BONJOOOUURRRRR!!! Hoje vou falar da segunda competição futebolística mais importante da França: a "Coupe de France" - a Taça de Portugal, pronto, só que da França - e que este ano vai na sua 100ª edição. Enquanto este fim-de-semana as atenções do futebol na Europa estão mais viradas para os jogos das selecções com vista à qualificação para o mundial da Rússia no Verão de 2018, na França jogou-se a sétima eliminatória da taça - a sétima, leram bem! Quer isto dizer então que já estão na fase mais adiantada do torneio? Não! Acontece que ao contrário do que acontece na Espanha, por exemplo, onde apenas algumas equipas da II "B" (terceiro escalão) e os campeões de cada série da III Divisão se qualificam para a Copa do Rei do ano seguinte, na França qualquer equipa pode participar, bastando que esteja federada, e que se inscreva na prova. E agora o mais interessante: isto inclui equipas das ex-colónias francesas dos quatro cantos do mundo! Enquanto as primeiras seis eliminatórias são disputadas consoante a localização geográfica dos clubes, a partir desta sétima passa a ser "tudo ao molho". Quando o sorteio determina que uma das equipas do território francês encontre outra das ex-colónias, o visitante necessita de fazer uma viagem, em muitos casos tão longa que tratando-se aqui de equipas amadoras, ou em alguns casos semi-profissionais, só posso mesmo depreender que é "la federación" que chuta "l'argent" para que estes gajos chutem "le balon". Vamos a alguns exemplos concretos de partidas que se realizaram ontem, começando com os clubes franceses que jogaram fora.
O Pau FC (em cima), da cidade homónima localizada nos Pirinéus, no País Basco francês, viu-lhe sair no sorteio o AS Magenta, que podem ver em baixo na imagem, com um dístico que até parece brincadeira: o Bambi em cima de uma bola de praia. Mas atenção, que este Magenta é o crónico campeão da...
...Nova Caledónia, e isto implicou que o modesto Pau FC, que disputa a Ligue National (3º escalão) fizesse uma viagem de 17 mil quilómetros até Nouméa, capital daquele país da Oceânia. Mais de um dia a viajar de avião, com duas escalas, mas que no fim valeu a pena: ganharam por 7-1, e ficaram a conhecer uma ilha do Pacífico.
Agora um bom exemplo do "sacrifício" que alguns destes atletas amadores precisam de fazer, e tudo em nome da centenária Coupe de France, "coitados". O FC Lunéville (em cima), uma equipa dos arredores de Nancy que ocupa os últimos lugares do Grupo D da segunda divisão do Championnat de France Amateur (CFA2), foi disputar esta eliminatória na condição de visitante contra o Club Franciscain, e para o efeito foi preciso deslocar-se até...
...Le François, na Martinica. Um esticãozinho de 15 horas de avião, mas...na Martinica, porra! Pode ser que muitos saibam onde fica a Martinica, ou tenham pelo menos uma ideia, mas será que sabem o que é a Martinica?!
Isto, é a Martinica! Que diabo, há mesmo sacanas com muita sorte. Imagino o dia em que os tipos que jogam no FC Lunéville, que provavelmente têm profissões como carteiro, canalizador, e até alguns devem ser ainda estudantes, souberam do resultado do sorteio. Foi uma festarola, lá em Lunéville! Nem percebo como é que a porcaria do jogo teve prolongamento e "penalties", onde os franceses acabariam por levar a melhor por 4-3. Eu queria era acabar com aquela treta e ir para a praia! Repito: coitadinhos! Agora vamos ver dois exemplos de jogos realizados no território de França, com os ex-colonizados no papel de visitantes.
Em cima vemos o FC Dragon, do Tahiti, que teve a honra de ir até à Normandia, no norte de França, para jogar como o US Avranches, do terceiro escalão. A dúvida com que fico é...
...como é que lá chegaram, coitados, que se viram tahitianos para vir lá de Pape'ete, do outro lado do mundo, e galgar 15 mil quilómetros para chegar até Avranches. Não consegui encontrar nenhuma ligação entre os dois locais, de nenhum jeito, pelo que devem ter ido de charter. A viagem terá sido cansativa, a julgar pelo resultado de 9-0 a favor da equipa francesa. Ou se calhar os moços lá da Polinésia estavam tão deslumbrados com os edifícios urbanos que se abstraíram completamente da competição. No fim ainda devem ter agradecido.
Um jogo mais renhido foi aquele que se disputou em Rodez, perto de Toulouse, no sul de França, onde a equipa local (em baixo) recebeu e venceu o FC de M'tsapéré (em cima) por três bolas a duas, após prolongamento. O AF Rodez lidera do Grupo D do CFA1 (quarto escalão), mas de onde raio é este M'tsapéré? De Mayotte. Outra vez: DE ONDE?
Mayotte é um pequeno arquipélago situada no Canal de Moçambique, no Oceano Indico, composto por uma grande ilha, Maore, e outra mais pequena, Pamanzi, além de várias pequenas ilhotas. Apesar de ficar geograficamente localizada perto de Madagáscar, Mayotte tem a sua própria liga de futebol, onde o campeão crónico é - adivinharam - o FC de M'tsapéré. Que surpresa!
Já se sabe que no fim ganha uma das equipas do escalão principal, e as únicas duas excepções foram em 1959, com o Le Havre, e cinquenta anos depois, em 2009, com o Guingamp, que jogavam no segundo escalão. O maior "tomba-gigantes" dos 100 anos de história da Coupe de France foi o Calais-RUFC, que em 2000 disputava o quarto escalão, e depois de deixar para trás equipas como o AS Cannes, o Strasbourg e o Bordéus, chegaria à final, onde seria derrotada pelo Nantes por 2-1, com um "penalty" no último minuto. Heróico, histórico, e acima de tudo uma curiosidade interessante. C'est la Coupe de France!
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