Este é um vídeo que fez furor em Portugal, com quase 100 mil visualizações registadas no YouTube desde que foi ali colocado no passado dia 28. Nele vemos um indivíduo de etnia cigana, referido apenas pelo nome "Zezinho", visivelmente mal tratado depois de - segundo o próprio - um "encontro imediato" com a polícia. Devem ter passado alguns dias desde o incidente, mas é facilmente perceptível que as autoridades não quiseram largar o "Zezinho" sem lhe deixar uns "recuerdos" daquele momento de "convívio". Fazendo fé na versão do "Zezinho" - e não conheço outra - trata-se aqui de um manifesto caso de abuso de autoridade. Sim, pouco me importa que seja um indivíduo de etnia cigana, um banqueiro, uma dona-de-casa ou um turista norueguês. É grave, e nem o facto da situação ter ocorrido num bairro problemático dos arredores de Lisboa, a Ameixoeira, justifica uma intervenção desta violência.
Mostrei este vídeo a algumas pessoas de cá, de Macau, menos conhecedoras da realidade portuguesa, e as reacções que obtive foram de choque, com mais ou menos intensidade. Os (poucos) que soltaram uma risadinha fizeram-no como constatação do ridículo, da situação quase surrealista que lhes apresentei, um pouco como quem exorciza o mal, que certamente não gostariam que lhes acontecesse - nem isto, nem nada que se pareça. Em Portugal as imagens de pouco mais de 30 segundos foram partilhadas e comentadas nas redes sociais como "motivo de galhofa": "olha o Lelo, que grande lata, a dele", como se tivesse sido posto neste mundo como saco de pancada das pessoas "de bem". Em suma, o esterco do costume. "Ah mas ele trazia com ele uma faca", uma arma ilegal, portanto. Não se sabe até que ponto a faca que o próprio "Zezinho" admitiu ter comprado naquele dia "na feira da Ladra" seria ilegal, pois depende do tamanho da lâmina, que ele garantiu "ser pequena". É completamente irrelevante este facto, pois a suposta "arma" nunca teria sido descoberta se tivessem deixado o "Zezinho" em paz, e não consta que tenha acenado com ela às autoridades, ou que estas tenham intervido na sequência do ofendido ter feito uso da mesma. Há ainda quem tenha ficado indignado com o desplante do "Zezinho" por ter admitido que "estava a enrolar uma ganza", ou seja, um cigarro de cannabis, e parece mesmo que este foi o móbil de tanto disparate. Vejam esta sequência de comentários na página do YouTube:
Nota dez para o primeiro e último comentadores, um cabo de vassoura pela peida acima do ArrowBlade GTX (nome imbecil, aliás). Pois é, uma atitude inexplicável destas por parte da polícia leva a mil e uma dissertações sobre os problemas de integração da comunidade cigana, patati patatá. Há mesmo quem não aguente ficar dez minutos sem proferir inanidades. Muito bem, "ganzas" muita gente fuma, mas o mais importante aqui é a LEI, que é a única coisa que nos separa da barbárie. E haja quem a saiba aplicar, ao contrário dos agentes do Bairro da Ameixoeira, e a julgar por certas coisas que li a respeito deste caso, entregar a aplicação da justiça à populaça, era o mesmo que atirá-la à bicharada. Acontece que consumir "cannabis" ou qualquer outra droga, nem que seja "cavalo", directamente injectado para a veia, DEIXOU DE SER CRIME EM 2001!
Isso mesmo, conforme a lei 30/2000 (podem consultar o texto na íntegra clicando no "link") o consumo de substâncias ilícitas deixou de constituir ofensa criminal. Pois, já sabiam, não é? Mas como o tipo é cigano, e tal, "esqueceram-se". Que conveniente. Como podem ver ali no artº 2º da referida lei, "uma ganza" não excede "a quantidade necessária para o consumo individual durante o período de dez dias", pelo que este facto só constitui uma contra-ordenação leve, punida com...
...uma simples multa, ou nada, como vamos ver a seguir. Uma simples "ganza", se é isso que aflige a opinião pública mais asinina, não se enquadra no conceito de "tráfico" - não era um fardo de haxixe, nem o "Zezinho" estava a vender a "broca" a ninguém. Mesmo nos casos mais graves...
...há uma comissão e mais não sei quê, e que no limite ia dizer ao "Zezinho" qualquer coisa como "olha que isso faz-te mal", e "tem mas é juizinho". Em nenhuma parte da lei vem mencionado que "no caso do indivíduo ser de etnia cigana, aplique-se um enxerto de porrada que lhe deixe marcas visíveis durante vários dias". Ah, mas para certa "gentinha", a lei "não serve", pelo que sugiro que...
...EMIGREM! Olha e que tal para a Arábia Saudita ou um dos Emiratos, onde a posse de meia "ganza" dá direito a prisão perpétua? Ah espera lá, que aí não pode ser, pois estes são os amiguinhos xenófobos da Maria Vieira, a rolha do garrafão da xenofobia na sua versão islâmica. Pois é, ó Mário Costa, seu NOJENTO, pelos vistos a tua professora da primária não te chegou com as costas das mãos às ventas vezes que chegassem para APRENDERES A ESCREVER. Quanto aos restantes, o que dizer? Um misto de ignorância, ressentimento, frustração e estupidez, com uma dose q.b. de rusticidade à mistura. E ainda são capazes de argumentar com coisas do tipo "estes gajos andam a gozar com isto, e eu mato-me a trabalhar, e ando sempre teso no mau sentido" - NINGUÉM SE INTERESSA, PÁ, PROBLEMA VOSSO! Talvez se são f... e mal pagos é porque não sabem escrever, ou desconhecem a lei e aproveitam uma situação como esta para revelar essa ignorância e manifestar a vossa boçalidade. Permitam-me que me dirija a vossas cavalgaduras num paleio que entendem bem: PODIA TER ACONTECIDO CONVOSCO, OU COM OS VOSSOS FILHOS, SEUS IMBECIS! A ser verdade o que o tal "Zezinho" afirma, como vai a polícia justificar o injustificável? Ai ele estava a fazer "caras feias", é? Cuidado, não tenham o azar de dar de frente com um espelho qualquer dia destes, que se arriscam a ficar sem dentes. Gentinha miserável, esta.
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