Haidar está a morrer num aeroporto, corajosamente, com dignidade, lutando por aquilo em que acredita, pelos seus direitos e pelos do seu povo. Neste dia em que se entregou o agora descredibilizado Nobel da Paz a um guerreiro, o contraste das formas de acção pol’itica não podiam ser mais divergentes. Se a luta de Aminetu for justa, independentemente do que lhe aconteça, dará frutos. Se sem fundamento, apenas ela sofrerá as consequências. Já no caso do laureado nobel, a sua causa, justa ou injusta, tem sempre o mesmo efeito, apenas provocando morte, miséria, sofrimento e não resolvendo coisa nenhuma.

Gabriel Silva, Blasfémias

Não me ocorre dirigente político de peso que tenha conseguido atascar-se tanto nas suas próprias palavras e naquilo que ‘os seus’ vêm nele que Obama. O pacífico recebe o prémio Nobel da Paz e entre o anúncio da coisa e o receber o prémio, decide (depois de meses de dura meditação, certamente) o envio de 30.000 homens para a guerra*. Espera-se com a máxima expectativa a ida de Obama a Copenhaga. A cimeira está, entretanto, transformada numa ETAR.

Range-o-Dente, Fiel Inimigo

A revista 'Visão' vai de mal a pior. As vendas baixam na proporção dos temas escolhidos para capa semanal. Hoje, o limite do absurdo está estampado no rosto de uma revista que já foi a melhor referência do jornalismo português.
É incompreensível que uma revista como a 'Visão' de um país que se debate com os problemas mais graves no campo social, político e económico, venha trazer aos portugueses o que se passa com os novos ricos angolanos. A malta quer lá saber dos angolanos e dos diamantes que eles roubam para virem às compras a Lisboa. O que interessa a Portugal que angolanos, sul-africanos, tailandeses ou chineses sejam ricos e gozem esse dinheiro como entenderem? E em Portugal não os há? A roubarem-nos a todos e às descaradas? Ai 'Visão', ao ponto a que chegaste com tanta falta de visão...


João Severino, Pau Para Toda a Obra

Nos últimos dias começou a despontar um discurso alarmado para além do de Medina Carreira: na sequência da situação de pré falência verificada na Grécia, das medidas drásticas tomadas na Irlanda, a comunicação social doméstica dá progressivamente mais destaque à incontornável realidade económica portuguesa: um deficit que caminha para os 10%, um Estado sem margem de manobra “pelo lado da receita” e os custos com a dívida que remontam já a dois milhões de euros a cada hora que passa. Ontem no programa Roda Livre na TVI 24 Rui Ramos antecipou timidamente uma questão primordial para a discussão política que se impõe: não se vislumbra uma solução governativa dentro do actual sistema partidário, nem com os actuais protagonistas, cujo discurso encontra-se demasiado distante da realidade, das medidas disruptivas que se adivinham inevitáveis. Se é de todo improvável um “perdão da dívida” a uma democracia europeia, suspeito que a resolução do imbróglio português só poderá sair duma solução de “salvação nacional” amplamente consensual e de forte liderança. Enfim, é sobre os paradigmas da nossa sobrevivência como país que urge centrar a discussão política nacional: a terceira republica está moribunda e é urgente redescobrir a verdadeira alma portuguesa para fundar um novo ciclo.

João Távora, Corta-Fitas

O resultado do referendo suíço, proibindo minaretes nas mesquitas, constitui uma tripla decepção. Em primeiro lugar, não se referendam direitos individuais, protegem-se. Depois, os suíços votaram contra os minaretes. Finalmente, converteram em lei uma violação grosseira dos direitos humanos. A liberdade religiosa é um direito que implica a liberdade de cada cidadão ter a crença, descrença ou anti-crença que quiser, cabendo ao Estado democrático o dever de neutralidade. Em suma, na Suíça os direitos humanos foram violados com a democracia a aderir ao paradigma das teocracias. O voto contra os minaretes foi um sinal de que a intolerância já contagiou a Europa e de que o respeito pelos direitos, liberdades e garantias vai cedendo ao medo. Em vez de se vigiarem os templos onde se prega o ódio e de se punirem os pregadores, impedem-se os minaretes às mesquitas. Há quem pense que a democracia é a aplicação da vontade das maiorias. É muito mais do que isso, inclui o respeito pelos direitos das minorias. O referendo suíço pôs em causa a democracia e a decência. O precedente de sufragar o direito de voto das mulheres, em cantões que não o concediam, foi a confirmação da democracia coxa e de uma cidadania frouxa. Não basta usar métodos democráticos, urge impedir que os direitos individuais sejam postos em causa. A democracia não se referenda, tal como a fé não pode atentar contra os direitos humanos nem ser vivida à margem da lei dos Estados democráticos.

Carlos Esperança, Diário Ateísta

O que é um homem de calcões e t-shirt com um pau muito comprido nas mãos a baloiçar para trás e para a frente?
É o Armando Vara a fazer o balanço do ano.


João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

1 comentário:

joãoeduardoseverino disse...

Caro Leocardo
Agradeço o destaque ao meu blogue. Abraço extensivo aos amigos que tenho em Macau.