- A Associação Novo Macau Democrático adiou a sua convenção. Saiba
porquê na edição de quinta-feira do Hoje Macau.
- Fique por dentro das
eleições deste fim-de-semana em Hong Kong. Uma reportagem do enviado especial do HM, José Carlos Matias (via O Sínico).
- O Hoje Macau completa sete anos de existência, e para tal publicou uma edição especial em que ficamos a saber mais dos homens e mulheres por trás do diário em português mais lido da RAEM (edição electrónica não disponível). Um grande abraço deste lado e que contem muitos e bons.
- No JTM Nuno Lima Bastos esclarece algumas dúvidas de português, nomeadamente referentes o Jogos Para-Olímpicos (é assim?) que têm hoje início em Pequim.
Olímpicos erros.
- Para grande tristeza minha, a página electrónica d'O Clarim não é actualizada desde 22 de Agosto. Férias do webmaster?
- Os blogues
Ruinix em Shanghai e
Da Rússia foram finalmente e merecidamente acrescentados na lista dos links.
Bom fim-de-semana.
10 comentários:
Não é que Nuno Lima Bastos não revele ter conhecimentos ao nível da Língua Portuguesa, mas enveredou, neste artigo, por um certo fundamentalismo que alguns linguistas consagrados certamente contestariam. Desde logo, rebato os pontos 1 e 5 do seu artigo.
O Ciberdúvidas não é tão fiável como seria de supor. Há no Ciberdúvidas constantes discrepâncias de opinião entre aqueles que o compõem. Mais, um dos principais colaboradores do Ciberdúvidas esteve intimamente ligado ao Campeonato de Língua Portuguesa (CLP), que teve como dicionário de referência o da Porto Editora. Ora, o que o dicionário da Porto Editora diz é que as palavras “paraolímpico” e “paralímpico” estão correctíssimas. Achar que o Dicionário da Academia das Ciências é o detentor da verdade é, no mínimo, redutor. Aliás, na minha modesta opinião, o Dicionário da Academia das Ciências tem incongruências difíceis de explicar. E se é certo que normalmente estes prefixos como “para-” são seguidos de hífen quando ligados a uma palavra que começa com vogal, isto não é uma verdade absoluta e as excepções são mais que muitas (como por exemplo em “antiabortivo” ou “antiaéreo”). E se também não é normal que o O desapareça na palavra “paralímpico”, que dizer então da palavra “psicanálise” [psico- + análise], em que o O efectivamente desaparece? Cumpre ainda dizer que o Português é uma língua viva e, como tal, sujeita a constantes mutações. Para além de viva, é falada nos quatro continentes e não é exclusividade dos portugueses. Assim sendo, os angolanos têm tanto direito a transformá-la como os portugueses ou quaisquer outros falantes. Para além disso, mesmo que a regra do Português europeu fosse forçosamente “para-olímpicos”, pergunto por que é que os jornais de Macau têm de usar o Português europeu. O facto de serem jornalistas portugueses pouco interessa, uma vez que estamos na Ásia. Felizmente, o português já saiu do ocidental rectângulo europeu há séculos e deu-nos excelentes palavras como a africaníssima “desconseguir”.
Em relação ao ponto 5, e para ser breve, que a conversa já vai longa, digo apenas que “por que não te calas?” está correctíssimo. O Português é uma língua riquíssima na variedade de possibilidades que nos dá. Muitas vezes não é necessário utilizar todas as palavras que à partida deviam constituir a frase para que sejamos bem entendidos. Por isso mesmo é que posso dizer “não concordo” em vez de “eu não concordo” (omitindo o pronome pessoal). Não contesto a validade de “porque não te calas?”, o que contesto é que se negue a correcção da variante “por que não te calas?”. Na verdade, posso perfeitamente considerar que se trata da frase “por que [motivo] não te calas?”, mas com a palavra “motivo” subentendida porque não faz falta para a compreensão da pergunta.
Também “diospiro” se dizia “dióspiro”, mas como ninguém acertava na palavra, agora “diospiro” passou a ser aceitável, o que prova que a língua é, de facto, um organismo vivo e não há ninguém que a possa parar.
A propósito dos Paralímpicos, parece-me que há outros sítios além de Angola onde o termo é utilizado:
Presidente da República felicita Atletas que representarão Portugal nos Jogos Paralímpicos Pequim 2008
O Presidente da República enviou uma mensagem de felicitações à Selecção Nacional de Paralímpicos, que participam nos Jogos Paralímpicos Pequim 2008.
in http://www.presidencia.pt/?idc=18&kword=Paral%EDmpico
Esse link não dá nada.
A página do Clarim está actualizada. O semanário é que não foi publicado nas últimas duas semanas.
Caro anónimo das 18h09,
Antes de mais, creia que não foi minha intenção enveredar por nenhum fundamentalismo linguístico, até porque não me considero habilitado para tal (a minha área de formação é outra). Apenas me preocupo com a minha língua e com o mau uso que dela é feito, especialmente na comunicação social, pela influência negativa que acaba por exercer sobre os menos avisados (quantos tradutores já me disseram que escreveram certa palavra ou frase de determinada maneira porque a leram assim num jornal português de Macau ou a ouviram no canal português da TDM).
Já agora, uma curiosidade: quando diz que, «desde logo», rebate «os pontos 1 e 5» do meu artigo, significa isso que ainda discorda de mais algum? Poderia dizer-me qual e com que fundamento?
