segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Uma embirraçãozinha


Leio na edição de hoje do Ponto Final uma referência a um artigo de opinião publicado na edição de ontem do jornal Ou Mun, que chama a atenção para o “problema” dos indivíduos de origem Africana que permanecem ilegalmente no território. Segundo o opinador, estes indivíduos estão directamente relacionados com o aumento de um certo tipo de criminalidade, e representam um perigo não só para a segurança como também para a saúde pública. Alguns “traficam droga dentro do corpo” e/ou são seropositivos.

Mais uma vez o jornal da Pedro Nolasco adopta um discurso inflamatório e populista, como já tinha feito no passado em relação aos “imigrantes do Sudeste asiático”, vulgo Filipinos. A crítica dirigida aos agentes da autoridade é curiosa. Os srs. polícias têm enormes “dores de cabeça” quando apanham pela frente um destes “africanos de grande compleição física”, o que vale por dizer em termos leigos, “os polícias pequeninos têm medo dos pretos grandes”. Sugere ainda que os agentes se equipem mais a preceito, uma vez que a pistola e o bastão “não são suficientes”, uma vez que noutros países as forças policiais estão equipadas com spray de pimenta e pistolas electrónicas, vulgo tasers. Ou seja, em vez de lhes bater ou dar-lhes um tiro, podem optar por gaseá-los ou electrocutá-los.

O problema parece estar bem localizado: a ruína do Centro Internacional de Macau. Aquele complexo, outrora destinado a habitação de luxo, situado junto do palácio da Pelota Basca, antigo Yaohan e mesmo à mão de semear do terminal de jetfoil, já conheceu melhores dias. Hoje é a degradação absoluta; lojas abandonadas, vidros partidos, corredores imundos, sem luz eléctrica, um verdadeiro refúgio de criminosos e toxicodependentes. Não sei quem pisou aqui na bola, se os anteriores proprietários, se o condomínio. Mas tenho curiosidade em saber o que pensam os actuais moradores daquele complexo habitacional de tão infame vizinhança.

O Ou Mun, quer se concorde com a sua linha editorial ou não, tem uma enorme responsabilidade em Macau. É o jornal mais lido do território, e a única fonte de informação de uma grande fatia da população, que não acede à internet ou não sabe ler outra língua. Daí que o tratamento que se deve dar a este tipo de situações devia ser mais cuidado. A mensagem que se passa neste tipo de crónica é que “todos os africanos são criminosos”, o que é redutor e perigoso. As consequências passam por gerar em Macau uma cultura do ódio.

E que provas tem o autor do artigo que estes imigrantes são seropositivos? A minha mulher, que leu o editorial em chinês, diz que alguns dos africanos fizeram análises em Macau, e outros eram portadores de certificados que atestavam o facto de estarem infectados com o vírus. Tudo bem. Mas qual é o perigo real de tudo isso? Será que o indicado é expulsar de Macau quem for seropositivo?

É preciso não esquecer que muitos africanos em Macau são profissionais liberais, alguns bastante conhecidos e respeitados, e outros ainda são quadros superiores da Função Pública. E como ficam os estudantes africanos da UMAC, em situação perfeitamente legal, aos olhos da população (des)informada, quando forem a andar na rua? E principalmente se forem de “grande compleição física”? As generalizações são bastante perigosas, até porque se formos atender a outros tipos de criminalidade que tem aumentado, nomeadamente os furtos ao domicílio, reparamos que os africanos estão longe de ser os principais prevaricadores.

O que é preciso é combater a criminalidade e os criminosos, independente da sua origem ou tipo de crime em que se especializa. Continuo é sem perceber como numa terra como Macau, construída e habitada desde sempre por estrangeiros, um dos seus principais mediums continua a ter uma atitude incompreensível com os estrangeiros. Não vou ao ponto de lhe chamar racismo. É uma embirração. Vá lá, uma embirraçãozinha.

6 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem. A minha opinião vale o que vale, ou seja, nada, mas o seu post deveria ser publicado num meio de mais ampla difusão; nomeadamente em certos jornais ditos de referência em Portugal, onde ao invés de artigos populistas (se é que este é o termo) e sensacionalistas que não informam mas desinformam, absolutamente irresponsáveis na forma como abordam questões tão sérias, artigos como o do jornal que refere (embora nalguns casos de forma menos declarada mas cuja mensagem é a mesma), deveriam aparecer análises como a sua.

Anónimo disse...

Ó Leocardo nem todos os africanos tem que ser pretos também há africanos brancos ou não????
e os chineses têm o complexo da inferioridade percebes...... são pequeninos.

Anónimo disse...

Têm pila pequena, queres tu dizer.

Leocardo disse...

Essa é a velha questão do politicamente correcto. Quando se querem referir aos pretos (ou negros, ambas palavras politicamente incorrectas) dizem "Africanos". O ideal seria "indivíduos de tez escura", mas isso é meio complicado, não? Em todo o caso acho que me fiz entender. Cumprimentos

Anónimo disse...

É o racismo do costume, do qual o tal jornal Ou Mun parece ser o grande porta-estandarte, escamoteando sempre a realidade: o aumento de crime em Macau deve-se sobretudo a chineses do Continente. Esta é a verdade que estes jornais chineses pretendem esconder.

Anónimo disse...

O crime em Macau aumentou com estes vistos individuais que vêm para Macau, perdem tudo nos casinos e depois andam para aí a gamar, nunca houve tantos apartamentos assaltados e carteiristas em Macau e Ilhas como nos últimos tempos, mas ninguém quer reconhecer a verdade, esta história com os africanos é poeira para os olhos das pessoas.