Gostei da homenagem que a Casa de Portugal fez ao ainda Chefe do Executivo Edmund Ho no último Sábado. Foi um gesto de classe, no último ano do mandato do homem sem o qual a Casa de Portugal existiria, ou tivesse uma importância pouco mais que insiginifante na vida da RAEM. Edmund Ho, que deixa o cargo daqui a uma semana, deixa também muitos amigos entre os portugueses.
Porque é importante para a própria concretização da RAEM e do princípio “um país, dois sistemas”, que os portugueses continuem a ter um papel aparentemente importante na vida do território.
Acontece comigo, com o leitor e com os portugueses em geral aqui Macau que a vida nos seja um bocadinho mais facilitada do que a de outros “estrangeiros” que aqui vivem. Mesmo quando as coisas parecem mais complicadas, vão caindo não se sabe como algumas ajudinha do Céu.
Parece que é lá o estatuto, ou a Lei Básica ou lá o que é, já que “não cabe ao Leocardo interpretar a Lei Básica”, como dizia aquela senhora que agora se passou para o lado de cá, a blogosfera “incisiva”.
A verdade é que não nos mandam embora porque “parece mal”, mas não é só isso. Também gostam de nós. Edmund Ho é o representante da comunidade chinesa de Macau, que é como quem diz os que nasceram cá e são chineses, e portanto isto pertence-lhes. E gostando ele de nós, e retribuíndo desta forma esse amor, garantimos que seremos sempre bem vindos a Macau.
Há alguns meses recebi a visita de um amigo que viajava com um passaporte da Arábia Saudita, e precisei de esperar por ele duas horas na imigração porque ele “tinha barba”, e no passaporte carimbos de vistos dos Estados Unidos e alguns países europeus. Isto nunca aconteceria com um português, mesmo que viesse vestido de talibã com carimbos do Irão e da Coreia do Norte, e uma kalashnikov nas mãos.
Agora só podemos esperar que Chui Sai On seja também amigo dos portugueses, e tudo indica que sim. É por isso que a ideia da “continuidade” foi tão bem recebida entre a nossa comunidade, e quem a criticou lamentou mais a falta de alternativas do que a escolha propriamente dita.
A “continuidade” permite mais cinco anos, pelo menos, da manutenção do
status quo. E como nos dá sempre uma estranha preguiça cada vez que pensamos em voltar para Portugal, talvez devido ao facto da vida lá ser-nos muito, mas mesmo muito mais difícil, essa “continuidade” não nos parece ser má ideia. Podemos mandar os móveis com uns dez anos de avanço, que se calhar nunca os vamos voltar a ver, ou só talvez nas férias.
Macau tem esse efeito anestesiante que se acentua à medida que vamos ficando aqui mais anos. A Casa de Portugal tem portanto essa vantagem: representa os portugueses de Macau, quer quieramos, quer não. Aos olhos da população chinesa, somos todos membros daquela “associação de portugueses”, e os nossos filhos estudam todos em escolas internacionais – mesmo que isso não seja completamente verdade.
E é graças a Edmund Ho, ao leme da RAEM destes últimos dez anos que foi tão boazinha para nós e não perdeu nada com isso, que merece esta homenagem, e muitas outras que se queiram fazer. Um brinde a Edmund Ho pelo sucesso da implantação das bases da RAEM.
6 comentários:
Quando o Chefe do Executivo for democraticamente eleito, acabou-se a simpatia para com os portugueses.
Só é pena é esta constante eterna subsidio-dependência da comunidade portuguesa.
Será que não podemos fazer nada por nós próprios, sem andar sempre a pedir esmola à porta de todo o lado?
Nem uma escola portuguesa, nem uma revista ou jornal português, nem uma única associação de matriz portuguesa... caramba nem sequer o raio de uma livraria portuguesa, um evento ou uma simples festa da lusofonia conseguem viver sem apoios (ou caridade) do Governo ou de Fundações locais.
Dá pena...
Bem sei que somos poucos, mas com um pouco de imaginação, não poderiamos organizar algo que fosse auto-sustentável ou até desse lucro?
Todos falam na necessidade de uma comunidade dinâmica e tal, mas a unica coisa onde somos realmente dinâmicos é na arte de estender a mão.
"(...) Parto com saudade.
Com a certeza
De ter deixado atrás parte de mim, E saudade de não ter saudade, Saudade dos tempos em que a tinha.
Saudade de Macau.
Saudade do seu futuro
Até sempre."
" (...) Ao desejar ao Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau, Dr. Edmund Ho, e a todos os seus colaboradores, as maiores felicidades, peço para eles o que para mim pediria, que a fortuna e a virtude os acompanhem, para bem e felicidade de todos os que vivem em Macau.
Termino agora as minhas funções que exerci, por decisão do Senhor Presidente da República, de acordo com o meu sentido de dever, valorizando Macau e deixando abertas as perspectivas do futuro.
Posso dizer, como os navegadores portugueses, que "tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero".
Porque o mais que quero, como os primeiros portugueses que aqui chegaram, é que tudo possa permanecer mesmo quando tudo muda, pois esse é o verdadeiro sentido do entendimento e da cooperaçao, da amizade entre os povos e da mistura das culturas.
Despeço-me das gentes de Cidade do Nome de Deus de Macau, que admiro e respeito.
Parto com saudade.
Com a certeza
De ter deixado atrás parte de mim, E saudade de não ter saudade, Saudade dos tempos em que a tinha.
Saudade de Macau.
Saudade do seu futuro
Até sempre."
Quem é este?
Ó Leocardo, que raio de ideia foi essa de pôr ali um cherne ao lado do Edmund Ho? Diz que gosta dele e depois prega-lhe uma partida destas?
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