sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Procura-se sentido crítico


Fui almoçar hoje perto do centro da cidade, e quando passava numa artéria muito movimentada, estava uma idosa a recolher cartão à porta de uma loja de lingerie, e despejando restos de garrafas de água para o chão, ocupando assim todo o passeio. Os restantes transeuntes, visivelmente agastados, tinham que passar ao lado, pelo meio da estrada. Voltei para o trabalho, onde comentei com um colega este episódio, conjecturando mesmo que se passasse ali alguém com menos paciência, podia afastar a idosa do caminho pela força. Outro colega (chamemos-lhe F.) ouviu e percebeu mal, e deixou escapar qualquer coisa como "a senhora precisa de viver; se queres afastar velhas do caminho vai fazê-lo na tua terra". Em vez de me subir a mostarda ao nariz e atirar-lhe com o pisa-papéis à testa (do manual "O que fazer no caso de...") mantive a calma, sorri e expliquei-lhe o que quis dizer, exactamente. Lembrei-o ainda que em Macau sou tão residente quanto ele, com os mesmos direitos e os mesmos deveres, e que ele não é mais residente de Macau que eu pelo simples facto de ter nascido cá (por acaso quando cheguei a Macau ele tinha 8 anos...). Acrescentei também que ele, F., que tem nacionalidade portuguesa, tem os mesmos direitos e deveres que eu e todos os outros portugueses se for viver para Portugal. Isto apesar de nunca ter lá estado, não falar uma única palavra em português e muito provavelmente só se lembrar que é português quando precisa de renovar o documento de viagem. E que ninguém tem o direito de o mandar "para a sua terra", diga ele o que disser. F. pediu desculpa porque "percebeu mal", e o outro colega riu-se. Mais um exemplo do que esta sociedade e esta juventude é capaz quando se requer sentido crítico: nada.

9 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro,

O problema aqui não é discutir quem é mais " residente" ou menos "residente" por ter ou não nascido cá.
Se você tivesse nascido na China e tivesse os olhos em bico, provavelmente esse seu colega não lhe mandaria essa boca.
E essa discussão de ele ter a nacionalidade portuguesa tambem não significa nada, porque para ele tudo se resume a ter um documento de viagem que lhe permite viajar para todo o lado sem precisar de visto.
Ele e a esmagadora maioria dos 100.000 detentores de passaporte português pensam assim.
Mas a culpa não é deles mas de quem lhes deu o passaporte.
Se fossemos espertos como os ingleses, isto não aconteceria.

Isto para dizer que tudo se resume a um problema muito simples: Racismo.
Nada de admirar, nos chineses.

Mas é voce que os adora, que os emula e que os considera o supra-sumo, portanto, olhe, continue a adorá-los.

Leocardo disse...

Obrigado pela sugestão, assim será. Até parece que não há portugueses racistas e burros. E pior que isso, portugueses que, mesmo em Macau, se acham no direito de achar se outros portugueses devem ou não continuar no território. Não sabia?

Cumprimentos

Anónimo disse...

Há gente racista e burra em todo o lado.

O seu problema é que voce é muito pouco sensivel ao racismo e burrice que vem da China, ao contrário da que vem doutros sítios.


Cumprimentos

Anónimo disse...

Meus amigos, mas será que não entendem que isto é simplesmente a lei da sobrevivência???

O homem tem de zelar pela sua vidinha..

Se por acaso um dia o Leocardo fosse trabalhar para uns patrões tailandeses, passariam a ser os chineses os que falsificam tudo, não respeitam os direitos humanos nem a liberdade de expressão, são racistas, pouco higiénicos, arrogantes, e sei lá mais o quê...

Portanto deixem lá o homem continuar a aperfeicoar a arte de bem engraxar sapatos aqueles a quem dá jeito, e a chamar de terra de prostitutas aos outros que não interessam para nada.

Leocardo disse...

Tanta verborreia, coitadinho. Escrevi uma análise a uma passagem de um livro que falava do futuro das comunidades em Macau e pimba, lá saltam os cavaleiros defensores da Tailândia, provavelmente a soldo do ministério do turismo daquele país. O sr. não gosta da Tailândia e dos tailandeses; gosta das tailandesas - das originais e das fabricadas - e de passar férias de luxo à custa da miséria dos outros. Onde é que chamei os tailandeses racistas, arrogantes ou sei lá o quê?

Basta um pequeno comentário do género: "na Tailândia os comerciantes aldrabam turistas com a cumplicidade das autoridades" (uma verdade que vários turistas podem testemunhar, agora se não se importam isso é lá com eles), pimba, sou mau, não gosto de tailandeses e o diabo a sete. É logo visto não como um comentário, mas como racismo ou má vontade. Ó homem "induque-se". Até parece que por escrever isto vai tudo deixar de ir à Tailândia, ou que estou a estragar as férias à malta.