A matéria do ponto 1 será objecto de apreciação mais alargada na minha crónica da próxima quinta-feira no JTM, pelo que me abstenho de tecer agora mais considerações sobre ela, como compreenderá. Posso, contudo, adiantar-lhe que há regras que definem a construção das palavras por prefixação e que explicam o porquê de algumas terem hífen e outras não. Por isso, não assuma que os exemplos que mencionou são excepções «mais que muitas». Se quiser ter a maçada de consultar essas regras, verá que não é bem assim.
Quanto ao ponto 5, vai-me desculpar, mas não há volta a dar. Na oralidade, não se nota muito a diferença entre «porque» e «por que». A sonoridade das duas é parecida. Na escrita formal, há que respeitar as regras gramaticais e não se deve recorrer ao argumento da flexibilidade da língua para se lhes fugir convenientemente. Usando o seu exemplo, se se escrever «por que motivo não te calas?», não há aqui qualquer advérbio. Daí ter que se escrever «por que». Se, diferentemente, se escrever «porque não te calas?», temos necessariamente um advérbio e o «porque» não deixa de ser esse advérbio apenas porque, na nossa cabeça, a intenção era perguntar «por que motivo não te calas?». Se se entrar por aí, então não há regra que nos valha... Os "subentendidos" justificam tudo...
Cumprimentos!
Caro Nuno Lima Bastos:
Não discordo de mais nenhum ponto do seu artigo e, se utilizei a expressão "desde logo", foi apenas porque ia começar por referir o ponto 1, mas acabei por referir o 1 e o 5 de uma assentada.
Em relação ao ponto 1, não tenha dúvidas de que me dou à maçada de consultar as regras, até porque sou obrigado a fazê-lo, uma vez que a Língua é a minha área profissional. Por isso sei que não há regras sem excepções. O fundamentalismo não é seu, é do Ciberdúvidas. O seu único erro é acreditar demasiado no Ciberdúvidas. Quanto mais não seja porque dizem eles que o termo "paralímpico" não aparece em nenhum dicionário de referência, o que é falso. Mas esperarei então com curiosidade pela sua crónica de quinta-feira.
Quando ao ponto 5, permita-me mais uma vez corrigir o Ciberdúvidas quando por lá se diz que, em "Por que razão não te calas?", a palavra "que" é um pronome. A função do pronome é substituir o nome e, por isso mesmo, não pode ser seguido desse mesmo nome. Neste caso, em que "que" antecede o nome, tratar-se-ia de um determinante interrogativo.
Por muito que louve as virtudes do Ciberdúvidas, eu dou mais crédito a Celso Cunha e Lindley Cintra, conceituados filólogos que deram a lume uma das grandes gramáticas de referência, a "Gramática do Português Contemporâneo" (para além de se terem esquecido de consultar alguns dicionários de referência, parece que também se esqueceram de consultar esta gramática de referência).
Cunha e Cintra consideram "por que" como advérbio interrogativo de causa, e dão como exemplo a frase "Por que não vieste à festa?". O Ciberdúvidas diz que asssim já não é advérbio porque se trata de duas palavras, mas lembro, por exemplo, as locuções adverbiais, grupos de duas ou mais palavras que, no entanto, têm função adverbial. Se tenho algumas dúvidas sobre a terminologia (poder-se-à chamar a "por que" advérbio?), não tenho dúvidas nenhumas de que a função adverbial está lá, independentemente de se usarem as duas palavras ou uma só.
Finalmente, quando digo para se fazer a experiência de acrescentar a palavra "motivo" a seguir a "por que", não se trata de fugir a regras gramaticais. A língua é um instrumento prático, e as teorias não podem surgir sem experimentação. Daí que, mesmo que não se saiba exactamente o que é um advérbio, um pronome ou um determinante, a validade de "por que" pode ser aferida através da colocação do nome "motivo" ou "razão". Assim se confirma que "Por que [razão] não te calas?" é uma frase correcta, esteja expresso o substantivo ou não. Já na resposta "Não me calo porque não me apetece" (aí sim!), "porque" é uma conjunção, e por isso é que não se pode usar "por que". O que, aliás, pode ser testado: "Não me calo por que [motivo] não me apetece" não faz sentido, é uma não-frase.
Portanto, quando diz que em "Por que motivo não te calas?" não há advérbio, respondo-lhe que não me importa o nome que lhe dê, a função adverbial mantém-se. Chamo-lhe expressão adverbial, se o nome lhe agradar. Embora Cunha e Cintra afirmem que há mesmo advérbio. Isto das regras não é tão simples nem tão linear como parece.
Retribuo cumprimentos.
Caro Anónimo,
Devo dizer-lhe que me confesso satisfeito por o meu texto do JTM ter suscitado esta troca de impressões (embora fosse mais agradável saber quem é o meu interlocutor), não só porque considero o tema importante, mas também porque, quando alguém escreve artigos de opinião num jornal, não há nada mais gratificante do que saber que despertam o interesse e o debate entre os leitores. É claro que podemos ser criticados, construtiva (e não há nada de mal nisso) ou destrutivamente, mas, como diz o Sheldon Adelson, "if you can't stand the heat, stay out of the kitchen".
Indo aos seus comentários, também tenho a "Gramática do Português Contemporâneo" de Celso Cunha e Lindley Cintra e também a tenho em excelente conta, mas está na minha casa em Portugal, pelo que não tive oportunidade de a consultar para a minha crónica. Em todo o caso, hei-de estudar o assunto com mais vagar, embora, pelo muito que já li em outras fontes, continue convicto de que aquilo que escrevi se aplica à "generalidade" dos casos (sem qualquer menosprezo pelo seu avisado comentário, que tomei em devida nota).
Cumprimentos!
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