Há coisas de que só é bom falar quando passam, ou acabam, ou como neste caso, se encontram em "pousio". Falo das apostas desportivas em Macau, que este ano tiveram um volume de negócio acrescido graças ao recente mundial realizado na África do Sul. Apesar da China não ser uma presença regular em campeonatos do mundo (só lá foi uma vez...), os chineses apostam forte e feio nas selecções que disputam a prova mais importante do desporto-rei. Há uns que se consideram mesmo "especialistas", utilizando critérios que passam do simples pressentimento à mais elaborada das estatísticas. Eu confesso que não sou lá muito bom jogador. Aposto muito com o coração, e se não gosto do Putin, por exemplo, não aposto na Rússia.
Mas este ano devido às inúmeras surpresas, são poucos os que se podem orgulhar de ter "facturado" durante o mundial de futebol. O mais engraçado é observar as reacções dos apostadores quando quando vêem goradas as suas expectativas. Como a ignorância não paga imposto, algumas das opiniões roçam o limiar do surrealista, e em alguns casos fazem rir a bandeiras despregadas. Por exemplo, aquando da derrota do Brasil frente à Holanda, o que mais se ouviu foi que o Brasil "vendeu" o jogo, isto é, perdeu de propósito. E porquê? Por causa do polvo. Não do tal polvo Paul, mas do "polvo" da rede de apostas, esses que decidem todos, mas mesmo todos os desfechos das partidas de futebol.
Algures lá na Malásia, na Indonésia ou em Hong Kong, houve quem tenha pago milhões ao Filipe Melo para dar aquele pontapé num adversário e ser expulso. Se por acaso protesto esta descabida teoria, dizem-me com um ar muito seco e paternalista: "tu nem sabes quanto dinheiro está envolvido". Pronto, já cá não está quem falou. Claro que esta teoria é elaborada por, nem mais, pessoas que apostaram no Brasil e perderam dinheiro. Provavelmente umas quinhentas pataquinhas, que segundo eles foram parar "directamente ao bolso do Filipe Melo". Tomá lá que já almoçaste feijoada à brasileira com laranjas holandesas.
Mas voltando a isto das apostas, uma das formass de apostar é através do "Asian Handicap". Não, não é um coreano sem pernas nem uma indonésia anã. O tal "Handicap" é baseado na diferença entre as duas equipas. Uma equipa mais forte que "dá bolas". Por exemplo, num jogo entre o Benfica e digamos, o P. Ferreira. o Benfica daria uma bola e meia ao P. Ferreira. O que significa que se apostar no Benfica através do "Handicap", os encarnados têm que ganhar por pelo menos dois golos de diferença. Também se pode apostar apenas no vencedor, mas aí as "odds" - o factor de multiplicação - diminuíria. Apostar numa simples vitória do Benfica pagaria muito pouco.
Outra forma mesmo impecável de apostar é no "over/under". Se acha que um jogo vai ter 3 ou mais golos, independentemente do vencedor, nada como comprar "over", que significa "mais de 2,5 golos", ou seja, três (pode variar consoante o jogo). Caso suspeite que um jogo vai terminar 0-0 ou com poucos golos, pode comprar "under", e no caso de visionar o jogo, fica a torcer para que não aconteçam golos.
A modalidade mais apetitosa é contudo o "resultado certo", ou seja, apostar no resultado exacto de um jogo. Ter apostado 100 patacas, por exemplo, na goleada da Alemanha frente à Argentina por 4-0, pagaria qualquer coisa como 9600 patacas. O salário de muito boa gente, portanto, e só numa jogada. Se conseguir acertar em dois resultados certos, multiplica-se o valor de um pelo outro. Se juntamente com esse Alemanha-Argentina apostasse também na vitória da Holanda por 2-1 sobre o Brasil, ganharia mais de 100 mil patacas. Chega a ser mais divertido do que jogar no Euro-milhões ou no Mark-Six, em que os milhões dependem apenas de um sorteio.
Existem outras modalidades, pode apostar no resultado ao intervalo, quantos golos exactamente vão acontecer num só jogo, quem vai marcar o primeiro golo, quem vai ser campeão de determinada liga, ou optar pelo "live-betting". Mil e uma opções. Há pessoas que fazem disto a sua vida, praticamente, passam horas a fio na slot, e como devem estar agora a ressacar. Mas falta menos de um mês para que regressem os principais campeonatos europeus, a Liga dos Campões, a Liga Europa e tudo mais, e aí vai ser uma festa. Por enquanto têm que se contentar em apostar nas ligas russa, sueca e japonesa. É para não perder a prática.