Se gosto da China? Claro. Quem nunca me fez mal nenhum, onde sou sempre impecavelmente bem tratado sem precisar de comprar ninguém, e onde trabalho e reconhecem o meu valor, havia de falar mal do quê? Falar só por falar para agradar a carneirada que não sabe nada da China e gosta de mandar bitaites? Não que eu seja um especialista em assuntos sinólogos, mas a maioria das reacções são sempre: "ya meu, a China é má e tal, os líderes não respeitam os direitos humanos e blá blá blá, libertem o Tio Beto".

O sr., quer queira quer não, a comunidade tailandesa em Macau estagnou, e a comunidade filipina cresceu. Isso não significa que goste mais de uns ou de outros. Foi uma análise. A-n-á-l-i-s-e. Ou será que desde que escrevi a posta sobre o Thaksin (http://bairrodooriente.blogspot.com/2008/08/thaksin-o-fugitivo.html) aconteceu o que aconteceu na Tailândia DUAS SEMANAS DEPOIS já sou uma ave de mau agouro? Olhe, ninguém ficava mais feliz que eu se acabassem com a corrupção e toda a porcaria que grassa na Tailândia. Se em Portugal também há pedófilos? Deve haver, mas não em cada esquina, bar e praia. Só não vê quem quer.

Esta posta onde comentamos foi um episódio que me aconteceu hoje, e não me coíbo de contar, independentemente de parecer bom ou mau. Foi o que aconteceu. Não é um "statement" sobre a minha posição sobre um povo inteiro, como nenhuma é. Não percebeu bem a parte em que digo que "pediu-me desculpa porque percebeu mal"? É assim meu caro, faço minhas as doutas plavras do dr. Neto Valente: se acha que ser chinês é mau, o que está a fazer em Macau? E já agora, porque vem aqui, se fica tão mal disposto? Olhe o fígado.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Leocardo,

Força. Ha quem sabe ler os seus comentarios e quem nao.

Um abraço.

Anónimo disse...

Enganar turistas ? bem na Tailândia as malas LV, Prada, etc... falsificadas ainda tem melhor qualidade que as da China. No Vietname ainda são melhores.
Mas chega de Tailândia e afins. esta posta já cheira mal o autor deste blog não tem poder de encaixe , gosta de criticar e opiniar mas não gosta de ser criticado e confrontado com opiniões de outros que não concordam ou tem opinião diferente á dele, o que faz lembrar atitudes dum povo, duma nação dum sistema que ele tanto adora. Política, corrupção, direitos humanos, tanta coisa
Onde está a democracia?? quando é que há eleições na China?? mentalidades!!!
Por falar em cheirar mal, os chineses em questões de higiene ó Leocardo, Leonel Cardoso, Vitó, ou como te chamas, o que tems a dizer deste povo que tanto adoras, olha as ostras, agora até leite falsificado para crianças existe e até provocou a morte de alguns, uma tristeza, tantos exemplos
educação cívica - o que é isto?? uma coisa que os chineses não sabem o que é. Mas não faz mal a China é o maior, ao autor quando fores á china cuidado nas passadeiras, e vê lá se não ficas sem a carteira.
Racismo? isto não é racismo.
continuaremos a falar da china...
Democracia

Leocardo disse...

Não preciso de me repetir, basta ler o comentário anterior. Passar bem.

Anónimo disse...

Por acaso até tenho um ponto de vista diferente porque a minha experiência foi outra.
Nos anos pré 1999 fui tão maltratado pelos Continentais que por força das circunstâncias eram meus chefes, que fiquei com ódio aos Tugas.
Em Portugal sempre fui bem tratado, mas na minha terra fui espezinhado pelas feições ocidentais (deixei de os falar a quase todos, tamanha era a opressão).
Pode ser que este seu colega também sofra dum recalcamento semelhante e achou que ouviu o que não tinha ouvido pois saiu da boca dum Tuga, o "antigo" Chefe dele.
Como exemplo da vilania, cito uma conversa informal que ouvi dum Director do Hospital a um Especialista recém chegado e como isso despoleta posteriormente toda uma trama de inveja e de maldicência.
A conversa é simples e ingénua:
Bemvindo, como estamos longe da nossa terra, se precisar de algo, diga, pois também cheguei há 2 anos e senti as mesmas dificuldades!
Ora, nos anos de 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997 todos os anos rodava um novo Director que era o tal que acabou de chegar.
E quase todos sairam contrariados e por falta de apoio dos seus superiores (estranho).
Apesar da "Saúde" pagar muito bem aos Especialistas, só vinham os amigos e os que têm problemas emocionais ou profissionais, para desanuviarem (digo com conhecimento de causa).
Nos primeiros 4 meses são uma relíquia de gente educada e amiga.
Isso repete nos 4 meses que antecedem o regresso a Portugal.
Pelo meio, é a maior desgraça, maior corrupção, maior tirania que alguma vez se pode imaginar.
A ânsia de conseguir ainda encher um pouco mais os bolsos, a megalomania (afinal chegou mesmo a minha vez de mandar!) faz com que percam a noção dos valores já de si enfraquecidos por carregarem problemas na sua origem.
O tempo e a sensatez, há-de curar estas feridas...